domingo, outubro 31, 2004

Dias bons

Ontém fui a um rafting. É algo incrível. Ainda lembro da primeira vez que fui, eu achava que não iria gostar tanto. Mas é algo que vicia. Em parte pela adrenalina, em parte pela sensação de controle, em parte pelo trabalho em equipe.

Sem mencionar o fato de que costuma ser bom mudar de ares, mesmo que seja por um dia. Gosto muito de pegar uma estrada, observar a paisagem, a geografia. Pensar que por sobre estas terras abençoadas, criamos nossos lares, buscamos nosso sustento, criamos nossos filhos, descobrimos quem somos.

A sensação de se atirar na água gelada durante um dia extremamente quente e sentir aquele imenso alívio. Flutuar sobre a água, sem medo de afundar. Quem dera pudessemos usar um colete salva-vidas durante todos os dias da vida, e poder flutuar sobre os problemas, as dúvidas, o medo. Sentir-se suficientemente lastreado a ponto de fazer o que deve ser feito, sem medo de errar.

Há tanta beleza na vida. Pena que as vezes acreditemos que a beleza é algo excepcional, que só acontece em raros momentos, que, efêmeros, se perdem por vezes na noite do esquecimento. Acredito que ao contrário, a beleza e a bondade é o estado natural. Somos nós quem, conscientemente ou não, elegemos a tristeza, o tédio, o dia nublado, como nosso estado de espírito. Talvez por que vamos nos acostumando a isto, não sei.

Não sei muita coisa. Mas sei que não é fácil. Que tentamos ser felizes, e conforme os espinhos vão machucando, acostumamos a nos dizer que é impossível, que se não dá certo agora, provavelmente também não dará amanhã. Que no final, tudo da errado, como tem dado errado.

Nos acostumamos, nos acomodamos, nos acovardamos, esta é a verdade. As vezes acho que o problema é simples. É uma questão de cronologia. Não sabemos lidar com o amanhã.

Aquele rio, que corta montanhas, cuja paisagem é tão perfeita, não ficou pronto da noite para o dia. Aquelas pedras rolam por milhares de anos antes de adquirirem sua forma. E queremos tudo hoje, e tem que ser do nosso jeito, senão nem interessa.

E assim, vamos nos afastando da felicidade possível, não por conta da infelicidade, mas por conta de ideais de felicidade impossível, imaginária. Lembramos de como um dia fomos felizes no passado, com coisas tão simples e fáceis, e queremos trazer esta felicidade para nossos dias de hoje, mas com isto por vezes sofremos, por que, por mais que não queiramos admitir, já não somos, necessariamente, a pessoa de ontém.

As crianças são mais felizes do que os adultos, por que para elas, uma tampinha de refrigerante pode se transformar em nave espacial, sorrir é natural, e esquecer as ofensas é algo inato.

No entanto, é inevitável crescermos, e nos depararmos com novos desafios, onde as coisas já não são simples, nossas necessidades, algumas reais, muitas outras imaginárias, são cabeludas e somos tão magoáveis.

Alguns dizem que a dor vem do desejo de não sentir dor. Outros, que a dor é resultado da frustração da tentativa de transformar em permanentes as coisas transitórias, de tentar eternizar o que só pode ser eterno nas nossas memórias. De nos apegar ao que já foi.

Não vou discutir se uma destas concepções é mais apropriada do que as outras, ou se elas abarcam todo o expectro do sofrimento. Acho que somos ainda mais complexos do que isto.

Mas o fato é que por vezes, somos nossos maiores inimigos, e nosso orgulho nos impede de ver isso. Nos esquecemos neste ponto das crianças, que não pensam duas vezes antes de gritar: preciso de ajuda.

Esperando por mim

Acho que você não percebeu que o meu sorriso era sincero
Sou tão cínico as vezes
O tempo todo estou tentando me defender

Digam o que disserem, o mal do século é a solidão
Cada um de nós imerso em sua própria arrogância
Esperando por um pouco de afeição

Hoje não estava nada bem
Mas a tempestade me distrai
Gosto dos pingos de chuva
Dos relâmpagos e do trovão

Hoje a tarde foi um dia bom
Saí para caminhar com meu pai
Conversamos sobre coisas da vida e tivemos
Um momento de paz

E é de noite que tudo faz sentido
No silêncio eu não ouço os meus gritos

E o que disserem, meu pai sempre esteve esperando por mim
E o que disserem, minha mãe sempre esteve esperando por mim
E o que disserem, meus verdadeiros amigos sempre esperaram por mim
E o que disserem, agora meu filho espera por mim

Estamos vivendo
E o que disserem
Os nossos dias serão para sempre.

(Esperando por mim / Legião Urbana)

Temo e tremo

De tanto temer,
Temo um tanto,
Outro tanto me teme,
E de temor em pavor,
Teme e temo,
Temeridade, temeria, temeremos.

Tenho um temor de tal ardor
Um não-sei-quê, sem valor
E é tal que quando me vejo em mim,
Já não sou eu,
Me temo em ti

Tenho medo tanto temo
Por temer querer assim
Que a dor se vá, que o temor me desligue
Temo e tremo o destemor
Tenho e tento o meu rancor

Já faz tempo,
Inda foi ontém
E temo e tenho este calor
E vejo e vou e vim e sou
E eu que tremo nem sei ir

Valho o que tenho
Não valho o que sou
Nem sequer valho o silêncio
Tenho e temo o teu temor

Tolos! Eu sou, e não me vês. Eu vim, e não me viste.
Trema e tema, pois se não vês
Tenho e temo o que sequer existe!

quinta-feira, outubro 28, 2004

Última a partir

Olá,

Dizem que sou a última a morrer. A que enterra a todos. A que não terá coveiro.

É, pode até ser... Espero que não.
É quem eu sou, é meu dever. Não posso ser pessimista, já que este dever vocês parecem assumir sozinhos. Se é que é um dever. O meu eu sei. O de vocês, bem, ... não é da minha conta.

