quinta-feira, dezembro 29, 2005

Those Memories I Left Behind #2 - Reeditada

Me despeço d'aquelas lembranças que hoje deixo para trás

As coisas que vieram ou cedo ou tarde demais
O que não deveria ter feito, e o que deixei de fazer
As pessoas que me enganaram, e as pessoas que por ventura enganei
Os que me queriam mal, e os que eventualmente odiei

Deixo o medo de dizer: Amo você
Com o medo de ouvir: mas eu não e jamais irei
E junto a eles deixo o desejo de ser correspondido.

Deixo e sigo.

Abandono o choro triste de sentir-se rejeitado
O riso ácido de ter cometido uma vingança

Abandono o terror banal de não saber viver

Enterro aqui todo o mal que fiz
Não lamento mais o bem que deixei de fazer
Não me culpo pelas tuas lágrimas que não pude enxugar
Nem pelos dias que não fiz brilhar

E com o tempo, as lembranças do que não foi, as enterro e deixo para trás. Não por que eu me esquecerei delas, mas por que o sentimento a elas associados já não me pertence, como muita coisa já não me pertence.

Para começar vida nova (ou ano novo), é preciso deixar a vida velha. É necessário atravessar a fronteira nu e sangrando, largando para trás a velha armadura enferrujada que não nos defende de nada. As vezes é melhor deixar os móveis velhos e cheios de pó para trás e comprar móveis novos no destino.

Somos quem podemos ser, nos instantes em que podemos ser, na medida em que podemos sonhar e realizar. Por vezes, ainda diante das coisas mais belas, os joelhos fraquejam, e caimos. Mas há outras vezes, diante das coisas mais simples e singelas, que ninguém mais provavelmente vê valor, que simplesmente podemos nos sentir envoltos pela gratidão por aqui estar e viver. E algo em nossos corações pode agora gritar com toda força:

- Você pode não saber ainda, mas é um vencedor.

Não somos apenas quem podemos ser, mais que isto, somos quem escolhemos ser.


Feliz ano novo!

quarta-feira, dezembro 28, 2005

Sociedades

As sociedades se formam geralmente consentidas e com propósitos bem determinados, ou ao sabor do tempo e da experimentação de diversos conflitos entre estes mesmos propósitos.

É assim que erguem-se as civilizações, ou formam-se as empresas, com ou sem fim lucrativo, visando satisfazer a certos objetivos através da elaboração de responsabilidades e planos de meta para cada uma das entidades responsáveis por um aspecto da mesma, sejam estas entidades individuações ou sub-grupos.

Ocorre que a objetividade não é uma realidade auto-sustentável, não é um fim em si mesma senão por instantes mais ou menos breves. Faz parte da natureza humana procurar o que está além, não se conformar com o chão, mesmo quando momentâneamente parece satisfazer-se.

Mesmo o mais pessimista de suas possibilidades, que contempla as estrelas, não pode se esvair daquele sentimento de que 'o mundo é tão grande, há tanto por fazer', e embora não reconheça a potência de seu próprio ser, de sua vontade, e mesmo ainda que nada faça, até ignore a idéia, ela está lá: a necessidade de progredir.

As sociedades, em sentindo amplo, como os povos, as etnias, as agremiações de toda espécie, as sociedades comerciais e culturais, as sociedades matrimoniais, as sociedades informais da amizade, da soliedariedade, da simpatia, enfim, das maiores as menores, todas elas se originam visando a um fim, e o propósito e a duração da sociedade estão condicionadas a natureza deste mesmo fim; Os objetivos duradouros mantém sociedades duradouras, os objetivos pontuais formam sociedades pontuais que se desagregam uma vez que seus propósitos tenham sido cumpridos.

Dizem que as sociedades comerciais são formadas visando o lucro, é uma teoria fácilmente comprovável e, controversamente, falsa, ao menos no Brasil: não tem objetivo final ter lucro quem abre uma empresa no Brasil para por exemplo, vender pregos. O objetivo dele não pode ser simplesmente descrito como 'obter lucro', mas ao menos como 'obter lucro através da venda de pregos', e isto não é simplesmente a mesma coisa, por que se o objetivo fosse ter lucro ninguém vendia pregos, aplicava em títulos do governo que rendem mais que a exploração da maioria dos setores produtivos da economia, com louváveis excessões, mas certamente vender pregos, ou pastéis, ou montar uma oficina, uma franquia de alguma rede de alimentos, recolher impostos e pagar encargos trabalhistas não é mais vantajoso do que aplicar o dinheiro, e no entanto, o país inteiro faz. Não é por desinformação, embora ela exista. A questão é que o dinheiro não é tudo na vida, mesmo que nossos bolsos pensem o contrário a medida que vão ficando mais leves.

A verdade é que formamos sociedades por razões outras que obter vantagens em pontos ótimos de equações, por sistemicamente perfeitas que estas fossem (e não as são). Queremos sim ganhar dinheiro, obter sucesso de outras formas, mas queremos fazer isto do nosso jeito, com aqueles assim chamados "dons" que possuímos, através da nossa interação com aquelas coisas que nos chamam a atenção no mundo e gostaríamos de poder nos orgulhar de levarem elas um pouco do nosso trabalho. O engenheiro que constrói uma ponte, aeronave ou até uma casa de sapê, por quê não, pode ter como prioridade contar quanto isto lhe acrescentou ao banco no fim do mês, ou pode, além da natural preocupação em sustentar-se, observar a sua obra e sentir aquela paz do dever cumprido, aquela sensação talvez até arrogante de saber que foi ele quem deu origem aquilo tudo. Naturalmente os menos cheios de si mesmos saberão que todos que colaboraram na obra também deixaram ali a sua marca, ainda que ela seja invisível.

O instante do término das sociedades, embora não seja fatal, é determinado em geral pela natureza da causa que a formou. Se há o desejo de construir mais pontes ou mais pastéis, a sociedade ainda tem um propósito e se mantém. Se obter dinheiro era o propósito e se este foi o bastante, não há por que ficar, é Adeus, são outras paragens.

O casal que se formou por interesse monetário de uma ou ambas as partes, ou por momentânea atração sexual ou alguma dependência psicológica mal resolvida, ou por qualquer outro interesse intrinsicamente passageiro, terá sua sociedade dissolvida quando a causa que a deu origem se encontrar realizada, satisfeita, ou desiludida. As causas mudam, é verdade, e aquele que era um sonhador pode desiludir-se, aquele que era idealista pode cansar-se e corromper-se, e aquele que era um interesseiro pode vir a encontrar uma motivação mais nobre na situação que ele mesmo criou por propósitos menos respeitáveis, mas a verdade é uma só: as causas determinam os efeitos, e quando as causas cessam, os efeitos as seguem: todo final teve um começo.

Ninguém espere atingir resultado diferente, se continua fazendo as coisas como sempre fez, esperando que "o seu jeito" dê certo um dia. Se não deu certo na primeira, nem na centésima vez, e recorde que um ano tem pelo menos trezentas e sessenta e cinco oportunidades de por o "seu jeito" a prova, talvez esteja mais que na hora de procurar mudar o "seu jeito".

Cada dia que passa, através de nossos atos, renovamos as sociedades a que pertencemos, sejam estas formalizadas ou não, conscientes ou não, através das escolhas que confirmamos, renovamos, ou que desfazemos.

No que concerne as escolhas, recordo (mais uma vez) Jean Paul Sartre, quando dizia que estamos condenados a sermos livres. Não podemos nos omitir de escolher; Se nos omitimos dentre as opções disponíveis, escolhemos nos omitir, e esta é uma escolha como qualquer outra, com suas consequências. A omissão é portanto uma ação. Não escolher é escolher não escolher. Postergar decisões é escolher postergar.

As sociedades nascem entre os pais e os filhos, entre os irmãos, entre os que vivem em um mesmo lar, entre os que finalmente se unem para constituir um novo lar; As sociedades nascem quando criamos uma nova amizade ou até mesmo quando dizemos bom dia no elevador, mas talvez as sociedades não sejam assim criadas, sejam descobertas, talvez a sociedade entre a semente do girasol e o sol seja confirmada através da planta que nasce quando "morre" a semente, mas provavelmente já existia antes de se confirmar.

Os pensamentos que nos impelem a fazer ou deixar de fazer qualquer coisa, o trato que temos para conosco mesmo e para com nossos organismos, talvez estas coisas sejam os germens da sociedade que firmamos conosco mesmo ao nascer.

Sera que os objetivos desta sociedade cujo processo para o nascimento leva em torno de 9 meses, são exclusivamente ter lucro? Por ventura não seria ter sucesso, um conceito mais amplo (é tão amplo que cada um terá uma definição própria para ele)? Será que é menos sucedido o caiçara que contempla o por do sol em seu barco, do que o banqueiro que educou seus três filhos? Qual sociedade determina se valemos alguma coisa, se somos sucedidos: a sociedade dos homens vivos que estão mortos, sepultados na pobreza moral em que se encontram muitos daqueles que deveriam ser nossos exemplos para a vida, ou a sociedade que temos com nossas próprias consciências enquanto indivíduos, ou ... ? Quem dirá?

Possuímos a nosso serviço um aparato de 60 a 100 trilhões de células, uma sociedade harmônica que nos serve sem grandes problemas.

Que fazemos para honrar esta sociedade que nos serve?

sexta-feira, dezembro 23, 2005

Só você

Os dias passam
As vezes tranquilos e as vezes tornados
Furacões que arrasam
Mas os dias sempre passam

E talvez você olhe para trás e se pergunte
Se ainda penso em você tanto quanto antes
Se afinal, afinal não estou por perto
Estou assim longe, sem no entanto, nunca deixar de estar
A teu lado

Os dias passam meu bem,
E sinto como se já fizesse tanto tempo
E já não escrevo tanto
Destas canções que não rimam
Aqueles poemas tolos que fiz pra você

Mas a verdade, meu bem
É que gosto de você ainda mais,
Do mesmo jeito
E não sei o que fazer
Senão te dizer,
E esperar que me entenda

É você, só você, é você
Que me faz assim, tão eu mesmo

Será que entenderia mesmo
Se eu disser
Que é você,
Só você
Que fazer?

Os dias passam
E é você
Só você

Que fazer?

Será que me faço entender
Quando digo:
- É você!

quinta-feira, dezembro 08, 2005

Carta à Nação [em protesto]

O que era difícil torna-se fácil, o que era fácil e gratuito, torna-se caro.

A corrupção nos alcancou a todos. É difícil achar quem não condene, acertadamente, o estado de coisas em que se encontra a política em nosso país, e de certa forma, em todo o mundo.

Mas um exame mais autêntico e menos hipócrita de consciência poderá nos demonstrar que a corrupção não começa nos altos escalões, na representatividade pública, e, ainda mais, que os maus exemplos que dão, repassados pelos meios de informação, não são seguidos por alguns de nós diante da perspectiva da impunidade. A corrupção caminha na contramão desta análise, infelizmente tão do senso comum, e segue avançando pelo caminho contrário. Enquanto alguns se armam e se arvoram para punir os corruptos e dar cabo da corrupção onde ela se completa e se consuma, o que é um esforço punitivo que só pode minimizar os estragos depois de feitos, a corrupção continua nascendo em seu leito, onde desenvolve-se em paz, em locações onde cada vez menos parecem existir pessoas dispostas a combater o bom combate, pois são instruídas por irrefletidos a procurarem o mal não onde ele nasce, mas apenas onde ele já se manifesta.

Todos julgamos a podridão do quadro político e institucional, a corrupção que mancha do guarda de trânsito ao gabinete da presidência da república não mais de bananas que constituimos, mas parece que se fossemos neste caso seguir o hábito contestável de colocar os ladrões de galinha na cadeia enquanto os de colarinho branco, com bons advogados, continuam a solta, teríamos que começar a limpa encarceirando os juízes da situação: não tanto os de toga, mas nós mesmos, que julgamos o quadro como sendo a corrupção alheia, por que a verdade é que todos somos corruptos, em maior ou (queira Deus) em menor grau.

