quinta-feira, setembro 30, 2004

Quem procura...

Quem procura, acha.

Achei. Meus limites. Estavam além de onde eu os imaginava. É uma surpresa recompensadora ver que fui além das expectativas. Por outro lado, encontrar seus próprios limites tem sempre algo de perturbador. Gera um movimento que sacode tudo, das idéias mais toscas, até as convicções mais fortes.

Faz-nos duvidar de nós mesmos. Perguntar quem somos.

É assustador, é verdade. Mas já começo a me perguntar: o que haverá atrás daquela linha demarcadora? Que horrores e que surpresas se esconderão além de onde já fui?

Deixei meu lado mau me olhar face a face. Senti-me feliz por que não tive medo, nem pena de mim mesmo.

Sem pressa, de agora em diante, irei descobrindo. De agora em diante, tenho outras prioridades. Este movimento, esta viagem, é parte integrande de quem eu sou, não poderia deixar de fazê-la, de decsobrir, a curiosidade é maior do que os riscos, se existem.

Mas o fato é que não posso viver disto. Tenho muito a fazer, em outras áreas. Se eu ficar preocupado com meu próprio umbigo, esqueço dos meus deveres no mundo e junto a aqueles que amo.

Tentarei ser mais humano daqui p/ frente. Isto implica que errarei mais. Acho que terei mais medo também. Mas esta sensação boa de ter ido além dos meus medos, espero guardar comigo.

Perdoem-me se neste processo de idas e vindas, por vezes, sou egocentrico. Não conhecia outra forma de fazer. Aos poucos vou aprendendo outras, mas, ei, sou humano afinal. É bom dar-se conta da extensão disto, embora, eu desconfie que não me faço entender :-)

Obrigado pela paciência...

Baldio é meu alarde

Triste coisa é ter tanto a dizer e tanta dificuldade, tão poucas oportunidades em fazê-lo.
É ter a certeza de que amanhã é sempre um novo dia, e ainda assim, não conseguir conter a angústia de viver no hoje, no "não pode ser".

É saber-se amado e as vezes não poder sentí-lo, a ponto de duvidar.
É querer impor-se ao mundo, sabendo que depois se arrependeria.
É ser o refúgio de muitos, mas não ter a quem pedir socorro, quando sente-se só e tudo que precisava era de um abraço, algo tão caro, que deveria ser tão simples.

Não sou assim tão forte.
As vezes, não quero ser nada especial, apenas humano. E isto não me é permitido.

Mas amanhã é sempre outro dia. Ainda que provavelmente seja mais um dia no silêncio e no escuro.

segunda-feira, setembro 27, 2004

A corda

Volto a recorrer ao exemplo da historiografia budista, que narra o comparativo entre instrumento de corda que soa com perfeição quando devidamente apertada, mas que rompe quando está muito apertada, e sequer soa, quando frouxa.

Tenho nos últimos tempos esticado a corda, testado meus limites. Não tenho conseguido fazê-la arrebentar, mas vejo que estou passando do ideal em alguns casos. Falta o contraponto, falta a paciência, tenho sido muito apressado, e não tenho prestado atenção noutras cousas.

Assim sendo, novamente, pedirei licença para recompor as idéias. Desta vez me imporei um tempo de três dias, a contar de amanhã. Assim, devo voltar a postar na sexta-feira.

Poderei quebrar este regime para comunicações de ordem extraordinária. Na verdade, como sempre, me reservo o direito de desrespeitar minhas próprias leis a hora que quiser. Mas a princípio é isto.

Fiquem bem, e se quiserem entrar em contato comigo, usem os outros meios. Se nao tiver outro, deixa um comentário mesmo. P/ alguma coisa tinha que servir este treco de comentários, ninguém usa :P

É isto. Novamente desculpem. O que estou fazendo de viver de extremos é de deixar qualquer um louco, especialmente os que estão a minha volta, mas só leva mais uns meses, prometo. Este é o ano de refazimento, depois de quase meia década em hibernação. :-)

As vezes, um certo mal é ncessário, assim como os dejetos fétidos transformam-se no adubo que, cumprindo sua função, permite que mais tarde surjam as mais diversas, perfumadas e úteis plantas.

Se ficar difícil entender, parecer absurdo, e quiserem culpar alguém, reclamem com Sócrates (não o jogador de futebol, o outro). Só estou seguindo o conselho dele.

O Salto

Três saltos antecedem o arremesso do corpo por sobre a barra. Assumindo que adquira altura suficiente, e que a técnica permita deslizar por cima da barra sem derrubá-la, é medalha olímpica na certa.

E falando assim parece fácil.

O primeiro salto se foi, estou paralisado no tempo prestes a dar o segundo. O terceiro será o mais difícil, o da impulsão final. Não pretendo a medalha de ouro. Bronze será suficiente. Na verdade, vejo prazer em tentar. E se ultrapassar o obstáculo, estarei imensamente feliz.

O pior que poderia acontecer seria me quebrar todo. Aí teria o trabalho de recuperação e preparar para tentar novamente.

Certamente que posso sofrer sequelas, mas a gama de sequelas a que estou exposto parece ser bem menor do que já foi no passado.

Antes uma picada de abelha me imobilizava, eu posso estar enganado, mas me parece que hoje o equivalente a isto seria um boeing 747.

Tenho medo desta euforia. Na verdade, devo confessar, não tenho não.

Me desejem sorte.

Eu entendo...

Eu entendo quando precisas de um tempo.
Entendo ainda quando achas que não há mais tempo, que é agora ou nunca.

Entendo quando pensas que a vida é perfeita
Ou que é um mar tormentoso, tentando te afogar

Entendo que te sintas a sós
Que sorrias e que chorespor mim

Entendo que as dificuldades da vida te assustem
Que dias há de sorriso em céu azul
E outros de cara amarrada, em céu de prata

Entendo que buscas me aceitar como sou
Ainda que eu não seja assim tão aceitável

Entendo quando me olhas com orgulho
E quando me olhas com temor

Entendo quando me queres por perto
E até quando parece que não mais

Entendo a vida, as pessoas
O hoje, o amanhã.

O que, no entanto, não entendo
É como entendo tanto, se nada sou?


Tenham uma boa semana :-)

domingo, setembro 26, 2004

Eu prometo!?

Não prometo nada.

Não prometo ser perfeito ou imperfeito, não prometo ser eu mesmo, não prometo sequer não fazer promessas que não posso cumprir.

Não prometo viver um dia de cada vez, por que isto é inevitável. Ainda que eu esqueça, por vezes.
Não prometo respeitar as vossas opiniões, por que as vezes não respeito a minha própria.
Não prometo ir além, mas também não prometo ficar no senso comum.

Não prometo ser previsível ou imprevisivel. Não prometo ser maleável, nem inacessível.
Não prometo te escutar, não prometo falar.

Não prometo amar, nem aceitar amor. Não prometo viver de bom ou mal humor.

Não prometo nada.