Dizem que sou solitária. O que não é verdade, já que se eu for a última a ir, terei estado antes com todos vocês. Ouvido suas histórias, aprendido o que dizer ao próximo que se encontrar na mesma situação. Ainda que alguns de vocês só lembrem de mim depois que já é tarde. Ah, pensaram que iriam me pegar nesta não? Estou brincando. Nunca é tarde. As vezes as oportunidades passam, as vezes vocês se enganam, as vezes se confundem. Vocês são assim, e até certo ponto os invejo, aquilo que conquistam pertence a vocês, enquanto que eu apenas empresto a luz para acender a vela dos seus corações. As vezes nem me notam, frequentemente me desprezam, isto quando não me temem.

Mas nunca é tarde. Se é tarde para começar, não é para recomeçar. Se é tarde para evitar um engano, é sempre tempo de repará-lo. Quando tudo parece perdido e cai a noite, o sol nasce n'outro dia, não importa o quanto queiram que isto não ocorra.

Sou a amiga fiel de todas as horas. A que entende quando vocês se enganam a si mesmos, e com isto confudem aos outros, mesmo sem querer. Por que não deve ser fácil mesmo ser humano, viver nestas dúvidas, apagar a vela e ter que me chamar para reacendê-la, não raro, mais de uma vez por dia.

Vocês as vezes esquecem que são assim, sujeitos a erros. Que se zangam, que se perdem, que não tem controle sobre tudo, aliás, sobre quase nada.

O mérito está mais na tentativa, do que no resultado. Na tentativa me faço presente, no resultado, eu me afasto, por que então já não precisam tanto de mim.

Sou a que fornece luz sem esperar gratidão, a que ilumina o caminho sem ser percebida, a que compartilha das alegrias sem ser chamada, a que enxuga as lágrimas sem questionar por que choras.

Me chamo esperança, e sou uma, mas me apresento de forma diferente para cada coração.

Meu disfarce hoje é o amor, amanhã, a ingratidão. Não sabes donde venho e nem quando me vou, mas sabes, no teu íntimo, que pode contar comigo.

Quando o vento ameaçar virar teu barco, quando tuas forças parecerem acabar, olha o céu onde estrelas inumeráveis cuja luz viaja por tanto tempo, estrelas que te convidam a entender que é preciso tempo, vontade e perserverança para brilhar além da noite escura, e pensa em mim, que se tudo espero, nada espero em troca, e verás que, lá no fundo, não precisas chamar por mim, pois sou parte de ti, e sempre serei.

terça-feira, outubro 26, 2004

Música da semana

Esta é a música escolhida para a semana, mas bem poderia ser a música tema da minha vida, não existissem outras que vergonhosamente dariam mais certo.

Sereníssima / Legião Urbana

Sou um animal sentimental
Me apego facilmente ao que desperta meu desejo
Tente me obrigar a fazer o que eu não quero
E cê vai logo ver o que acontece.

Acho que entendo o que você quis me dizer
Mas existem outras coisas.

Consegui meu equilíbrio cortejando a insanidade
Tudo está perdido mas existem possibilidades

Tínhamos a idéia, mas você mudou os planos

Tínhamos um plano, e você mudou de idéia

Já passou, já passou - quem sabe outro dia?!

Antes eu sonhava, agora já não durmo
Quando foi que competimos pela primeira vez

O que ninguém percebe é o que todo mundo sabe

Não entendo terrorismo, falávamos de amizade

Não estou mais interessado no que sinto

Não acredito em nada além do que duvido

Você espera respostas que eu não tenho

Mas não vou brigar por causa disso
Até penso duas vezes se você quiser ficar

Minha laranjeira verde, por que está tão prateada?

Foi a lua dessa noite, do sereno da madrugada?
Tenho um sorriso bobo, parecido com soluço
Enquanto o caos segue em frente
Com toda calma do mundo...

Ensaio sobre a pureza I

Falo-vos, eu, que sou impuro, da pureza. Certamente falarei impuramente, já que não posso emular o que não sou.

Me parecem existir dois tipos de pureza, a pureza da ignorância, e a pureza da experiência.
Nosso mundo só valoriza a primeira, e há quem inclusive não reconheça a existência da segunda.

A pureza da ignorância tem seu auge nas crianças, mais ainda nos bebês: como no principio pouco sabem, não há, aparentemente, nenhum mal encerrado nelas. Seu sorrisso derrete mesmo alguns corações endurecidos. Seu olhar inocente cativa-nos e nos faz imaginarmos: "onde foi que perdi a pureza, a inocência?".

Conheci alguns adolescentes e mesmo adultos que de alguma forma conservam este tipo de pureza. Ela geralmente se manifesta como uma ingenuidade patente, tão evidente que é preciso ser realmente um mau-caráter para se aproveitar destas pessoas.

Mas quando diante desta pureza se apresentam os conceitos deturpados, a informação doente, o convite ao despenhadeiro moral, ela raramente resiste, por que não possui conhecimento, não apresenta argumentos. É o quadro branco que não resiste ao vandalismo das tintas do mundo. Ela não é senão corruptível, ainda que possa ser tida como uma das mais belas coisas do mundo.


Num outro extremo, existe a pureza da experiência. É a pureza de quem conheceu o mal. Não necessariamente foi uma pessoa má, ou foi vítima do mal, mas de alguma forma esteve exposta a ele, por tempo suficiente para reconhecer suas consequências daninhas. Talvez por que o viveu, como vítima ou algoz, talvez por que acompanhou alguém que o viveu, mas de qualquer forma, o conhece e sabe que tirando o verniz atrativo com o qual se disfarça de um grande bem, um grande prazer, um grande valor, o mal é sempre o mal, que não é uma qualidade em si, mas ao contrário, um vazio, uma falta que vende a si mesma como a argamassa capaz de tapar o vazio que existe em nós, como se fosse um desses remédios que tomamos para enganar a fome, mas continuamos de estômago vazio.

Esta pureza é a pureza que distingue o bem proceder de todos os sofismas, todas as armadilhas, todos os desequilibrios. É a pureza do "sei o que quero, e sei o que não quero".

É a pureza da coerência, e não se pode ser coerente, sendo ingênuo.