Quando abrimos nossas empresas, quer no fundo de quintal ou em sintuosas instalações, e não escolhemos não recolher nossas taxas, impostos, e contribuições (que se alguém afirmar serem excessivas, quase um assalto, terão meu apoio), estamos sendo corruptos acomodados e cavando nossas próprias covas. Quando um novato guarda de trânsito vê-se diante de uma falta grave ou gravíssima, e, tendo o dever de multar (visto que a advertência já não cabe), aceita suborno, quem é o corrupto? Ele apenas, ou será que aquele que o suborna não acaba de criar um corrupto? As vezes são necessários os anos e as duras provas para forjar o caráter de alguém, tarefa impossível se a corrupção chega antes da instrução adequada.

Digo que somos corruptos acomodados por que escolhemos, sozinhos, tomar tais atitudes, usando como desculpa os outros: "todo mundo faz, se eu não fizer eu quebro", mas a verdade é que se existisse maior organização por parte de empresários e consumidores, os impostos não seriam tão altos. Vai dizer que muitos daqueles que estão lá decidindo qual a carga tributária não foram eleitos por voces que hoje reclamam deles?

Nós elegemos um modelo de democracia representativa mas levamos o conceito muito a fundo: votamos em qualquer babaca e depois nos tornamos passivos ao que acontece, como se o problema fosse dele e não nosso. Mas não é ele quem paga a conta.

Quando a coisa dá errada, criticamos o "babaca", o depomos, e colocamos outro "otário" no lugar, mas ótarios somos nós, pois a situação prossegue, e tem que ser assim, por uma simples razão: os problemas do país são estruturais. Não é a dívida em si, nem os juros, nem o câmbio, nem os partidos de esquerda, nem os de direita ou de centro. Não é explodindo Brasília ou exportando os preceitos de São Paulo ou Rio de Janeiro (capitais) para o resto do País, nem vendendo a Amazônia legal brasileira aos estrangeiros ou expulsando eles dela, nem nenhum destes simplismos que resolverá qualquer problema. Não é escrevendo textos inúteis como este, ou pior, fazendo a grande e pesada tarefa de repassar e-mails com as mesmas tolices para sua lista de amigos, que você irá contribuir com alguma coisa, e me acredite, se o resto do país contribuir com alguma coisa e você não fizer além destas coisas que já vem fazendo, ainda teremos um problema. Temos muita atividade mental "copiar, colar e passar adiante" neste país, mas muita ociosidade no que concerne a reflexão real e ações práticas.

O problema também não é uma questão de forjarmos um nacionalismo incompatível com os tempos e a origem cultural brasileira, embora ele passe sim por uma falta de identidade nacional. É necessário que os filhos de uma nação se reconheçam como tal e assumam as consequências daí decorrentes, mas discordo veementemente do nacionalismo orgulhoso e tolo ensinado em algumas nações desenvolvidas, pois ele não resolve os problemas da nação e menos ainda as do mundo de forma definitiva, apenas os transfere a nações terceiras, através das guerras e demais formas de exploração econômica, política e sócio-moral.

O problema só começa a ser resolvido quando cada um de nós fizermos um passo para melhoramos nossos próprios conceitos, elevarmos o debate além do "eu acho" e dos preconceitos de roda de bar, e finalmente, quando a ensinarmos nossos filhos a pensar, especialmente em coisas como respeito ao semelhante e aos direitos dos demais, pois estas coisas não se aprendem na escola, e nem deveriam: não é papel das instituições de ensino forjar o caráter de nossos filhos. Para termos o que legar aos nossos descendentes, é necessário efetuarmos o trabalho de revisão de nossos valores em nós mesmos, por que muito tolo é aquele que, tendo corrompidos os valores, acha que uma educação hipócrita poderá deixar algo aos seus descendentes. As palavras tem um valor menor do que o que frequentemente se lhes atribui.

O exemplo não é apenas a melhor forma de educar, há quem pense que seja a única. E o exemplo vem, antes de Brasília ou dos institutos educacionais, de nossos lares. O nosso legado às próximas gerações são as nossas ações e omissões bem como suas respectivas consequências.

Alexandre Pereira Nunes - Cidadão Brasileiro

sábado, outubro 15, 2005

There you'll be (Faith Hill)

When I think back on these times and the dreams we left behind
I'll be glad cause I was blessed to get to have you in my life
When I look back on these days I'll look and see your face

Quando eu repensar estes tempos e os sonhos que deixamos para trás
Ficarei grato por que fui abençoado por ter você em minha vida
Quando eu recordar destes dias, eu olharei e verei seu rosto


You were right there for me
In my dreams I'll always see you soar above the sky
In my heart there'll always be a place for you for all my life
I'll keep a part of you with me
And everywhere I am there you'll be
And everywhere I am there you'll be

Você estava ali para mim
Nos meus sonhos sempre verei você flutuar acima dos céus
No meu coração sempre haverá um lugar para você por toda minha vida
Eu levarei uma parte de você comigo
E onde quer que eu esteja, lá estará você
E onde quer que eu esteja, lá estará você


Well you showed me how it feels to feel the sky within my reach
And I always will remember all the strength you gave to me
Your love made me make it through ooh I owe so much to you

Você me mostrou qual é a sensação de sentir o céu ao meu alcance
E eu sempre lembrarei de toda a força que você me deu
Seu amor me fez suportar tudo, eu devo tanto a você

You were right there for me
In my dreams I'll always see you soar above the sky
In my heart there'll always be a place for you for all my life
I'll keep a part of you with me
And everywhere I am there you'll be

Você estava ali para mim
Nos meus sonhos sempre verei você flutuar acima dos céus
No meu coração sempre haverá um lugar para você por toda minha vida
Eu levarei uma parte de você comigo
E onde quer que eu esteja, lá estará você
E onde quer que eu esteja, lá estará você



Cause I always saw in you my light my strength
And I want to thank you now for all the ways
You were right there for me
(you were right there for me)
You were right there for me
Oohh

Pois eu sempre vi em você minha luz, minha força
E quero te agradecer agora, por todos os modos com que ...
Você esteve ali para mim
(Você esteve ali para mim)
Você esteve ali para mim


In my dreams I'll always see you soar above the sky
In my heart there'll always be a place for you for all my life
I'll keep a part of you with me
And everywhere I am there you'll be
And everywhere I am there you'll be
There you'll be

Nos meus sonhos sempre verei você flutuar acima dos céus
No meu coração sempre haverá um lugar para você por toda minha vida
Eu levarei uma parte de você comigo
E onde quer que eu esteja, lá estará você
E onde quer que eu esteja, lá estará você
Lá estará você...

terça-feira, outubro 11, 2005

Parabéns!


Esta é minha mana querida Elaine, que está fazendo aniversário hoje. Não é a malandra mais linda do mundo?

Muitos parabéns para ela :-)

segunda-feira, outubro 10, 2005

Nina



Então... esta é a Nina! :-) Não é uma graça? Nunca vi bicho mais esperto... Ela vai dar trabalho :-)

Mas certamente compensa...

domingo, outubro 09, 2005

Somos quem podemos ... sonhar!

A cultura popular diz que "Cada um sabe onde o sapato aperta".
Uma música diz: "Cada um sabe a alegria e a tristeza que traz no coração"

Todos trazemos conosco dificuldades, que nos acompanham. Durante algum período da vida, é quase certo que negaremos ou fingiremos não saber disto: o orgulho nos pinta de ouro, sem manchas. É possível que em outra época, nós façamos o oposto: só enxerguemos a lama que suja nossas botas, nos esquecendo das botas em si, e de quem as calça, que se não é feito de ouro, também não é de lixo.

Certa feita um desafio foi proposto a humanidade: amar o próximo como a si mesmo. E transcorridos os milênios, tem-se visto as mais diversas linhas de pensamento discorrer sobre o tema, sob os mais diferentes enfoques e chegando as mais opostas teses, mas em geral, toda a discussão está focada no "amar ao próximo".

Pouco é dito a respeito de amar-se a si mesmo. O que vemos a nossa volta é um redemoinho de punições, de baixa ou demasiado alta estima, de sentimento de culpa.

Nós não nos amamos. Quando não sabemos resolver um problema, nao é infrequente recorrermos a fugas auto-destrutivas. Gostaria de dizer que falo o que vejo, e seria verdade, mas também falo por mim.

Não posso condenar quem recorre aos entorpecentes para esquecer a realidade. Não posso condenar quem cria mil e uma fugas, inventa viagens, põe a culpa de sua infelicidade nos outros, cria visões de mundo pessimistas e fatalistas, onde tudo estaria destinado, inevitavelmente, ao fracasso e a dor.

Não posso condenar o que eu mesmo faço ou faria em iguais condições. Mas posso procurar entender. Entendo por que é tão dificil olhar no espelho e encarar aqueles olhos, estejam baixos e cansados ou pomposos de orgulho.

Entendo que não nos amamos, não nos perdoamos, não nos aceitamos, mas aí nem sempre entendo o por quê disto tudo.

Só o que sei é que o principio de amar-se a si mesmo está em perdoar-se, em procurar entender.

Podemos nos perguntar: quem somos nós? O que queremos para nós? Como agiriamos em tal ou qual circunstância?

E não são exatamente estas as respostas que a vida procura nos dar, diariamente?

Sábio não é apenas aquele que consegue tornar sua vida desprovida de espinhos, mas essencialmente, inicia-se na sabedoria todo aquele que, novamente recorrendo a cultura popular, "em tendo ganho da vida um limão, faz dele uma limonada".

E a limonada só de limão e água não desce, ela só se torna apreciavel com o açucar da alegria, não?

Muitos estamos presos ao passado. A luta para desprover-se de tal se dá no presente. Mas como eu gostaria de falar-lhes do futuro!

A questão é que o futuro é explêndido, mas não é predeterminado. O futuro acontece para cada um, individualmente, conforme ele o constrói. Saber o futuro priva-nos das surpresas ruins, mas pode nos retirar a alegria de encontrar as boas surpresas.

Vive o melhor que pode, hoje! Perdoa-te! Olha a frente, e pergunta a teu coração sobre os sonhos que realizará, não necessariamente os sonhos que já te alimentam a alma, mas talvez os sonhos que ainda não sonhaste!

O que teu coração te dizer, é o sentido, é para lá que deve trilhar; Mas o caminho não se trilha sozinho, é preciso que dê tudo de ti: tua inteligência, tua calma, tua perserverança, tua esperança...

Vêm, e vamos marchar a frente: não espere o tempo passar por você, sejamos nós o tempo em si mesmo, que faz o amanhã virar hoje!

sábado, outubro 01, 2005

Novas

Então, sou papai...

Calma, não fiz nenhuma bobagem. Adotei um cachorro, ou melhor, cachorra. Ainda não escolhi um nome pra ela. É uma labrador, é inteira preta. Tão preta que não consigo tirar fotos com a câmera do celular: aparece só uma sombra.

Mas é uma graça. Pena que não me deixa dormir há dois dias, chora a noite toda. Ok, verdade seja dita, noite passada foi uma combinação entre ela e os gatos: quando ela me deixava dormir, o bóris começava a miar. Mas sei que é parte do processo de adaptação, afinal, não querendo me comparar com cachorro, mas não ia gostar de ter sete irmãos e dois pais e ser separado deles contra minha vontade para morar com alguém que nem fede nem cheira.

Sempre quis ter um labrador, e acredito que as cachorras dão menos trabalho do que os cachorros (exceto pelo cio, mas após a primeira cria pretendo esterilizá-la). É uma raça de cachorros extremamente dócil, se dá muito bem com crianças (a única criança aqui em casa, mentalmente falando, sou eu, mas desconsideremos).

