terça-feira, agosto 31, 2004

P'ra não dizer...

Pra não dizer que meu blog é só lamento, vou escrever uma história alegre desta vez.

João tinha 28 anos, era casado com Augusta, que tinha 27, filha de d. Maria, 65, e seu Antenor, 72.

João era torneiro mecânico, trabalhava 8 horas por dia, inclusive aos sábados, mas como moravam na grande metrópole, levava hora e meia p/ ir, hora e meia p/ voltar, da sua residência ao trabalho. Tinha hora e meia de almoço, o qual fazia no refeitório da empresa. 8 com três são 11 horas, mais hora e meia são 12 horas e meia.

Dormia 8 horas. E nas atividades corriqueiras como se alimentar, escovar os dentes, ir ao banheiro, fazer a barba, dispendia mais duas horas por dia. São 8 horas dormindo e 14 horas e meia, se somei certo, 22 horas e meia. Sobram-lhe uma hora e meia.

Nesta hora e meia, João, que durante a maior parte do tempo é um ser pacato e de falar pouco, procura aproveitar para tirar o atraso. Em geral, conversa com Augusta sobre coisas da vida.

A interroga sobre como foi seu dia, o que ocorreu na vizinhança, o que passou na tv. Eles ainda não tem filhos, mas planejam ter nos próximos 3 a 4 anos, se o salário de João melhorar. A partir do terceiro ano no emprego, ele recebe adicional por participacão nos lucros, o que, se tudo der certo, aumentará seu salário significativamente.

João adora conversar com Augusta sobre seus planos para o futuro. Falam até de quando estiverem aposentados, e tiverem netos. Tentam adivinhar quantos, quais seriam seus nomes, a profissão de seus futuros filhos.

Riem de si mesmos, quando descobrem quanto tempo passam no assunto.

Augusta é uma mulher muito feliz. João, embora não fosse um homem particularmente bonito, nem rico, era muito cobiçado, pois no bairro onde eles moravam, era dos poucos trabalhadores bem empregados. Antes de trocar de emprego, trabalhou por dez anos em uma metalúrgica, que acabou fechando por conta de um destes pacotes econômicos.

Augusta, no entanto, não se interessava por João pelas condições que ele podia lhe dar. Quando conheceu João, ele foi, de início, um bom amigo. Saiam juntos as festas, conversavam bastante, e João, na época, namorava Helena, prima de Augusta, hoje com 31. Foi nessas conversas que Augusta se apaixonou.

João era um homem atencioso. Prestava atenção nos menores detalhes do que Augusta lhe confidenciava, sempre querendo saber mais. E como gosta de falar Augusta? É capaz de discorrer dias a fio sobre o mesmo assunto, ou sobre todos eles...

Helena fugiu certa feita com o filho do dono da mercearia, Henrique, hoje com 39. No dia que João soube, ficou furioso, e muito triste, mas ao mesmo tempo, descobriu que já não era Helena que motivava seu coração.

Sempre educado e cordial, não quis declarar-se a Augusta, sob medo de que ela o rejeitasse, ou então, que pensasse que a queria usar, para afogar as mágoas.

Sairam juntos, com amigos, por muitas vezes ainda, até que um dia, Augusta resolveu declarar-se para João. Qual a sua surpresa, quando ia dizer o que habitava seu coração, quando João segurou suas mãos, e olhando em seus olhos, lhe disse:
- Talvez não devesse te dizer, assim, na frente de todo mundo, mas eu lhe amo.

Augusta desmaiou, mas em alguns segundos, recobrou a consciência, duvidando do que havia escutado.
Os dois conversaram e trocaram declarações mútuas de amor e ternura. Imaginavam, porém, que a família de Augusta não seria muito simpática a idéia deles namorarem, pois o Sr. Antenor era muito severo.

E de fato, no princípio, houve certa resistência, mas o seu Antenor, que era engenheiro mecânico, encontrou no futuro genro, além de um homem honrado, um interesse muito grande por máquinas, o que fazia com que tivessem assuntos para conversar por horas. o seu Antenor havia sido professor, e nunca havia tido um aluno tão dedicado. João, que gostava de escutar, também gostava de aprender. A admiração com que olhava para o sogro fazia o coração de Augusta brilhar como fosse lua cheia; Tinha ela muita satisfação em ver que os dois homens de sua vida se respeitavam e admiravam mutuamente.

Quando João propôs Augusta em casamento, seu Antenor ficou tão feliz que chorou e abraçou o genro, o chamando de filho. Até então, não tiveram filho homem, ele e dona Maria. Mas João era um verdadeiro filho dedicado.

Praticamente todo o bairro assistiu ao casamento, inclusive Helena, que a esta altura já estava solteira novamente.

Helena, aliás, era sem dúvida, a mulher mais cobiçada de todo o bairro, pois além de uma bela mulher, sua família tinha boa situação.

Ela fez de tudo para conquistar João novamente, e quem mais lhe passasse as vistas, mas não tinha ele interesse em aventuras. Só pensava ele nos filhos, e até nos netos, que anseiava por ter, e por cada dia maravilhoso que passava ao lado de Augusta.

Sentia-se ele tão feliz no trabalho, pois fazia o que gostava e era respeitado. Funcionário do mês por várias vezes. O patrão encorajava-o a tentar um vestibular, dizia que ele seria um grande administrador de empresas algum dia, pois João sabia de cor e salteado como funcionava cada setor da empresa. Ele, que ainda não pensava nisto, também não descartava a idéia.

Mas o ponto alto de João era na volta para casa. Sabia que iria encontrar Augusta com os abraços abertos. Nestes anos, não houve um só dia em que, estando juntos, não conversaram, sentados no sofá, as vezes João com a cabeça no colo de Augusta, as vezes o inverso. As vezes ele lhe fazia uma massagem nos pés, as vezes cafuné, embora Augusta sempre dormisse quando lhe passavam a mão na cabeça, era tiro e queda.

Nos fins de semana, revezavam entre visitar parentes e amigos e o tradicional churrasco quinzenal do seu Antenor.
Raramente puderam viajar, e em uma destas vezes, foi a o enterro de dona Amélia, mãe de João, que faleceu aos 72 anos.

Mas planejavam eles viajar nos finais de ano, o que ainda não deu certo, pois as prestações da casa subiram muito e não sobra dinheiro. O que não os faz lamentar, dinheiro é a menor das preocupações deste casal, que teve vida difícil, sem conforto, que os fez acostumarem desde cedo as dificuldades.

Certamente enfrentarão, estes nossos personagens, dificuldades na vida. Mas, eu, que apenas atiro as palavras ao esmo, imagino que eles continuarão muito felizes, tanto quanto a vida lhes permitir.

Com a cabeça repousando no colo de João, Augusta, que sempre foi mulher prática e não é dada a rodeios, imaginava, no entanto, o que seria de sua vida se não estivessem juntos. Seria feliz, certamente, pois sempre foi de sua natureza a alegria, a felicidade.

Mas imagina se sentir-se-ia completa, se os seus sonhos antigos, de ser secretária de algum médico importante, seriam mesmo tão interessantes quanto ela imaginava, caso João não sentisse o mesmo por ela, à época em que se declararam um ao outro.

Concluiu que talvez se adaptasse, encontrasse ali alguma satisfação. Provavelmente teria conseguido superar o fato de João ter seguido seu caminho. Teria conhecido outrém, quem sabe?

Mas agora, com a vida que leva, sabe em seu íntimo que nada poderia lhe fazer mais feliz, do que os dias que a vida lhe dá, exceto, talvez, os dias que ainda virão.

--

Um dia pretendo dar um final a esta história... Se é que eu realmente a comecei.