E aqui não estabeleço um juízo de valores. Cada um de nós constrói seu caminho como pode, com o que acredita, e para que imagina serem os objetivos de sua vida. Sobre este respeito, todo homem é livre, ainda que poucos entendam que para ser livre é preciso ser responsável, pois só há duas coisas das quais somos escravos: das consequências de nossos atos e da impossibilidade de lavar as mãos diante das escolhas que nos são sugeridas. Digo impossibilidade por que podemos fazê-lo, mas não conseguimos, com isto, ter as mãos limpas, e nem tampouco a consciência.

Há mais sobre o assunto, mas acredito que as circunstâncias não sejam favoráveis. Deixarei o tempo cumprir sua função, de modo que também eu possa cumprir as minhas. Por enquanto, palavras ao vento, que as carrega para onde quer.

sexta-feira, outubro 22, 2004

Mais do que palavras

Muitos de nós, por vezes, nos iludimos pensando que somos auto-suficientes, e auto-muitas-coisas.
Talvez seja por isto que subestimamos o valor da comunicação, da sinceridade, do diálogo. Ou talvez seja por que as vezes que tentamos abrir nossos corações somos mal interpretados e julgados a conta de preconceitos que raramente tem algo a ver com quem realmente somos por dentro.

Assim moldamos nosso ego, nossa personalidade exterior, conforme o mundo mais ou menos nos aceita. Aprendemos a sorrir quando gostariamos de chorar, de tristeza ou mesmo de momentâneo ódio. Digo momentâneo por que o ódio costuma ser assim, você pôe o desgosto pra fora, e ele acaba, antes de virar um monstro destruidor. Por para fora não significa transformá-lo antes em um monstro e depois soltá-lo, mas isto ainda assim seria preferível do que deixá-lo virar um monstro dentro de nós.

Aceitamos as sugestões, os conceitos, os valores do mundo em nós, como se as coisas fossem assim mesmo, e nada pudessemos fazer para mudá-lo. Nossa responsabilidade, na minha visão, não é mudar o mundo fora de nós, mas o mundo dentro de nós, quando percebemos pela consciência, que todos a temos, que o que realmente acreditamos está em contraste com o que fazemos.

E assim vivemos nós. Sem sabermos quem somos, se o reflexo de nossa imagem no espelho representa a nós mesmos ou o que os outros vêem e esperam de nós. Nossos sonhos por vezes não são nossos sonhos, mas as expectativas que transferiram para nós e que aceitamos sem questionar se são compatíveis com nossa própria natureza intima.

Gostariamos que os outros aceitassem o fato de que somos humanos, que somos mutáveis, sujeitos a erros, sujeitos a cometermos enganos, sujeitos a confundirmos e sermos confundidos, mas o fato é que como podemos fazer o mundo aceitar o que nós mesmos não aceitamos?

Triste coisa é ter coisas no coração querendo transformar-se em palavras, e estas em mais do que palavras, em realidades de modo que possamos ser compreendidos e vistos tais quais somos, sem sermos julgados, acusados, cobrados, menosprezados, vilipendiados, agredidos. Bem o sei.

Faço parte do mundo. Parte pequena, insignificante. Mas para constar, estou no mundo, não pertenço a ele. Não sou o mundo e seu jugo, e nem tampouco o mundo sou eu.

Um dia, espero, quando minha vida for representada por mais do que palavras, e os dias de dúvida e de insegurança estiverem perdido no meio as memórias de um tempo bom, aqueles que estiverem ao meu redor saibam que não sou do mundo, e então talvez não terão receio em compartilhar comigo suas verdades íntimas, por que, em verdade, nem eu tampouco terei.

(Publicado originalmente em 22/10/2004, re-editado em 26-10-2004, sem alterações, exceto a retirada de uma imagem com problemas)

quarta-feira, outubro 20, 2004

Perdão

Perdoem-me.

Um dia os ofendi, e se não o fiz, é quase certo que virei a fazê-lo um dia. Portanto, perdoem-me.
É tão difícil perdoar. É até mais dificil do que ser sincero, neste mundo que nos ensina a mentir.

Dizemos: "Eu perdoo. Mas não atravesse na minha frente".
Como se isto fosse perdoar.
Ou então: "Perdoo mas não esqueço". Tá certo, não precisa esquecer, ao menos não esquecer o que houve. Mas é perfeitamente possível esquecer a ofensa, no sentido de deixar para trás.

As vezes sou tão egoísta. Fico envolto em minhas próprias paranóias e esqueço que o mundo segue tal qual é. Que as obrigações não esperam por mim. Nada, nem ninguém, espera por mim, e é assim que deve ser.

Perdoem-me. Se tenho esta imensa vontade de voar, mas não tenho para onde. Se tenho esta imensa vontade de fugir, mas não tenho o porquê.

Se, não importa quanto goste de vocês, não consigo entender certas coisas.
Se quando se aproximam demais, ou se afastam demais, eu me revolto.

E sobretudo, perdoem-me se não consigo perdoá-los, por vezes. Mesmo das ofensas que nem sequer cometeram.

Não é fácil ser humano. Todos o sabemos. Mas nem por isso precisa ser triste, penoso. Infelizmente, desaprendi isto, e o trabalho de reaprendizado é mais complicado do que pensei.

segunda-feira, outubro 18, 2004

Tenho-me persuadido

De que me serve fugir
De morte, dor e perigo,
Se me eu levo comigo?


Tenho-me persuadido,
Por razão conveniente,
Que não posso ser contente,
Pois que pude ser nascido.
Anda sempre tão unido
O meu tormento comigo,
Que eu mesmo sou meu perigo.