Esta pequena é muito inteligente, gosta de mascar os cadarços dos meus tênis, o tapete da sala e quase qualquer coisa que caiba na boca, e aparentemente, até as que não cabem.

Bom, é isso, me desejem sorte, ao menos no que diz respeito a conseguir dormir pelos próximos dias, vou precisar :-)

quinta-feira, setembro 22, 2005

lo sò

Uma vez criei um diário coletivo. Pretendia postar meus textos lá e fazer aqui meu diário. Acabou que não tive paciência de ter um diário, postei meus textos aqui e lá ficou meio abandonado.

Não estou a fim de mudar isto, mas hoje tive vontade de escrever, mais especificamente, sobre a minha vida, o que tem acontecido, embora nada de extraordinário.

Ontém tive esta idéia, algo tola, algo absurda, de pensar em escrever um livro. Ela surgiu de um tema que me veio a cabeça, e, como ao menos hoje ainda não acordei convencido que seja uma bobagem total, eu vou acabar fazendo.

É um projeto de longo prazo, ou melhor ainda, sem prazo. Não é nada comparável ao que escrevo, por que pretendo fazer uma ficção ciêntifica. Se algum dia eu vier a publicá-la, dificilmente a farei no meu nome, usarei um pseudônimo, por que se der certo quero continuar a história (a idéia é boa, dá pra fazer por baixo uns três livros em cima do tema) sem ninguém me perturbando. E se não der certo, posso zoar comigo mesmo sem me sentir estranho.

É bom começar a ter planos de longo prazo novamente. Eu sentia falta disto. Afinal, parte importante de mim é voltada ao longo prazo. Me sinto tentado a divagar sobre isto mas fica pra outra hora.

Bom, vamos ao que não contei aqui. Faz algum tempo já que estou estudando italiano. Como fica mais difícil aprender uma língua na minha idade. E olha que provavelmente ainda levo vantagem. Mas digo isto por que antigamente era aquela coisa de ouvir uma palavra e nunca mais esquecer seu significado. Hoje em dia, eu esqueço até onde estacionei o carro.

Minha vida teve mudanças lentas porém não tão suaves ao longo deste ano que está passando, especialmente no âmbito profissional. Pra não mencionar a universidade, que embora esteja tão presente na minha rotina, as vezes ainda parece algo tão novo.

Tenho sido convidado, para não dizer induzido, a ver a vida por outros olhos. E a tenho visto sob tantos ângulos diferentes. Sempre achei que a via assim, mas confesso que as oscilações tem sido bem maiores. Apesar de tudo, estas oscilações só tem fortalecido minha auto-confiança no que diz respeito à imagem que faço de mim mesmo, embora, por outro lado, tenha sido forçado a admitir minhas limitações e meus defeitos (que não são poucos, nem superficiais), o que não é exatamente a coisa mais fácil do mundo.

Sempre gostei de pensar que não devo nada a ninguém. Hoje sei que nada poderia estar tão longe da verdade. Devo e muito. Mas não é uma dívida pesada. É talvez a única que seja tão lucrativa ao devedor, quanto pode ser ao credor: a dívida suave da gratidão.

É tão ruim ser orgulhoso, ingrato. E é tão difícil perceber quando somos ou não, especialmente nas pequenas coisas. E é justamente nelas que preciso me aprimorar.

Já estou divagando de novo. É o hábito. Não se pode dizer que não pratico esportes ou não tenho hobbies: é divagar devagar. Tá, o trocadilho não tem graça :-)

Durante a vida, passamos por períodos, as vezes longos, em que a falta das coisas conta mais do que as demais coisas que temos presentes conosco. Seja a falta do que tivemos, ou a falta do que gostaríamos de ter, ou ainda a insegurança da possibilidade de não vir a ter.

Mas é necessário nadar contra a corrente e perceber que as coisas não acontecem sozinhas. Temos nas nossas mãos as ferramentas necessárias para seguirmos rumo aos objetivos que elegermos. O tempo não volta. Os fragmentos do vaso quebrado não se colam sozinhos.

Tudo que realmente importa, depende de nós mesmos. Todo o resto não são senão bônus, dádivas e presentes que a vida nos dá, sem nos exigir nada em troca. Mas os bônus não podem ser exigidos, nem ao menos sonhados, por aqueles que ficam sentados numa pedra, esperando que o mundo se adapte aos seus desejos.

Novamente, recordo de St. Agostinho:


"Senhor, dai-me forças para mudar o que deve ser mudado, paciência para aceitar o que não pode ser mudado, e a sabedoria para distinguir uma coisa da outra."

quinta-feira, setembro 15, 2005

Perdoa, se for capaz

É tão fácil errar. Basta dizer uma palavra a mais ou a menos, trocar uma vírgula; Aumentar o tom de voz.

É tão fácil sentir culpa. Só não é tão fácil quanto culpar os outros. E é tão difícil perdoar.

O que parece difícil de entender é que o perdão é a verdadeira "anistia para ambos os lados". Não é incomum a quem odeia, guarda rancor, sofrer enquanto o odiado, o pretenso algoz (pretenso por que o outro é sempre o único culpado, nós sempre inocentes, incrível, não?), as vezes nem se deu conta que seus atos pudessem ferir. E se não teve a intenção, pode ter culpa nenhuma, ou mais frequentemente, meia culpa, mas chamá-lo de culpado, causador, é arriscar ser parcial, usar de dois pesos e duas medidas.

Todos erramos e não digo seja incomum, pelo contrário, errarmos premeditadamente, com sangue frio, com intenção, com tempo. É algo frequente e até encorajado em muitos círculos que não se deixe barato, que se vingue, que se use a crueldade em retorno a crueldade, que se foi inicialmente praticada por alguém sem a intenção de ser cruel, ao ser retornada a este com sangue frio, está se dando um castigo maior que a ofensa, o que nem Moisés, no meio de um povo rude e inculto, necessitado de duras penalidades civis para coibir seus impulsos criminosos, ousou recomendar.

Quem perdoa talvez liberte, mas é certo que liberta-se. Se outrém nos odeia, será que o problema deveria ser nosso? Parece simples ver que se alguém nos traz um presente, e não aceitamos este presente, ele fica com quem o trouxe. Se no entanto, o aceitamos, é nosso. Aceitar o ódio é opção, como também o é aceitar o fato que erramos, que erram conosco, e seguir em frente, o que constitui sempre em sinal de alguma maturidade. Ficar escravo de acontecimentos que já tiveram sua hora, que não podem ser desfeitos, e ficar bancando o justiceiro, como se amanhã ou depois também não fosse pisar na bola, precisando de compreensão, é ficar preso, amarrado ao passado. Naturalmente que devemos transferir a responsabilidade do erro a quem errou, não aceitando jamais que se faça uma injustiça a quem quer que seja. Devem haver penalidades, mas sobretudo, devem existir meios de minimizar os males cometidos, e não creio que criar a cultura da crueldade injustificável seja favorecer, pasmem, a justiça!

Nos tempos imediatamente anteriores a Moisés, no seio da mesma sociedade fragmentada em princípios tribais, a guerra por questões menores era um estado quase que permanente. Se observarmos racional e desapaixonadamente a diretiva mosaica do "olho por olho", aos dias de hoje, a veremos como cruel. Mas ao recomendar isto a um povo bárbaro, Moisés impôs grande progresso, pois se alguém cortasse o dedo de alguém, não era incomum provocar-se uma guerra objetivando não cortar o dedo do agressor, mas dizimar sua familia, sua esposa, seus filhos, seus pais, seus irmãos, quando não sua tribo, para varrer, enfim, da face da terra, tudo o que fosse relacionado ao agressor.

Se a pena de morte, para alguns de nós (e subscrevo-me), é algo indesejável, acho difícil que, nos dias de hoje, mais que uns poucos insensatos concordassem com a idéia de imputar tal pena aos familiares do agressor, como se pudessem estes compartilhar da responsabilidade do crime cometido apenas pelo fato de existirem. É natural que pudessem, por hipótese, existir cúmplices, mas cada um é responsável por si. Este negócio de sermos influenciáveis não nos isenta do mal que tenha tido origem em o fazermos ou deixarmos de impedir que se faça.

É compreensível que povos inteiros, e indivíduos ou pequenas agremiações dentro de outros povos, ainda estejam, mentalmente, vivendo nos tempos de moisés. Mas aos demais cumpre considerar que o tempo passou, os pactos sociais maturaram, e muitos líderes, mártires, pensadores, professores, pessoas referenciais enfim, das mais diferentes ideologias e culturas, apresentaram diferentes propostas, e quem quer que se dê ao trabalho de estudá-las, mesmo que não concordando com seus preceitos, poderá observar que há muitas formas de olhar para a mesma questão.

Até no seio dos decendentes da cultura que abrigou os prceitos de Moisés, surgiu, muitos séculos depois, um homem admirável que não dizia olho por olho, mas perdoar setenta vezes sete. Que ao invés de mostrar a idéia de Deus como sendo líder dos exércitos, mais cruel, ciumento, vingativo, que o mais rancoroso dos seres humanos, o apresentava simplesmente como o pai.

Na encosta de uma região então muito verde e rica de natureza, diante de uma multidão que cochichava e se admirava, usou a palavra amor, e ao pronunciá-la, calou a todos, que se entreolhavam sem saber o que dizer.

Amai aos demais como a si mesmo. Mas nós não amamos, pois quem se ama não se mata. E quem não perdoa, pode até não dar-se conta, pode até prosseguir por décadas com sua mágoa, mas envenena-se, enfraquece-se, e morre.

Após anos perseguindo o irmão de sangue que considerava traidor dos costumes de seu povo, um homem que viveu a muito tempo atrás, o encontrou, e cheio de ódio, o espetou com a espada. O irmão ferido mortalmente, sorriu e disse: Eu te perdoo, e morreu.

O outro, largando a espada, só ali se deu conta do que havia feito. Só após todos estes anos, quando consumada sua paixão vingativa, percebeu que os anos haviam passado, seu velho pai morrido de desgosto por que, tendo bom coração, procurava aplacar a ira deste seu filho, sem sucesso. Amava ambos os filhos e não os havia criado para odiarem-se. Não culpava o filho que havia partido, tido por traídor pelo outro irmão, ainda que, à época, ele fosse tido como traidor pelos costumes. Sabia ele que o delito não era tão grave a ponto de não poder ser reparado.

Alguns homens petrificaram seus próprios corações e nada vêem senão com as lentes do interesse p?oprio, egoísta. Não medem esforços para alcançarem o que querem, pois se julgam superiores a todos os outros homens, que então, são apenas meios de realizar seus objetivos, que podem ser descartados quando não mais têm serventia.

Mas aos demais, que possuem ao menos uma veia pulsando dentro de seus corpos, é imperioso que raciocinem antes de seguir a trilha da vingança, por que, obstinados, podem seguir por ela sem saber exato onde ela leva.

As tradições religiosas criaram o conceito de inferno, e algumas delas honram a idéia da existência de um ser que seria a origem, ou o coordenador, do mau na terra. Se, em princípio, toda idéia é respeitável enquanto hipótese, interrogo qual o motivo pelo qual alguns se apegam tanto a tal dogma, se ele desvia o olhar do homem para um conceito de onde fica a dúvida se poderia ou não estar o mal, sendo que existe um lugar onde ele certamente existe, e se temos esta certeza, podemos combaté-lo. Este lugar é o nosso próprio ego, pois é em nós que reside o mal do mundo, e não nos outros, e menos ainda em um único ser em particular, a quem seria muito fácil transferir toda a responsabilidade pelas coisas e lavarmos as nossas mãos.

