sábado, julho 31, 2004

Continuando sobre o assunto pena de morte, que comecei sem querer em post anterior :-)

Naquele post, quando entrei no ponto da pena de morte, foquei mais no argumento usado da perspectiva de punição, que é um dos justificados para clamar pela pena de morte.

Vou tentar entrar um pouco mais no assunto, focando em outros pontos, mas também não pretendo esgotá-lo. O que descrevo aqui é só minha opinião, sei de limitações nela, tanto no meu embasamento teórico, tanto nas dfiiculdades de levá-la em prática.

Um problema que vejo, e que atinge a sociedade em geral, e influência desde a educacao dos filhos até o sistema penal, é essa crença que quase todos temos na punição como mecanismo educacional e correcional primário.

Eu não acredito muito na punição pura e simples, eu acredito em consequências, e as vezes não são a mesma coisa. Visto sob a óptica das consequências, a reparação de um delito envolve, onde possível, a reparação das consequências.

Eu penso, sim, que alguém que viola uma lei deve sofrer consequencias quanto aos seus atos, agora, estas consequências deveriam vir para beneficio de todos e não simplesmente pelo maleficio de alguém.

O problema está na relatividade da responsabilidade. Alguém que comete um crime nao pode estar saudável. algo nele está errado. ou foi a educação, ou um trauma, ou um problema orgânico, etc, algo está errado. Pessoas integralmente saudáveis (na definição de saudável que dá a organização mundial da saude) não cometem crimes, exceto em momentos de desvario.

Quanto mais consciente alguém é de seus atos, mais responsável é por eles, entao, aquele que comete os crimes friamente, que nao dá valor nenhum a vida alheia e tem consciencia disto, é mais responsavel do que aquele que é insano ou transtornado por alguma razão.

Eu penso que quanto mais instruida a pessoa, quanto mais acesso a informacao ela tem, quanto mais educação recebeu, mais ela sabe, e mais responsavel ela é, assumindo que não tenha num outro fator problematico envolvido.

Assim, aquele que comete um crime, deve ser responsabilizado por ele, no sentido de alcançar alguma coisa, para a sociedade, visando reparar o mal cometido e ao mesmo tempo, onde possível, visar a reintegração do indivíduo deslocado.

Para a sociedade, o maior ganho seria a reparacao daquela pessoa, de forma que ele, atraves do trabalho, pudesse compensar de alguma forma a falta que ele produziu. E, se efetivamente recuperada, evitaria o problema da recorrência, que é aquilo que ocorre em nossas cadeias: individuo fica na cadeia como escola do crime, quando sai, suas tendências ao crime estão "educadas", provavelmente voltará a cometer os crimes que cometia e talvez até outros.

Nos crimes hediondos, há dois casos que eu vejo, pode ser que eu esteja perdendo alguma coisa.

Num lado, teriamos os insanos, que, por alguma razão, não são plenamente conscientes de seus atos. Numa sociedade justa, se houver tratamento possível, ele deveria ser tratado. Se não houver tratamento, deveria ser encarceirado, não há outra solucão. Por um acaso saimos sacrificando a esmo os cachorros cegos, surdos, ou nossos filhos caso tenham problemas mentais?

Noutro lado, teriamos os psicologicamente conscientes de seus atos. Em especial, os frios e calculistas. Estes são vistos como monstros. Pois bem, eles se fazem monstros, é verdade. Não deixam por isto de serem humanos. Poderiam ser nosso pai, nossa mãe, nossos filhos. Novamente, eles deveriam reparar a sociedade do mal praticado, sendo condenados, a praticar o bem que mais se aproximasse do oposto do mal efetuado. O problema é que não é um ser humano educado (e educado nao é sinonimo de instruido) num ambiente apropriado, tendo recebido da sociedade tudo o que teria direito, que acorda num dia de mal humor e se transforma num monstro. Isto é algo que acontece durante a sua formação.

Alguém falhou para com este ser humano, seja a familia, ou a sociedade, por que numa sociedade justa, se alguém não tem familia, as demais pessoas deveriam dividir a obrigacao da educação deste individuo, independentemente do meio pelo qual fazê-lo. Mas quem, em nossa sociedade, quer dividir algo?

Está certo que a nossa psicologia ainda não chegou no ponto de identificar com precisão aqueles que podem desenvolver certas tendências homicidas e outras coisas, mas o fato é que com uma educação apropriada e acompanhamento psiquico adequado ninguém vira assassino, estuprador, ladrão, ou mesmo mau politico :-)

Só que nao vivemos numa sociedade justa. Então dizemos que não queremos pagar a conta de manter estes individuos vivos. Eu acho que ao dizer isto, estamos dizendo que não somos nem um pouco responsáveis por ele, o que, a meu ver, é uma meia verdade. Enquanto ninguém não assumir responsabilidade por nada, nós podemos matar todos os bandidos do mundo num dia, e alguns anos depois, entre as nossas crianças mesmo, estarão nascendo os bandidos da geração futura, por que o sistema que permite que pessoas se tornem corruptas continua igual.

Adquirimos também uma responsabilidade social muito grande ao enviarmos para a morte indivíduos cuja culpa não se pode demonstrar. Nos EUA, são vários os casos em que a inocência do acusado foi apontada após sua execução. Que dizer as famílias destas vítimas? Há inclusive suspeita de discriminação racial e outras formas de preconceito e perseguição, por parte dos procuradores, dado o perfil de muitos que foram ao corredor da morte.

Ao bandido não adianta nada ser morto, por que ele não aprende nada, não muda.
Para a sociedade, pode-se argumentar que economiza com o que gasta para manter os presos. Por outro lado, paga o preço de achar que só isto resolveria alguma coisa, pois os bandidos continuam existindo, especialmente daqueles tipos que tem em Brasilia, que dificilmente vao presos, e ainda ganham nosso voto. E o problema é este, que cria-se um espetáculo em torno da morte, quando se consegue executar o acusado, a família da vítima normalmente clama que conseguiu "justiça" e segue suas vidas. A imprensa acaba por esquecer o assunto, e os políticos voltam-se a seus interesses particulares, e tudo continua exatamente como está. Ninguém tenta buscar a solução para a causa dos problemas, simplesmente, atua-se nos efeitos, varrendo a poeira para debaixo do tapete, de forma que ela apodreça e volte a sair mais tarde, na forma de novos delitos.