E, se de mi me livrasse,
Nenhum gosto me seria.
Quem, não sendo eu, não teria
Mal que esse bem me tirasse?
Força é logo que assim passe:
Ou com desgosto comigo,
Ou sem gosto e sem perigo.
(Camões)

quinta-feira, outubro 14, 2004

Those Memories I Left Behind

Aquelas lembranças que deixei para trás

Sobre as coisas que aconteceram cedo ou tarde demais
O que não devia ter feito e o que deixei de fazer
As pessoas que me enganaram, e as pessoas que enganei
As pessoas que me queriam mal, e as pessoas que eu não mais quis ver

Sobre o medo de dizer "Eu amo você"
O medo de ouvir "mas eu não e jamais irei"
O desejo de ouvir "Eu também"

O choro triste de sentir-se rejeitado
O riso triste de ter cometido uma vingança
O terror banal de não saber viver

O mal que eu fiz
O bem que deixei de fazer
As lágrimas que não pude secar
Os dias que não fiz brilhar

São algumas das lembranças que deixo para trás. Não por que eu me esquecerei delas, mas por que o sentimento a elas associados já não me pertence. Muita coisa já não me pertence.

Para começar vida nova, é preciso deixar a vida velha. As vezes é mais compensador atravessar a fronteira nu e sangrando do que coberto da velha armadura enferrujada. As vezes é melhor deixar os móveis velhos e cheios de pó para trás e comprar móveis novos no destino.

Somos quem podemos ser, nos instantes em que podemos ser. E por vezes, ainda diante das coisas mais belas, sinto meus joelhos fraquejarem e caio. Mas há outras vezes, diante das coisas mais simples e singelas, que ninguém provavelmente vê valor, que simplesmente sinto-me cheio de gratidão por aqui e estar e por viver. E algo dentro de mim grita com toda força: você pode não saber ainda, mas é um vencedor.

É o que acontece, quando vemos que um dia seremos quem sonhamos ser.

quarta-feira, outubro 13, 2004

Mentiras

Imagine que toda vez que mentissem pra você, você soubesse, ou ao menos, desconfiasse, e tivesse meios rápidos e eficazes de confirmar. Aposto que alguns de vocês pensam que isto seria uma maravilha.

Asseguro que não é. Não é fácil saber quando mentem pra você. Por mais obcecado pela verdade que alguém seja, tem certos pontos em que é preferível o benefício da dúvida do que a certeza mordaz. Inclusive por quê uma coisa é saber que mentiram, outra bem diferente é tentar adivinhar o por quê.

Não vou dizer que nunca minto. Infelizmente, a vida tem dessas. Mas me dói toda vez que tenho de fazê-lo, por que, na verdade, não é algo que me saia naturalmente. Evito até onde posso, por que aprendi que na maioria das vezes existe um jeito de ser sincero. Minimizar o choque da verdade, contá-la aos poucos, mas não deixar de fazer, por que quando dizem que a mentira tem perna curta, não é apenas uma alegoria, é algo fácil de comprovar. E quando alguém descobre uma mentira, costuma atribuir ao fato do outro ter mentido, a pior interpretação possível.

Melhor inclusive que a mentira em geral tenha perna curta, as piores tendem a ser as que duram por mais tempo.

Para resumir a moral da história, o conhecimento é uma virtude, mas as vezes, a ignorância também o é.

terça-feira, outubro 12, 2004

Amores brutos

O preço da insegurança pode ser a eterna infelicidade?

Essa pergunta, à qual respondo em seguida, veio a propósito do artigo aqui publicado, "O Amor é Lindo", e que suscitou diversas manifestações de leitores sobre as maneiras e maneiras de relacionamentos íntimos nos tempos que seguem.

Uma dessas indagações dizia respeito, justamente, à insegurança que pode atrelar o "amante" ao "amado" de maneira tão brutal que a condição básica do relacionamento (ora, o amor...) simplesmente deixa de existir como tal. Passa a ser perversão ou apenas dominação, mas nada que chegue perto da generosidade e isonomia que são condições sine qua non do mais belos dos sentimentos.

Imagine aquele que ama com condições.

Sim, condições! Amo-te muito, mas você precisa corresponder a uma série de pré-requisitos, manter tais e tais atitudes, desempenhar quais e tantos papéis, senão estará fadado ao esquecimento que cruelmente vou dedicar a você.

O outro pode não aceitar, claro, mas quantos aceitam?

Aquele que é "amado", na insegurança de perder este suposto benefício, em tempos de tantas e tão massacrantes solidões, aceita o jogo. Anula-se, submete-se, molda-se. Pode parecer inconcebível, mas a tirania dessa concepção de amor tem características que só o incomensurável mistério da alma humana pode permitir supor. Ou seja, tudo é possível. Até deixar de ser feliz com medo da... infelicidade...

(Luis Caversan / Folha de São Paulo / 25/09/2004)

domingo, outubro 10, 2004

Sem sal

Recession is when your neighbor loses his job. Depression is when you
lose your job. These economic downturns are very difficult to predict,
but sophisticated econometric modeling houses like Data Resources and
Chase Econometrics have successfully predicted 14 of the last 3
recessions.

Recessão é quando o seu vizinho perde o emprego dele.
Depressão é quando você perde o seu emprego.
Estas viradas econômicas negativas são muito difíceis de prever, mas casas de modelamento econômico muito sofisticadas, como a Data Resources e a Chase Econometrics conseguiram prever com sucesso 14 das últimas 3 recessões.

(Qualquer semelhança com a metereologia é pura coincidência)

... where I belong, once more.

Rápidas:

- Vou a um show de uma banda cover dos smiths hoje. É a segunda vez, e na primeira valeu muito a pena. Conto detalhes na volta.
- Hoje tirei o atraso. Incentivado pelo barulho das gotas de chuva, dormi a tarde inteira.
- É interessante como há horas em que uma abelha faz o serviço de destruição de um boeing 747. As vezes nem precisa da abelha, o mundo simplesmente cai. Parece que aquele lampião tosco que gera aquela luz fraca dentro de nós se apaga. Felizmente, há pessoas dispostas a te acolher com amor e a te acordar do pesadelo. Fico eternamente grato :-)
- Esta semana vai ser curiosa. Muitas coisas acontecendo ao mesmo tempo. Espero ter fôlego, vou precisar.