Me comprometo, apenas, a fazer o melhor que posso. As vezes isto será suficiente, as vezes ficará muito aquém do necessário, mas, quem quiser, lá de vez em quando, ter surpresas, de deixar o queixo cair, também não terá do que reclamar.

Ainda embora eu não prometa nem isto, e não prometa nada.

(Inspirado talvez pelas campanhas políticas)

sexta-feira, setembro 24, 2004

Menina da Lua

Leve na lembrança
A singela melodia que eu fiz
Pra ti, ó bem amada
Princesa, olhos d'água
Menina da lua
Quero te ver clara
Clareando a noite intensa deste amor
O céu é teu sorriso
No branco do teu rosto
A irradiar ternura
Quero que desprendas
De qualquer temor que sintas
Tens o teu escudo
O teu tear
Tens na mão, querida
A semente
De uma flor que inspira um beijo ardente
Um convite para amar

Menina da Lua, Maria Rita / Renato Mota

Uns anos atrás se eu ouvisse não diria isto, mas ouvi hoje e: é linda, e tem tudo a ver com a vida (ou eu estou inspirado) :-)

Fearless

Onde foram parar os maiores medos? Os limites, as linhas que não se ultrapassam, jamais?
Só restou o medo de ter medo, o medo desta força toda ser passageira, de voltar a toca, de se perder.

Medo estranho :-)

Só espero um pouco de paz. E um pouco de verdade. Por que viver de dúvidas não combina comigo, ao menos, não mais.

Venha verdade, e mostra sua face, por que se não vier, vou atrás de ti, e hoje, sou implacável, o que talvez não seja bom.

quinta-feira, setembro 23, 2004

Os primeiros passos

Nossos primeiros passos vivem nas memórias de nossos pais. Assim como nossas palavras, nossos gestos, nossos primeiros sorrisos.

Olham a nós, frágeis e indefesos, e imaginam-se diante de pequenos anjos, de criaturas perfeitas. Ignoram o que viremos a nos tornar, mais tarde, quando novamente daremos nossos primeiros passos, desta vez por nós mesmos, na descoberta de nossa condição livre, e das consequências de nossos atos.

As vezes, sob circunstâncias muito especiais, nossa vida passa diante de nossos olhos. Vemos o que fizemos, e, curiosamente, vemos o que deixamos de fazer.

Ontém trilhei os primeiros passos de minha nova vida. Trespassei a ponte que separa o eu homem novo e vigoroso, do eu homem velho, cansado e egoísta, fechado em si mesmo, esperando a morte, sem nunca ter estado pronto para a vida.

As coisas não se transformam por brusca transição. Não foi em um dia que deixei para trás o que não gosto em mim, para no dia seguinte acordar com as características que, com sorte, levarei toda a vida por adquirir.

Mas o primeiro passo foi dado. A partir de hoje, que a minha força seja a do ser que sou, e não da armadura, da carapaça que me protegia. Pois a força do ser humano não consiste em ser rígido, imutável, inatingível. A nossa força verdadeira nasce quando deixamos de nos ver como o centro do universo, ou ainda, quando nos vemos nos outros, e os outros em nós.

As batalhas vencidas foram as mais duras até então, mas nem de longe foram as mais duras de toda a guerra. O mais difícil ainda está por vir, na luta de cada dia.

Mas, por alguma capacidade obscura, já consigo olhar para trás, e ver, trinta anos antes, o dia de ontém, e os dias que lhe seguiram, e o que significaram em minha vida, desde então.

Ninguém é invencível, ninguém é inquebrável, e ainda assim, nesta nossa frágil mortalidade, eu hei de vencer.

terça-feira, setembro 21, 2004

Faz falta

Como faz falta
A luz de teu olhar
Agora só me resta o luar
E esperar,
Esperar...

Como faz falta
A cor de teus cabelos
Hoje contemplo as montanhas
Amanhã lutarei com leões
E não sei se você vem

Como faz falta
Aqueles instantes
Só nós dois

Como faz falta
Deixar de ser
Só eu e mais ninguém

Como faz falta
Faz falta
... Você ...


...isso era p/ ser uma música, mas acho que não gostei. Em todo caso fica registrado. Estou tentando fazer algumas letras.

Música da semana

Quantas coisas eu ainda vou provar?
E quantas vezes para porta eu vou olhar?
Quantos carros nessas ruas vão passar?

Enquanto ela não chegar
Quantos dias eu ainda vou esperar?

E quantas estrelas eu vou tentar contar?
E quantas luzes na cidade vão se apagar?

Enquanto ela não chegar

Eu tenho andado tão sozinho
que eu nem sei no que acreditar
e a paz que busco agora nem a dor vai me negar.


Não deixe o Sol morrer
Errar é aprender
Viver é deixar viver

Quantas besteiras eu ainda vou pensar
E quantos sonhos do tempo vão se esfarelar
Quantas vezes eu vou me criticar

Enquanto ela não chegar


(Enquanto ela não chegar - Frejat)

domingo, setembro 19, 2004

Hope has a place

A esperança é atributo inerente ao ser humano. Eu diria até que, de forma mais primitiva, ela está presente em toda criatura viva.

Lembremo-nos daqueles que tudo perderam. Seus lares, sua família, seu destino. Daqueles que perambulam pela rua, e que estão nela há tanto tempo que já não se lembram de onde vieram, e tampouco tem outro lugar para ir.

Daqueles que se perderam no labirinto do vício ou do crime, destruindo as próprias possibilidades, e que hoje arcam com as consequências.

Já consideraram o que os mantém vivos, senão a esperança?

Os grandes líderes, sejam comunitários, empresariais, religiosos, homens públicos, todos eles, sem a menor sombra de dúvida, transbordam esperança. Pois a esperança é a ponte entre a oportunidade e a realização.

A esperança é a mãe da vontade. Aquele que tem esperança, uma vez tendo a faca e o queijo na mão, se tiver esperança, e consequentemente vontade, corta. Aquele que não tem esperança, ainda que tenha a faca e o queijo, nada faz, fica inerte, e desperdiça oportunidades.

Como bem disse o profeta (não exatamente com estas palavras, e nesta ordem):

Ainda que eu falasse a língua dos homens e a língua dos anjos, ainda que eu soubesse todas as ciências e toda a verdade, ainda que eu entregasse meu corpo para queimar nas chamas, doasse tudo o que tenho para sustento dos pobres, ainda que eu tivesse o dom da profecia e toda a fé a ponto de transportar as montanhas, sem amor, nada disso me aproveitaria.

Sem amor, eu nada seria.

A esperança desenvolvida no coração do homem se une a fé e ao amor, amor pela vida, pelas oportunidades.

O amor é sofredor, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não se vangloria, não se ensoberbece, não se porta inconvenientemente, não busca os seus próprios interesses, não se irrita, não suspeita mal;
não se regozija com a injustiça, mas se regozija com a verdade;
tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.

... Tudo vence.