Eu acho que se formos sustentar o argumento monetário, antes, deveriamos acabar com disperdicios em outras áreas. Aí então a sociedade estaria moralmente apta a discutir sobre este ponto, mas eu penso que seria surpreendente o número de pessoas recuperáveis se ao menos tentassemos algo antes de desistir delas. Mas nós não tentamos.

Preferimos vê-los como animais em jaula que devem ser sacrificados, e com ódio, do que a vermos neles semelhanças conosco. Nos consideramos melhores do que eles. Mas quem define quem é melhor do que quem? Nós mesmos? Por que não matamos ainda, por que tivemos educação e aprendemos a respeitar (e alguns de nós nao aprenderam tão bem assim) os outros, somos melhores? Seriamos melhores se tivessemos tido a mesma vida que o bandido, a mesma educação, tendo passado pelsa mesmas dificuldades, e, com a arma em nossas mãos, optassemos por não matar, assim seriamos comprovadamente melhores. Como podemos garantir que somos melhores, se, em grande parte o que somos é resultado desta mesma educação que recebemos?

Desloquemos um pouco o foco para a educação de nossos filhos. Alguns pais batem em seus filhos, e isto surte efeito, por que até certa idade, o medo impera. Mas isto é questão de personalidade. Eu tenho certeza que se meus pais usassem exclusiva ou principalmente desta técnica comigo, chegariamos em algum ponto na minha adolescência onde teriamos sérios problemas. Por que o medo teria dado lugar a razão, e ao senso de justiça, e se, ao invés de me fazer perceber meus erros, tentassem me impor a força, teriamos um impasse onde provavelmente alguém sairia machucado e alguém iria preso, ou, na melhor das hipoteses, eu não seria educado e meus pais desistiriam de mim. Porque para aquele que chegou a uma fase onde o racional conta tanto quanto o emocional, só a coasão não representa nada.

O maior resultado desta política educacional é criar hipócritas e pessoas desequilibradas. Por que no primeiro caso, os pais ameaçam os filhos, e estes, para não sofrer punições, fingem concordar com a imposição dos pais. Mas ao primeiro instante que os pais lhes dão as costas, os filhos fazem o que bem entendem, escondidos, por que não receberam educação, não dialogaram com os pais sobre se o que vão fazer vale a pena ou não. São mentirosos e seus pais, sem saberem, os tornaram assim.

No segundo caso, existem aqueles que são psicologicamente muito frágeis. Seus pais, ao adotarem esta politica punitiva de educação, acabam por quebrar seu frágil equilibrio emocional, resultando em problemas que carregarão provavelmente por toda a vida.

Não estou aqui defendendo a psicologia liberal dos anos 80, aquela que ensinou aos pais que não podiam dizer não aos seus filhos. Esta é, na minha opinião, ainda mais burra e preguiçosa do que a politica da punição sem educação.

O problema é que estes dois modelos são dois extremos, e em ambos os casos, o que não ocorre é a educação. No primeiro caso, os filhos são condicionados, mas eles não aprendem nada, diante da vida, terão dúvidas de como proceder, e poderão ser facilmente influênciados a cometerem atos reprováveis. No segundo, os filhos, que nunca recebem não, e são frequentemente levados a acreditar que são a coisa mais importante do mundo, mais importante e melhores do que os outros, enfrentarão problemas sérios fora da casa dos pais, onde certamente não serão o que imaginam ser.

Serão provavelmente os assassinos de amanhã. E então talvez realmente seja tarde demais para recuperá-los. Talvez o que a sociedade tenha a oferecer seja exatamente esta punição de que estamos falando, então, os assassinamos e deixamos que a próxima geração de covardes, estupradores e ladrões desenvolva-se no seio de nossas próprias famílias.

Eu reconheço que descrevo uma condição idealista. Penso que seja uma meta futura. Mas neste país temos o hábito de crer que este é o país do futuro, mas não fazemos nada para fazer com que o futuro venha a ser presente.

Vivemos em uma sociedade de forma. Não nos importamos muito com o que as coisas são, apenas, superficialmente, com o que elas parecem ser, com o que elas representam.

Enquanto for lícito o assasinato, por qualquer justificativa, viveremos numa sociedade frágil, onde usarão contra nós os argumentos que pensamos possuir contra aqueles que são nossa versão deteriorada.

Creio que a única condição em que o assassinato seja isenta de qualquer responsabilidade, é a da legítima defesa, de fato, não de nome, por que muitos clamam legítima defesa quando no fundo, tem sua parte de responsabilidade em uma morte que poderia ser evitável.

Damos pouco valor a vida humana. Na nossa legislação, inclusive, em alguns casos é bem mais tolerável o assassínio de um ser humano do que de um animal silvestre.

Eu, que tento ter tanto valor ao futuro quanto ao presente, penso que é urgente encontrarmos equilibrio em nossos atos e pensamentos, em especial, naqueles que são puramente egoístas. Do contrário, talvez tenhamos que pagar para ver, e estaremos destituídos de autoridade ao exigirmos nossa defesa. Seremos chamados de hipócritas, ao exigirmos para nós direitos que suprimimos dos nossos semelhantes.

Por enquanto vou encerrar este assunto, tenho outras idéias palpitando na cabeça que pedem passagem. Mas a problemática social, dos direitos e deveres de cada um, é um assunto enorme, não pretendo esgotar com estes frágeis argumentos.

Espero que um dia estas questões façam parte de livros que só se encontrarão disponíveis em Museus. Porém, até lá, temos muito caminho a percorrer. Não basta acreditemos nisto ou naquilo, temos de fazer nossa parte, onde quer que sejamos chamados para tal.

Para aquela pessoa que motivou este segundo post, eu queria agradecer, e dizer que lhe tenho muito carinho.

Meus votos de paz!


Descaminho

É engraçado. O texto anterior não era p/ ser sobre pena de morte, isto sequer me passou pela cabeça. Eu estava pensando em divagar sobre a humanidade em geral, não sobre um de seus atributos em especial, mas acabou saindo daquele jeito mesmo.

É, em parte por isto, que algumas coisas que escrevo aqui são meio incompreensíveis e mesmo ilógicas. Eu estou exercitando a capacidade, que me é problemática, de deixar as coisas correrem.

E aqui não tenho o hábito de reeditar o que escrevo, a menos para corrigir erros grosseiros.

A despeito das deficiências que isto gere, eu estou achando o exercício bastante interessante, e confesso que alguns textos ficaram melhores assim do que se eu os tivesse planejado. Infelizmente, nem todos, mas p/ que exigir perfeição quando o que temos é mais que suficiente?