Por enquanto, basta reafirmar que não existe um caminho para a felicidade. A felicidade é o caminho, para uma vida repleta de realizações.

Tenho medo...

Percebi que as vezes tenho medo.

Não é uma paranóia constante. Mas algo que vem, e vai, e as vezes, não me deixa dormir.

Tenho medo de perder meus amigos. Já perdi tantos... Dizem que os verdadeiros amigos não perdemos, e é verdade. Porém, há tantas pessoas que eu gostaria de poder telefonar e perguntar como estão, mas já não posso.

Tenho medo de ser injusto e magoar aqueles que mais amo. Quando estou diante de estranhos, ou de pessoas que estou conhecendo, sou mais reservado, tendo a cuidar mais das palavras. Mas com aqueles que estão mais próximos, por alguma razão, as vezes não tenho o mesmo cuidado. Acho que eles relevam, por vezes, pois sabem, em meus olhos, que algumas palavras que digo não são sinceras, e algumas coisas que digo, podem não ter o significado que aparentam.

Geralmente tenho medo de sofrer. Medo de por a cara a tapas, como dizem. Se já não sou tão tímido, e já o disse, sou reservado. Não gosto de me expor. Escrever estas coisas é um avanço enorme.

A sociedade não nos ajuda neste ponto. Especialmente para nós, do gênero masculino. Homem não tem medo, não chora, não se expõe. Se o faz, é viado, ou, de outra forma, menos homem.
"Point taken". Mas é tão conveniente pensar assim. É preciso coragem para admitir a realidade, quando ela não é socialmente bem vista. E coragem não é falta de medo, é, como dizem popularmente, a capacidade de fazer o que deve ser feito, apesar de todo o medo que se sinta. É o que separa o herói do vulgo. Ambos sentem as pernas fraquejarem, mas o herói dá um passo a frente, enquanto o outro fica paralisado. E, insisto, não sou herói, ao menos não como deveria.

Tenho medo de me expressar, de ser mal interpretado. De dizer o que penso e sinto e soar ofensivo, arrogante, ou absurdo demais.

Tenho medo ainda de nao me expressar, de guardar as coisas que me passam pela mente, pois as vezes elas parecem ajudar alguém, e acho um disperdicio guardar coisas para nós mesmos.

Ainda que, por outro lado, eu também tenha medo de chocar as pessoas com o que digo e penso...

Há dias em que tenho medo de viver. Sair da cama parece ser um esforço. Tenho medo destes dias, ainda que eles sejam cada vez mais raros.

Tenho medo de ter medo. Pois o medo é sempre algo confuso, se não fosse, não seria medo. E lidar com coisas que não são inteiramente claras é sempre problemático.

Tenho medo da solidão. De de alguma forma me afastar da humanidade. Sempre me senti deslocado, só agora consigo alcancar as pessoas, com menos medo de que elas pulem no meu pescoço e me estrangulem.

Tenho medo de não ter medo. Medo de não ter receio, de dizer as coisas sem pensar, e depois descobrir que comecei uma briga ou a terceira guerra mundial, por conta de bobagens.

Tenho medo de que estes medos e outros me impeçam de realizar as coisas importantes que a vida me pede. Medo de não ser um bom filho, um bom amigo, e, um dia, um pai, um bom esposo e bom namorado, pois quero ser ambos, ao mesmo tempo. Algumas pessoas viram pais e esposos e deixam de ser namorados, e as suas esposas ficam solitárias, ainda que estejam a seu lado ou nao. Tenho medo de cometer os mesmos erros de sempre. Cresci sem meu pai por conta de coisas ditas e não ditas, e não quero que meus filhos tenham o mesmo futuro.

Tenho medo de não ser bom o bastante ante as oportunidades que a vida me apresenta. De fraquejar no caminho, de me esconder na toca enquanto a vida passa.

Tenho medo de amar e ser rejeitado, e tenho medo de não amar, por medo de ser rejeitado.

Tenho medo de tentar, e medo de me arrepender por não tentar.


Vejo o que já passei, e não foi muito, pois creio que se cresci muito num sentido, noutros ainda me sinto com 8 anos de idade. Sou imaturo diante de muitas coisas, e não é preciso me conhecer bem para ver isto.

Isto me dá medo, a falta de experiência na vida. Tenho medo que as pessoas que estejam a meu lado não tenham paciência comigo, não me esperem, e me deixem para trás. Tenho medo de me tornar um retardatário.

Mas nem tudo é medo.

Ao medo, contrapõe-se a esperança.

Estes dias eu estava, por breves instantes, olhando as estrelas no céu. Era tarde da noite, e as pessoas pareciam estar todas dormindo, e num raio de quilometros, só os cães ladravam.

Lembrei de tudo o que já passou. Das situações em que me vi de joelhos, rendido, caido ao chão e perguntando "Deus, por que?".

Das situações em que eu exclamei "Não aguento mais".

De quando cheguei a dizer "desisto"...

Pensei comigo mesmo: Pois bem, cá estou eu.

Em minha fragilidade humana, física e mental, cá estou eu. Sobrevivi aos testes da vida. Encontrei quem eu sou, e mais importante, quem eu serei. Compreendi e perdoei quem eu fui. Vivi, vivo, e viverei.

As estrelas parecem se apagar, por vezes, para então brilharem mais forte.
E foi olhando o céu que eu entendi, que temer é natural. Tememos, por que nao sabemos, especialmente por que nao sabemos o que vem depois de nossos atos.

O que aconteceria se eu fosse por este caminho, ou por aquele? Ignoro-o.

Pessoas, tenho medo de as magoar. Mas mais medo tenho de não as cativar. Não temo em demasia que me odeiem ou que me desprezem, por que é um direito que vos foi dado. Tenho medo que me amem. E que, eu, ainda que vos amando, não seja digno do vosso amar.

Me sustenta a fé nas minhas possibilidades, em Deus, e na vida como algo bom. É claro que existem problemas, mas em grande parte, somos nós que os criamos, ou os alimentamos.

Assim sendo, tenho medo, de tudo.
Mas não tenho medo de tentar ser feliz, e de fazê-los felizes. Errarei ao tentar, anotem isto. Talvez eu não consiga.

Mas, e se, com sorte, eu conseguir? E se contra todas as chances, for possível?

Sentirei muito medo ainda.

Mas, não sei por quê, sinto igualmente, um gosto de vitória, ainda distante, ainda longe.
Espero que nenhum ex-padre irlândes bebado se atire no meu caminho :-)

segunda-feira, agosto 30, 2004

Deixar para depois

Um detalhe do nosso comportamento, enquanto humanos, é deveras interessante.

Penso que o primeiro passo para resolver um problema seja aceitá-lo, ou ainda, aceitar sua existência. Mas qual é a primeira coisa que fazemos? A negação.

Varremos para debaixo do tapete todos os problemas, ou por que achamos melhor os resolver depois, ou por que queremos fingir que não existem. E, frequentemente, varremos sementes de espinheiros, que começam a crescer debaixo do tapete de nosso inconsciente, ou de nossas negações.

Sentados sobre o tapete, na esperança de abafar o crescimento dos monstros e espinhos, esperamos que os problemas desapareçam. Praguejamos:
- Mas estava tudo bem!

Quando, na verdade, não estava.

É sobremaneira difícil desenterrar os traumas, as decepções, as frustrações e especialmente, as desilusões.
Mas é igualmente gratificante descobrir que temos forças de lidar com estas situações.
Encontrar em nós mesmos uma mistura de paz e coragem que parecia impossível existir.

Somos mesmo seres fascinantes, nós, os humanos.

Agradeço aqueles que me dão forças de prosseguir. Seus exemplos, seu carinho, sua paciência, me ensinaram e ensinam a ser quem eu sou hoje, e quem virei a ser amanhã.