É isso. Obrigado.

sábado, outubro 09, 2004

Ao desconcerto do Mundo

"Os bons vi sempre passar
No Mundo grandes tormentos;
E pera mais me espantar,
Os maus vi sempre nadar
Em mar de contentamentos.
Cuidando alcançar assim
O bem tão mal ordenado,
Fui mau, mas fui castigado:
Assim que, só pera mim,
Anda o Mundo concertado."
(Camões)

Fragmentos

Fragmentos de um diálogo, eu esqueci de publicar há alguns meses.

bom p/ um dia seria fazer coisas legais, com pessoas que eu gosto.
bom p/ uma semana seria conhecer lugares diferentes, pessoas diferentes
bom p/ um ano seria trabalhar ou estudar fora, me dedicar a alguma coisa em particular
bom p/ dez anos seria encontrar alguem que me entendesse e que fosse suficientemente insana p/ querer ter filhos comigo.
bom p/ uma vida inteira seria compartilhar da felicidade daquelas pessoas que amo e nao ter nada do que me arrepender

Objetivos. De curto ou de longo prazo. É complicado, decidir, priorizar. Tem feito falta. preciso rever radicalmente o que quero p/ minha vida. Algumas coisas sei que quero e não sei se posso, outras, que talvez possa, não sei se quero, especialmente na área profissional.

sexta-feira, outubro 08, 2004

I can dream

Ancient dreams came true
When I though I no longer had
Any reason to dream at all

I'm free and I can see
Al the things I doubted were real
I'm free and I can feel
All the respect this world can give

Ancient fears are gone
When I though I no longer had
Any reason to fight at all

I'm free and I can dream
All the things I don't know are real
I can feel and I dream
All the love this world had lost

No one understands me
No one fears for me
No one cares, No one cares

I'm alone but not lonely
I know who I am
And what I don't know

I can dream.


(Eba, fiz uma letra. Sim, eu sei, tem erros, serão corrigidos na versão final)

Para o amor que vem

Você:

... que está comigo nas horas difíceis, e ainda não sabe disto
... que com uma simples palavra faz do frio calor, do desespero, solução

... que as vezes fica tão perto, e as vezes some que não te consigo encontrar
... que me ensina algo novo a cada instante
... que ordena minha bagunça e bagunça minha ordem
... que devolve a minha vida a capacidade de gostar das coisas, mesmo as mais simples
... que me permite estar perto ainda quando seja difícil
... que aceita meu abraço quando de outra forma buscaria estar só
... que chora, e que ri, que vive e que sonha
... que tem medo, e ainda assim, não deixa de lutar
... que ora me busca, ora me foge
... que faz com que eu me sinta com os pés no chão, a cabeça nas nuvens e no céu o coração

Não sei onde você se esconde, em que canto me foge, ... mas quando chegar a hora, hei de te estender a mão, e se aceitar o desafio de vir comigo, nossos mundos jamais serão os mesmos.

quinta-feira, outubro 07, 2004

...

Eu já...

... fiz promessas que não pude cumprir.
... persegui o coelho branco e fui parar no país das maravilhas.
... vivi de sonhos.
... vivi de realidade.
... vivi sem viver.
... fiz o possível.
.... fiz o que julgava impossível.
... fiz muito menos do que precisava ter feito.
... quis liberdade que não soube usar.
... vi as coisas erradas do mundo.
... vi algumas das coisas belas do mundo.
... tive medo de mim mesmo.
... tive medo de amar.
... tive medo de pedir perdão.
... não tive forças de perdoar.
... decidi que sofrer não vale a pena.
... decidi que a vida deve ser maravilhosa.
... decidi que o caminho é um só.
... descobri que quem desbrava meu caminho sou eu e só eu.
... descobri que o que eu não posso dividir, não tem muito valor.
... descobri que a paciência não tem preço.
... descobri que ter amor não é amar.
... sorri de bobo.
... cantei na chuva.
... sei ser feliz.

terça-feira, outubro 05, 2004

O pote rachado

Um carregador de água na Índia levava dois potes grandes, ambos pendurados em cada ponta de uma vara a qual ele carregava atravessada em seu pescoço. Um dos potes tinha uma rachadura, enquanto o outro era perfeito e sempre chegava cheio de água no fim da longa jornada entre o poço e a casa do chefe. O pote rachado chegava apenas pela metade.

Foi assim por dois anos, diariamente, o carregador entregando um pote e meio de água na casa de seu chefe. Claro, o pote perfeito estava orgulhoso de suas realizações. Porém, o pote rachado estava envergonhado de sua imperfeição, e sentindo-se miserável por ser capaz de realizar apenas a metade do que havia sido designado a fazer.

Após perceber que por dois anos havia sido uma falha amarga, o pote falou para o homem um dia, à beira do poço:

- Estou envergonhado, quero pedir-lhe desculpas.
- Por quê?, perguntou o homem. - De que você está envergonhado?
- Nesses dois anos eu fui capaz de entregar apenas metade da minha carga, porque essa rachadura no meu lado faz com que a água vaze por todo o caminho da casa de seu senhor. Por causa do meu defeito, você tem que fazer todo esse trabalho, e não ganha o salário completo dos seus esforços, disse o pote.

O homem ficou triste pela situação do velho pote, e com compaixão falou:

- Quando retornarmos para a casa do meu senhor, quero que percebas as flores ao longo do caminho.

De fato, à medida que eles subiam a montanha, o velho pote rachado notou flores selvagens ao lado do caminho, e isto lhe deu ânimo. Mas ao fim da estrada, o pote ainda se sentia mal porque tinha vazado a metade, e de novo pediu desculpas ao homem por sua falha. Disse o homem ao pote:

- Você notou que pelo caminho só havia flores no seu lado do caminho??? Notou ainda que a cada dia, enquanto voltávamos do poço, você as regava??? Por dois anos eu pude colher flores para ornamentar a mesa do meu senhor. Sem você ser do jeito que você é, ele não poderia ter essa beleza para dar graça à sua casa.

Cada um de nós temos nossos próprios e únicos defeitos. Todos nós somos
potes rachados. Porém, se permitirmos, o Senhor vai usar estes nossos
defeitos para embelezar a mesa de Seu Pai. Na grandiosa economia de Deus,
nada se perde. Nunca deveríamos ter medo dos nossos defeitos. Se os
reconhecermos, eles poderão causar beleza. Das nossas fraquezas, podemos
tirar forças.