"Let hope have a place in the lover's heart
Hope has a place in the lover's heart". -- (Enya, Hope has a place)

"Deixe a esperança ter um lugar no coração do que ama,
A esperança tem um lugar, no coração de quem ama".

sábado, setembro 18, 2004

Honra e Deshonra

A honra pode ser entendida, a princípio, sob dois aspectos bem opostos: a honra orgulhosa, e a honra da humildade e reconhecimento.

A honra do orgulho é uma falha. É o que levava nossos antepassados, e por que não dizer, ainda muitos de nossos contemporâneos, a tornarem-se assassínos ou suicidas, nos duelos de outrora e nas brigas de bar de hoje em dia, por exemplo.

É a mesma honra que quando vivida coletivamente, faz com que um povo se ache no direito de submeter outro povo a sua vontade, e daí, as guerras. É o orgulho, de julgar-se melhor e mais potente do que os demais, e uma certa ingenuidade, pensar que a si e aos seus só competem os direitos, e aos demais, que fiquem com as obrigações.

Mas não é sobre esta honra que quero falar hoje. Escrevo agora sobre a honra humilde, a honra do reconhecimento.

É uma honra reconhecer nas pessoas seres em constante progressão, num processo de auto-descobrimento e de auto-reinivenção constantes. Reconhecer suas realizações, o que fizeram de si mesmas, reconhecer nelas criaturas maravilhosas. Encantar-se desde com as pequenas coisas até as grandes: como fazem gestos, como franzem a testa, encantar-se com o jeito como falam, como pensam, como agem.

É uma honra ter a amizade, o carinho, o amor em suas diversas formas, das pessoas especiais que conheci durante a vida. É ainda motivo de forte, ainda que humilde, sentimento de felicidade ao reconhecerem em mim algo de especial, algo que por vezes duvido que eu realmente seja, ainda que, noutras vezes, eu o sinta verdadeiramente...

E por falar em dúvidas, acho realmente que todos temos nossos 5 minutos de bobeira no dia. Onde ficamos temporariamente desprovidos de razão, onde os sentimentos confundem-se, onde, por instantes, nos tornamos indignos do amor que recebemos.

E as vezes, estes 5 minutos de bobeira são suficientes para deshonrar as pessoas. Para permitir que elas sintam-se menosprezadas, para que elas fiquem impossibilitadas de perceber o que realmente pensamos a respeito delas.

Eu, num destes meus 5 minutos, que acabaram durando mais que isto, deshonrei, dentre todas as pessoas, uma das que mais admiro. E embora eu tenha recobrado a consciência, era tarde demais, o mal estava feito, e as consequências também.

Por isso eu, humildemente, gostaria de deixar registrado este conselho, fruto desta experiência: procuremos não deshonrar as pessoas que fazem parte de nossas vidas. No meu caso fui visivelmente injusto, mas ainda que julgassemos ter direito a fazê-lo, não o temos. Somos, cada um de nós, o que de melhor conseguimos fazer de nós mesmos, e ainda mais, estamos, não somos. Os conceitos mudam, os sentimentos desenvolvem-se, as impressões modificam-se, os preconceitos passam.

Conforme o ritmo que vivemos, fica difícil perceber isto, que é possível as pessoas mudarem, que é possível inclusive que elas, que já são melhores que nós em alguns pontos, possam facilmente nos superar nos outros, naqueles em que por ventura nos julguemos algo desenvolvidos.

Nas minhas melhores faculdades, considero-me medíocre, ainda. Não por ser visivelmente sujeito a falhas, a erros, e a decepções, por que ainda que eu fosse melhor, estaria sujeito a isto tudo. Mas por que vejo que as pessoas tem, em geral, mais habilidade para exercerem seus bons atributos do que eu, que luto diariamente contra o monstro que ainda não deixei de o ser, completamente.

Mas sou a prova viva de que o ser humano muda, ainda que sejamos feitos de mudanças incompletas. E mudar não é fácil, faz-nos perder a frágil crença de nossa identidade. Julgamos que reagiremos de um jeito, em determinadas situações, e reagimos de outro, de forma por vezes surpreendente, e de forma por vezes ridícula e lamentável.

A quem me conhece há mais tempo, peço licença para mudar. As pessoas estranham, quando formam juízo de você, e de repente, você deixa de ser previsível, e, de certa forma, deixa de ser conhecido.

As pessoas que me conhecem há menos tempo, em que nossa intimidade está longe ainda de ser completa, não se assustem. As vezes sou meus opostos, e o serei ainda por algum tempo.

O ser humano é formado por muitos atributos, capacidades. Quando descuidamos, por vários anos, de algumas destas capacidades, elas parecem ficar meio que estacionadas no tempo, enquanto as demais se desenvolvem em ritmo mais ou menos normal, ainda que sofrendo os efeitos dos atrasos em outras áreas.

Por vezes, sou um adulto de 40, com a psiquê de um adolescente de 15. As vezes, ainda, não passo dos 9. E mais raramente ainda, tudo se encaixa, tudo faz sentido, e sou quem acredito realmente ser, em meus 24 anos que, se não foram bem vividos antes, estão sendo agora.

Me sentiria horrível se tivesse deshonrado qualquer pessoa, mas deshonrar as que nos são mais caras não é apenas horrível, é assustador.

Dizem que o tempo cura as feridas. Isto é uma meia-verdade. O tempo propicia os recursos necessários para que nós mesmos, por nossos atos, reparemos o mal causado, e por vezes, consigamos encontrar em algo horrível um lado bom, ainda mesmo que nossos atos tenham sido horríveis e sem desculpa possível.

Os medos nos dizem coisas sobre nós mesmos. Até certo ponto nos dizem o que devemos desenvolver em nós mesmos, mas, além deste ponto, se transforma numa espécie de desejo inconsciente, de algo que embora não queiramos, acabamos realizando, e cujas consequencias acabam por transformar-se em transtornos, em grande mal.

Tomemos muito cuidado com nossos medos. Não percamos a esperança.

Tentarei tomar cuidado com os meus daqui para frente. Tentarei honrar-vos, tentarei honrar-me.


sexta-feira, setembro 17, 2004

Antítese

Me permitam escrever a antítese do que me motivou a escrever o texto anterior. Fui egoísta ao fazê-lo, por que ao reflexionar só me preocupei com meus próprios sentimentos e pensamentos.

Não percebi que posso ter deixado no escuro, num turbilhão de dúvidas, a quem eu deveria me esforçar por amenizá-las.

As vezes sou tão tolo e infantil, e pior, não percebo... E as vezes parece que de repente, é tarde demais p/ voltar atrás, e pedir desculpas parece não valer mais nada...

Por que é tão difícil construir qualquer coisa, e parece ser tão fácil arranhar ou quebrar?

Esperança e paciência, salvem-me...

Contraste de Idéias

Cada dia que passa, percebo como é maravilhoso conviver e dialogar com pessoas que não pensam como nós.

As considerações, os pontos de vista, nos fazem refletir por outros ângulos, considerar outras possibilidades, outras analogias. Nós pensamos melhor do que eu penso, indubitavelmente.