É em nós que reside o mal do nosso mundo interno, e a estes, só nós mesmos podemos aplacar, não tanto ao sermos perdoados, mas, talvez, ao perdoarmos, de toda alma, se disto formos capazes.

quarta-feira, setembro 07, 2005

Montanha Abaixo

Um sopro de vento passa sorrateiro pelo cume da montanha. E atrás dele outro, e mais outro.

Não fosse tão gelado, se alguém estivesse ali, no cume da montanha, sentiria neste sopro apenas uma leve brisa, a levantar os cabelos ou acariciar o rosto.
Mas esta sucessão de ventos, que ali chega, é o suficiente para deslocar um pequeno bloco de neve. Este pequeno bloco cai contra um bloco de gelo mais sólido, e nele rola, tocando a neve mais abaixo. Ao fazê-lo, já com certa velocidade, vai acumulando mais neve. E assim surge uma bola de neve de considerável tamanho, que passa levando tudo o que encontra pelo caminho, até acertar as árvores de poucas folhas perdidas no meio do caminho, levando consigo o ninho de passarinhos que ainda nem estava pronto.

E dentro da gigante bola de neve, ainda está aquele pequeno bloco, tal qual estava lá em cima, mesmo que se confunda com as camadas que lhe ficaram sobrepostas.

As vezes nossa vida é assim, como a história do bloco de neve. Rolamos montanha abaixo, adquirindo camadas e camadas das mais diversas coisas, boas e ruins, escorregando aqui e mais ali, até que chega a algum lugar de onde parece que não se pode passar. De tal sorte que quando a nossa vida descamba, não em alguma árvore, mas em alguma série de acontecimentos, já não sabemos se somos mais aquele bloco de neve ou se somos a neve que está em volta de nós. Talvez sejamos ambos, eu não sei. Se não me agrada a idéia de pensar que a gente não muda, menos ainda agrada a idéia de a gente não conseguir evitar este acúmulo de coisas, especialmente as coisas que não gostaríamos de acumular; A idéia de não sabermos pra onde vamos. Só dá pra sentir quando se cai, e mesmo assim, as vezes quando já se está com certa velocidade e já não dá mais pra evitar.

É verdade que vivendo a gente ganha muitas coisas. Experiência, sobretudo, por que só mesmo a imaturidade nos permite achar que sabemos o suficiente, ou ainda, que sabemos mais que o suficiente. É necessário tempo para perceber que não há manual de instruções para percorrer o caminho a ser trilhado, e os mapas que nos serviriam para descobrir qual é este caminho, dentre tantos outros, não é senão mera aproximação, como um rabisco, uma bússula, nos dizendo: "vá mais ou menos naquela direção, não sei pra onde você vai, nem quanto tempo leva pra chegar lá".

Mas não consigo deixar de pensar que ao mesmo tempo, parece que com o tempo, se perde alguma coisa. Aquele idealismo absoluto se torna sensato, relativo, e se isto é muito bom para a vida prática, é um tédio total para a vida de imaginação. A capacidade de acreditar nas pessoas, de achar que elas dizem sempre a verdade e que buscam o que é bom, também se relativiza, ao ponto de alguns a extrapolarem, de modo a não confiarem em nada, nem ninguém, suponho nem mesmo em si mesmas.

Parece que as vezes estamos sempre vendendo ou trocando alguma coisa que não tem preço, por outras coisas que, a bem da verdade, não tem valor. Trocamos algumas gramas de pureza por toneladas de quinquilharias que, ocupem mais ou menos espaço, pesem mais ou menos, não são senão migalhas se formos usá-las para preencher o vazio de nossos corações.

Falo daquele vazio de olhar este mundo tão grande lá fora e não saber exatamente qual é o seu lugar nele. É o vazio de perceber que há tantas pessoas na mesma condição, ou até pior, vendendo a alma para comprar um lugar qualquer, mesmo que não seja o seu.

Vejo estas pessoas que precisam ir e vir, por que aqui nunca está bom, mas vão para acolá cheias de esperança, e quando lá chega, o que era "lá" vira "aqui", e então precisam se mudar, parecem não perceber que onde quer que elas vão, há uma certa bagagem que necessariamente levam com elas, e que apesar de pesada n'alma, fingem que ela não existe, a varrem para baixo do tapete (carregar malas pesadas usando um tapete não parece muito ergonômico, parece? Deve dar uma baita dor nas costas)...

As vejo e sei que no fundo, só o que me diferencia delas é que tenho preguiça de levar minha bagagem de lá para cá, então fico aqui mesmo, o que certamente não conta a meu favor.

Seres humanos que somos, há tantas teorias tentando nos descrever. Uns nos limitam nas causas, outros nos efeitos, mas de qualquer forma, ainda que definissemos exatamente como é a humanidade, não conseguiriamos definir como é cada indivíduo. Sim, somos todos parecidos. Mas se fossemos idênticos na forma e no pensar, em algum momento, discordariamos e jamais seriamos os mesmos. E, apesar de, insisto, possuirmos muitas semelhancas, são as diferenças que nos definem. Creio que no dia em que pararmos de tentar mandar no mundo, de tentar forjá-lo a nossa imagem e semelhança, e em especial, o dia que desistirmos de tentar fazer os outros verem o mundo com nossos olhos, pensar a nossa maneira, e concordar com nossas necessariamente limitadas conclusões, será o dia em que começaremos a entender quem somos, por que, para isso, parece ser necessário entender quem nós não somos.

Por vezes, faz-se imperioso admitir que podemos estar muito longe ainda de sermos quem podemos (ou poderemos) ser.

terça-feira, agosto 23, 2005

Anjo, Sonho e Saudade

Se todos temos um anjo da guarda,
Que nos acompanha, nos inspira e nos protege,
Se todos temos um anjo da guarda,
Quero fazer um pedido.

Não peço ao meu anjo, pois que a este já sou muito grato.
Quero pedir ao teu anjo que te proteja;
Que te inspire, em doce sonho, a paz que tanto busca.

Quero pedir que, como não posso segurar sempre a sua mão,
Que este o faça por mim.
Quero saber que, quando estás a sós e vertes lágrimas,
Que teu anjo lá está para as enxugar.

Os anjos não podem impedir que passemos pelas dificuldades,
A que todos temos que passar, conforme nossas próprias condições.
Mas se as vezes te sentes a só, e de mim sente saudade,
Saiba, meu bem, que a sós nunca estás.

Se eu, que sou limitado, não te posso sempre tocar,
Nem te ver sorrir, nem em meu colo te acalentar,
Saiba, meu bem, meu amor, minha querida,
Que teu anjo está a teu lado,
Mesmo quando eu ainda não possa estar.

Anjo, sonho, e saudade.

"Sorria sempre, mesmo que tenhas que esconder, no fundo d'alma, a dor que o mundo desconhece. Pois sorrindo você não dará a quem te odeia a felicidade de te ver triste, mas dará sempre, a quem te ama, a felicidade de te ver sorrindo."

quarta-feira, agosto 17, 2005

Universos

Certa vez ouvi uma história sobre um empresário que, interrogado sobre o sucesso da empresa que dirigia, apontou para a entrada da empresa, onde havia uma escadaria, e disse algo como:
- O sucesso da empresa se deve aos nossos ativos. E o nosso maior ativo sobe estas escadarias as oito horas da manhã e faz o percurso inverso as dezoito horas, todos os dias.

O ser humano, portador da consciência da vida. O único ser que conhecemos que pode, mais ou menos consciente das opções, efetuar decisões baseado em quaisquer critérios que adote. Embora também possua instintos, e aliás frequentemente os desvirtue, tem esta possibilidade de efetuar escolhas, de enxergar opções onde só havia o vazio, tem a possibilidade de criar ou co-criar, e, o que talvez seja um dos maiores e menosprezados recursos, tem sempre a possibilidade de mudar de idéia, de opinião.

Já foi dito certa feita que "não há vergonha em mudar de idéia; vergonha é não ter idéia pra mudar".

Elegemos ou herdamos conceitos sobre a vida, adquirimos uma maneira mais ou menos sistemática de analisar os eventos que presenciamos e tomamos nossas decisões baseado no que vemos com as lentes de nossas ideologias.

O demasiado matemático tende a ver tudo como equações que devem resolver-se. O filósofo tenta obter uma noção ampla que seja consistente, mas raramente consegue fugir dos grilhões de sua própria crença interna. O ciêntista procura reduzir a realidade a modelos, na impossibilidade prática de ampliar os modelos para abarcar toda a realidade, o que não é muito diferente do religioso, que tenta encaixar a realidade nos modelos teosóficos a que se prenda.

Uns de nós nos pretendemos mais racionais, outros mais intuitivos. Alguns de nós confiamos demais em nossos próprios brios, outros não conseguimos tomar uma decisão antes de coletar uma, dez ou cem opiniões.

Alguns de nós em princípio desconfiamos de tudo e de todos e só com muito esforço nos ganham a confiança, outros de nós confiamos antecipadamente nas pessoas e só com muita sacanagem elas podem perder a confiança que lhes atribuimos.

Altos, baixos, bem ou mal humorados, aparentemente felizes ou miseráveis, assim somos nós, tão diferentes e tão parecidos, pretendendo defender a imagem que fazemos de nós mesmos, seja ela qual for.

Independente de quem nós sejamos e de quem nós pensemos ser, e independente da concepção de mundo que adotemos, do apego mais ou menos fechado que a ela dediquemos, o importante é termos ao menos a noção do que sejam os nossos maiores ativos.

A vida que usufruimos é o mais importante dos meios pelos quais realizamos nossas habilidades. Cuidar bem desta vida é sinal de algum avanço em nossa consciência.

Somos todos importantes, todos temos possibilidades que podemos por em prática. Nos cumpre respeitar as limitações e não invejar as extensões que possuem os demais.

Na infinidade do espaço, onde corpos gravitam em torno de corpos, cada qual possúi a sua órbita. Fosse dada a lua a condição de pensar e esta optasse em ocupar a órbita da terra, teriamos uma pequena catástrofe e desarmonia locais.

Dentro da nossa órbita, somos livres para pensar e fazer o que nos aprouver. Mas somos responsáveis por estas escolhas, e pela desarmonia que trouxermos as órbitas dos demais universos individuais, que o somos, afinal, cada um de nós.

quarta-feira, agosto 10, 2005

O Inferno é dentro de ti

Há um estado pelo qual muitos de nós passamos, frequentemente após grande e longo sofrimento ou trauma. Este estado consiste na combinação do cansaço, da falta de vontade, ou melhor, da vontade vencida no campo de batalhas, com um estado de pós-guerra ao nosso redor.

Ao nosso redor, as ruínas da vida que um dia sonhamos levar. Tudo por fazer, por reconstruir, mas a vontade tão avariada que chegamos a nos perguntar se vale a pena. E com o tempo, o que acaba acontecendo é que a maioria de nós se acostuma com estas ruínas. Por que ainda que saibamos lamentável este cenário,já estamos nele, ganhamos jogo de cintura. Como se após a queda quisessemos garantir o chão, já que, quando se cai, do chão não se passa.

Este estado recebe muitos nomes. Alguns o descrevem erroneamente como estado masoquista. Masoquista é quem se compraz no sofrimento, e o masoquismo é um estado patológico um tanto quanto mais grave. Este estado que ora descrevemos não é o estado de quem escolheu nele estar, mas de quem, momentâneamente, não sente-se capaz de buscar saída, encontrar opções.

Alguns outros o chamam de inferno. Apesar de ter me encontrado neste estado, e por tempo considerável, eu não sei do que chamá-lo. Só o que eu sei é que entrar neste estado não é fácil e nem voluntário, e sair dele não é menos difícil.