(Autoria desconhecida / Recebi por e-mail, também há alguns anos. Somos únicos. Somos valiosos. Não há erro que não possa ser corrigido. Não há ofensa que não possa ser reparada).

Frases

Boa semana :-)

"A amizade multiplica as alegrias e divide as tristezas"


"Rir é arriscar parecer tolo
Chorar é arriscar parecer sentimental
Tentar alcançar alguém é arriscar envolvimento
Expor seus sonhos perante a multidão é arriscar parecer ridículo
Amar é arriscar não ser amado de volta
Seguir adiante face a probabilidades irresistíveis é arricar ao fracasso
Apenas uma pessoa que corre riscos é LIVRE
" (Alexander Lowen)


segunda-feira, outubro 04, 2004

Rapidas

Jogada Rápida:

- Segunda-feira tende a ser um dia puxado. Esta não foi das piores, se observar relativamente, mas estou cansadão.
- Ando sonhando com Ela. Uma loucura de menina.
- Quero ver se esta semana ponho um monte de coisas em dia. Baguncei muito minha agenda nos últimos dias. Estou ficando desmemoriado. Eca. A idade chega.
- Devo escrever um pouco menos aqui por umas semanas. Acho que vou concentrar o pico da produção aos fins de semana, pois as próximas semanas devem ser relativamente puxadas.
- Gostaria de dizer que amo vocês. Mas amo não. Vocês são chatos, feios e bobos que não deixam comentários. humpf.
- Amo vocês assim mesmo.

- "Quanto mais um homem se aproxima de suas metas, tanto mais crescem as dificuldades" (Goethe)
- "Quando nada parece dar certo, vou ver o cortador de pedras martelando sua rocha talvez 100 vezes, sem que uma única rachadura apareça. Mas na centésima primeira martelada a pedra se abre em duas, e eu sei que não foi aquela que conseguiu isso, mas todas as que vieram antes" (Jacob Riis)
- "É muito melhor arriscar coisas grandiosas, alcançar triunfos e glórias, mesmo expondo-se a derrota, do que formar fila com os pobres de espírito que nem gozam muito nem sofrem muito, porque vivem nessa penumbra cinzenta que não conhece vitória nem derrota" (Theodore Roosevelt)

Essas frases me foram passadas pela Jeannie há muito tempo, e todas, em especial a segunda, influenciaram grandemente meus atos nos momentos díficeis da vida. O que quer que ela esteja fazendo hoje, espero que esteja bem e que um dia saiba que lhe sou grato :-)

Poema Para Luís De Camões

Meu amigo, meu espanto, meu convívio,
Quem pudera dizer-te estas grandezas,
Que eu não falo do mar, e o céu é nada
Se nos olhos me cabe.
A terra basta onde o caminho pára,
Na figura do corpo está a escala do mundo.
Olho cansado as mãos, o meu trabalho,
E sei, se tanto um homem sabe,
As veredas mais fundas da palavra
E do espaço maior que, por trás dela,
São as terras da alma.

E também sei da luz e da memória,
Das correntes do sangue o desafio
Por cima da fronteira e da diferença.
E a ardência das pedras, a dura combustão
Dos corpos percutidos como sílex,

E as grutas do pavor, onde as sombras
De peixes irreais entram as portas
Da última razão, que se esconde
Sob a névoa confusa do discurso.

E depois o silêncio, e a gravidade
Das estátuas jazentes, repousando,
Não mortas, não geladas, devolvidas
À vida inesperada, descoberta,

E depois, verticais, as labaredas
Ateadas nas frontes como espadas,
E os corpos levantados, as mãos presas,
E o instante dos olhos que se fundem

Na lágrima comum. Assim o caos
Devagar se ordenou entre as estrelas.


Eram estas as grandezas que dizia
Ou diria o meu espanto, se dizê-las
Já não fosse este canto.

(José Saramago)

Retrato do Poeta Quando Jovem

Há na memória um rio onde navegam
Os barcos da infância, em arcadas
De ramos inquietos que despregam
Sobre as águas as folhas recurvadas.


Há um bater de remos compassado
No silêncio da lisa madrugada,
Ondas brancas se afastam para o lado
Com o rumor da seda amarrotada.

Há um nascer do sol no sítio exacto,
À hora que mais conta duma vida,
Um acordar dos olhos e do tacto,
Um ansiar de sede inextinguida.

Há um retrato de água e de quebranto
Que do fundo rompeu desta memória,
E tudo quanto é rio abre no canto

Que conta do retrato a velha história.
(José Saramago)

Teia de aranha

Estava eu sossegado no carro ouvindo uma rádio brega quando de repente começa a tocar uma música que faziam uns 10 anos que eu não ouvia. É uma raridade, duvido que alguém lembre. A letra é desgraçada mas a música é legal, para a época...

Well I've been thinking of the way you used to talk to me
And now it seems we never talk at all

So kiss me like you would kiss me if it were the last time
Hold me now, hold me like you did hold me when it was the first time
'Cause I can feel you slipping away
And I can't think of anything to say
That will turn you around and make you stay
I can feel you slipping away
Slipping away

Well I can see you talking softly on the phone again
And more and more you need to be alone
It seems I make you angry just by being near
And even when we're together now we still feel lonely

So kiss me like you would kiss me if it were the last time
Hold me now, hold me like you did hold me when it was the first time
'Cause I can feel you slipping away
And I can't think of anything to say
That will turn you around and make you stay
I can feel you slipping away
Slipping away

'Cause I can feel you slipping away
And I can't think of anything to say
That will turn you around and make you stay
I can feel you slipping away
Slipping away