E as vezes não são necessários longos diálogos. As vezes você está lá, filosofando, ou tentando comparar idéias, e alguém joga uma frase, uma palavra. As vezes te desconcerta, por que você está pensando em alhos e alguém te faz pensar em bugalhos, mas as vezes você procura uma idéia que te falta e não acha, e alguém com uma palavra te faz ter aquele estalo: Eureka!

Eu tenho este hábito cada vez mais intenso de refletir sobre as coisas que acontecem comigo: sobre os sentimentos, as reações a eles, sobre a maneira como vejo o mundo...

Sobre a forma com que agem os conceitos que formamos da vida, de nós mesmos e dos outros, diante de situações inesperadas.

As vezes uma só palavra muda tudo, para melhor. Faz o que parece um inferno virar um horizonte com céu limpo. O caos se ordena, e o que parece insolúvel se mostra menos complicado do que parece.

Sei que isto é raro. Estou surpreso. Mas tem acontecido tanto.

Há tanto a aprender. Obrigado por me ensinarem :-)

quinta-feira, setembro 16, 2004

Sensacional...

Esta música é uma obra prima: "O quereres", do Caetano. Eu nunca tinha ouvido. Valeu a dica, Rafa ! :-)

Deixo um trechinho p/ degustação ... bem coisa do Caetano mesmo :P

"O quereres e o estares sempre a fim do que em mim é de mim tão desigual
Faz-me querer-te bem, querer-te mal, bem a ti, mal ao quereres assim
Infinitivamente pessoal, e eu querendo querer-te sem ter fim
E querendo te aprender o total do querer que há e do que não há em mim"

terça-feira, setembro 14, 2004

O amor é lindo

Ele abriu os olhos e ela estava ali, muito perto.

Podia sentir sua respiração, mas ele não tocou suas faces, como desejou irresistivelmente.

Resistiu.

Era muito bom ter ao alcance das mãos o que procurou a vida inteira.

Alguém para estar justamente ali, ao lado. Nem à frente nem atrás, tampouco acima, muito menos abaixo: exatamente ao lado.

Fitou que fitou o semblante sereno de quem nada tinha a temer.

Ela estava segura, protegida, e ninguém melhor do que ele sabia disso. Porque essa era sua missão na terra, na vida, daqui pra frente: cuidar direitinho para que ela pudesse estar ali, ao seu lado, tornando todas as manhãs melhores, todos os dias desejáveis e tudo o que viesse pela frente absolutamente viável.

Era isso: ela, ali, apenas ali, tornava o mundo muito fácil de compreender e enfrentar.

A vida, por um momento, tornou-se resolvível como nunca fora.

E ele então fez o que desejou profundamente, agora não resistiu mais: apenas velou o sono, quieto e convencido de que tudo valia a pena.

Óbvio, porém lindo, o amor...

Pensou nessa bobagem e depois também dormiu, feliz.

(Luis Caversan, Folha de São Paulo, 11/09/2004)

A Opinião Dos Outros

Você se importa com a opinião que os outros têm a seu respeito?
Se a sua resposta for não, então você é uma pessoa que sabe de si mesma. Que
se conhece. É auto-suficiente.
No entanto, se a opinião dos outros sobre você é decisiva, vamos pensar um
pouco sobre o quanto isso pode lhe ser prejudicial.
O primeiro sintoma de alguém que está sob o jugo da opinião alheia, é a
dependência de elogios.
Se ninguém disser que o seu cabelo, a sua roupa, ou outro detalhe qualquer
está bem, a pessoa não se sente segura.
Se alguém lhe diz que está com aparência de doente, a pessoa se sente
amolentada e logo procura um médico.
Se ouve alguém dizer que está gorda, desesperadamente tenta diminuir peso.
Mas se disserem que é bonita, inteligente, esperta, ela também acredita.
Se lhe dizem que é feia, a pessoa se desespera. Principalmente se não tem
condições de reparar a suposta feiúra com cirurgia plástica.
Existem pessoas que ficam o tempo todo à procura de alguém que lhes diga
algo que as faça se sentir seguras, mesmo que esse alguém não as conheça
bem.
Há pessoas que dependem da opinião alheia e se infelicitam na tentativa de
agradar sempre.
São mulheres que aumentam ou diminuem seios, lábios, bochechas, nariz, para
agradar seu pretendido. Como se isso fosse garantir o seu amor.
São homens que fazem implante de cabelo, modificam dentes, queixo, nariz,
malham até à exaustão, para impressionar a sua eleita.
E, quando essas pessoas, inseguras e dependentes, não encontram ninguém que
as elogie, que lhes diga o que desejam ouvir, se infelicitam e, não raro,
caem em depressão.
Não se dão conta de que a opinião dos outros é superficial e leviana, pois
geralmente não conhecem as pessoas das quais falam.
Para que você seja realmente feliz, aprenda a se conhecer e a se aceitar
como você é.
Não acredite em tudo o que falam a seu respeito. Não se deixe impressionar
com falsos elogios, nem com críticas infundadas.
Seja você. Descubra o que tem de bom em sua intimidade e valorize-se.
Ninguém melhor do que você para saber o que se passa na sua alma.
Procure estar bem com a sua consciência, sem neurose de querer agradar os
outros, pois os outros nem sempre dão valor aos seus esforços.
A meditação é excelente ferramenta de auto-ajuda. Mergulhar nas profundezas
da própria alma em busca de si mesmo é arte que merece atenção e dedicação.
Quando a pessoa se conhece, podem emitir dela as opiniões mais
contraditórias que ela não se deixa impressionar, nem iludir, pois sabe da
sua realidade.
Nesses dias em que as mídias tentam criar protótipos de beleza física, e
enaltecer a juventude do corpo como único bem que merece investimento, não
se deixe iludir.
Você vale pelo que é, e não pelo que tem ou aparenta ser. A verdadeira
beleza é a da alma. A eterna juventude é atributo do espírito imortal.
O importante mesmo, é que você se goste. Que você se respeite. Que se cuide
e se sinta bem.
A opinião de alguém só deve fazer sentido e ter peso, se esse alguém estiver
realmente interessado na sua felicidade e no seu bem-estar.

Pense nisso!

Nenhuma opinião que emitam sobre você, deve provocar tristeza ou alegria em
demasia.
Os elogios levianos não acrescentam nada além do que você é, e as críticas
negativas não tornarão você pior.
Busque o autoconhecimento e aprenda a desenvolver a auto-estima.
Mas lembre-se: seja exigente para consigo, e indulgente para com os outros.
Eis uma fórmula segura para que você encontre a autoconfiança e a segurança
necessárias ao seu bem-estar efetivo.
E jamais esqueça que a verdadeira elegância é a do caráter, que procede da
alma justa e nobre.
Pense nisso, e liberte-se do jugo da opinião dos outros.


-- Fonte: Momento Espírita

segunda-feira, setembro 13, 2004

Centésimo

Este é o centésimo post.

As vezes não acredito que continuo escrevendo. As vezes, ainda, sequer acredito que comecei.