Insisto ainda que no meu caso, tive sorte. O preço não foi tão baixo, foram necessários muitos anos cicatrizando as feridas, mas após isto, tudo o que precisei foi de um sorriso, embora não um sorriso qualquer, mas nada além de um sorriso.
Que me ajudou a encontrar em mim as próprias forças para sair deste cenário e buscar um cenário melhor. E se é bem verdade que a vida é uma busca incessante, se há sempre metas a frente, não é menos verdade que a felicidade se encontra nesta busca. Não é um lugar ou um estado melhor, não é o dia de amanhã em si, mas o caminho que nos conduz a este dia.

Meu coração se compadece dos que habitam este cenário de pós-guerra, de destruição, com tudo e todos a nosso redor em pedaços, por que eu sei, e ninguém se atreva a dizer que não sei, o quanto dói cada minuto nesta situação, e o quanto dói e o quanto custa sair dela.

Mas a verdade verdadeira é que os escombros que encontramos ao nosso redor não são a real destruição a que temos que suportar. A destruição verdadeira está no coração, esmigalhado, lutando por se recompor, cansado, com medo de tudo e de todos. Das ruínas aprendemos a conhecer cada centímetro, nelas não há nada mais a perder, nada que nos assuste além do que já estamos assustados, nada que não possamos gerenciar. Fora dela, há o medo de qualquer coisa nova, de qualquer coisa diferente. É por isso que enxergamos ruínas, por que fora deste pequeno mundo, desta cratera aberta pelo meteoro que acabou com nossa vontade de lutar, fora deste mundo está a realidade a que, nestes instantes, não queremos enfrentar. Gostaríamos, impensadamente, que nada mais existisse, que esta cratera e estas ruínas fossem tudo o que sobrou.

Leva tempo para aceitar o fato de que a vida continua. Que da mesma forma estes escombros a que chamamos de derrota não são menos ilusão do que os sonhos quebrados que a esta guerra nos conduziram.

Se alguém se permitir um conselho de quem notadamente tem muito a aprender e nada a ensinar, é apenas este: Se o inferno é dentro de ti, se foi o coração ferido que te conduziu a este estado de coisas, não é senão dentro de ti, e em nenhum outro lugar, que também se encontra a porta de saída a este estado de coisas. Sim, a vontade falha, o cansaço impera, e não se sai disto com um passe de mágica. Ninguém que tendo sido tombado quase mortalmente pelo tiro, tapa o furo da bala com band-aid, levanta-se e segue andando como se nada tivesse acontecido, não.

É necessário tempo, é necessário muitas coisas. Raramente bastaria um sorriso, raramente bastaria alguém que segurasse a sua mão, embora seja necessário saber aproveitar estas e todas as outras coisas que nos ligam a uma realidade melhor. Mas, aconteça como acontecer, reste esta certeza que vos deixo, de quem caminha sobre a terra e não no inferno: se o inferno é dentro de ti, não há para onde fugir. Mas é dentro de ti, em vida e não quando se morre, que está o céu a que ainda se prende, por poucos mas firmes laços, o coração quebrado que outrora ousou sonhar, e que um dia, quando se encontrar pronto, deverá buscar ousar novamente, por que isto é o que forma a vida, e é precisamente isto que ninguém mais poderá fazer em teu lugar, senão ti mesmo.

sábado, agosto 06, 2005

União

As criaturas irracionais, movidas quase que apenas pelo instinto, exibem características curiosas.

Enfrentam a necessidade de atacar e se defender (as vezes atacar para se defender, as vezes para se alimentar, as vezes ainda por que "dá na telha").

Acho curioso como o ser humano especula sobre os animais, de certa forma, comparando-os, a eles consigo mesmo e a nós com eles (e talvez, dado que não os compreendemos senão superficialmente, não tenhamos outra forma de levantar hipóteses).

Alguns afirmam que os instintos animais são meramente individualistas e visam apenas sua sobrevivência, e que neste sentido, não haveria o que chamamos "instinto materno".

Oras, é bem verdade que o comportamento geral com relação a prole varia entre as espécieis e mesmo entre os indivíduos das espécies. Há espécies em que os pais são ameaças aos próprios filhotes, há outras em que apenas o pai (ou, menos frequentemente, a mãe) o é. Nos gatos por exemplo, a mãe tende a proteger o filhote da presença do pai, que frequentemente o mataria ou até mesmo o comeria. Isto no entanto não tende a acontecer entre os siameses, que formam casais, onde o pai de certa forma compartilha responsabilidades com a fêmea, perante a cria.

Mas muitos que especulam sobre o comportamento animal provavelmente apenas defendem uma epistemologia teórica qualquer e nunca tiveram animais de estimação.

Atualmente tenho dois gatos, já tivemos vários, alguns cachorros, uns poucos peixes, e, até o momento, nenhuma ave, mas pretendo um dia.

Os dois gatos são machos. Um deles já era grande quando chegou o outro, com cerca de dois meses de idade. O mais velho levou cerca de um mês para perceber que o mais novo não oferecia grande perigo ao que ele considera ser "seu" domínio sobre o território. O mais novo por sua vez levou menos tempo para perceber que aquele mais velho já "mandava no pedaço" e que deveria seguir certos critérios antes de se aproximar do outro.

Mas, passado este tempo, o mais velho "adotou" o mais novo. O protege contra eventuais perigos, se colocando na frente entre ele e qualquer coisa que o possa assustar, inclusive eu, quando faço ruídos ameaçadores para assustar o gato mais novo. Numa briga entre o mais novo e a namorada do mais velho, este último não teve dúvida, ajudou o irmão a bater na sua própria namorada. Coisa de gatos.

Quando tínhamos um cachorro e mesmo resolvia atazanar o gato mais velho, ele nada fazia além de ameaçar o cachorro, mas na verdade, tratava mais de ignorá-lo. Agora, quando o cachorro latia para o gato mais novo, o gato mais velho aparecia não-sei-de-onde para espancar o cachorro. Coisa de gato louco.

Há casos e casos de cães, gatos, até ouvi uma vez sobre gado, onde a morte de um membro do mesmo bando deixa os outros tristonhos, alguns até morrem "de desgosto".

É verdade que os individuos competem entre si, algumas espécieis competem pelo mesmo tipo de alimento, e talvez todos nós, criaturas que respiramos, estejamos em um certo nível de competição por espaço, por alimento, por alguma coisa, enfim.

Mas tenho visto que os que competem de forma selvagem apenas conseguem, por algum tempo, manter o domínio sobre o que já julgam possuír, até que os mesmos esforços empregados neste sentido se tornem tão intensos que os debilitem a ponto de não os deixar com forças para mais nada, os levando a perder, em parte ou até totalmente, estas mesmas posses. Enquanto os que aprendem a cooperar e a "competir de forma cooperativa", acabam, na maioria dos casos, unindo esforços que os habilitam a ter poder sobre forças que de outra forma não teriam, pois não as possuem por si mesmos.

Algumas empresas que não teriam capital para investir em pesquisa, em tecnologia para a melhoria do processo produtivo, se unem, e conseguem juntas ter acesso a um nível de inteligência que não conseguiriam financiar por si mesmas.

Claro que, toda regra comporta excessões, e há mesmo padrões que apenas parecem regras sem o serem de fato, mas, sigo ainda considerando como positivo o lema de St. Agostinho:

"Se os egoístas pudessem compreender as vantagens existentes em serem homens de bem, seriam homens de bem por egoísmo".

quinta-feira, agosto 04, 2005

Primeira Impressão?

Dizem que a primeira impressão é a que fica.

Quando o caminho de duas pessoas se cruzam, momentâneamente, se estabelece uma conexão direta na teia da vida. Isto acontece a todo instante, quando somos clientes que entramos em um estabelecimento comercial e somos atendidos por alguém; Quando somos o médico que aperta a mão do paciente de longa data ou recém chegado, quando encontramos na rua ou em qualquer lugar aquela pessoa que pode vir a ser uma amizade por toda a vida ou pode seguir sua vida indiferente ao contato conosco.

Quando estes encontros se dão de forma casual, é quase certo que a primeira impressão é a que fica. Se somos bem atendidos em uma empresa ou perguntamos informações a um estranho, e o mesmo responde de forma cordial, guardamos desta pessoa boa lembrança, e a julgamos por esta impressão, já que, desta pessoa, a primeira impressão é provavelmente tudo o que temos.

No entanto, não somos rochas sólidas, somos criaturas bastante maleáveis e que agimos de acordo com muitas premissas: nosso estado emocional, nossos interesses pessoais, etc.

Por vezes, a pessoa que não nos trata como certamente mercemos, na primeira vez que com elas nos deparamos, talvez pudesse ser um dos nossos melhores amigos, não fossem as circunstâncias e a primeira impressão que delas conservamos: antipáticas, mal-educadas, pessoas terríveis.

E talvez ainda, a pessoa que se encontra neste estado de espírito se recupere, e mais tarde, enfrentando a mesma situação, saiba se sair bem, sem precisar recorrer ao mal humor, a grosseria, ao passo que aquela que nos passa a impressão de ser cordial e simpática não se saia nada bem, se tiver de enfrentar a mesma dificuldade.

Isto pra não mencionar o fato de que algumas das pessoas que nos tratam bem só o fazem por interesses excusos. Mas deixemos este ponto para lá.

O que pretendo imputar aqui é que a primeira impressão, seja boa ou ruim, não precisa ficar, podemos ir além. Aquela pessoa que nos parece boa, pode não ser, ou ser ainda muito mais do que a impressão que dela temos, o que frequentemente também é verdadeiro.

Os julgamentos de valor apressados tendem a ser superficiais, e por vezes mesmo aí são falsos.

Neste sentido é que mostram seu valor as boas amizades, daquelas que tendem a permanecer por toda a vida, mesmo quando estes amigos estão tão longe que deles não temos mais notícias, ou tão perto a ponto de conhecer todas as nossas imperfeições.

Por que a amizade é esta coisa maravilhosa que faz com que as pessoas, por idênticas ou diferentes que sejam entre si, possam compreenderem-se e apoiarem-se mutuamente.

Aquelas pessoas que já são capazes de abrirem mão de si, ainda que por breves instantes, para socorrerem a um amigo, ou apenas estarem presentes, nos momentos bons ou ruins, estas pessoas já começam a perceber que, muito além das impressões, a amizade verdadeira é fundada no mais puro e desinteressado amor.

Amigos de verdade são como irmãos que podemos escolher para formar a nossa família. A família do coração.

E a primeira impressão, na amizade, nunca fica. Boa, ótima ou ruim, ela sempre é superada.

quinta-feira, julho 28, 2005

While you're lost

While you're lost
In doubt and fear;
While you go on through your darkest nights,
Let me be at your side.

While you earn uncertainty and pain;
While you wait for the daylight to come,
Where you'll find what you want and what you don't want.
Just let me be your angel.

While you're lost,
In doubt and fear;
While you can't let me be your sunshine,
Just let me hold your hand.

I hope for the day your smile
will bring back your own sunshine;
But, until then,
If I can't be at your side,
I hope you carry my heart with you;

I trust it can guide you safely to where you belong.

Se ...

Se és capaz de manter a tua calma quando todo mundo ao redor já a perdeu e te ocupa de crer em ti, quando estão todos duvidando e para estes, no entanto, achar uma desculpa;

Se és capaz de esperar sem te desesperares, ou, enganado, não mentir ao mentiroso, ou, sendo odiado, sempre ao ódio te esquivares, e não parecer bom demais nem pretensioso;

Se és capaz de pensar - sem que a isso só te atires; De sonhar - sem fazer dos sonhos teus senhores;

Se, encontrando a derrota e o triunfo, conseguires tratar da mesma forma a estes dois impostores;

Se és capaz de sofrer a dor de ver mudadas em armadilhas as verdades que dissestes, e estraçalhadas as coisas pelas quais lutaste nesta vida, e refazê-las com o bem-pouco-quase-nada que te reste;

Se és capaz de arriscar numa única parada tudo quanto ganhaste em toda a tua vida, e perdes, e, ao perder, sem nunca dizer nada, resignado, tornar ao ponto de partida; De forçar coração, nervos, músculos, tudo, a dar, seja o que for, que neles ainda existe e a persistir assim quando exausto, contudo resta a vontade em ti, que ainda ordena: persiste!