Reencontrei o elo perdido. Quase toda a cadeia de acontecimentos da minha vida faz sentido agora.

Conhecereis a verdade, e esta vos libertará. Tinha toda razão :-)

domingo, agosto 29, 2004

Meu Irmão

- Mano velho, quanto tempo!
- Pois é caçula, e essa barba na cara? A última vez que te vi, estava cheio de espinhas, colecionava playboy...
- Ainda coleciono...
(Risos)
- É, faz bastante tempo. Como estão os velhos?
- Estão bem, mamãe estava falando em fazer aquela macarronada em homenagem a sua volta.
- Não acredito, ainda lembro do sabor daquela macarronada, e da alegria do pessoal lá de casa reunidos
- Só faltava você mesmo. Papai está bem, machucou a mão no trabalho mas o médico disse que em algumas semanas estará bom.
- É, conversamos ao telefone, ele me pareceu estar encarando numa boa. E as namoradas?
- As dele ou as minhas?
- As suas, claro, nosso pai é sério. Ou você sabe de algo que eu não sei.
- Eu não sei de nada, exceto, que ele, além da esposa, tem uma namorada, e ambas sempre foram a mamãe.
- Gracinha. Agora não fuja do assunto, e me conte.
- Bom, é complicado. Eu estou apaixonado.
- Ah é? Quem diria, você aos 12 anso saiu correndo chorando quando a Dorothy tentou te beijar atrás da porta.
- Eu?? Que absurdo.. Se você contar isto para alguém, te dou porrada.
- É? quer tentar? Moleque... que saudades de você. Mas me fale, quem é a sortuda?
- Não sei se é sortuda, mas é alguém muito especial. Ela se chama Regina.
- Regina... Não era a regina da escola não?
- Não, a conheci na faculdade. Ela cursa medicina.
- Que bom, teremos uma médica na família.
- Ela quer fazer psiquiatria.
- Não me surpreende que ela goste de você.
- Engracadinho.
- Mas me conte, estão namorando?
- Eu não diria isso ...
- Continue.
- ... É complicado, como eu disse. Ela é uma pessoa fantástica, mas tem a faculdade e tudo mais... Além do que, o pai dela não gosta muito da minha cara.
- Mano, a primeira vez que o sogrão me viu, puxou uma espingarda da parede e comecou a limpar na minha frente, perguntando, indiretamente, o que eu queria com a filha dele. Ainda estes dias ele estava com medo de receber os resultados do exame de cancer, e pediu que eu o acompanhasse e mantivesse segredo. Percebe a confiança?
- Entendo mano, me sinto melhor só de saber disto, mas vai saber né...
- Relaxe. Não era você o senhor fé na vida?
- Ah mano, fé é difícil, acho que não tenho mais não.
- Sei... Tá falando quem me ligou as 2 da manhã quando soube que eu havia perdido o emprego, e me convenceu a abrir uma empresa, que hoje está indo muito bem.
- Isto foi antes...
- Antes?
- ... Antes da chacina, das mortes. Segurei a cabeça dos meninos enquanto os bandidos fugiam, dois deles morreram em minhas mãos. Que justiça é essa? Fé em que?
- Você salvou dois deles. Se você não estivesse lá, não teriam prendido os bandidos, e dois meninos não estariam hoje aqui.
- Mas eu podia ter salvo todos... Eu devia ter salvo todos... Não é justo...
- Papai me contou exatamente assim: disse que você se colocou na frente dos meninos e que o bandido iria atirar, mas que quando viu você, desmaiou, por que voce o olhou nos olhos e o reprovou.
- Eu não sei o que aconteceu, foi tudo tão rápido, eu estava tremendo de medo. E alguém atirou, com uma metralhadora, acertou um dos outros meninos que já estavam caídos, foi horrivel.
- Por que você se fixa no aspecto ruim? Você salvou duas vidas. Eu não teria conseguido.
- Dependesse de mim e todos estariam vivos
- Dependeram de você as duas vidas, eu insisto. Vamos esquecer isto um pouco?
- Preciso visitar aqueles meninos, ver como eles estão. Você vêm junto?
- Com todo prazer. Mas antes vamos a macarronada, antes que a mamãe mande nos prender.
- Com toda certeza. Mano, eu senti muito a sua falta. Sem você não é a mesma coisa.
- Eu também, caçula, eu também. Mas estarei por aqui agora, e não pretendo partir tão cedo.

sexta-feira, agosto 27, 2004

Somos quem podemos ser

Shakespeare escreveu certa vez que "sabemos quem somos, mas ignoramos o que podemos nos tornar".
Bem antes dele, Sócrates relata a assertiva "conhece-te a ti mesmo", e dedica-se a propagar a idéia de que não sabemos praticamente nada do que julgamos saber, o que poderiamos ler como: não nos conhecemos.

Se somassemos as sentenças, poderíamos ter algo como "Não sabemos quem somos, e pior, ignoramos o que seremos".
Mas não é esta a minha intenção aqui. Se realmente nos faltam meios de nos conhecermos completamente, é inegável que a cada dia descobrimos um pouco mais. E que o que descobrimos pode ser surpreendente.

Concordo, relativamente, com a narrativa que "ignoramos o que podemos nos tornar". É bem verdade que, independente de realizarmos ou não nossas metas, podemos, até certo ponto, defini-las. Mas raramente conhecemos nossas possibilidades. Frequentemente, até, ignoramos o que queremos para nós.

Não sabemos o que o futuro nos reserva. E não implico aqui que o futuro nos reserve algo, que haja qualquer espécie de determinismo guiando nossos destinos, pois a colocação independe disto.

Há pouco mais de dez anos atrás eu provavelmente tinha um conjunto bem definido de metas. De tantas, não sei contar quantas se realizaram, mas certamente são poucas. E não há, ao menos em geral, qualquer frustração no fato de não as ter realizado. É que a pessoa que me tornei é, em grande parte, diferente da pessoa que alimentou os sonhos. O que me era fundamental sob muitos aspectos, deixou de ser. O que me era importante, é hoje, em grande parte, memória de um anseio infantil, uma lembrança boa de tempos diferentes, de uma mente diferente, que viveu experiências diferentes, ou ainda, que passou de forma diferente pelas mesmas experiências.

As vezes me perco nas saudades de outros tempos, tempos em que eu desfrutava de ideais ingênuos e tudo parecia possível. O mundo se abria, as dificuldades davam passagem. Até o sofrimento e a dor pareciam ter um certo charme, um certo romantismo, um certo ar de importância.

Eu tinha o mundo em minhas mãos. Hoje, há dias em que julgo o carregar em minhas costas. Pobre de mim, em minha ignorância, pois se assim fosse, meu mundo seria bem pequeno.

Há momentos em que me invade a nostalgia, pois, em algum ponto da vida, aquela alegria parece perdida. A rotina e a falta de objetivos mais distantes, mais aparentemente grandiosos, parecem sufocar a vontade de viver, de inovar, de construir.

Tudo parece difícil, caro, impossível. Crio ideais imaginários de como a vida deveria ser, e , na impossibilidade de os atingir, tranco-me em um círculo de lamuriações.

Porém, felizmente, a vida parece estar disposta a suplantar algumas de minhas deficiências. Eis que, em momento de clareza, percebo que me tornei parte do que almejava conquistar, e em alguns casos, fui além. Se não de forma integral, ao menos de forma que o meu "eu" atual julgava impossível até instantes atrás.

Eu não sou perfeito, obviamente. Mas dentre meus maiores defeitos, estava agir sempre por impulso egoísta. Fazia o que me era mais cômodo, doesse a quem doesse, e pensava nas consequências depois, quando pensava. Se eu nunca mais agi assim? Quase todos os dias. Mas hoje há excessões, e elas me pareceriam impossíveis há alguns anos.