É uma pena que isto anda meio que uma masturbação mental (não achei um sinônimo adequado p/ masturbação, então não se choquem). Poucas pessoas lêem isto aqui, e menos ainda comentam. Mas ainda assim, estou gostando de ter criado este blog. Está sendo mais útil do que eu pensei que seria. Provavelmente inútil comparado ao que as pessoas que passam por aqui de vez em quando poderiam esperar, mas, peço desculpas, não fico tentando agradar a ninguém, nem eu mesmo, p/ ser sincero. As coisas apenas acontecem.

Agradeço a "audiência", algumas pessoas realmente queridas me dizem que leram, discutem a idéia comigo, etc. Isto me deixa realmente feliz.

É isto :-)

Mais uma vez, obrigado, e que o descaminho acabe por revelar-se caminho que leva a algo bom :-)

Inumeráveis

Tão únicos e tão iguais, somos bilhões.

Eclodimos em meio a comunidades as mais diversas. Recebemos daqueles que vieram antes de nós sua visão do mundo e a adaptamos mais ou menos ao que vamos adquirindo, sem falar no que trazemos conosco.

Somemos isto tudo e teremos os traços balisadores de nossa personalidade, que, embora efeitos mais ou menos confusos, nos permitem fazer uma idéia de quem somos, do que pensamos.

Alguns em tenra idade, com certa determinação, outros tardiamente, frequentemente mais por força das coisas do que por uma motivação pessoal, todos acabamos encontrando, se não nosso lugar no mundo, ao menos as tendências que acabam por definir que tipo de vida teremos, o que serão nossas atividades e interesses, os grupos sociais em que seremos admitidos, ou que nos faremos admitir, e assim por diante.

Nos deparamos diariamente com conflitos co m relação ao que pensamos e queremos, pois as demais pessoas podem não pensar como nós, podem não querer as mesmas coisas que nós, ou ainda, podem querê-las, mas só para si.

Do egoísmo mais ferrenho e assassino, nosso ou alheio, até a caridade mais desinteressada (e aqui uso o sentido amplo para caridade; Não só a doação material, menos ainda a esmola, mas a dedicação verdadeira e motivada, em suas mais variadas nuances), vemos de tudo um pouco, tanto em nosso meio, nossas comunidades, como em toda parte do mundo, através de relatos ou dos meios de comunicação mais diversos.

As vezes não tomamos parte do mal, mas tampouco estamos ativos no bem, na construção de valores humanos dignos, quer individualmente, quer em nossas famílias ou na sociedade como um todo, e "não fazer o bem que nos esteja ao alcance constitui um mal em si mesmo"; Estamos em cima do muro.

As vezes, vamos além. Somos corruptos, ativos ou passivos, queremos levar vantagem, dizemos que se não fizermos, outros o fariam em nosso lugar. Justificamos de todas as formas. Mentimos, enganamos, aos outros e a nós mesmos.

A televisão nos mostra isto diariamente, porém, há algo que ela não mostra, provavelmente por que não dê audiência, provavelmente por que nós mesmos, os telespectadores, não tenhamos interesse em saber.

O que ela não mostra é que nunca se fez tanto bem no mundo, e, apesar da explosão generalizada de crimes que vemos por todo o globo, o progresso se faz, de forma insofismável.

Quando, dentre as facções hebraicas, se ofendia a um indivíduo, era frequente que este, em represália, dizimasse não apenas com o seu ofensor, mas com toda sua família, em especial seus decendentes, e era frequente isto deslanchar em guerras entre tribos, que por vezes aniquilava completamente com toda uma linhagem de seres humanos.

Quando a lei civil, disfarçada de lei divina, cujo líder fora Moisés, instituiu a pena do "dente por dente, olho por olho" ( da qual Ghandi disse, já em nossos tempos, que "olho por olho e a humanidade ficará cega"), houve sem dúvida um avanço, e, embora as excessões perpetuassem ainda, acabou por tornar-se a regra de proceder daquele povo como um todo, permitindo que ao menos fossem poupadas as vidas dos ditos inocentes, aqueles que não eram responsáveis pelo delito.

Mais tarde, ao se estabelecerem as bases do cristianismo, Jesus estabeleceu que as ofensas fossem perdoadas "não sete, mas setenta vezes sete", iniciando nova etapa nos costumes humanos e em suas relações, costume este que, no entanto, foi esquecido e deturpado por grande parte daqueles que deveriam ser responsávels pela divulgação desta proposta.

Exemplifico aqui em cimal da tradição judaico-cristã, pois ela é a mais comum dentre as ordens religiosas difundidas no ocidente. Porém, todos os povos tiveram seus messias e sua doutrina moral, que, sempre se aproximaram, senão na forma, indubitavelmente no conteúdo.

Ainda vivemos, muitos de nós, no olho por olho. Na china, as execuções sumárias são frequentes e seu custo monetário corre por conta da família do acusado (digo acusado, pois quem garante, em um sistema autoritário, a transparência e neutralidade do sistema judicial?). Imaginem, um de vocês, sendo levado a prisão por crime não cometido, processados, executados, e a mãe de vocês receberem a conta? Há justiça, ou há vingança cega?

No oriente médico, o fundamentalismo islâmico prega o autocídio como ordem divina. Não bastasse, isto ocorre em atos que põe a termo a vida de inocentes, os quais acredita-se serem glorificados como mártires, na vida no além.

Aqui, em nossa terrinha, "Abençoada por Deus", é comum a perseguição e a justiça pelas próprias mãos. Muitos defentem a pena de morte, e a justificam pelo exemplo, isto é, que os potenciais transgressores da ordem pensariam duas vezes antes de cometerem seus atos tresloucados, sabendo a gravidade da pena a que estariam sujeitas.

Isto não é verdade. Uma pessoa que comete um crime hediondo, especialmente ainda se o faz em plena consciência, é um doente psicológico, independentemente das razões. Não será a perspectiva de punição que lhe tolherá a liberdade de ação. A prova existe nos EUA, onde os estados que adotaram a pena de morte não conseguiram jamais a redução dos crimes hediondos, pelo contrário, são, em geral, recordistas.

O que a pena de morte induz é a cultura da violência. Torna-se legítimo matar diante da ofensa. Alguém ofende a ordem social, e o estado, defensor da sociedade, executa o ofensor.

Ora, se é legítimo matar diante de uma ofensa, a população passa a agir desta forma. E aqueles que vivem, ou pensam viver, por sua própria lei, não terão impecilhos em ter por ofensa as coisas mais banais.