Se és capaz de falar com a plebe, e não te corromperes; Andar entre reis, e não perder a naturalidade, e de amigos, quer bons, quer maus, te defenderes;
Se todos podem contar contigo, mas nenhum sequer espera demais de ti;
E se és capaz de dar, segundo por segundo ao minuto fatal todo valor e brilho;
Tua é a terra com tudo o que existe no mundo e - o que é muito mais - serás um homem, meu filho!

(Rudyard Kipling, Poeta e Escritor, cuja criação mais popular é Tarzan; A tradução recebi por e-mail, mas como me pareceu mais uma adaptação do que outra coisa, eu dei umas pinceladas para "desadaptar" alguns excessos que a meu entender empobreciam o sentido original. Talvez ao fazê-lo eu tenha piorado as coisas, mas a intenção era boa...)

domingo, julho 24, 2005

O Fantasma da Ópera

O fantasma da ópera foi escrito e publicado em 1911 por Gaston Leroux, um excêntrico ex-repórter investigativo que deixou a então profissão para se dedicar as nouveles. Como livro, Le Fantôme de l'Opéra não fez sucesso e as críticas eram ruins, exceto pela publicação em série de tiras em jornais franceses, americanos e ingleses, talvez pelo aspecto macabro das figuras empregadas para ilustrar a história, que pareciam chamar a atenção.

Conta-se que alguém que trabalhava para a Universal Pictures teria lido uma dessas tiras e tido a idéia para um filme, que foi produzido e chegou as telas no ano de 1925, tornando famoso seu protagonista, o ator Lon Chaney (falecido em 1960).

Gaston Leroux não chegou a presenciar o sucesso que sua história viria a ter, embora especula-se que teria assistido a produção cinematográfica no ano de 1926, um ano antes de seu falecimento.

O Fantasma da Ópera é uma ficção baseada em acontecimentos sombrios e misteriosos que se deram no ano de 1880, nos porões da Ópera de Paris. Leroux teria visitado os porões da ópera, onde há um lago, e até mesmo tropeçado em esqueletos de pessoas que haviam sido massagradas durante a Comuna, um ambiente naturalmente rico para a criação de histórias sobre vultos e fantasmas.

A história é contada iniciando-se no ano de 1911, com o leilão de objetos remanescentes da Ópera de Paris. Raoul (um dos personagens), então com 70 anos, comparece ao leilão e arremata um pôster e a caixa de música. Quando é posto em leilão o enorme lustre da Ópera, Rauol começa a contar que o lustre está diretamente relacionado com a lenda do fantasma da Ópera, e a história retorna no tempo, com a Ópera de Paris em pleno funcionamento. Christine, uma cantora de Ópera, é auxiliada pelo Fantasma, a que ela chama de "Anjo da música", que no entanto fica enlouquecido de ciúmes quando Christine encontra Rauol, um antigo colega de infância que ao desenrolar da história disputará o amor de Christine com o Fantasma, um personagem excêntrico e fascinante cuja paixão demonstra de maneira bastante humana como aquilo que é simultaneamente uma força construtiva pode tornar-se em uma fraqueza destrutiva.

O Fantasma foi estrelado como um músical em 1986, em Londres, tendo Sarah Brightman no papel de Christine, estando em cartaz até hoje, sendo que jamais houve um assento não vendido para a produção londrina. O show também é produzido por outras companias de teatro, estando em cartaz em Nova York, Budapeste, Shangai, São Paulo e uma produção em tour pelo interior dos EUA.

Eu tive a oportunidade de assistir a produção em São Paulo e posso dizer que vale a pena, se você gosta e/ou tem paciência para musicais. Além da história e da musicografia serem fiéis a produção teatral original, o cenário, os efeitos, as roupas, nada deixam a desejar a uma produção de nível internacional.


"Promise me that all you say is true - That's all I ask of you"

(All I ask of you, da produção original para o teatro. A melodia é mais conhecida no Brasil através da adaptação performada por Emilio Santiago para a novela Tieta, com o nome de "Tudo que se quer", embora a letra não tenha nada a ver com a original).

segunda-feira, julho 18, 2005

Voltei!

Estou de volta. O texto anterior descreve o por quê, embora eu não possa explicar :-)

domingo, julho 17, 2005

Somos o que sonhamos

Algumas expressões surgem naturalmente como se fossem verdades tão simples, tão inquestionáveis:

- "Preciso ir"
- "Agora não posso"
- "O tempo não espera"
- "Tenho tanto a fazer"
- "Gostaria quer o dia tivesse 48 horas"

E, no entanto, o tempo não é esse monstro inexorável que nos rouba o fôlego da vida, dia após dia. O tempo é o que queremos fazer dele. Não culpemos o tempo pela angústia da pressa que nos move o íntimo. Esta angústia de não saber quem somos e o que queremos, e dentre o que queremos, não sabermos o que podemos, não foi implantada em nós pelo tempo. Fomos nós que a semeamos, que a regamos. O mato já cresce sozinho, sem uma mão que o cultive, haveremos de nos queixar se cresce ainda mais rápido, e fica ainda mais forte, se recebe auxílio?

O tempo não é essa coisa de os segundos passarem, um contador inexorável que conta de trás para a frente, do dia em que respiramos o ar deste mundo até o dia de nos despedirmos dele. O tempo não nos impõe estas necessidades, verdadeiras ou inventadas, destas que nos levam a precisarmos (ou imaginar precisarmos) correr atrás da vida como se ela nos escapasse das mãos feito fosse areia pelos vãos d'entre os dedos.

A vida não é escrava do tempo. Nem foge, nem vai a parte alguma. A vida está aqui, está ali. Está em seu coração, está no meu, está nos corações que já foram e nos que ainda não vieram. A vida é uma sinfonia tão grandiosa que infelizmente muitos escolhem não vivê-la.

É uma sinfonia tocada por todos os instrumentos, com todas as notas, com todos os timbres, para todos os ouvidos e gostos. É uma sinfonia que se desprende de sua grandeza para deixar participar do mais ínfimo dos instrumentos, mas que soa encorpada e forte quando permite entrar os mais afinados e musicais deles.

É uma sinfonia em que tomam parte sem saber desde os minúsculos seres microscópicos do oceano, as plantas mais simplórias, os menores vermes que vivem debaixo da terra ou o limo das pedras, e gradativamente até os primeiros dos arcanjos, passando naturalmente em algum ponto por cada um de nós. É uma sinfonia que pode ser maravilhosa sem qualquer um dos seus maestros ou músicos, mesmo o mais elevado deles, mas que não é perfeita senão quando todo o conjunto atua, mesmo sem que o saibam.

Os aprendizes tem a liberdade de escolherem seu caminho, constroem seus instrumentos as próprias custas. Descobrem e descobrem-se, cada qual no compasso de tempo que lhe é próprio, mesmo quando a pressa se lhe apresenta, mesmo quando desiste e nada pensa fazer, pois que estes estados são transitórios como o próprio tempo o é.

O tempo é a medida dos eventos momentâneos, da sucessão de coisas que acontecem em intervalos mais ou menos constantes. O tempo não é a medida da perfeição ou da imperfeição, nem da sabedoria ou da ignorância, o tempo não mede nem determina coisa alguma que possa ser considerada ao longo da sinfonia majestosa da vida.

Não há instrumento mais ou menos digno, caminho mais ou menos perfeito, não há músicos mais ou menos capazes. Os que podem mais, fazem mais, os que ainda não podem, cumprem exatamente com o papel que lhes cabe, e nada os impede de ascender a papéis que requerem maior disciplina, se por este caminho decidem trilhar. Os que completam um papel podem ascender a outro, deixando a vaga aberta para um que a deseja e luta por ela.

Todo o desequilibrio, toda a sorte de problemas, surgem principalmente da falsa idéia que os músicos fazem de si mesmos e de seu papel. Uns querem ser agora o que ainda não podem, outros querem ser menos, querem fazer menos, querem ser outros músicos, ou pensam nada querer.

E são livres para tomar o caminho que trilharem, para produzirem o ritmo que lhes aprouver. Livres só não são para se furtar ao resultado que obtiverem, embora possam sempre retomar o trabalho de onde o deixaram, ou mesmo se dedicarem a outras tarefas, assumindo tão somente o fardo de encontrarem condições menos favoráveis do que na primeira tentativa, visto não terem eles próprios melhorado o ambiente em que se encontram para afinar os seus instrumentos.

É a pressa, a pressa de querer não-sei-quê, de fugir para não-sei-onde, de temer tudo e nada; É a pressa que desloca o músico da arte de tocar seu instrumento. Que não o deixa perceber onde ele está e por quê ali está.

É mais ou menos esta idéia que estava por trás do título deste espaço, "Somos quem podemos ser", idéia que nunca consegui expressar por que nem mesmo tinha dela senão vaga forma, cujo conteúdo ainda não me é inteiramente claro.

Este pequeno instrumento desafinado, que tem muito a aprender sobre todas as coisas, dos vermes da terra e os arcanjos do espaço infinito, coloca aqui o seu manifesto de vida. Não faz com isto um convite ou um desafio a ninguém, nem a adotar nem a questionar concepção de vida alguma. Não teria tamanha pretensão.

O caminho que trilho não é mais nem menos digno ou verdadeiro do que o de ninguém. Os instrumentos que toco estão longe de contribuirem com uma nota musical que o fosse. A estrada que existe a minha frente, cujos detalhes sei tanto quanto todo mundo sabe ou nada, que é a mesma coisa, é a minha estrada e a mais ninguém compete trilhá-la. Ainda que outros músicos construam estradas algo paralelas a minha, ainda que eventualmente elas cheguem a um ponto em comum, a cada qual compete seguir pela sua estrada. É um caminho que se trilha só, mas que não precisa necessariamente ser um caminho solitário. Não é necessário fechar as interesecções da estrada, não é necessário fazê-la em solo tão baixo e inundado que todos a desprezem ou em elevado tão inacessível que todos nem sonhem em construir tão alto, por que se no primeiro caso não quero, no segundo nem poderia.

Há algo que interliga todos os músicos, algo que cada um compreende a seu modo, conforme sua identidade e suas capacidades, algo que eles sequer sabem definir durante a maior parte de seu trajeto.

Este algo que os une é a própria melodia que não apenas tocam, mas ajudam a compor, muitas vezes sem o saber. O tempo é o palco, a vida a matéria bruta que forma todos os instrumentos, e a melodia que executamos e compomos se chama Amor.

sexta-feira, junho 17, 2005

Round Trip

Amanhã estou indo pra sampa. Ceteris Paribus, estou de volta no domingo.

Não ando muito inspirado para escrever aqui. Dizem que todas as coisas devem chegar a um fim, talvez seja este. Também dizem que todo fim implica em um novo começo. Mas isso tudo é só especulação.

O futuro está sempre em aberto. As vezes me pergunto se não seria melhor se não estivesse [aberto]... Vai saber.

Por que tenho esta mania de ir dormir tarde, tendo que acordar cedo, toda vez que vou viajar?
... Vai saber.


Fiquem bem.

sábado, junho 11, 2005

Ahead of my time; Behind my will

Quando as massas de vapor d'agua elétricamente diferenciadas se chocam, eis aí o trovão.

Quando as massas de ar com diferentes características de pressão e temperatura se aproximam, dá-se a tempestade.

Quando o bem e o mal se encontram, trava-se a batalha entre o que existe e o que é ausência, entre o que é realidade e o que é carência não suprida. Se o primeiro vence, eis a mudança. Se vence o segundo, vige, momentaneamente, o cansaço.