Há bondade em meu coração. Pouca, talvez, diante da bondade alheia que recebo. Mas há esperança.

Os ideais de outrotra, ainda que empolgantes, eram frágeis, superficiais, megalomaniacos.

Pouco a pouco realizo coisas hoje em dia que fariam o megalomaniaco que eu era sentir um mix de admiração e vergonha.

Eu sempre quis entender as pessoas, ou ao menos, as aceitar, com o que elas tem de bom e com as qualidades que me incomodavam. Se eu nunca mais impliquei com ninguém? O faço diariamente. Mas as vezes, diante daquilo que me parece uma limitação, sou capaz de ajudar, ao invés de apontar o dedo e criticar. Pois aceito que também eu tenho minhas limitações, e diariamente as pessoas se voluntariam em ajudar-me a superá-las.

Há alguns anos, sonhei que era pai. De uma menina, que sorria, feliz, e eu senti uma alegria indescritível. Acordei aquela noite para não mais voltar a dormir, pensando naquela sensação que então eu considerava assustadora, ainda que fascinante...

Não sei se um dia serei pai, e ainda, se seria um bom pai. É cedo ainda para pensar nisto, até por que, se um dia eu o for, espero planejar cada passo antes. Mas a idéia que então me deixou assustado, a responsabilidade que me parecia impossível, me surpreende, por vezes, quando me pego em sorriso e ternura, observando uma criança sorrir, nos braços de pais e mães mundo a fora.

Por alguns anos não conseguia olhar nos olhos das pessoas enquanto conversava. Tinha medo que vissem eles, nos meus, a tristeza que me consumia.

Hoje, converso olhando nos olhos das pessoas, procuro entendê-las, saber de seus anseios, de sua sina. Cada um de nós é um universo paralelo, não há ninguém lá fora exatamente igual a nós.

Sinto, sim, saudades de quem já fui, da pessoa que originou a esta que vos escreve. Da pessoa que um dia sonhou ter o mundo nas mãos, e hoje, de mãos leves, é mais feliz do que consegue demonstrar.

A maré não tombou o barco. Dele desce alguém que humildemente acredita estar vencendo a primeira batalha contra si mesmo, não por aniquilar o inimigo, mas por fazê-lo entender que não somos quem pensamos ser. Que não necessitamos ser quem pensamos ser, quem pensam que devemos ser.

Somos apenas quem podemos ser.


P.S..: A eternidade relativa de um dia passou. Voltei das férias :-)

quinta-feira, agosto 26, 2004

Férias

Olá pessoas queridas,

Sinto que preciso de férias de escrever. Minha insânidade encontrou sem ápice. Se eu colocar em palavras o que passa em minha mente, assustarei vocês, e por mais forte sejam vossos estômagos, os farei perder o apetite por dias a fio. Duvidam? Pois continuem duvidando, a dúvida as vezes é sadia :-)


Não vou dizer quando volto. Pode ser amanhã, pode ser nunca mais. Eu realmente não estou inspirado.
Não desistam de mim, e obrigado pela paciência até aqui.

sexta-feira, agosto 20, 2004

O grande embate

Há uma batalha, por vezes silenciosa, ocorrendo em nossos dias.

Estamos, senão no estágio final, no que o precede, de uma transformação social um tanto lenta, porém poderosa.

Nossas sociedades se desenvolveram com o ideal de que a transformação necessita do conflito, do caos. O caos faz-se necessário, como antítese dos costumes, credos e convenções, que então são sacudidos, e arremetidos para o próximo estágio.

Não é, ou ainda não é, o caso desta transformação a que me referi. Seria como se estivessemos em um vale, que fosse alagando, um milimetro por semana. Não perceberiamos de sopetão, mas, ainda assim, estaríamos sendo alagados.

O mundo passou por muitas transformações sociais em relativo pouco tempo. Nos últimos séculos, caiu-se, em nossa sociedade ocidental, o domínio absoluto do dogmatismo enquanto paradigma existencial, e ruiu-se o estado totalitário e hereditário, sendo, lentamente, substituido pela democracia representativa, ainda que esta seja uma ilusão em potencial.

A ciência viu-se livre para nascer e crescer, e os cientistas livres a praticá-la, ao ponto de alguns elegê-la como paradigma em si mesma, contrariando seus objetivos. A despeito de todo o progresso, alguns dele se aproveitaram, talvez por ignorância, talvez por interesse, e tentaram criar uma espécie de neo-dogmatismo, que surpreende pelo número dos que erguem sua bandeira, ainda que não o entendam nem superficialmente. Paree que muitos de nós ainda temos necessidade de esconder-nos atrás de um uniforme, de uma coletividade, sonhamos em ser soldados, não importa sob ordens de quem.

As convenções sociais ruiram, e o que delas sobrou, sustenta-se sobre f?agil alicerce. A libertinagem ocupa o lugar onde antes ocupava o medo e a dúvida, e o desvario, a busca dos prazeres sem culpa, sem observar-se as consequências, segue solta. A liberdade responsável ainda não encontra muito espaço para manifestar-se.

Se gerações antes eramos as crianças ingênuas que acreditavam em qualquer coisa, somos hoje as crianças ingênuas que tem razões para duvidar de tudo, mas que não são educadas a buscar coisa alguma.

Somos instruidos a consumir a uniformização, a padronização, a sensualidade como fim em si mesma. Nos dizem que pensar é um crime ou ato desnecessário, desvario, coisa de desocupados, ou, mais frequentemente, coisa de excêntricos.

E excêntrico é sinônimo de anormal, que por sua vez é aquele que não encontra espaço na sociedade.

O espaço que nos reservam na sociedade muitas vezes não é do nosso tamanho. É frequentemente menor que nossas possibilidades, e temos que curvar-nos e nos entortarmos para entramos em um molde que não foi feito do nosso tamanho, nem da nossa maneira.

Nos restam poucas opções, as mais evidentes são aceitar o molde, ou fazer-nos um que seja digno de nos acomodar.

Ambos tem seu preço, e seu retorno. Qual é preferível? Depende inteiramente de cada um de nós.

quinta-feira, agosto 19, 2004

Tanto de meu estado me acho incerto

Tanto de meu estado me acho incerto,
que em vivo ardor tremendo estou de frio;
sem causa, juntamente choro e rio,
o mundo todo abarco e nada aperto.

É tudo quanto sinto, um desconcerto;
da alma um fogo me sai, da vista um rio;
agora espero, agora desconfio,
agora desvario, agora acerto.

Estando em terra, chego ao Céu voando,
numa hora acho mil anos, e é de jeito
que em mil anos não posso achar uma hora.

Se me pergunta alguém porque assi ando,
respondo que não sei; porém suspeito
que só porque vos vi, minha Senhora.


-- Camões, Luís Vaz de

O mal dos séculos

"Digam o que disserem / O mal do século é a solidão / Cada um de nós imerso em sua própria arrogância / Esperando por um pouco de afeição" -- Legião Urbana / Esperando por Mim

É sobremaneira difícil conviver. O sempre coerente Divaldo Pereira Franco não se cansa de citar, em suas exposições, uma metáfora, cuja origem não recordo, que trata dos porcos espinhos.

A contarei como lembro, posso estar acrescentando ou reduzindo alguma coisa sem saber.

Conta ele que em uma era glacial, os porcos espinhos morriam congelados, pois não conseguiam manter a temperatura de seus corpos em meio ao frio ambiente. Então, um dos porcos espinhos teve a idéia de que, se eles dormissem próximos uns dos outros, conseguiriam manter o calor corporal, já que assim não perderiam calor para o meio gelado em que se encontravam.