Somos bilhões. Mas há aqueles que se destacam nestes bilhões. Hitler se destacou pelas suas atrocidades.
O pai que teve seu filho assassinado e pedia pela abolição da pena de morte, aplicada ao assassino de seu filho, destaca-se por compreender inútil o remédio a que a sociedade impõe.

A pena de morte é o decreto de falência da responsabilidade social do estado para com os seus cidadães. E o estado não é um ente real, não é um ser, é uma estrutura abstrata que existe com a única função de servir à cidadania. Enterra o problema no quintal, varre-o para baixo do tapete, mas não tenta resolvê-lo.

Somos inumeráveis. Somos bilhões. Somos únicos. Somos assassinados, alguns pouco a pouco, outros pelos desvairados nas esquinas, e outros ainda, por aqueles que deveriam os proteger.

Há muito a ser feito. Mas volto no ponto: nunca se fez tanto bem na terra. Os crimes hediondos que hoje nos chocam e são cometidos na obscuridade, antigamente ocorriam a luz do dia, e ninguém se importava com eles, aliás, alguns eram espetáculo grosseiro, onde se ria do sofrimento daquele que, sendo único, poderia ser qualquer um de nós.

quinta-feira, julho 29, 2004

Devaneios :-)

Em algum lugar deve ter um manual de instruções do ser humano, em português, com não mais que 100 páginas, que contenha o segredo da psiquê humana de uma forma que até um iletrado como eu possa entender.

Na verdade, ele não precisava me explicar toda a humanidade, as diferentes personalidades, e o por quê de certas pessoas cometerem as mais assustadoras aberrações.

Bastaria me explicar por que cometo as minhas. Bastaria me mostrar por que as vezes penso uma coisa e faço outra, por que as vezes sou tão ousado, e as vezes, tão tímido, com relação ao que penso e ao que quero da minha vida.

Já encontrei alguns manuais do ser humano e da vida em geral, dos mais variados pontos de vista. Alguns são obscuros, alguns são estúpidos, outros talvez sejam perfeitos, para alguém um pouco melhor do que eu. Acho que a dificuldade não está na falta de informação, e nem ainda no excesso dela, contraditória, penso que lido bem com isto, no campo teórico ao menos, para mim, tudo são hipóteses, ou teses, no melhor caso.

O problema é que eles descrevem um caso ideal. Mostram o por quê deste caso ideal. Dialeticamente comparam o que sou ao que devo ser. Após todo esforço negacional, típico de seres como eu, me vejo vencido diante de algumas hipóteses, e concordo que deva ser assim.

O que nenhum manual no mundo parece dizer é como passar do estado em que estou ao estado em que sou. Há dicas básicas, métodos seguros, mas não há um roteiro. Me parece que sobra a mim mesmo a responsabilidade de elaborá-lo.

Estou convencido de que não poderia ser diferente. Mas, em meus devaneios, anseio pelos atalhos que me levarão, talvez não ao que quero, mas o que desejo. E como já falei dos atalhos, eles tendem a produzir o efeito contrário de que esperamos deles: nos prolongam a jornada, ao invés de abreviá-la. Nos levam a algum lugar qualquer, exceto o lugar que esperamos.

A anti-partícula que sou viaja do futuro ao passado, enquanto a partícula eu, que estou, vou na direção contrária, e já começo a perceber o que ocorrerá quando, em algum dia em breve, ambas coincidirem e deixarem de estar, para ser outra coisa, que nenhuma é (Isto é uma espécie de parábola, não deve ser entendido literalmente. Não me peçam para explicar, eu não teria como fazê-lo).

É sobremaneira difícil antecipar os eventos antes de sua derradeira libertação, mas estimo que, dentro em breve, a armadura do cavaleiro será partida ao meio, seu escudo estilhaçado, e sua lança parecerá demasiado pesada para seu corpo cansado. E ele, em sua fragilidade humana, despido das vestes metálicas que lhe oferecem proteção, deverá mostrar se sua força subsiste, ou se tomba ao chão com os estilhaços de seu escudo.

Seus adversários lhe dirão: "Mostra a que veio!", e nada jamais será como antes.

terça-feira, julho 27, 2004

My heart is longing for you, love
I cared for you more than you knew
Though you have broken each promise
Yesterday's dreams are untrue
Alone, I'll be yearning tomorrow
When sunshine brings memories of you
My sunshine will turn into sorrow
As I dream of the love we once knew
Why should I always be lonesome
When sunny and blue are the skies?
While shadows of loneliness linger
I'm dreaming with tears in my eyes
Why did you promise me, sweetheart
Never to leave me alone?
Yesterday's sunshine is faded
Your love wasn't true like my own
Alone, I'll be yearning tomorrow

Dreaming with tears in my eyes - U2

Guide me Home

Now the wind has lost my sail

Now the scent has left my trial
Who will find me
Take care and side with me
Guide me back
Safely to my home
Where I belong...
Once more
Where is my star in heaven's bough
WHere is my strength, I need it now
Who can save me
Lead me to my destiny
Guide me home
Safely to my home
Once more
Guide me back
Safely to my home
Once more
But how can I go on?
How can I go on this way...

... Please guide me back :-)

segunda-feira, julho 26, 2004

Diário Coletivo

Então pessoas... estou pondo em prática uma idéia um tanto antiga, mas que enrolei bastante para fazer. Na verdade, a idéia ainda está em desenvolvimento.

Criei um blog chamado "Diário Coletivo", a idéia é que várias pessoas postem, sobre os assuntos que quiserem, em algo que lembre de longe um jornal com suas editorias. Embora se chame "Diário", as pessoas podem postar com a frequência que quiserem.

Mais tarde, pretendo bolar um site bacana, e mais moderno que um blog, pensei em algo como um gerenciador de conteúdo, para administrar o diário e facilitar a vida de quem posta. Aí sim, teríamos colunistas que postariam com determinada frequência, além é claro de preservar os posts eventuais.

Estou colhendo opiniões, se você se interessar pela idéia ou tiver alguma sugestão, entre em contato, deixe um comentário aqui ou no diário.