São chegados os tempos. Eis a guerra, caminhando para o seu apogeu, desta vez sem paus e pedras, sem balas e canhões, sem hiroshima ou Nagasaki. As armas são o coração e a mente.

Somos chamados, a cada instante, a escolher uma trincheira.

Sou convocado a assumir o caminho da honra, mesmo não tendo em mim mesmo nenhuma honra; Como se tamanha confiança me fosse depositada, assim, de repente. Eu, que quase sempre falhei, pareço ter sido incumbido, por vezes, de trazer a esperança que se esconde n'algum canto perdido de cada alma.

Não sei que nível de vitória se pode esperar de alguém como eu. Mas eis meu passo a frente, minha tentativa. Me encontro a disposição do tempo e dos ventos, dos lugares e das pessoas. Naturalmente, não estou a esmo, não estou ao acaso. Tudo na vida conclama resultados, conclama objetivos.

Veremos então, vida, em que me pode transformar.

segunda-feira, junho 06, 2005

Eu desejo

Eu desejo que o seu dia seja feliz. E que se acontecerem coisas que o façam menos feliz, que você possa encontrar no seu coração a paz que diminui os problemas de tamanho, ao invés daquela tormenta do coração que só os faz aumentar.

Eu desejo que a sua semana seja cheia de luz. Que você saiba que apesar de tudo, alguém te amará na sexta-feira ao menos o mesmo tanto que te ama na segunda.

Eu desejo que o seu mês passe tranquilo, mas sem pressa, para que você possa desfrutar as coisas boas que ele lhe trouxer. Que se ele trouxer as contas a pagar, que também te traga o dinheiro. Que se lhe trouxer más notícias, que te oferte consolo. Que se lhe fizer duvidar, que também te ofereça a esperança.

Eu desejo a você não um, nem dois, ou três anos de felicidade, mas toda uma vida. Que quando a dor te visitar você recorde que neste mundo em que vivemos não dá para ter tudo o que se quer, e, mais ainda, que por vezes não devemos ter tudo o que queremos. Alguns daqueles que nos dão a impressão de terem tudo o que querem, aqueles mesmos que parecem poder comprar o mundo à vista, por vezes trocariam tudo o que tem, sem pensar duas vezes, pela incerta possibilidade de terem alguém a quem amar. Os demais não abririam mão de um centavo pelo bem estar de ninguém além deles próprios, mas um dia desejarão pudessem tê-lo feito.

Eu desejo a você, por toda a eternidade, o calor do teu próprio coração. Não foi senão a luz do teu coração que acendeu o pavio do meu coração tão cansado, tão vencido. E se hoje eu posso amar, a vida, as pessoas, a mim mesmo, e a você, não é por quê eu me fiz digno disto por que eu próprio o desejasse, mas por quê, de alguma forma, me mostraste como fazer.

A vida continua seguindo com seu colorido, somos nós que a vemos através de lentes preto-e-branco, ou em tons de cinza.

Eu desejo a você a felicidade que puder conquistar, a paz que puder merecer, a capacidade de amar que me pôde ensinar e a melhor vida que puder viver. E para que tudo isso se realize, desejo sobretudo que possa acreditar em você e em sua própria capacidade, tanto quanto eu acredito.

Por fim, eu desejo ainda poder dizer, hoje e sempre: - Obrigado!

domingo, maio 29, 2005

Delas

Há um trecho do Talmud, a coletânea de textos sagrados dos judeus, que seria mais ou menos assim (a tradução não foi minha, e nem atestei a veracidade, apenas copiei descaradamente de um artigo do Luiz Caversan):

"Cuida-te quando fazes chorar uma mulher, pois Deus conta as suas lágrimas. A mulher foi feita da costela do homem, não dos pés para ser pisada nem da cabeça para ser superior, mas sim do lado para ser igual, debaixo do braço para ser protegida e do lado do coração para ser amada."

Minha postura antropológica-histórico-religiosa-cultural é significativamente diferente com relação a mulher como com relação a muita coisa, mas confesso que fiquei profundamente comovido com tamanha demonstração de carinho pela figura feminina, históricamente tão relegada a segundo plano pelas mais diversas culturas. Ainda que a imagem parta de um pressuposto algo discutível (o texto deixa aberta a interpretação [e parece favorecê-la] de que a mulher foi criada para servir ao homem), é incontestavelmente preferível ao legado da mesma tradição hebraica que narra mais frequentemente os costumes de discriminação e opressão próprios de um povo ainda em sua infância, infância esta em que ainda vive parte da humanidade.

Ouço frequentemente histórias de mulheres contemporâneas que vivem a busca de um homem ideal, ou melhor, idealizado, e que ao se enamorarem por alguém, buscam converter este alguém neste ideal. Por enfrentarem a impossibilidade disto, deixam falir relacionamentos que talvez pudessem evoluir se fossem baseados em verdadeira afeição e num pouco de compreensão, para então repetirem indefinidamente o ciclo, a busca nos homens de carne e osso do ideal que existem tão somente em suas fantasias.

Mas raramente ouço falar de nós homens buscando as mulheres perfeitas. Andei contando, e apesar de ninguém falar a respeito, se tenho feito a contagem por critérios apropriados, a proporção está pior para o nosso lado. Em algum ponto da nossa cultura alguém (não sei quem) parece ter definido que o nosso modelo na adolescência é o bart simpson, e na vida adulta o Homer, e parece que nisto temos feito a nossa lição de casa direito, logo, refletir não encaixa neste modelo senão como violação de alguns pressupostos básicos de mediocridade, que em algumas pessoas requeririam um certo esforço de adaptação e confinamento, de redução.

Para aqueles que podem ir além, devem ir, não por que são ou para que sejam melhores do que ninguém, mas simplesmente por que creio que, em podendo fazê-lo, temos a obrigação de fazê-lo. O mundo é carente de grandeza, e está saciado (empanturrado até, eu diria) de mediocridade e pobreza de todos os matizes.

Esperar daquelas que hoje crescem em dúvidas sobre os próprios valores, que sejam um modelo de virtudes que nós mesmos certamente não possuímos, é uma violência talvez maior do que o apedrejamento que nossos patrícios cometiam por suspeitas por vezes verdadeiras, mas por vezes infundadas ou até mesmo motivadas por interesses ainda mais frios.

Naturalmente, que devemos nos precaver contra as interesseiras, da mesma forma que as nossas companheiras do sexo oposto deveriam melhor se precaverem contra "alguns muitos" do nosso gênero, mas atirá-las aos leões ao menor sinal de imperfeição é esquecer que as únicas coisas razoavelmente bem construídas em nós mesmos, seres humanos contemporânos, independente de nosso gênero, são muitas vezes apenas o nosso orgulho e a nossa própria cegueira, que por sua vez, socialmente falando, são grandes defeitos e nada que nos leve a perfeição alguma.

sábado, maio 28, 2005

D'amizade

Meu grande amigo,

Escrevo para dizer: Obrigado. Muito obrigado por não desistir de acreditar em mim. Sei que algumas pessoas, se não desistiram, estiveram próximas a isto. Porém, como se pudesse fechar os olhos diante dos meus imensos defeitos e ver apenas aqueles pequenos fragmentos de humanidade que se encerram em meu coração, vejo que nem por um instante duvidou de mim.

Pacientemente esperou por mim, mesmo quando eu próprio já não acreditava poder encontrar o caminho. Acreditou em mim como se fossem inevitáveis as minhas pequenas vitórias, postura esta que não consigo conceber: cometo tantos erros, todos nós aqui cometemos, e parece ser tão difícil acertar. Mas você parece ter seus próprios conceitos e não se importar nem um pouco com a minha descrença.

Quero dizer obrigado especialmente por que na nossa amizade, nossas capacidades não são exatamente recíprocas, não são simétricas. Você é muito mais meu amigo do que eu sou seu amigo, e você parece não se importar com isto. Parece ter prazer apenas em ser amigo de todos aqueles que puder alcançar.

Eu não sou assim. Frequentemente duvido de você, de suas capacidades. Por vezes duvido mesmo que você seja justo, pois quando fala que estou errado, meu orgulho não me deixa te escutar.

E ainda que quem tenha motivos para duvidar não seja eu, sou eu quem duvido. E você sabe disso, e parece não se ofender. Parece me compreender melhor do que eu mesmo me compreendo, como se fosse um pai que olha a um filho e sabe que com o tempo e as oportunidades o seu filho irá crescer e superar as pequenas-grandes tormentas que hoje a ele parecem insolúveis.

É com esta calma e esta paciência que tens sido meu amigo por todo o sempre, muito mais me ouvindo do que me dando conselhos. Parece saber que mais importante do que dar opções e direção à alguém é ajudar este alguém a encontrar suas próprias forças, e com elas descobrir seu próprio caminho.

Tua amizade é incondicional. A minha ainda é ciumenta e invejosa. Sou condicional e interesseiro, minha amizade se limita quando você não faz o que eu quero, ainda que eu queira as coisas erradas.

Um dia, quem sabe, eu serei um homem melhor. E quando e se isto for verdade, talvez eu me surpreenda, talvez meus outros amigos se surpreendam. Mas você, meu amigo, certamente dirá o que já disse tantas outras vezes: - Eu já sabia que você podia, só faltava você descobrir também.

terça-feira, maio 24, 2005

Cachorrinho esperto

Era uma vez, um cachorrinho, perdido na selva.
De repente, ele vê um tigre correndo em sua direção.
Pensa rápido, vê uns ossos no chão e se põe a mordê-los.
Então, quando o tigre está a ponto de atacá-lo, o cachorrinho diz:
- Ah, que delícia este tigre que acabo de comer!
O tigre pára bruscamente e sai apavorado correndo do cachorrinho,
e no caminho vai pensando:
'Que cachorro bravo! Por pouco, não come a mim também!'
Um macaco, que havia visto a cena, sai correndo atrás do tigre e conta
como ele havia sido enganado.
O tigre, furioso, diz:
- Cachorro maldito! Vai me pagar!
O cachorrinho vê que o tigre vem atrás dele de novo e, desta vez,
traz o macaco montado em suas costas.
'Ah, macaco traidor! O que faço agora?', pensou o cachorrinho.
Em vez de sair correndo, ele ficou de costas, como se não estivesse
vendo nada.
Quando o tigre está a ponto de atacá-lo de novo, o cachorrinho diz:
- Macaco preguiçoso! Faz meia hora que eu o mandei me trazer um outro
tigre e ele ainda não voltou!

Em momentos difíceis a criatividade pode nos ajudar e muito.

Copiei descaradamente daqui: http://becodosbytes.blogspot.com/

sábado, maio 21, 2005

Bobão :-)

Ouvi certa vez que há uma variedade de bambu chinês cuja semente passa cerca de 5 anos submersa nas águas de algum rio, sem manifestar-se.

Durante este tempo, se ela ficar um dia sequer fora d'agua, não irá se desenvolver. Por cinco anos permanece lá, inútil, depositada n'agua corrente, como se não tivesse pressa.

Passado este tempo, contudo, o broto surge, e dá origem ao maior dos bambus conhecidos, que se desenvolve em tempo recorde quando comparado as outras variedades.

Certa feita um pai se dirigiu a instituição de ensino onde estava matriculando seu filho, para queixar-se que julgava o curriculo demasiado extenso. Foi inquirir ao reitor se não havia uma forma de abreviar a permanência do filho no curso, ou seja, ir por um caminho mais curto. O reitor então respondeu ao pai que sim, era possível, mas isto dependeria se o pai desejava que seu filho fosse um carvalho ou uma abóbora. O pai não entendeu a metáfora e o reitor explicou:

- Deus quando decide fazer um carvalho, precisa de 100 anos. Quando intenta fazer uma abóbora, precisa de apenas 3 meses.