Fizeram as primeiras experiências, foram se ajuntando, e constataram que de fato, o calor os protegia. Porém, logo começaram os problemas, já que quando chegavam muito perto dos espinhos dos outros, se feriam, e muitas vezes, ao reagir, feriam os outros também. Então os porcos espinhos voltaram a dormir sozinhos, e a morrerem. E levou tempo, até que os porcos espinhos percebessem a realidade: eles precisavam uns dos outros, porém, tinham que manter a distância: nem tão próximos que invadissem os limites corporais do outro, nem tão distantes que não fossem capaz de doar e receber calor.

Podemos transportar esta metáfora para os seres humanos, e suas relações interpessoais. Necessitamos um dos outros, não do calor dos corpos de forma geral, já que nossa inteligencia mesmo em épocas rudimentares aprendeu a suprir através das vestimentas e diversas outras técnicas, mas precisamos do calor d'alma.

Precisamos nos aproximar das pessoas, mas conseguir manter a distância que o respeito nos exige. Respeitemos as opiniões das pessoas, respeitemos quando elas desejarem estar a sós. Não importa se a pessoa a que me refiro seja nosso filhos, ou o o amor de nossas vidas, não somos donos das pessoas, por maior a responsabilidade que tenhamos para com elas. Nossos filhos não nos pertecem, nossos amores não nos pertencem. Podemos nos doar integralmente a uma pessoa, e esperar que ela aceite, mas não podemos exigir a recíproca. Cabe a pessoa escolher o que fazer de si.

Quem ama, liberta, já foi dito.

E, quanto a solidão, igualmente já foi dito que "nenhum homem é uma ilha". Dependemos uns dos outros. A vestimenta que possuímos, a alimentação que nos chega a mesa, tudo passou pelo trabalho de outras mãos, assim como outros aproveitam o nosso trabalho.

Já mencionei noutra ocasião que o ser humano não possúi as faculdades de relação à toa ( e creio que estou parafraseando algum livro que li). Não aprendemos a falar, a sorrir, a gestificar, para nós mesmos. Não aprendemos a ouvir e a distiguir não só as palavras e sílabas, mas pelo tom da voz saber muitas vezes se a pessoa está preocupada, nervosa, feliz, ansiosa.

Todos precisamos de amigos. Nos tornamos monstros egoístas, sem valor pela vida alheia, e por conseguinte, pela nossa própria, se não temos amigos, se não temos compania, ainda que seja, na ausência de pessoas, a compania de um cão.

Nos engrandecemos em contato com as pessoas. Mesmo aquelas que não nos nutrem afeição. O embate dialético (o contraste de idéias), enquanto pacífico, nos torna mais preparados para a vida, e nos mostra mais sobre nós mesmos.

Todos temos atributos, e estes desenvolvidos em maior ou menor escala. Sempre estaremos em contato com aqueles que possuem menor e maior desenvolvimento do que nós em alguma área, e nos compete sempre ajudar aqueles que possuem menos que nós, para nos tornarmos dignos de recebermos auxílio daqueles que estão a nossa frente.

Por mais que estejamos repletos da solidão, nos sintamos na esquina do abandono, lembremos daqueles que precisam de nós mais do que precisamos deles. Tenhamos a humildade de procurá-los, eles estão em toda a parte. Não sejamos aqueles que sentam em uma pedra, e contemplando o céu, se perguntam: "por que sou tão infeliz"?

Sejamos aqueles que, ao ver uma necessidade que possa suprir, tenha boa vontade para com ela. Conversemos com as pessoas, mas sobretudo, as escutemos. As vezes, não precisemos falar nada. Só o fato de estarmos presentes pode impedir que a loucura tome o lugar onde momentaneamente vive a tristeza.

Há muitas coisas que eu queria dizer aqui, mas ainda não sou apto. Entrei em um site estes dias, cujo título era: "Amar se aprende amando, escrever se aprende escrevendo".

Tenho muito a aprender, e tão pouco a ensinar.

Aprendamos todos, não importa se somos o vazio da solidão, ou o coração do mundo. Sempre podemos dar um passo adiante, e a caminhada de nossas vidas começa quando decidimos dar o primeiro passo.

quarta-feira, agosto 18, 2004

O único post...

Cliquem no link, e vejam a única coisa que escrevi até hj, que realmente fiquei satisfeito de ter escrito.

Todas as outras coisas que escrevo, quando leio, acho que faltou ou sobrou algo. Esta, acho que ficou boa. Imperfeitamente perfeita :-)

Música do dia :-)

Se fiquei esperando meu amor passar

"Se fiquei esperando meu amor passar
Já me basta que então
Eu não sabia amar
E me via perdido e vivendo em erro
Sem querer me machucar de novo
Por culpa do amor

Mas você e eu podemos namorar
E era simples: Ficamos fortes

Quando se aprende a amar
O mundo passa a ser seu (bis)

Sei rimar romã
Com travesseiro
Quero minha nação soberana
Com espaço, nobreza e descanso

Se fiquei esperando meu amor passar
Já me basta que estava então
Longe de sereno
E fiquei tanto tempo duvidando de mim
Por fazer amor
Fazer sentido

Começo a ficar livre
Espero
Acho que sim
De olhos fechados não me vejo
E você sorriu p'ra mim

Cordeiro de Deus, que tirai os pecados do mundo
Tende piedade de nós (bis)
Cordeiro de Deus, que tirai os pecados do mundo
Dai-nos a paz"

terça-feira, agosto 17, 2004

Significantes

As vezes levantamos da cama filósofos, ainda que tenhamos horror a filosofia (e não o tenho).

Ontém estava assim. Levantei questionando qual meu papel no mundo. Qual a relevância do que eu fazia, se o que eu fazia trazia felicidade ou algo bom, a alguém que fosse, além de mim.

Além de mim, por que, quanto a mim mesmo, naquele instante, não me via com nenhuma utilidade.
De repente, todo o meu trabalho, quase todas as coisas pelas quais me interesso no mundo, pareciam muito distantes. E muito insignificantes.

Me sinto assim as vezes, com relação a um ou outro ponto, mas ontém todos os questionamentos se fizeram presentes, ao mesmo tempo.

Acho que ontém mesmo tive as respostas. Hoje, as vi reforçadas.
Se vistos individualmente, do ponto de vista dos bilhões de pessoas que há no mundo, realmente parecemos, todos, insignificantes. Mas não o somos.

Observemos o nosso mundo, as coisas que nos rodeiam. Observemos o universo, os corpos celestes em suas órbitas de perfeição matemática, que influem uma sobre as outras, como aliás, tudo parece influir em tudo...

A abundância de minerais, a perfeição dos cristais, cuja estrutura molecular é geralmente uma obra de arte do equilibrio.
Os vegetais, das mais diversas ordens, dos talófitos aos carvalhos, que medem vários metros e sobrevivem aos séculos...
Os animais, que demonstram inteligência limitada, porém dinâmica, maleável...

Este é o cenário de nossas vidas... Nele representamos nossos papéis...
E num cenário tão perfeito, não é possível que os atores sejam insignificantes...
É verdade que, muitas vezes, alguns de nós cometemos atos que levam alguns a dizer que preferem os demais animais, limitados, do que a espécie humana.
É igualmente verdade que o explendor de nossas civilizações deixa muito a desejar em todos os quesitos...

Mas é impossível não ver que há uma infinidade de possibilidades lá fora, esperando por aqueles que as desvelam, que as mostram ao mundo.

Exupery dizia que a perfeição é atingida não quando não há mais nada a se adicionar (e eu interpretaria que sempre há algo a se adicionar), mas quando não resta nada a ser removido, posto de lado.