As vezes escrevo para vocês, as vezes, escrevo para mim, mas sempre escrevo por mim. Por sentir uma motivação alienígena. Como dizia camões, me surge "um não sei quê, que nasce não sei onde,
vem não sei como e dói não sei porquê".

E o pior é que em geral não gosto do que escrevo. Vejo que meu português deixa a desejar, minhas colocações nem sempre ficam claras, e pior, nem sempre expressam o que julgo ser minha opinião sobre alguns temas. Falho na pontuação, misturo as pessoas, troco os pronomes. As vezes é o que basta para deixar de fazer sentido.

E, no entanto, continuo escrevendo.

Hoje farei uma confissão. Alguns de vocês já sabem. Outros de vocês talvez não saibam, mas não se sintam menosprezados, pois ou não temos assim tanta intimidade, ou foi falta mesmo de oportunidade de conversarmos. As pessoas com quem melhor converso parecem ser as mais inacessíveis, nestes dias conturbados de hoje.

A confissão é que estou em crise de identidade. Confusos? Por que isto não deveria ser novidade, mas é. Desta vez, não é crise de identidade pessoal. Eu mais ou menos sei quem eu sou, pela primeira vez na vida. E nas oportunidades de testar minha personalidade, tenho saído, em geral, como vencedor.

Estou em crise de identidade profissional, talvez social. Eu não me considero privilegiado em nenhum aspecto. Na verdade, não acredito em privilégios. Mas vejo que possuo atributos que poderiam ser melhor utilizados. De conhecimento a força de vontade, atributos estes que se guardados para mim mesmo, nada valem. Anseio por encontrar espaço para pô-los em prática. As vezes penso em me afiliar a alguma ONG. Fazer algum trabalho voluntário que aproveite em alguma coisa. Eu já faço trabalho voluntário, mas apenas uma hora por semana, o que é nada diante do meu tempo.

Eu quero que a minha profissão seja socialmente útil. Durante muito tempo, só quis ganhar dinheiro. E por mais óbvia que seja a constatação, eu só fui me aperceber inteiramente que o caminho não era este, quando li aquela mensagem do Nizan Guanaes que reproduzi aqui, que alguém me passou por e-mail, ou seja, não faz tanto tempo assim.

Não quero que o dinheiro seja o fim do meu trabalho. Que seja uma das consequências, que seja o meio, o que quer que seja, mas não o fim. Pois se assim continuar sendo, eu andarei por trilhas perigosas, onde meu caráter pode vir a ser precificado. Já acho que neste nosso país, fazemos coisas demais cuja legalidade pode ser garantida, mas cuja moralidade é discutível. Nos habituamos ao jeitinho fácil. Não temos consciência social, é tudo na base da propina.

Lamento, não serei assim. Não vim do inferno pessoal, em escalada dura, para a ele retornar.

Não me satisfaço profissionalmente, ainda. Mas encontro motivação nas oportunidades que vejo diante de meus olhos. Confio que em ao menos uma delas encontarei a satisfação do dever cumprido. Satisfação esta que é inigualável, e que aparentemente, muitos ignoram, ou dela se esqueceram.

Quero ir além. Quero que o ciclo profissional marcado pelos últimos quatro ou cinco anos resulte em algo novo. É bem verdade que diariamente encontro desafios, mas eles já são insuficientes diante das minhas possibilidades.

Ferramenta inútil sim, ociosa, espero, jamais.

Como dizia o falecido poeta, "Sou meu próprio líder, ando em círculos, me equilibro entre dias e noites. Minha vida toda espera algo de mim ..."

Não espere. Venha buscar :-)

sábado, setembro 11, 2004

Sinceridade

Narram-nos alguns etimologistas a origem da palavra "sincera".

Contam eles que os romanos, afeiçoados a esculturas e a objetos de decoração em geral, por vezes mandavam restaurá-los. E o processo envolvia cobrir as rachaduras e imperfeições com cera, de modo a dar o aspecto de novo ao objeto. Só que a cera não resistia muito tempo ao calor e as intempéries, e os romanos logo aprenderam a exigir, ao comprar um objeto:
- Sine cera

Que quer dizer "sem cera". Não queriam um objeto disfarçado de novo, coberto por algo irreal. Aí surgiu o termo moderno, sincera, e suas flexões: sinceridade, sincero, etc.

Nos cobrimos por vezes com a cera da mentira, mesmo sem querer, e frequentemente, sem perceber. Quando tentamos parecer o que não somos, quando consentimos que algo seja feito contra nossos direitos ou os de nossos semelhantes.

Frequentemente, deixamos de ser sinceros por medo.
Alguns exemplos...
Na amizade, quando, por medo de sermos repreendidos, deixamos de advertir nossos amigos que eles estão indo por um caminho perigoso.
No amor, quando, por medo de magoarmos quem conosco está, guardamos para nós mesmos dúvidas, remorsos, sensações e sentimentos que talvez não digam respeito apenas a nós mesmos, enquanto individualidades. Sensações que se acumulam, e que poderiam ser facilmente resolvidas, mas que ao invés disto, transformam-se em tempestades em copos d'agua.

Deixamos de ser sinceros conosco mesmo, quando sabemos que algo nos faz mal, e insistimos nisto assim mesmo. Quando não ouvimos, ao menos ouvimos, nossas consciências.

Não somos sinceros quanto a nossos objetivos, nossas capacidades, nossa força.
E quem não é sincero consigo mesmo, encontra dificuldades enormes de ser sincero para com quem quer que seja...

Retiremos a maquiagem de nossos caráteres. Ela não é senão a continuidade da impotência. Não somos felizes, enquanto não assumimos a responsabilidade por nossa felicidade, e não podemos ser responsáveis, se não temos liberdade a exercer.

O mar e eu

Lembram que há algum tempo escrevi sobre o mar, e como seria bom ir vê-lo? Pois fui. Meia noite e meia, eu com sono, indo p/ casa, quando de repente cruzo a estrada que me levaria ao mar, e algo ressona em minha cabeça, como um eco, uma voz distante porém muito forte, que pergunta: - por quê não?

E lá fui eu. Seria uma tranquila viagem de Curitiba a Guaratuba, que foi o que me pareceu mais apropriado, já que dá perto de 100km. Indo a uma média de 90 km/h, eu praticamente não ia gastar combustível. E de fato, exceto que peguei neblina e chuva boa parte do percurso, e que a neblina estava tão densa que tive que colar na traseira de um caminhão e desligar os faróis (assim eu podia enxergar a estrada com os faróis do caminhão, pois os meus ofuscavam a vista. Se eu fosse com meus faróis, arriscava eu seguir o caminhão p/ fora da pista, se ele errasse o caminho).

E tudo foi quase como o planejado, até que eu passei na entrada para Itapoá, e movido por um instinto aventureiro, outro pensamento me passou pela cabeça: - já que estou aqui mesmo ...

Entrei. Rodei aquilo tudo de madrugada praticamente sozinho, eu e uns poucos carros vindos na direção contrária, mas nenhum sequer na minha frente, ou atrás... Só algumas bicicletas no caminho, o que me é dificil imaginar, nos dias de hoje, ser tranquilo, mesmo possível, andar de bicicleta perto das 3 da manhã...