Em tempo: o título deste post é um link para o site do diário :-)

domingo, julho 25, 2004

Tentativa de traduzir o texto anterior:


Em um fim de tarde ele falou. Sentado aos pés dela, seu rosto levantado para ela, ele permitiu que sua alma fosse ouvida.
"Minha querida, qualquer coisa que você deseje, qualquer coisa que eu seja, qualquer coisa que eu possa um dia vir a ser... É isto que quero oferecer a você -- Não as coisas que conseguirei para você, mas a coisa em mim que me fará apto a consegui-las. Aquela coisa -- um homem não pode abrir mão dela -- mas eu quero abrir mão dela -- De tal modo que ela seja sua. De tal modo que ela estará a seu serviço -- somente para você."

A garota sorriu e perguntou: "Você pensa que eu sou mais bela que a Maggie Kelly?"

Ele entendeu. Ele não disse nada e saiu para fora da casa. Ele jamais viu aquela garota novamente. Gail Wynand, aquele que se orgulhava de nunca precisar aprender a mesma lição duas vezes, não se apaixonou jamais nos anos que se seguiram.
-- Ayn Rand, "The Fountainhead"

Momento "fortune" do dia.

One evening he spoke. Sitting at her feet, his face raised to her,
he allowed his soul to be heard. "My darling, anything you wish, anything
I am, anything I can ever be... That's what I want to offer you -- not the
things I'll get for you, but the thing in me that will make me able to get
them. That thing -- a man can't renounce it -- but I want to renounce it --
so that it will be yours -- so that it will be in your service -- only for
you."
The girl smiled and asked: "Do you think I'm prettier than Maggie
Kelly?"
He got up. He said nothing and walked out of the house. He never
saw that girl again. Gail Wynand, who prided himself on never needing a
lesson twice, did not fall in love again in the years that followed.
-- Ayn Rand, "The Fountainhead"

sábado, julho 24, 2004

Dia do Amigo

Então... recebi algumas mensagens parabenizando pelo dia do amigo.

Não me considero dos piores amigos que alguém pode ter, mesmo considerando minhas imperfeições e o fato de eu ser um ser humano algo reservado e introspectivo.

No entanto, das pessoas que conheço, sou o mais relaxado quanto a datas. Eu lembro que é meu aniversário por que alguém aqui em casa me parabeniza, ou alguém de fora me telefona. Com sorte, lembro sozinho, um dia antes, ou dois, desde que passei a usar o icq e as pessoas me parabenizam antecipadamente.

Dia do aniversário de amigos é complicado. Passei a usar a agenda do meu celular, mas as vezes esqueço de programá-la.

Dia do amigo então p/ mim é dose. Ano passado só paguei o mico, este ano esqueci o número da conta-corrente do mico, senão teria pago.

Então, escrevo esta mensagem aos poucos amigos ou conhecidos que lêem este meu "muro das lamentações" de vez em quando, para agradecer pelos "dias do amigo" que já passaram, e desejá-los felicidade nos dias do amigo que ainda virão.

A amizade é algo um tanto quanto curiosa. A vemos de modo diferente para cada amigo que temos, não importa se temos dois ou duzentos. Não necessariamente conseguimos dizer que fulano é mais nosso amigo que ciclano, mas, é sempre diferente.

Alguns amigos mal nos dizem bom dia, não nos confidenciam nada da sua vida particular, parecem desconfiar de nós. Mas surpreenentemente, as vezes são os primeiros a oferecer ajuda quando pedimos, as vezes antes até de pedirmos. As vezes quando clamamos por socorro, são os primeiros a vir em nosso socorro, e os últimos a sair.

Por vezes, temos aqueles amigos tagarelas e sem noção de horário que nos ligam quando lhes dá na telha, não importa se é 3 da manhã ou 2 da tarde, não importa se ele sabe ou não que você está no bem bom com a sua namorada e não pode atendê-lo, este tipo de amigo liga ainda assim. Fica desesperado se você não o atender. Você acaba pensando algo do tipo "a namorada pode esperar", e acaba pagando p/ ver.

Temos aquelas amizades do sexo oposto que não se dão bem com a sua mulher. Acho que houveram situações na vida em que estive solteiro por que minhas parceiras tinham ciúmes de alguma amiga. As vezes de todas. Sabe como é mulher, elas vivem em um regime de competição desumano. Eu tenho amigas tão do coração que tem que ser um namoro p/ valer mesmo, senão nem considero me afastar delas só por que a incauta ao meu lado é ciumenta. Enfim, eu não recomendo que o sacrifício chegue a este extremo, por que suas amigas acabam elas arrumando um incauto e esquecendo o número do seu telefone. São coisas da vida.

Só p/ constar, o Nietszche era um incapaz se não conseguia ter amigas bonitas. Eu tenho e não fico babando nelas. Eu acho que isto é coisa de quem tem medo de mulher, fala sério. Mulher bonita tem em todo canto neste país abençoado, e não vou perder boas amizades só p/ molhar o biscoito. Eu nunca tive problemas com isto.

E acho que minhas melhores amizades foram com pessoas do sexo oposto. Elas me ensinaram mais da arte da conquista do que meus amigos homens poderiam saber, até por que um defeito inerente a nós homens é que gostamos de contar vantagem, inventar que catamos aquele mulherão que na verdade, se nos desse aquele "olhar 43", nos faria perder a fala.

Temos aqueles amigos que nos eram muito próximos mas foram morar longe, ou até aqueles que sempre moraram longe e que tivemos pouco contato, mas que são nossos confidentes, concorrem de igual p/ igual com nosso melhor amigo, aquele que o é desde a infância, que mora na casa ao lado ou na outra rua (no meu caso, como mudei muito, tive alguns amigos que ocuparam esta posição momentaneamente, mas já não os tenho).

Enfim, para quantas pessoas você conhecer, terá uma forma de amizade diferente, num grau diferente. Tem amigos que só o são pelo nome, aqueles que conhecemos há algum tempo mas que nada sabem de nós, e que não nos deixam saber nada deles, ou ainda, que tudo sabem, mas que são os primeiros a fugir quando precisamos deles :-)

Tem amigos que são tão amigos que não precisamos de telefone. Sabemos quando estão precisando de nós e vice-versa. Se você não os tém, ou duvida que isto ocorra tal qual descrevo, inveje-me ou me tenha por mentiroso, que não me importo, pois a verdade, seja lá qual for, independe do que acreditamos. Tem pessoas que me ligam e dizem: "Você me chamou?", quando eu só estava pensando nelas.

Tem momentos em que precisamos de amigos, tem momentos em que precisamos ser amigos, a vida nos pede que, na média, sejamos bons em ambos os casos.