Nós, em nossa perfeita imperfeição, somos os có-autores do universo. Não o criamos, e limitada é nossa capacidade de alterá-lo. Porém, ainda dentre destes limites, é infinito o nuance de construções que podemos realizar, em todas as áreas.

Não tenhamos medo de sermos nós mesmos, mas estejamos certos: além de arquitetos da superfície do mundo, somos arquitetos de nós mesmos, talvez seja esta nossa maior obra.

domingo, agosto 15, 2004

Teu grito acordaria...

Já sentiram vontade de gritar bem alto, mas não poder, por medo de acordar quem estiver dormindo?

Queria gritar ao barro e dizer: esculpe-te! E o barro, confuso, viraria estátua perfeita.
Queria gritar ao mundo: ama! E o mundo, envergonhado, amaria. Não o amor confuso, mas o amor terno, o amor paz.

Queria gritar p/ mim mesmo: acalma-te! E, tranquilo, não pensaria mais em coisas como distância e silêncio. Não teria centenas de dúvidas na minha cabeça, dúvidas que se acalmam com poucas palavras, palavras que não posso ouvir, no momento.

Gritaria aos céus: Ilumina-me! E teria todas as respostas, ou ainda, saberia fazer todas as perguntas.

Como isto é improvável, por enquanto, eu me satisfaria em gritar: -- Socorro!
Mas não posso... E devo deixar os dias seguirem ...

sábado, agosto 14, 2004

Jogo Rápido

Sobre o post anterior, se eu houvesse que escolher uma música da legião urbana hoje, seria Sete Cidades.
Embora eu esteja ouvindo "More than words", extreme.

Me sinto um pouco pré-histórico as vezes com estas músicas.

Sete Cidades não marcou nenhum momento particular da minha vida em épocas passadas. Talvez por isso, seja o tema de hoje, a música ambiente, a dar o clima.

Sentir falta de si mesmo é algo interessante. Pode ocorrer de várias formas. Mas é difícil explicar, acho que só quem passa pelo mesmo pode descrever.

Já me acostumei ...
Quando estou ...
Quando não estás ...

Tem que conhecer a música para entender este post, eu sei...

Mas por enquanto vai ser isto mesmo, só passei para dar boa noite a meus leitores, que inclusive andam desaparecidos, pelo que tenho notado...

Amanhã tem mais. Fiquem em paz...

sexta-feira, agosto 13, 2004

Música

Resolvi escrever um pouquinho sobre o que a música significa em minha vida.

Com a música tenho uma relação de mão dupla: a música é meu compasso, pode influenciar fortemente no que estou pensando e sentindo em determinado momento, e ao mesmo tempo, estou sempre buscando aquelas que dizem respeito ao momento.

Posso estar um pouco triste, e encontrar amparo numa música um pouco mais melódica, ou ser arrancado da tristeza e jogado na euforia por uma música que faça o que faz o taco de golf da mensagem anterior.

Por outro lado, posso estar introspectivo, e não consigo ouvir certas músicas, elas destoam do que ritmo que estou procurando manter, então preciso ouvir outras, mais apropriadas ao momento. Tem dias que estou revoltado, tem dias que estou no céu, a música "ambiente" naturalmente não pode ser a mesma.

Quem me conhece pensa que só ouço pink floyd e legião urbana.
O que não é bem verdade. Algumas músicas do pink floyd, é verdade, nunca saem da minha cabeça (Wish you were here, Comfortably numb, Shine on you crazy diamonds, Poles Apart).

As vezes acordo ouvindo elas. Não no rádio, mas na minha cabeça mesmo.
Mas tem outras músicas deles que não ouço com tanta frequência, e ainda aquelas que eu nã o gosto.

Quanto a legião urbana, eu já não sou tão fã deles. Musicalmente, eu inclusive acho que deixa a desejar. Porém, o ritmo e as letras tiveram um significado todo especial na transição entre a adolescência (da qual não sei se um dia vou sair totalmente) e a maturidade (da qual as vezes ainda tenho dúvidas se entrei).

Naqueles dias em que eu sentia e pensava exatos opostos, em que aconteciam aquelas coisas que nos perturbam enquanto adolescentes (de problemas no namoro ao relacionamento com os pais), eu quase sempre encontrava alguma letra de música que expressava isto. E era interessante por que eu tinha vários amigos que passavam pela mesma situação, com os quais conversava frequentemente sobre isto... havia uma banda que fazia cover deles, chamava-se "Boca Maldita", assisti a quase todas as apresentações que eles fizeram, em especial, as que faziam em um lugar então chamado "Estação Plaza Show" (que ainda existe, com outro nome, mas está muito diferente), já que ficava apenas a umas quatro quadras de casa.

Hoje em dia, ouvir legião me remete a estes tempos, que, por confusos que fossem, eram tempos felizes, ou ainda, com abundância de momentos felizes. É a saudade de um tempo que passou, mas que deixou marcas que espero carregar por toda a vida.

Infelizmente, destes amigos que compartilhavam comigo destes momentos, muitos poucos ainda mantém contato. Mas lembrarei deles sempre com muita gratidão.

Hoje em dia, gosto muito de ouvir coisas novas, ainda que novas para mim: tenho uma leve queda por músicas das décadas de 70 e 60, mas pouco conheço da época, vou descobrindo aos poucos.

Acho que toda música tem algo bom, e frequentemente, tem um por quê. Raramente são escritas a toa. Algumas excessões talvez sejam de longe o "funk" carioca que invadiu o país há uns anos atrás e aquela banda "É o tchan" e seus imitadores. Pasmem, uma coisa ruim ainda ter imitadores, é no mínimo trágico.

Gosto de música clássica e sinfonias em geral, mas não de todas elas. Algumas são tão chatas que funcionam como pílulas para o tédio. Para me desanimar ou me animar, jamais precisei de ajuda química, basta a ajuda sonora. Neste sentido, de sono, gosto muito do "Division Bell" do Pink Floyd, seu último álbum de estúdio, lançado em 1994. É talvez o album mais criticado, talvez por ser psicodélico e manhoso demais para os anos 90. Mas gosto de todas as músicas, e é um excelente sonífero quando estou nervoso. Excessão é a segunda faixa, "What do you want from me?", que é um pouco barulhenta demais para dar sono. Geralmente quase adormeço com a primeira, "Cluster One", ouço a segunda e quase acordo, e faço um esforço grande para curtir "Poles Apart" até o fim. Acho que 99% das vezes, quando começar a quarta, "Marooned", se alguém quiser contar até 30, eu já dormi.

Voltando a clássica, eu gosto de tudo um pouco, do básico, Beethoven, Bach, Strauss, etc.
Mas algumas não batem comigo, em especial as mais rápidas.
Das rápidas, gosto de Rachmaninoff, embora o trecho que mais goste de uma de suas composições seja justamente dos mais lentos, quem ouvir "Rapsódia em um tema de Paganini", saberá qual é sem precisar ouvir duas vezes...

Do rock/pop nacional atual, não gosto de muita coisa. Dos anos 90 e 80, a excessão talvez de Skank e Titãs, gostei de quase tudo. Barão Vermelho, Nenhum de Nós, Capital Inicial, até Biquini Cavadão (nunca mais ouvi) vai numa boa.

Que me perdoe quem gosta de Titãs. Eu também acho a letra sensacional, mas a música em si não me empolga. Talvez existam excessões e eu, injusto, esteja esquecendo. Costumo tratar assim, "não gosto de banda A ou B", mas o fato é que quase todas as bandas fazem uma ou outra música que acho interessante. Até skank parece ter acertado a mão. Mas é melhor não elogiar, posso me arrepender :-)

Eu me considero meio chato para música, mas também sou mente aberta. Passei uma semana inteira ouvindo Bob Marley. Encheu o saco, mas confesso que havia algo ali que era único, e era bom. Mas nunca mais ouvi :-)

Isto que escrevi não é nem metade... mas como está ficando tarde e o Post enorme, vai ser só, por enquanto...