(Information Society - Slipping away)

domingo, outubro 03, 2004

The mirror

- Como você está?
- Melhor agora, obrigado. Tem sido difícil, por causa do silêncio, mas a sua sugestão tem ajudado.
- Qual delas?
- Aquela, do segredo do universo.
- Ah.. Entendo. Ela é eficaz. Mas também é a coisa mais difícil de se fazer, verdadeiramente, não?
- Sem dúvida... Nos livros, nos filmes, parece tudo tão fácil. Mas na vida real é outra coisa.
- Os livros os filmes nem sempre mostram o que te falei. Mostram uma interpretação muito pequena do objetivo que te propus atingir.
- Eu entendo, mas eu ainda estou muito longe deste objetivo...
- Não se atormente com isto. O objetivo não é para ser entendido de forma absoluta, por que realizá-lo depende de condições que homens muito melhores que você ainda não detém. Tenta fazer o que estiver ao seu alcance, aliás, é nisto que se constitui o segredo de como fazer, já que para este objetivo, o resultado está no esforço e na determinação mais do que no que venha a acontecer, em si.
- Como sabe tanto destas coisas?
- Não te envaideças. Sabe muito bem que sei menos do que precisas aprender.
- Sim, sei, mas ...
- Lembra-te: ensinas melhor aquilo que melhor precisa aprender. O sábio se preocupa em aprender, o ignorante não pensa duas vezes antes de ensinar.
- Vou tentar me lembrar disto. Mas me conte, e aquilo que me atormenta?
- Falas da angústia?
- Sim.
- Por que perguntas, se sabe a resposta?
- Sei?
- Não estava a me dizer que está feliz em praticar o que te ensinei?
- Ah, mas ... a resposta é a mesma? Não entendo.
- Pensa. A angústia vem de ...
- De não saber...
- De não saber o que?
- O que acontece... de ficar imaginando, sem poder saber.
- Tenta encaixar a resposta que te dei a esta problemática, verá que ela serve perfeitamente.
- Mas ... será que ...
- Tenta... sofres por egoísmo. Não estava a cantar que "toda a dor vem do desejo de não sentir dor"?
- Não diga isto, é difícil de aceitar.
- Pensa...
- Pensarei nisto... não posso por enquanto.
- Pode e irá, que te conheço bem.
- Certo... até logo.
- Até, mas sabe que estou aqui.
- Certo. Fui.

Relatório

Relatório de prestação de contas número 9.046, 03/10/2004.

Caro Deus,

Este fim de semana aproveitei para descansar. No sábado praticamente só dormi. Não estava com ânimo para nada muito além disto. Mas sabe disto melhor que eu.

O domingo foi produtivo. Digo foi, no passado, por que acho difícil que algo relevante venha a acontecer ainda pelas próximas horas. Ando sem muitas esperanças. Sei que me guarda surpresas para estas horas, mas últimamente tem me posto a prova legal, não? Vou fingir que compreendo as suas razões, assim como desculpa as minhas, toscas e egoístas. Na verdade, eu nem poderia me comparar, visto que piso na bola toda hora. Mas vou fazer meu melhor, certo?

Dirigi bastante. Fui a dois parques. Num deles não desci por que não achei onde estacionar o carro. Haviam muitas pessoas. No outro eu desci e andei de uma ponta a outra, aquela subida da volta foi um exercício e tanto, acho que realmente preciso voltar a forma física dos meus 18 anos, que esta concepção "azeitona no palito" não está muito prática. Sem falar que ando com dor nas costas, e como bem sabes, eu não comi o tatu. Desculpe a blasfemia, é que lembrei da música dos mamonas.

Lembro daquela vez, já há alguns anos, em que conversamos. Tenho andado distante de ti, não? É que não o compreendo, bem o sabes. Mas sei que me compreendes, e no fundo, já é alguma coisa. Não tenho ousado dirigir meus pensamentos diretamente a você tanto quanto gostaria. Me sinto indigno. Por que eu desperdiço as oportunidades que me dá, e por que quero que tudo sempre seja do meu jeito, na hora que eu quero, como se eu fosse a criança que sei que sou.

Mas já conversamos sobre isto, não? Algo como se eu fosse primeiro esperar ser digno para depois agir, esperaria sentado, quando, na verdade, devo prosseguir sempre, e este processo é que vai, aos poucos, me tornando digno. Quando cair, bater a poeira, olhar para a frente, e seguir. Não ficar lamuriando. Lembrar daquilo que estes tempos disse a alguém muito especial que necessitava ouvir, mas que pelo visto não tenho usado comigo mesmo: após toda tempestade, sempre vem a calmaria, e dia de sol. A tempestade é necessária para quebrar a acomodação. Mas não adianta se desesperar.

Preciso te agradecer por tudo o que houve desde que aqui estou. Tem sido uma aventura e tanto, apesar das dificuldades e dos problemas que causei, e ainda causo. Certa vez pedi que me tirasse das trevas, e hoje a luz quase me cega, embora as vezes eu veja as coisas quase claramente. As vezes sou apressado e não dou tempo do meus olhos acostumarem com as coisas.

A pressa que toma conta dos nossos dias aqui. Espero que me ajude a encontrar um remédio p/ isto. Voltar, pelo menos por alguns dias, a viver sem olhar para o relógio, sem preocupar-me com o que tenho que fazer amanhã pela manhã, ou ainda mesmo que tenha todas estas preocupações, mas que eu possa esquecer disto por um pouco e viver, sem ter que recorrer a artificios.

Quanto as novas responsabilidades que terei daqui para a frente, tenho oscilado, bem o sabe, entre dois extremos. Entre uma alegria absoluta e um temor quase paralisante. A alegria tem se sobressaido, mas como não recordo de ter sido uma pessoa com disposição anteriormente, eu meio que desconfio dela. Será que ela é o resultado de tudo o que passei? Será que é momentanea? Não parece ser momentanea, por que o masoquista aqui vive tentando matá-la, na tentativa de provar que é momentanea, e não consegue. No máximo consegue aborrecer-se, para no outro dia, acordar bem disposto, ainda que com a cabeça confusa.

Preciso ampliar mais o foco, muitas coisas requerem minha atenção. É fascinante ver que consigo ir muito além do que imaginava, mas estou precisando de mais forças. Conto que me ajude a encontrá-las, como tem sempre feito.