Tenhamos em especial consideração aqueles amigos que nos chamam a atenção quando estamos fazendo burradas. Por que temos aqueles que nos encorajam a nos meter em encrenca, ou ainda, se metem em encrenca conosco, me desculpem, mas isto não é amizade, é burrice pura e simples. Os amigos de verdade nos querem ver bem, não podem consentir que sejamos insensatos. Amigo verdadeiro é sincero, não é puxa-sacos, e neste sentido, aqueles que nos tem por inimigos, por vezes, nos ajudam mais do que falsos amigos, ao nos mostrarem defeitos que frequentemente temos. Não significa que tenhamos o direito de apontar dedos a quem quer que seja, ou que devamos achar o máximo quando o fizerem para conosco, mas, não se pode ficar em cima do muro quando vemos que algo não vai bem.

Aos amigos que tive, que tenho, e que terei, rogo a proteção de Deus, e só espero estar a altura deles, em especial naqueles momentos em que a vida me convidar a retribuir o bem que tanto e tantas vezes recebi.



quinta-feira, julho 22, 2004

Liberdade

Sartre dizia que estamos condenados a sermos livres (se ele bolou a frase ou plagiou a ideia, pouco me importa), o que é um paradoxo dos mais interessantes.

A liberdade é atributo essencial do ser humano. Onde quer que estejamos, o que quer que almejemos fazer, a liberdade lá está, pois, ainda que tolhida, ainda que estejamos impedidos de alcançar o objeto de nossa vontade, não deixamos por isso de sermos responsáveis, não perdemos com isto a liberdade de fazer escolhas.

A problemática das escolhas, daquilo que optamos fazer, é que configura a condenação de que discorre a sentença. Estamos condenados a fazer escolhas, e disto não podemos nos eximir. Quando cruzamos os braços e dizemos: "sinto muito, não posso fazer", ou "está além das minhas capacidades", ou "isto não é problema meu", ou coisas semelhantes, estamos optando por esta postura, ela não nos foi imposta, e nem poderia ser.

Quando as coisas não saem do jeito que queríamos e desistimos de tentar encontrar outros meios, escolhemos desistir.
Quando nos abstemos de escolher dentre uma das opções que imaginamos ou que nos são apresentadas, escolhemos não optar. Não podemos dizer que fomos obrigados, pois se nos obrigaram, escolhemos sermos subjulgados, provavelmente por não podermos suportar as consequências que nos seriam impostas, caso agissemos de outra forma.

Somos mais que liberdade. Somos consciência, somos o cogitar, somos uma variedade infinita de atributos que frequentemnete entram em choque, dificultando mas permitindo que encontremos nossas opções, e com base nelas, façamos nossas escolhas, nem sempre de forma racional, e frequentemente de forma subjetiva.

Somos escravos de nossa própria liberdade, somos escravos do que cremos.

Somos senhores, e escravos, de nós mesmos.

quinta-feira, julho 15, 2004

Recebi por e-mail ... muito bom

SUCESSO
"Dizem que conselho só se dá a quem pede. E, se vocês me convidaram para paraninfo, estou tentado a acreditar que tenho sua licença para dar alguns.
Portanto, apesar da minha pouca autoridade para dar conselhos a quem quer que seja, aqui vão alguns, que julgo valiosos.
Não paute sua vida, nem sua carreira, pelo dinheiro. Ame seu ofício com todo o coração. Persiga fazer o melhor. Seja fascinado pelo realizar, que o dinheiro virá como conseqüência. Quem pensa só em dinheiro não consegue sequer ser nem um grande bandido, nem um grande canalha.
Napoleão não invadiu a Europa por dinheiro. Hitler não matou 6 milhões de judeus por dinheiro. Michelangelo não passou 16 anos pintando a Capela Sistina por dinheiro. E, geralmente, os que só pensam nele não o ganham. Porque são incapazes de sonhar.
E tudo que fica pronto na vida foi construído antes, na alma.
A propósito disso, lembro-me de uma passagem extraord inária, que descreve o diálogo entre uma freira americana cuidando de leprosos no Pacífico e um milionário texano.
O milionário, vendo-a tratar daqueles leprosos, disse:
"Freira, eu não faria isso por dinheiro nenhum no mundo".
E ela responde:
"Eu também não, meu filho".
Não estou fazendo com isso nenhuma apologia à pobreza, muito pelo contrário. Digo apenas que pensar em realizar, tem trazido mais fortuna do que pensar em fortuna.
Meu segundo conselho:
Pense no seu País. Porque, principalmente hoje, pensar em todos é a melhor maneira de pensar em si.
Afinal é difícil viver numa nação onde a maioria morre de fome e a minoria morre de medo. O caos político gera uma queda de padrão de vida generalizada. Os pobres vivem como bichos e uma elite brega, sem cultura e sem refinamento, não chega a viver como Homem. Roubam, mas vivem uma vida digna de Odorico Paraguassu.
Meu terceiro conselho vem diretamente da Bíblia: "seja quente ou se ja frio, não seja morno que eu te vomito".
É exatamente isso que está escrito na carta de Laudiceia: seja quente ou seja frio, não seja morno que eu te vomito:
É preferível o erro à omissão.O fracasso, ao tédio.O escândalo, ao vazio.
Porque já vi grandes livros e filmes sobre a tristeza, a tragédia, o fracasso. Mas ninguém narra o ócio, a acomodação, o não fazer, o remanso.
Colabore com seu biógrafo. Faça, erre, tente, falhe, lute. Mas, por favor, não jogue fora, se acomodando, a extraordinária oportunidade de ter vivido.
Tendo consciência de que, cada homem foi feito para fazer história.
Que todo homem é um milagre e traz em si uma evolução. Que é mais do que sexo ou dinheiro. Você foi criado para construir pirâmides e versos, descobrir continentes e mundos, e, caminhar sempre com um saco de interrogações na mão e uma caixa de possibilidades na outra.
Não use Rider, não dê férias a seus pés. Não se sente e passe a ser analista da vi da alheia, espectador do mundo, comentarista do cotidiano, dessas pessoas que vivem a dizer: eu não disse!, eu sabia!
Toda família tem um tio batalhador e bem de vida. E, durante o almoço de domingo, tem que agüentar aquele outro tio muito inteligente e fracassado contar tudo que ele faria, se fizesse alguma coisa.
Chega dos poetas não publicados. Empresários de mesa de bar. Pessoas que fazem coisas fantásticas toda sexta de noite, todo sábado e domingo, mas que na segunda não sabem concretizar o que falam. Porque não sabem ansiar, não sabem perder a pose, porque não sabem recomeçar. Porque não sabem trabalhar. Eu digo: trabalhem, trabalhem, trabalhem. De 8 às 12, de 12 às 8 e mais se for preciso.
Trabalho não mata. Ocupa o tempo. Evita o ócio, que é a morada do demônio, e constrói prodígios.
O Brasil, este país de malandros e espertos, da vantagem em tudo, tem muito que aprender com aqueles trouxas dos japoneses. Porque aqueles trouxas jap oneses que trabalham de sol a sol construíram, em menos de 50 anos, a 2ª maior megapotência do planeta, enquanto nós, os espertos, construímos uma das maiores impotências do trabalho.
Trabalhe! Muitos de seus colegas dirão que você está perdendo sua vida, porque você vai trabalhar enquanto eles veraneiam.
Porque você vai trabalhar, enquanto eles vão ao mesmo bar da semana anterior, conversar as mesmas conversas, mas o tempo, que é mesmo o senhor da razão, vai bendizer o fruto do seu esforço, e só o trabalho lhe leva a conhecer pessoas e mundos que os acomodados não conhecerão.
E isso se chama sucesso.'