Ah, por falar em música, o meu caro amigo Rafael vai se arriscar na árdua tarefa de me ensinar violão. Espero conseguir algo, por que sou muito travado, minha coordenação motora deixa a desejar.

Bom fim de semana a todos :-)

quinta-feira, agosto 12, 2004

Quisera!

Quisera eu encontrar
Não entre os dias a esperar
Mas entre os segundos a teu lado
Teu amor, teu segredo
Teu legado

Quisera eu expressar
A Saudade intensa
Volitar
Entre as nuvens, com os anjos
Ah, quisera eu!

Quisera te encontrar
Como se encontram o céu e o mar
Quisera eu tocá-la
Como a brisa toca as folhas
Ah, tocá-la-ei!

Sei do hoje
Quisera eu o amanhã
Fosse luz, fosse claro
Seria eu tua paz?
Ah, quisera eu sê-lo!


segunda-feira, agosto 09, 2004

Desistir

Desistir.

Acredito que esta palavra está nos dicionários de cada um de nós. Acho que, como é verbo, e verbo significa ação, temos o hábito de conjugá-lo na vida mais do que nos textos.

As vezes, sobre desistir, pensamos ser um ato de covardia, e seguimos em frente em nossos atos, sendo que sequer paramos para pensar o que seria covardia.

Outras vezes, pensamos em desistir como um ato heróico. Desistir daquilo que mais queremos, em favor de uma causa supostamente maior, pensamos em mártires, de ontém e de hoje.

Eu gostaria realmente de tratar de quase todos os aspectos da desistência neste post, ou pelo menos dos mais relevantes, e talvez o faça no futuro. Mas não foi por isto que escrevi aqui hoje.

Não escrevo hoje para dizer que desisto, ou porquê.
Escrevo para dizer que não desisto. Que não sou o bandido, e nem o herói da história. Sou alguém que não sabe o futuro, que espera ter aprendido algo com o passado, mas que vive no presente. Respeito muito o futuro. Frequentemente abro mão de algo hoje, sabendo, ou esperando, que isto traga benefícios futuros. Procuro combater o imediatista, o consumista, e os outros apressados que vivem em minha consciência a me importunar.

Mas o presente se me apresenta, e ainda que desafiador, ainda que difícil, é nele que encontram-se sempre as oportunidades. Aquelas que deixamos passar, enquanto pensamos se é cedo ou tarde demais...

Não quero e não vou desistir. Talvez eu seja sim um pouco chato, inoportuno, persistente, talvez eu não tenha o direito de sê-lo, mas eu o serei mesmo assim. Por que, eu não sei o por que das coisas acontecerem, mas quando a vida é boa conosco, não me parece certo dizer: "Não vamos arriscar, vamos deixar como está".

Não estou fazendo apologia a bagunça. Não quero incitar ninguém a chutar o balde, a fazer coisas impensadas, mas, pelo contrário, dizer que vale a pena pensar antes de fazer qualquer coisa. E, quando estivermos diante de algo que é visivelmente bom para nossas vidas, seja uma coisa do dia a dia, seja o que for, não temamos o desafio, pensemos, analizemos, coloquemos tudo na balança. Mas não, não desistamos.

Nem sempre dá p/ por as coisas na balança. Ainda assim, não desistamos. Não sejamos aquele que conta as oportunidades perdidas. Sejamos aquele que diz: sou feliz em tentar, em viver, em arriscar.

Somos limitados. Somos sim vulneráveis.
Mas compete a nós decidirmos: seremos os que escolherão o caminho fácil do deserto, onde tudo é mapeado, mas onde não há senão "mais do mesmo", ou seremos os desbravadores, seremos, conforme a ocasião, cientistas, filósofos, professores, alunos, amigos, amantes, pintores, escultores, ou então seremos aqueles que vemos os outros fazerem isto na televisão?

Eu espero profundamente ser digno de assinar embaixo do que digo aqui. Mas que ningúem diga que não tentarei. Se eu for reprovado, se eu for, na corrida da vida, o pior corredor, que Deus me permita sê-lo, mas não aquele que desistiu da corrida antes mesmo de ouvir a largada.

Não quero o fácil, não quero o cômodo. Prefiro viver na dúvida do que pode ser, ainda que eu não tenha controle algum sobre o que venha a se tornar, do que na certeza do que não vai ser, do que carregar aquela dúvida infeliz do que poderia ter sido, se eu ao menos tentasse.

Vivamos com paixão, com amor, com fúria.
Lembro de uma frase, atribuida a Aristóteles, onde ele diz algo mais ou menos assim: Qualquer um pode zangar-se - isto é fácil. Mas zangar-se com a pessoa certa, na medida certa, na hora certa, pelo motivo certo e da maneira certa - não é fácil.


Então, zanguemo-nos se for preciso, saibamos, na medida do possível, que tudo pode ter consequencias, mas que, certamente, não fazer nada, tem a pior consequência de todas: a vida passa por nós, mas nós não passamos pela vida.

Dúvidas sobre desistir? Não me pergunte, eu já tenho as minhas. Mas, uma certeza eu tenho: não desistirei assim tão facilmente.

A vida é muito mais que isto!

domingo, agosto 08, 2004

Dia dos Pais

Normalmente eu escreveria algo tirado do baú de devaneios que existe na minha cabeça. Porém, hoje foi um dia bem diferente do usual, acho que não conseguiria me expressar. Então, por hoje o que faço é copiar um texto que saiu na gazeta do povo de hoje, chamado Oração de Pai. Deixo os créditos a quem enviou ao jornal.

Em tempo: Meu computador decidiu que não me ama e pifou. Amanhã estarei correndo atrás de repará-lo, espero que não seja nada $dificil$. Não liguem se eu não puder postar amanhã.



Oração de Pai
Dá-me, Senhor, um filho que seja bastante forte, forte para se sentir fraco e com medo. Um filho orgulhoso e inflexível na derrota inevitável, mas humilde e manso na vitória. Dá-me, Senhor, um filho cujo externo não esteja onde devia estar a espinha dorsal. Um filho que Te conheça e saiba conhecer-se a si próprio, podendo tornar-se a pedra angular do saber. Guia-o, eu Te suplico, não pelo caminho fácil do conforto, mas sob a pressão e o aguilhão das dificuldades e dos obstáculos. Que aprenda a manter-se ereto nas tempestades e a ter compaixão dos malogrados. Um filho que saiba dominar-se antes de dominar. Um filho que aprenda rir, mas não desaprenda chorar. Um filho que olhe o futuro sem esquecer o passado, pois que não respeitando o passado, não é digno do futuro. Depois de todas estas coisas, conceda-lhe a compreensão bastante para que sempre seja sério, sem levar demasiado a sério.

Gazeta do povo de domingo, dia 08 agosto de 2004, dia dos pais. Coluna do Leitor, enviada por: Jandyra Marcondes de Oms / Curitiba, PR

sexta-feira, agosto 06, 2004

O mar

Não recordo quando foi a primeira vez que o vi, era muito criança, provavelmente mal sabia andar ainda.
Também não sei se a principio gostei daquela sensação de pisar na areia e sentir a água correr entre os dedos, com força, cavando a areia e formando um buraco em volta dos pés, de modo que você acha que vai cair e ser levado para o fundo do mar.