Rodei perto de uma hora, naquela estradinha esquisita que corta Itapoá, em grande parte do trajeto era a unica via pavimentada, e ainda assim, com trechos incompletos.

Cheguei ao final dela, e ela dava em uma estradinha de terra. Dessas com pedras. Segui. Fui parar em algo que lembrava um cruzamento, com placas estranhas, tive que abaixar o vidro para conseguir lê-las. Dizia ferry boat. Segui por ela. De repente não era mais estrada de pedra e barro, era estrada de lama, lisa, sem pedras. Pensei que não devia ser possível passar por ela de carro, mas passei. Passei por duas pontes daquelas safadas que você pensa: "esta porcaria vai cair quando eu passar por cima dela".

Segui por mais ou menos hora e meia por um estrada cujos melhores trechos não comportavam que se fosse a mais de 65 km/h. Lama pura. Eu e um jipe e teria sido algo interessante. Em alguns instantes o carro saia da pista, na lama, e por alguma razão inexplicável, aparentemente meus instintos sabem dirigir na lama, vê se pode. Reduzia a marcha, deixava encaixar no sentido favoravel a sair da pista, jogava p/ o outro lado levemente acelerando, e pronto, eu estava no meu rumo de novo. Meu medo era que o carro "quisesse" sair de traseira, e de fato quis sair, mas na velocidade que eu estava era contornável... Ainda tenho muito a aprender.

A estrada termina num lugar para atracar uma balsa. Abaixei o banco e dormi por ali, sem antes me perguntar que cena curiosa: Só eu, o mar e ... faltaram as estrelas! O céu estava encoberto. Mas uma sensação de pânico e de prazer se misturavam, eu estava sozinho, com a natureza, quase 5 da manhã, no meio do nada. Desliguei o rádio, e ouvi o som ao redor. O mar (na verdade, não era um trecho de mar aberto, era a entrada de uma baia) lambia as pedras e fazia um barulho muito engraçado, era quase um ruído silêncioso. Haviam sapos coachando e outros bichos que de vez em quando passavam correndo no meio do nada e praticamente não faziam barulho.

As vezes eu tinha a impressão que haviam pessoas por perto, por causa de certos ruídos. Mas não, nada, ninguém. Fiquei contemplando esta sensação de medo e poder por uma meia hora, aí dormi. Acordei, então, as 6. Tomei um pouco d'agua, e tentei ficar acordado. Numa placa dizia que a balsa passava as 6:30. Às 6:20 ela ancorou. Desceram dela uns 3 carros e um caminhão, e depois eu embarquei. As 6:25 a balsa partiu, afinal, de passageiro só tinha eu. Pela cara do povo da balsa, ninguém fazia este trajeto, naquele sentido, e naquele horário, há um bom tempo.

Segui para Joinville. Joinville é uma cidade curiosa. Uma parte dela parece uma típica cidade de interior catarinense, outra parte dela parece uma cidade feia, dessas mal desenvolvidas e nem de longe planejadas.

Rodei por mais ou menos uma hora, e decidi voltar. Peguei a 101, depois 376, chuva por todo o percursos. Cheguei em casa perto das 9:30, e fui direto p/ cama.

Foi uma divertida experiência egoísta, acho que minha primeira viagem aventureira realmente sozinho. Já viajei um bocadinho de carro, mas as vezes que fui sozinho, foram de dia e em trechos pequenos.

O interessante é que eu, representante mor do egoísmo na terra, não me senti inteiramente satisfeito com os resultados da viagem. Certamente que foi ótima e estou feliz por tê-la feito, mas teria sido muito melhor se eu pudesse dividi-la com alguém.

Chega uma época na vida em que nossos trunfos nada valem, se só se aproveitam a nós mesmos. Acho que estou beirando esta época, se é que já não estou nela. É complicado, tudo acontecendo ao mesmo tempo, em alguém que paralisou alguns aspectos da vida por tempo demais.

A vida é mesmo curiosa. E se torna assustadoramente interessante, quando te encontras a sós com tua consciência, no meio do nada, de madrugada, numa estrada deserta que descamba em um atracadouro que eu apenas sabia que teria uma balsa, nem sabia para onde esta iria.

Acho que este mundo barulhento faz de tudo para que não fiquemos a sós conosco mesmos. Conheço pessoas que não conseguem estar em silêncio. Ligam a tv, o rádio, até para dormir. E só dormem quando estão exaustos, parece que assim não tem que pensar em nada, basta dormir, e a rotina continua no dia seguinte.

Conheço bem este medo, de por a cabeça no travesseiro, e se perguntar: - Que estou fazendo de minha vida? Será que me perdi, no meio das obrigações e da rotina, e já não sei quem eu sou? Será que tenho coragem de me olhar no espelho, face a face, e me perguntar: quem é você?

Quem é você, Alexandre? Você, que ora equilibra duas forças que se contrapõe, ora é esmagado por qualquer uma delas. Que harmoniza o que não pode ser harmonizado, para depois desequilibrar o que já estava balanceado? Ora, o mediador, ora o gerador de conflitos. Quem é você?

Por que, Alexandre, as vezes, no meio de uma multidão de um milhão de pessoas, sente uma solidão profunda que o destrói, e as vezes, no meio do nada, sente-se bem acompanhado, por aqueles que carrega consigo em seu coração?

Fiat Anima, protótipo. Deixa o futuro ser presente. Deixa o mundo ser o mundo, e permite-se ser.

Nosso maior inimigo, por vezes, somos nós mesmos. Nosso medo, nossa preguiça, nosso comodismo. É comodo estar em cima do muro. É fácil não pensar. É facil imitar. E imitar é válido e necessário, porém insuficiente.

O jeito é ir além ...

Bom fim de semana :-)

P.S..: O fato de eu ter escrito o texto anterior na segunda pessoa do singular produziu um efeito curioso. Não quero usar vocês de cobaias, mas eu realmente queria testar esta forma e aparentemente ela funciona bem, embora não como o esperado :-)

quinta-feira, setembro 09, 2004

Amigos, ainda não sei...

Ainda não sei como você vê a vida. Talvez, pelo que você me fale, eu consigo imaginar de leve, as vezes. Mas não consigo ainda ver a vida com os seus olhos, não importa se nos conhecemos ontém ou há 20 anos... Portanto tenha paciência com meus pontos de vista, e lembre-me quando eu esquecer que esta regra também vale para mim ...