Nizan Guanaes

"TRABALHE EM ALGO QUE VOCÊ REALMENTE GOSTE, E VOCÊ NUNCA PRECISARÁ
TRABALHAR NA VIDA".

O Preconceito

Preconceito e achismo são a mesma coisa, quando não, sinônimos.

Em ambos os casos, temos um ou mais indivíduos que pensam que as coisas são tal como eles as percebem, mas não se deram ao trabalho de pensar se elas realmente são, e, porque não, se faria sentido se fossem.

Somos, eu e a maioria de meus contemporâneos, criaturas nominativas. Gostamos da rotulagem, da aparência, da embalagem.
Do produto, do conteúdo, da essência, pouco entendemos, e menos ainda quereriamos entender.

De um expectro que se estende desde a fofoca de bairro a teledramaturgia nossa de todos os dias, insistimos neste que parece ser o único modo de levarmos nossas vidas. Mudam-se os atores, o cenário, e os pormenores, mas a essência continua a mesma: falar bem ou mal da vida alheia, das coisas, do governo e da sociedade.

Ouço quase que diariamente alguém fazendo referência à máxima socrática, "Conhece-te a ti mesmo", mas não recordo de ter conhecido uma só pessoa que a colocasse em prática, e talvez assim, merecesse decliná-la. Isto inclui a este que vos escreve.

Não sabemos e não queremos saber. Se dentre os prazeres nossos, os mais criativos são nada senão vapor, criação débil de nossa mente, o saber tiraria o sal das ilusões, e por fim, as tornaria ridículas. Ah, isto sabemos muito bem! E conscientemente.

Então fechamos os olhos e seguimos, como as crianças que tapam os olhos, crentes de que, por não nos verem, tampouco as estamos vendo.

Se o pior cego é o que não quer ver, que dizer do mundo onde todos o somos? Quando uma pessoa faz algo, seja certo ou errado, útil ou inútil, é uma coisa, quando todos a fazem, se torna parte do paradigma vulgar, se torna base do senso comum, da montanha de coisas que aceitamos sem questionar, daquilo que temos como sólido e indiscutível.


Fatalismo e determinismo, históricos ou não, são o alimento da mente preguiçosa. O achismo os come frios, o preconceito os esquenta em banho-maria.

Por enquanto, seguimos nesta. Mas o barco será balançado, e muitos cairão ao mar. Aí dos que não aprenderem a nadar.

Libertas que serás

Escrevo da cadeia da vida. Fui sentenciado a prisão perpétua.
Perpétua, neste nosso mundo, é relativo, como todo o resto.

A pena que me compete cumprir não é das mais difíceis, se um de vocês for analisar. Para este que vos escreve, no entando, é do tamanho certo. Meu número.
Nem tão pesada que eu não possa carregar, nem tão leve que eu vá seguindo com um sorriso estampado no rosto, pensando comigo mesmo "Acho que me dei bem nessa".

Deve ser assim com os demais condenados. Embora muitos deles se comportem como se estivessem de férias. Acho que o carcereiro responsável por eles deixa que pensem assim, imagino que a desilusão seja tão mais eficaz e dolorida, quanto maior o tempo em que sustentamos a ilusão que lhe dá causa.

Não há nada de tedioso em ser um condenado. Tampouco de assustador. Todos aqui são condenados. Não há ninguém para falar do ar doce do campo, do perfume suave das macieiras, do leite fresco tirado na hora. Eu, que vim do interior (assim penso eu), já não lembro o que são tais coisas. Aqui, todos são condenados.

A liberdade deve ser uma coisa assustadora. Do outro lado desta alta muralha, o mundo em vastidão, se estende para além do horizonte, ah, o horizonte, eu não recordo quando foi a última vez que o vi.
Mundo, vasto mundo, segue sem mim.

Dia desses, sairei por aquelas portas. O que me espera, eu não sei. Algo me diz que o que eu fizer aqui dentro, será a diferença entre morrer de fome, frio e medo, ou de me adaptar à aquela vida, tão distante, tão distinta.

Aguardarei com paciência os dias que antecedem minha condicional, certo de que, ainda vivem lá fora aqueles que me são caros, aqueles que de mim carregam no coração algo mais que a simples lembrança.


"Não tema procurar, ou não encontrar. Tema desistir, ou nem tentar."

Apenas escreva...

Apenas escreva. Como se fosse fácil, pensei.

Deve mesmo ser, cá estou eu. Mas quais seriam as outras opções? Ir para a cama e esquecer das baboseiras que rondam minha cabeça agora? Ou pior, continuar com elas me atormentando amanhã? Ainda que fosse realmente difícil, escrever agora pareceria mais fácil.

Eu mal sei sobre o que exatamente escrever. Minha mente apenas está envolta neste turbilhão de ruídos desconexos que formam idéias, e as vezes, as transcendem. O que é uma pena, infelizmente, não entendo nada que transcende o óbvio, e, como até o óbvio me é dificil expressar, ninguém entende nada mesmo.

... As vezes entendem. O que me deixa com inveja. Eu, que penso e escrevo, não entendo, mas alguns outros, simplesmente de passar os olhos pelas coisas que sofri para "parir" (no sentido masculino do termo, e se não existia um, acabei de inventar), sabem delas mais do que eu, que devaneio e me debruço sobre esta caixa de texto, tentando enfiar nela palavras que façam algum sentido, ou que apenas expliquem o que sinto ou penso.