O que sei é o que sinto quando vejo o mar hoje. Ainda é emocionante, embora eu sinta que aquela empolgação adolescente já não me acompanhe. Mas talvez esta empolgação não fosse pelo mar em si, mas pelas circunstâncias. Naqueles anos, estar próximo do mar significava várias coisas, era também estar longe de casa, fonte simultaneamente de alegria e saudades. Era ter um quê de liberdade, de paixão pela vida, algo que não sei definir muito bem, que ficou em minhas memórias como vaga sensação, da qual provavelmente não hei de esquecer, enquanto viver.

De certa forma, o mar convida a reflexão, e quando, sozinho, olho o mar, as ondas estourando contra as pedras, aquele ritmo calmo e intenso, é como se olhasse para dentro de minha própria consciência.


Não sei quando voltarei a ouvir as ondas quebrarem. Menos de cem quilômetros nos separam. Talvez amanhã cedo eu acorde inspirado e vá em sua direção, talvez não. É mais provável que não.

Até este dia sigo, alimentado pelas lembranças, que são muitas.
Em parte sei que ver o mar não resolve nenhum problema, o ato de vê-lo, dada a dificuldade inerente, é até mais um problema em si mesmo.

Mas o fato é que aqui, na rotina, tudo parece tão mais difícil. Me sinto um prisioneiro com a chave da cadeia, com receio de sair.


P.S..: Estou testando o novo visual, aceito sugestões/críticas, especialmente se algo nao estiver funcionando como deveria :-)

quinta-feira, agosto 05, 2004

Demais

Cheguei a conclusão: ando pensando de menos e postando demais.

Assim sendo, estaremos fechados para balanço e reavaliação pelo resto da semana. Provavelmente no fim de semana ou na segunda-feira volto a escrever algo.

Mensagem do dia:

The soul would have no rainbow had the eyes no tears.

quarta-feira, agosto 04, 2004

:-)

Dias estranhos.
Devo ser um bom ator, sem querer sê-lo.
Em meio a multidão, me senti só. Quanto mais pessoas eu via, mais me sentia distante de tudo e de todos. E no entanto, acho que ninguém notou que, por ora, eu não tenho sido eu.

Não gosto de peder o controle das coisas, ou melhor, de perder a ilusão de ter o controle de alguma coisa.
Confusão não é comigo. Minha cabeça pode viver nas nuvens, mas gosto de ter minhas raízes no chão. Parece que um furacão me atirou ao ar.

As vezes fico assim, meio perdido, pois tenho receio de ser tão sincero. Frequentemente sou mal interpretado, e nem sempre tenho a chance ou a vontade de corrigir isto.

Só espero que a mágoa ou constrangimento que eu por ventura tenha infringido seja nada ou muito pouco comparado a um eventual bem que eu possa fazer. Pode parecer piegas, mas só o que eu queria agora era ter certeza de que um determinado coração que não o meu está em paz. Pois o meu, se não está em guerra, dormita na incerteza.

De qualquer forma, eu não comecei a escrever aqui só para lamentar. Tenho motivos para sorrir. Não diria para comemorar, mas sorrir é sempre um bom começo. Significa que há esperança. Mas isto é outra história. Uma coisa que aprendi é que em coisas que dependem de diálogo, não adianta uma pessoa so ficar quebrando a cabeça, tentando adivinhar ou inventar coisas, é necessário paciencia, é necessário olho no olho. Ou esperar que o tempo faça seu milagre, de definir as coisas, muito embora isto signifique, por vezes, tomar rumos não antes imaginados.


"Tu deviens responsable pour toujours de ce que tu as apprivoisé."
("Tu te tornas eternamente responsável por aqueles a quem cativa") - Antoine de Saint Exupery, em "O pequeno príncipe"

For tonight...

Por hoje, tento esquecer meus sentimentos. Eles, quando confusos, ansiosos, tendem ao desequilibrio.
Por hoje, sou apenas eu. Não serei o que deveria ser, menos ainda o que esperariam que eu fosse.

Por esta noite, eu viverei a vida em paz. Não pensarei no que deixei de fazer, ou no que farei pelos próximos dias.
Por esta noite, eu serei cordial e respeitarei as pessoas como elas são.
Por esta noite, meu coração se acalmará. Não tentarei obter respostas, nem farei perguntas.
Por esta noite, olharei nos olhos de quem eu gostaria de dizer todas as coisas, mas não poderei dizer uma palavra.

Por esta noite, a contemplarei como quem contempla a lua ou as estrelas, como se tão longes e inatingíveis, mesmo sabendo que a distância talvez não seja assim tão grande.

Por esta noite, dormirei com a consciência tranquila, ainda que com o coração batendo acelerado.

Por esta noite, acreditarei que minha ingenuidade não é burrice.

Somente por esta noite, serei tão patético a ponto de escrever sobre o que as palavras não expressam. E, espero, não direi nenhuma palavra.


"I want to let you down on a bed of roses / For tonight I sleep on a bed of nails" (Bed of roses / Bon Jovi)
"Quero deitar-te em uma cama de rosas / (Mas) Por esta noite eu durmo em uma cama de pregos"

segunda-feira, agosto 02, 2004

3 Reais.

O que leva as pessoas a abrir mão da autencidade? A agir como pisando em ovos, tomando todo o cuidado para não desagradar a ninguém, e, pior, fazer coisas ridículas para tentar agradar, inclusive a pessoas que nem conhece?

Quem lê o que escrevo e conhece o que penso (e poucas conhecem, algumas pensam conhecer mas pelo que tenho descoberto, não fazem idéia) sabe que procuro sempre valorizar o ser humano. Embora eu também seja orgulhoso e egoísta, me considero raridade por que assumo isto publicamente e estou em campanha para amenizar isto. Em várias oportunidades, quando a vida exigiu, abri mão de meus interesses pessoais, em favor da coletividade, e nenhuma vez sequer me arrependi de tê-lo feito. Meus arrependimentos nesta área são justamente pelas oportunidades perdidas, onde poderia ter construído algo mais positivo se não tivesse pensado apenas no meu próprio umbigo.

No entanto, as vezes me sinto tentado a quase concordar com os que pensam que a humanidade está perdida. No meu ver ela está doente, sofrendo de epidemias as mais variadas, da AIDS a uma epidemia de falta de educação, especialmente educação ético-moral.

Compartilho da esperança dos que aguardam pelo dia em que a AIDS e outras epidemias de ordem biológica estarão banidas da face da terra.

Quanto a outra epidemia citada, sempre existiu remédio, o problema é que as pessoas se recusam a experimentá-lo. Algumas teorizam sobre sua ineficácia, mas sequer o tentam pelo tempo e com a energia suficientes para obter algum resultado, ainda que tímido. Este remédio é a abnegação, é dar ao egoísmo seu oposto.

Deixar de pensar só em si, não é algo fácil, bem o sei. Para alguns eu diria que é impossível, mas muito felizmente eu devo estar errado quanto a isto.

Dois pesos e duas medidas. De novo escrevendo sobre isto. Seria revoltante, se eu tivesse pressa, mas, se me faltasse todo o resto, ao menos tempo eu ainda teria.

Agostinho, que na tradição católica é santo, dizia que "Se o egoísta soubesse as vantagens de ser bom, seria homem de bem por egoísmo".

Somos homens maus, alguns conformados, outros lutando para sermos homens de bem tão verdadeiros quanto uma nota de três reais. Algumas poucas excessões são suficientemente discretas para serem o que são, independente de quem vê, pois o reconhecimento é uma faca de dois gumes, nesta nossa sociedade que nega o que existe, e reconhece o que nunca existiu.

"Aquele que recebe um favor deve recordar-se dele; quem o faz deve esquecê-lo" -- Cícero

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