Ainda não sei o que pensa a meu respeito, exceto pelo que você me diz. Lhe asseguro que ao menos parte do que lhe vai a mente é verdade. Mas não sei se te assusto as vezes, é provável que sim. É difícil me entender. Mudo de opinião como quem muda de roupa. Como já diziam, não tenho vergonha de mudar de idéia, vergonha é não ter idéia p/ mudar. Mas sei que isto assusta, as vezes. Outra coisa é que cansei, já há muito tempo, de tentar me fazer agradável. As vezes sou assim mesmo, espinhento, paciência. O que não prometo é ser perfeito, a esconder meus defeitos, a disfarçar meus temores, e minhas iras. Fiz isto a vida toda, e o resultado foi mais temores e mais ira. Se alguém se afastar de mim por isto, estará perdendo o lado bom, que não deve ser assim tão indigno do esforço. Não quer dizer que tenha que aturar minhas excentricidades. Quando eu for um pé no saco, alto lá. Sei calar-me quando é necessário, mas as vezes não sei quando é necessário, favor avisar :-)

Ainda não sei como me vê em sua vida. Não sei, a menos que me diga, se sou apenas mais um conhecido, mais um colega que chama de amigo por educação, se sou ou serei o ombro a quem você recorre quando tiver com problemas, ou se serei aquele que eventualmente se torna referêncial de alguma coisa. E não quero dizer eu que quero ser um dentre estes tipos, pois estou disposto a ser o que você me permitir ser. Eventualmente podemos discordar do tamanho de nossa amizade e do espaço que ela deve ocupar, mas com o tempo estas coisas se ajustam. Todos gostamos de ter nossos limites respeitados, inclusive este que te escreve. Mas este limite não deveria ser a distância entre a terra e a lua, talvez, entre uma quadra e outra.

Ainda não sei se você realmente estará em minha vida pelo tempo que eu gostaria que estivesse. Amanhã, você pode chegar e me dizer que está indo morar no exterior, ou sei lá onde. E isto pode até não influir na nossa amizade, mas pode criar mais daquelas saudades que já não são poucas.

Ainda não sei se você entenderá que este texto não é dirigido a alguém em particular, embora esteja na segunda pessoa do singular. É dirigido sim a você, e a vocês, que são ou estão, e a você, e a vocês, que ainda virão.

Ainda não sei se você, que já não é e não está, mas que um dia por ventura foi, entenderá o que digo. Talvez isto valha para você também, se estiver disposto a substituir as muralhas e os espinhos por pontes e rosas.

Ainda não sei se você compreende o que a sua amizade representa em minha vida. Talvez nem eu saiba, ainda. Mas de todo modo, mesmo que mal nos conheçamos, é sempre bom ter amigos. Insisto que a vida se encarrega de manter próximos de nós (apesar de toda a eventual distância física) aqueles que nos são importantes.

Ainda não sei por que escrevo, se, provavelmente, muitos de vocês jamais lerão isto aqui...

Obrigado pela amizade, pela paciência. Desculpem-me quando os decepcionar (e estejam certos de que o farei, mais de uma vez, se tivermos o tempo necessário para tal).

Espero, aos poucos, agregar estima a vossas vidas, um dia, tanto quanto, estejam certos, vocês agregam a minha.

Clarisse

"Estou cansado de ser vilipendiado, incompreendido e descartado
Quem diz que me entende
Nunca quis saber" -- Clarisse / Legião Urbana

Que vazio é este que torna o ser humano, tão rico e cheio de possibilidades, num autófago, num suicida inconsciente e o permite a mais absoluta pobreza moral?

Este, que pode ser senhor de suas idéias, por que transforma-se em escravo delas, das mais absurdas utopias, por que tudo vira verdade absoluta, inquestionável, a ponto dele morrer por elas?

Por que se julga suficientemente forte para morrer por algo, e não percebe que é inexoravelmente mais digno viver pelo que acredita, todos os dias de sua vida? Somos tolos, suicidas insensatos. Se não nos matamos de uma vez, o fazemos aos poucos, encurtando nossas possibilidades no sofrimento evitável e na tortura incessante de nós mesmos.

Imolamos nossos corpos, nossa saúde, na busca de quimeras, do prazer fácil, de culpa, de perdão, do que quer que seja.

Se o ser humano carrega em si os germens de todas as virtudes, por que planta-os no pântano do egoísmo, para ver morrer sua sementeira?

Por que dizer "Amor omnia vinciti", se em pensamento, acrescenta "pero no mucho"?

Insensatos são sempre os outros, no que diz respeito a nós mesmos, estamos sempre certos, não? Pobres de nós.

Mas de que estou reclamando? The show must go on.

quarta-feira, setembro 08, 2004

Sonhos que podemos ter

De volta à ativa.

A viagem que fiz me serviu para reflexionar mais um pouco sobre a vida. Foi muito proveitosa, neste e em outros sentidos.

Pude compartilhar da felicidade daqueles que hoje começam a realizar seus sonhos, neste processo que não termina, apenas evolve, sempre, moldando e descobrindo outros sonhos, conforme molda-se e redescobre-se o ser que lhes é criador e realizador.

Pude colocar em perspectiva minha própria vida, e constatar o que há muito eu me esforço por não reconhecer: há muitos aspectos da minha vida que negligenciei, e preciso, de maneira firme, trabalhar neles, de modo a me permitir um desenvolvimento integral, enquanto ser humano e membro de uma sociedade cujas necessidades por vezes parecem não ter fim.

E se é bem verdade que o progresso se faz, de forma lenta e constante, também é verdade que as dificuldades se fazem presentes, por vezes querendo convencer-me a desistir de trilhar o caminho que escolhi e realizar meus próprios sonhos.

Dificuldades, sejam bem vindas. Vocês são a pedra de toque, a medida, a prova. Se vencerem, provarão que ou eu não estava pronto, e isto não me fará desistir, ou que eu estava cultivando utopias, o que me fará acertar o rumo, cada vez mais.

Em compensação, se não vencerem... vencerei-me.

Quero viver 300 anos em 30. Nosso ritmo de vida as vezes quer que eu viva 300 em 3. Foi-se o tempo em que eu podia viver 3 em 300...

O tempo urge, e as oportunidades nos chamam.

Fiat Lux, Fiat Anima!

Fiquem bem. Eu estarei.

terça-feira, setembro 07, 2004

Welcome back

Voltei de viagem...

Como estou exausto, minhas pernas doem um pouco, não irei me delongar, nem contar como foi a viagem (digo apenas que foi sensacional).

De todo modo, é bom estar de volta. Assim que possível eu volto a escrever.

Fiquem bem.

sexta-feira, setembro 03, 2004

... But I have to go

Preciso partir. Não há mais tempo algum.
Gostaria de deixar minhas lembranças. Mas preciso ir.
Vocês são importantes para mim.
Mas o destino me espera.

Para uns, eu gostaria de deixar meu blog. Assim alguém escreveria nele na minha ausência.
Para outros, eu gostaria de deixar meus pensamentos. Assim, a equação matemática que baliza o mundo permaneceria balanceada, pois não faltaria a pitada de loucura que há em mim.

Para uma pessoa especial, eu gostaria de deixar meu travesseiro. Está um pouco babado, mas meu cheiro está nele. Não entendo muito de seres humanos, mas nos animais, isto certamente faria com que não sentisse tanto minha falta.

Não, isto não é um testamento, eu quero meu travesseiro de volta, e meu blog, e meus pensamentos. Não se preocupem.