Bom, isto é meia verdade. Eu estou cá a atirar palavras, formando frases que no fim das contas enchem linguiça mas não contam o que eu queria contar. Ah, chegamos onde eu queria, eu nem sei sobre o que estou escrevendo. Nem sei se havia algo a escrever, apenas sentei aqui e aparentemente as palavras fluem, com a decência de um político experiente. Olha, fiz até um trocadilho irônico. Perceberam? Mas não deviam perceber. Invejo-os.

E que dizer da vida? (Ah, não, lá vem ele falar da vida de novo). A vida não é fácil! (... grande novidade)
As vezes acho que seria mais fácil a loucura. (tá querendo nos enganar que vai ficar louco... bom, louco já é, coitado.)

Porém, os loucos vivem num mundo tão particular e pequeno, que não pode ser muito real. Nada que só diga respeito a uma única pessoa pode ter tanto significado assim. É simultaneamente muito fácil e muito difícil viver em mundo com suas próprias regras e nada mais. Fácil por que assim não precisariamos respeitar as regras dos outros, difícil por que um mundo só nosso não existe senão em nossas mentes, e teríamos dificuldades para sustentá-lo quando entrasse em conflito com o que os demais chamam de realidade... (é... acontece todo o tempo.)

Talvez, a coisa mais fácil do mundo seja fazer sempre as coisas mais difíceis. Assim nos poupamos o trabalho de ter que fazê-las mais tarde, somadas ao trabalho de andar no atalho que pegamos antes, achando que escaparíamos delas.

Nada do que eu escrevo faz sentido. É natural. Vai levar alguns anos para que o que escrevo volte a refletir o que penso. Até por que, ultimamente, meu pensamento é contraditório consigo mesmo.

É tão bom, quando as coisas não precisam fazer sentido, apenas são, especialmente quando isto não custa nada a ninguém.

Boa noite :-)

sexta-feira, julho 09, 2004

La vie

Passei meia hora escrevendo um texto sobre como as pessoas convivem mas não conhecem umas as outras.

Aí eu reli um trecho e achei tão óbvio que não merecia ser publicado.

Então apaguei e comecei outra coisa, até que percebi que joguei fora uma criação rara.
Esqueco que há falta de obviedade no mundo.

Fica p/ próxima. Mas não prometo nada.

quarta-feira, julho 07, 2004

O que vemos

Enquanto nossos dias transcorrem, mensurados por eventos cronológicos, procuramos guardar na memória aqueles eventos que consideramos importantes.
E fingimos esquecer (porque não poderiamos fazê-lo) aqueles outros instantes que nos perturbam, em especial, aqueles que nos chamam a realidade de que, por mais que tentemos, não estamos no controle de tudo, ainda que tudo dependa de nós.

O que vemos no mundo, buscamos interpretar, conforme o que aprendemos até então, e com o que estamos sentindo no momento, ou na fase de vida em que nos encontramos.
Posteriormente, quando os sentimentos do momento já não são os mesmos, quando nossos conceitos já pendem para outras interpretações, o que então haviamos visto se torna diferente a nossos próprios olhos.

Ainda lembramos de como nos sentimos e porque, e aquele sentimento transporta-nos no tempo, ainda que seja para um tempo que já não nos pertence; Para um tempo em que parte de nós deixou de ser, cedendo lugar a outras partes que vieram, ou que estão em processo de vir (e o que não está?).

Ao menos na primeira vez em que nos lembramos de algo qualquer em particular, após vários anos sem pensarmos neste evento, sentimos aquela pontada de ódio com o mesmo vigor de quando sentimos antes, ou aquele amor terno e apaixonado que um dia nos nutriu. Isto tudo ainda que, hoje, já não odiemos, ainda que hoje, já não poderiamos odiar, e ainda que nosso amor tenha outro foco, outra conotação, outra direção.

Por breves instantes, engatilhamos uma série de eventos com esta ou aquela lembrança em particular, um cheiro, uma fotografia, ou um flash de memória, as vezes algo mais indefinido, e nos transportamos com direção à quem fomos; Para o que não raro, ainda somos.

Em parte invejo aqueles que não se preocupam com nada na vida. Não falo dos que parecem ter tudo, mas do que parecem não querer nada. Se atiram às corredeiras da vida como quem não se preocupa com o caminho que as águas lhes reservam. Uns, mais tímidos, são guiados pela corrente sem se preocupar com nada, se serão atirados às margens, ou às pedreiras, se cairão em alguma cachoeira ou se simplesmente desaguarão em algum lugar qualquer. Outros, um pouco mais dedicados, vão observando atentamente, identificando as correntes, procurando achar uma que lhes pareça mais apropriada, e nadam vigorosamente para alcança-las, quando pensam tê-las identificado.

Mas nem estes, nem aqueles, preocupam-se de fato onde vão parar, nem por quê, e se lher perguntarmos: "que queres?", provavelmente dirão: "Não tenho a menor idéia".

Quando, em uma estrada semi-deserta, a noite, não avistava nem carros de um lado, nem do outro, ou pessoas, ou animais, ou nada; Quando o único ruído era o das folhas das árvores, olhei o céu, de forma que antes não poderia fazê-lo, pois a cidade e sua iluminação noturna o ofuscam, e diante daquela imensidão que parece não ter fim, diante daquelas nem duas mil e quinhentas estrelas, que pareciam ser milhões, pensei comigo mesmo... o que estou fazendo aqui?

Para onde quero ir? Se eu fosse a algum lugar, continuaria sendo o mesmo, ou seria mudado pelos eventos? Faria diferença a corrente d'agua me atirar contra as pedras ou me lançar ao remanso?

Naquele dia, lembrei das memórias da cidade, da luz meio rósea, meio nauseante, que cobre o céu, deixando senão as mais fortes estrelas, e deixei me levar pelo turbilhão, pelo redemoinho da rotina, da praxis utilitária, e, desta lembrança, parece que não mais despertei. Continuo eu, adormecido, naquela estrada a olhar o céu e cogitar da vida, enquanto que este meu eu do passado segue em frente, sem saber donde veio, nem ao certo para onde vai, mas convicto de que a realidade é o que é, e sonho mesmo, devaneio insano, foi ousar olhar as estrelas, foi ousar perguntar aquilo que todos perguntam mas não indagam, aquilo que no fundo tenho medo de saber, ainda que, durante alguns instantes, eu tivesse todas as respostas relevantes, inclusive para as perguntas que não fiz.


Boa noite.

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