Mantém acesa no meu coração a chama do amor verdadeiro e simples, de modo que eu não volte, nem por segundos, ao isolamento pernicioso da noite escura do egoísmo. Aos poucos, saio da caverna de platão e vou rumo ao mundo exterior, mas ainda há muito por fazer.

Seja presente, hoje e sempre.

Obrigado,

Do filho rebelde e inútil,

Alexandre

sábado, outubro 02, 2004

:-)

Ontém fui a um show, de uma banda chamada urbanóides, que estavam fazendo cover de legião urbana, uma homenagem ao Renato Russo. Foi no Jóquei, e eu simplesmente odeio aquele lugar. A acústica de uma fossa é melhor que a de lá. Mas deu para se divertir, lembrar do tempo da banda "Boca Maldita" e seus shows no estação.

Fiquei com duas músicas na cabeça. Bom fim de semana pra vocês :-)


Giz

E mesmo sem te ver
Acho até que estou indo bem
Só apareço, por assim dizer
Quando convém
Aparecer ou quando quero
Quando quero

Desenho toda a calçada
Acaba o giz, tem tijolo de construção
Eu rabisco o sol que a chuva apagou
Quero que saibas que me lembro
Queria até que pudesses me ver
És, parte ainda do que me faz forte
E, pra ser honesto
Só um pouquinho infeliz

Mas tudo bem
Tudo bem, tudo bem...
Lá vem, lá vem, lá vem
De novo
Acho que estou gostando de alguém
E é de ti que não me esquecerei
Tudo bem, tudo bem...
Eu rabisco o sol que a chuva apagou
Tudo bem, tudo bem...
Acho que estou gostando de alguém
Tudo bem, tudo bem...


Sete Cidades

Já me acostumei com a tua voz
Com teu rosto e teu olhar
Me partiram em dois
E procuro agora o que é minha metade
Quando não estás aqui
Sinto falta de mim mesmo
E sinto falta do meu corpo junto ao teu
Meu coração é tão tosco e tão pobre
Não sabe ainda os caminhos do mundo
Quando não estás aqui
Tenho medo de mim mesmo
E sinto falta do teu corpo junto ao meu
Vem depressa pra mim
Que eu não sei esperar
Já fizemos promessas demais
E já me acostumei com a tua voz:
Quando estou contigo estou em paz
Quando não estás aqui,
Meu espírito se perde, voa longe

sexta-feira, outubro 01, 2004

Nem sei.

Existe somente uma idade para a gente ser feliz
somente uma época na vida de que cada pessoa
em que é possível sonhar e fazer planos
e ter energia bastante para realizá-los
a despeito de todas as dificuldade e obstáculos


Uma só idade para a gente se encantar com a vida
e viver apaixonadamente
e desfrutar tudo com toda intensidade
sem medo nem culpa de sentir prazer


Fase dourada em que a gente
pode criar e recriar a vida
à nossa própria imagem e semelhança
e vestir-se com todas as cores
e experimentar todos os sabores
e entregar-se a todos os amores
sem preconceito nem pudor


Tempo de entusiasmo e coragem
em que todo desafio é mais um convite à luta
que a gente enfrenta com toda disposição
de tentar algo novo, de novo e de novo,
e quantas vezes for preciso


Essa idade tão fugaz na vida da gente
chama-se PRESENTE
e tem a duração do instante que passa...

(Recebi estes dois por e-mail em 1999. Estou me divertindo revirando backups hoje)

É melhor tentar e falhar,
Que preocupar-se e ver a vida passar...
É melhor tentar, ainda que em vão,
Que sentar-se fazendo nada até o final...
Eu prefiro na chuva caminhar,
Que em dias tristes em casa me esconder...
Prefiro ser feliz, embora louco, que em conformidade viver.

(Anônimo)

Glimpse

Os falantes da língua inglesa tem uma palavra chamada "glimpse", que significa, principalmente, ter uma visão rápida e/ou fragmentária sobre alguma coisa. Como quando passamos rapidamente os olhos por alguma coisa e temos aquele estalo, aquela impressão de termos visto algo que nos é familiar ou que nos chama a atenção.

Acho que estou vivendo um "glimpse". Tendo a oportunidade de ver como minha vida pode vir a se tornar, ainda que esteja longe disto ainda.

Já noutras vezes acho que o "glimpse" passou e que estou na antiga realidade. Outras vezes ainda vejo claramente que não estou numa coisa nem em outra, mas numa fase nova da vida que se inicia e que tem tudo para dar certo, embora dificuldades com as quais nunca sonhei em lidar se mostrem vivas a cada dia.

O perfeccionista somado ao personalista, que quer que as coisas saiam sempre perfeitas e da forma como ele quer, pois do contrário, nem importa que acontecam, parece estar no passado.

As coisas não podem ser assim. Talvez nem devam. E saber disto, fazer o melhor possivel dentro das condições possíveis, é duro, porém necessário. Não há outra forma.

A realidade e os sonhos interagem mutuamente, uma influenciando na outra. Não podemos deixar uma delas vencer em detrimento da desistência da outra. Se a realidade vence, o sonho morre e morremos com ele. Se o sonhar vence, nunca se torna realidade possível, apenas imaginária, e daí até a desilusão, o passo é pequeno.

Tenho feito zilhões de perguntas para a minha consciência, quanto a como devo proceder com relação a tanta coisa. A resposta tem sido uma só. O segredo do universo tem três letras. Mas não vou contar aqui. Antes preciso provar que a resposta faz sentido.

E, um dia, talvez , eu conte :-)

To wait

Hey, you. Stop avoiding me. Why are you going away? I wish I could understand.

Diante das incertezas, o remédio é, frequentemente, contrapor com as certezas que temos, e no meu caso, tenho algumas: o tempo define todas as coisas, e, em algum lugar, em algum instante, a situação chega num ponto em que não há mais para onde fugir e nem onde se esconder, e então, nada mais resta senão deixar que as cartas sejam postas sobre a mesa, e que o jogo seja revelado, deixando assim de ser jogo, para tornar-se no hálito transformador da verdade.

O difícil é o exercício da espera :-)
Ao menos, não estou no escuro, como sugeri.

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