Mas, ainda, caso algo ocorresse, meus pensamentos e meu blog continuariam a ser alimentados, embora meu blog seja inútil e meus pensamentos sejam imperfeitos. Meu travesseiro estaria em boas mãos, embora, preferisse eu que o travesseiro estivesse sozinho na cama, e eu em boas mãos, mas aí já estou querendo demais :-)

Explico o por que desta pequena despedida. Estou indo ao casamento de uma prima, praticamente toda a família por parte de meu pai vai estar lá. É sempre bom revê-los. Retornarei, são e salvo, na terça-feira, em horário ainda indefinido.

Obrigado pela audiência e lembrem-se: Carrego vocês comigo em meu coração.

90 posts atrás...

Este é o post de número 90.

Há mais de um ano eu pensava em fazer um blog, encorajado pela minha amiga Andressa, que era a maior "blogueira" do pedaço, mas que hoje em dia desanimou um pouco... Então eu prometi que faria um blog até no máximo o último dia do ano passado, mas infelizmente eu bobeei e só pude fazer nos primeiros dias de janeiro.

E que experiência interessante tem sido isto aqui. No começo, eu achei que iria fazer uma espécie de diário mesmo, ou um "semanário", algo que eu ia pegar na sexta-feira e escrever "minha semana foi boa ou foi ruim, fiz tal coisa de importante, tchau, até semana que vem"...

Mas se tornou algo completamente diferente. As vezes, um mural de recados para mim mesmo, o que é no mínimo curioso. As vezes, uma válvula de escape, onde acabam parando minhas incertezas. As vezes, se torna um painel para louvar a vida, as oportunidades, e para apreciar os pequenos sucessos do dia a dia, não esquecendo dos insucessos, mas cada coisa na sua devida ordem de importância.

Alguns dos leitores quase anônimos que passam por aqui parecem se inspirar com algumas coisas que escrevo. Peço perdão se nem todas as coisas que escrevo são inspiradoras, algumas tem um quê de destrutivas, mas é meu desabafo, se eu não as jogo aqui, parece que ficam me roendo. É um exercício para mim, creio que para todos nós, aprender a valorizar as coisas boas, mesmo as pequenas, saber de sua importância. Frequentemente nos apegamos ao sofrimento, a dificuldade, ao medo e as dúvidas, pois que por vezes nos parece mais fácil lidar com eles do que com a perspectiva de ver nossas vidas mudarem, ainda que possivelmente para a melhor.

É sobremaneira agradável trocar idéias com as pessoas, e descobrir que há sempre algo novo a aprender. Devo muito a todos vocês, mesmo aqueles que dizem não entender metade das coisas que escrevo. Se vocês realmente entendem metade, estão melhor entendidos do que eu, me acreditem.

Amo vocês, ou, ao menos, a maioria de vocês :-P

Fiquem em paz.


quinta-feira, setembro 02, 2004

Pensamento do dia.

Na visão de Saramago, "o escritor não deve transformar o ser humano em mero efeito de uma situação política econômica ou social. Como se ele não levasse dentro de si o fermento que fará transformar esses mesmos condicionamentos".

Considerai os Lírios

Peço licença para uma citação bíblica:

"E disse ao povo: Acautelai-vos e guardai-vos de toda espécie de cobiça; porque a vida do homem não consiste na abundância das coisas que possui.

Propôs-lhes então uma parábola, dizendo: O campo de um homem rico produzira com abundância;

E ele arrazoava consigo, dizendo: Que farei? Pois não tenho onde recolher os meus frutos.

Disse então: Farei isto: derribarei os meus celeiros e edificarei outros maiores, e ali recolherei todos os meus cereais e os meus bens;

E direi à minha alma: Alma, tens em depósito muitos bens para muitos anos; descansa, come, bebe, regala-te.

Mas Deus lhe disse: Insensato, esta noite te pedirão a tua alma; e o que tens preparado, para quem será?

Assim é aquele que para si ajunta tesouros, e não é rico para com Deus.

E disse aos seus discípulos: Por isso vos digo: Não estejais ansiosos quanto à vossa vida, pelo que haveis de comer, nem quanto ao corpo, pelo que haveis de vestir.

Pois a vida é mais do que o alimento, e o corpo mais do que o vestuário.

Considerai os corvos, que não semeiam nem ceifam; não têm despensa nem celeiro; contudo, Deus os alimenta. Quanto mais não valeis vós do que as aves!

Ora, qual de vós, por mais ansioso que esteja, pode acrescentar um côvado à sua estatura?

Porquanto, se não podeis fazer nem as coisas mínimas, por que estais ansiosos pelas outras?

Considerai os lírios, como crescem; não trabalham, nem fiam; contudo vos digo que nem mesmo Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como um deles.

Se, pois, Deus assim veste a erva que hoje está no campo e amanhã é lançada no forno, quanto mais vós, homens de pouca fé?" -- Lucas, 12, 15 - 28.

Assevero que a intenção de Jesus não terá sido a de dizer que o homem deva descuidar do trabalho, das obrigações materiais, como ter recursos para prover o sustento a si e aos que se lhe são dependentes.

Tampouco significa que devemos abrir mão dos recursos materiais e viver na miséria, embora alguns assim entendam nos versículos seguintes, mas é mesmo difícil encontrar quem leia este livro, ou outro qualquer, e não o interprete literalmente.

O convite que ele nos faz é de colocar as coisas em seu devido lugar. O que vêm primeiro, os tesouros do mundo, ou o tesouro do coração? Que deixaremos de herança a nossos filhos? Bens materiais que eles poderão consumir em alguns anos de vida fácil e autodestrutiva, ou valores que os acompanharão por todos os dias de suas vidas?

E "Nem Salomão, em toda sua glória, jamais se vestiu como um deles."

"De que te vale ganhar o mundo, e perder a própria alma?"

A posição de que desfrutas no mundo não te pertence. É uma concessão que pode lhe ser retirada. Usa-a bem.
Terás sobre os dias a tentação de converter o poder que lhe foi concedido em causa própria. Serás tão responsável pelos excessos que cometa, como pelas vezes que cruzar os braços e deixar de exercer a tua capacidade e o teu dever.

Vive bem, e não duvides, todas as condições lhe foram ofertadas. Usa-as bem.

Poles Apart

Sometimes I miss you, Poles Apart.
Farewell. Good bye.


Tradução/adaptação livres de Poles Apart / Pink Floyd

Polos Distantes

Você sabia... Tudo daria tão errado para você
E você viu / tudo daria tão certo para mim
Por que fomos te contar, então
Que você seria sempre o garoto dourado, então
E que você nunca perderia aquela luz em seus olhos

Ei, você... Sempre percebeu o que você se tornaria?
E você viu que não era apenas de mim que você estava fugindo?
Você sabia todo o tempo, mas não te incomodava de modo algum
Conduzindo os cegos enquanto eu fitava a dureza em seu olhar

A chuva caia fraca, sob todos os telhados de incerteza
Pensei em você, e os anos, e toda a tristeza, se esvairam de mim

E você sabia...

Jamais pensei que você perderia aquela luz em seu olhar.

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