Não devemos apressar ninguém. Todos temos nosso ritmo próprio. Por algum mecanismo que nos é desconhecido, a semente de bambu, que parece inerte por 5 anos, está na verdade se preparando para o ulterior salto de crescimento que lhe assegura ocupar o primeiro porte na categoria dos bambus, e o faz em tempo recorde.

A verdade é que nunca sabemos quando aqueles que parecem inertes darão o seu salto rumo ao seu próprio crescimento. É bem provável que muitos, talvez mesmo a maioria, sequer chegue a dá-lo. Mas as maiorias são formadas por posturas que se alteram com o tempo. A unanimidade é burra, já dizia um brasileiro cuja obra eu não aprecio (talvez por que não a conheça tão bem, talvez por que, excluída do contexto em que foi criada, se torne vulgar), mas cujo intelecto parece se distinguia do vulgo. E qualquer coisa, boa ou ruim, que se saia do senso comum, é sempre polêmica.


Se queremos ser abóboras, provavelmente já podemos nos considerar prontos. Se queremos ser carvalhos, ou se queremos ser seres humanos com propósito de existir, há sempre trabalho a ser feito e lições a serem aprendidas.

Talvez, e somente talvez, a vida e suas dificuldades, os tormentos, as dúvidas, a esperança e a desesperança que nos visitam, talvez tudo isto seja apenas um grande rio a nos sacudir, na tentativa de despertar-nos da sonolência em que nos encontramos. Na tentativa de fazer, da semente que estamos, o bambu que somos.

Ou o bambu que sois vós que aqui lêem. Talvez eu não seja bambu, seja bobão. Mas talvez não.

quinta-feira, maio 19, 2005

You Raise me Up - Josh Groban

Quando estou pra baixo e minha alma tão cansada
Quando os problemas vem e meu coração sente-se tão carregado
Então, permaneço parado e aguardo aqui em silêncio
Até que você chega e senta-se comigo por um instante.

Você me eleva, então eu posso ficar nas montanhas
Você me eleva, para andar em mares tempestuosos
Eu sou forte, quando estou sobre os seus ombros
Você me eleva: Para mais do que eu posso ser.
(Bis)

Não há vida - não há vida que não tenha seu próprio vazio
Cada coração sem descanso bate tão imperfeito
Mas quando você chega e me preencho em admiração,
As vezes, eu acho que eu experimento a eternidade.


Você me eleva, então eu posso ficar nas montanhas
Você me eleva, para andar em mares tempestuosos
Eu sou forte, quando estou sobre os seus ombros
Você me eleva: Para mais do que eu posso ser.
(Bis)



Uma pobre tradução que eu fiz da música You Raise me Up, de Josh Groban.

A letra lembra-me de alguém que sempre será especial para mim. Alguém que trouxe cores e alegria a uma vida que era preto-e-branco. Cuja felicidade eu prezo como uma das coisas mais importantes desta vida.

Alguém que me eleva, para mais do que eu posso ser.

Ícaro com uma asa só

Passar pelo caminho que me aponta requer uma grandeza que eu não tenho.
O que me impede de cair na lama não é nenhuma virtude, que eu não as tenho, mas paradoxal e simplesmente o cansaço. Eu estou neste cai e levanta por tanto tempo que para sair deste ciclo sou até capaz de emular a força que eu não possuo. Sou até capaz de crer no que não creio, de derrotar pela força o inimigo que por vezes me é mais forte, sou igualmente capaz de resignar-me ou de fazer uma revolta e tentar acertar tudo na ponta da espada, mas o que não quero mais é ainda ser capaz de perder meu rumo neste mundo de tantos descaminhos, de tantas opções vazias e poucas reais possibilidades de escolha.

Me mostrou um caminho que eu ousei pensar estar apto a trilhar. E enquanto eu acreditei, eu realmente pude, sem nenhuma grande dificuldade. Mas no momento em que duvidei de mim, realmente vi que o caminho era mais árduo do que minha disposição a seguir nele.

O que me remete ao pensamento reverso: será que é verdade que a auto-estima representa tudo isso? Que a mesma pessoa, provida dela, pode dez vezes mais do que quando nada vê além de sua própria fraqueza? É fácil nos perguntar se nossa força não é apenas fruto da nossa imaginação, e talvez até seja em alguns casos, mas será ainda que, o oposto, a nossa fraqueza, não é sobretudo nossa falta de confiança em nós mesmos?

Diante das situações em que não conseguimos vencer, me pergunto: aqueles que conseguem, será que são assim tão superiores a nós que não conseguimos? Não me parece seja assim. Vejo pessoas bastante limitadas, tanto quanto eu, andando mais rápido que eu, simplesmente por que a sua noção de direção, de objetivo, é melhor definida do que a minha. Ao buscar o horizonte numa determinada direção, parecem prestar menos atenção as distrações que acodem a sua volta, e parecem se prender menos as situações corriqueiras que ocorrem durante o seu caminho: sabem que não podem parar por muito tempo em nenhum ponto da estrada, tem de partir: definiram um destino a alcançar. E frequentemente, tenho observado, o alcançam.


Sempre acreditei que o conhecimento importasse mais que a fé, mesmo quando esta mesma fé é tão somente consequência do conhecimento (algo que infelizmente muitas pessoas ainda não podem conceituar; Imaginam estarem em diâmetros opostos de uma escala imaginária).

Talvez isto seja como tudo na vida: um aspecto não é senão momentaneamente mais importante que o outro: podemos sempre mais quando conseguimos somar os fatores, o que geralmente não fazemos: com nossa miopia intelectual, tendemos a focar mais num aspecto em detrimento dos demais, e acabamos por perder o foco do contexto mais amplo, mais abrangente.

E pode até ser que, em determinada manobra do vôo, uma asa esteja exposta a maior esforço e neste momento o sucesso do vôo esteja dependendo mais da sua resistência particular, mas o fato é que os pássaros e os anjos não conheceriam senão a queda, se tentassem permanecer em vôo com uma asa só.

Até Ícaro, que se lançou aos céus com frágeis asas que não resistiram ao calor do sol, não confiou em uma asa só.

Aos que objetarem dizendo que o raciocínio é demasiado simplório ao considerar apenas dois fatores, ontém eu aprendi que muitas coisas podem ser passíveis de mensuração, por aproximação, usando apenas dois fatores.

Naturalmente que existem muitos outros fatores igualmente relevantes, e é exatamente este o meu ponto de reflexão aqui. Tomemos cuidado com a "miopia". Ela também nos leva ao chão, e se há quem goste do charco e busque se afundar um pouquinho mais nele, nada tenho com isto:

Prefiro tentar as estrelas, mesmo que a envergadura de uma asa só ainda não me levante do chão.

domingo, maio 15, 2005

Simplesmente sê ...

Não caminhes à minha frente;
Posso não seguir-te

Não caminhes atrás de mim;
Posso não saber guiar-te

Caminha ao meu lado
Dá-me tua mão
E simplesmente sê minha amiga.

(Autor desconhecido)

quarta-feira, maio 11, 2005

Eles Vivem

Ante os que partiram, precedendo-te na Grande Mudança, não permitas que o desespero te ensombre o coração.

Eles Não Morreram.
Estão Vivos.
Compartilham-te as aflições, quando te lastimas sem consolo.

Inquietam-se com a tua rendição aos desafios da angústia quando te afastas da confiança em Deus.
Eles sabem igualmente quanto dói a separação.

Conhecem o pranto da despedida e te recordam as mãos trementes no adeus, conservando na acústica do espírito as palavras que pronunciaste, quando não mais conseguiam responder as interpelações que articulaste no auge da amargura.

Não admitas estejam eles indiferentes ao teu caminho ou à tua dor.
Eles percebem quanto te custa a readaptação ao mundo e à existência terrestre sem eles e quase sempre se transformam em cirineus de ternura incessante, amparando-te o trabalho de renovação ou enxugando-te as lágrimas quando tateias a lousa ou lhes enfeitas a memória perguntando porque...

Pensa neles com a saudade convertida em oração.
As tuas preces de amor representam acordes de esperança e devotamente, despertando-os para visões mais altas da vida.

Quanto puderes, realiza por eles as tarefas em que estimariam prosseguir e tê-los-ás contigo por infatigáveis zeladores de teus dias.

Se muitos deles são teu refúgio e inspiração nas atividades a que te prendes no mundo, para muitos outros deles és o apoio e o incentivo para a elevação que se lhes faz necessária.

Quando te disponhas a buscar os entes queridos domiciliados no Mais Além, não te detenhas na terra que lhes resguarda as últimas relíquias da experiência no plano material...

Contempla os céus em que mundos inumeráveis nos falam da união sem adeus e ouvirás a voz deles no próprio coração, a dizer-te que não caminharam na direção da noite, mas sim ao encontro de Novo Despertar.

Emmanuel (Psicografia de Chico Xavier)

segunda-feira, maio 09, 2005

Do tempo que vai e vem

Se eu pudesse voltar o tempo, faria alguns pequenos ajustes.

Naquelas circunstâncias em que eu podia ajudar e me esquivei de fazê-lo, eu tentaria fazer melhor. Especialmente por que, hoje vejo, não me custaria nada, ou quase nada.

Nas vezes em que me revoltei por que as pessoas mentiram para mim, eu procuraria lembrar das vezes em que eu também menti, e sobretudo, das vezes em que fui perdoado por isto.

Todas as ocasiões em que apressei as coisas, em que não deixei o tempo agir com a naturalidade que lhe é própria, todas as muitas vezes que eu não soube esperar... Nestas, eu buscaria a paciência e o cuidado necessários, especialmente quando disto dependesse preservar as pessoas que me são caras.

Nos momentos em que eu busquei as fugas ao invés de enfrentar os problemas, eu tentaria respirar fundo e esperar aquela parte do cérebro que, apesar de ser meio lenta pra funcionar, acaba conseguindo resolver as coisas sem apelar para nenhum tipo de desespero; Tentaria pensar e agir ao invés de simplesmente reagir.

Não obstante, o tempo passa rápido. E com isto, vai deixando para trás as oportunidades aproveitadas ou não, e trazendo outras que se configuram diferentemente: as quase mesmas situações são reapresentadas em contextos distintos daqueles que já experimentamos, de modo que por vezes sequer nos damos conta que o que parece novo problema é tão ou mais antigo do que nós.

Cada um de nós carrega em si a soma daquilo que está desenvolvido bem como daquilo que ainda resta desenvolver. Do que em nós pode, com a mesma facilidade, construir ou destruir. A possibilidade da esperança ou da desistência, da realização ou do fracasso, sendo que este último é sempre temporário, e quem aprendeu isto provavelmente não o fez senão a duras penas.

Se não podemos voltar atrás, talvez possamos ao menos olhar para o hoje de uma forma diferente daquela a que nos permitimos acostumar, e, apesar do céu cinzento e da chuva tristonha, que cai incessantemente e por vezes parece não querer ir embora, talvez possamos nos lembrar que se pudessemos voar até o céu, veríamos acima do tapete cinzento que estaria sob nossos pés, o sol que brilha sobre todos, justos e injustos que o somos, indiferente a nossa descrença e esperando apenas pelo momento propício de raiar por através das nuvens, recobrando as esperanças daqueles que nos permitimos esquecer que o que viveremos amanhã é determinado quase que tão somente pelo que hoje completamos ou deixamos por fazer, sendo que neste último caso, vamos continuar desejando pudessemos voltar o tempo, tentando fugir do lugar e circunstâncias a que pertencemos: aqui e agora.

sábado, maio 07, 2005

Achegar-se

Por vezes nos vemos convidados a analizar a forma pela qual as pessoas passam a fazer parte de nossas vidas. Por exemplo, quando nos recordamos das amizades, ficamos tentando lembrar como foi que conhecemos estas pessoas, as coisas que compartilhamos, os momentos que passamos juntos, mas de maneira mais especial como foi que aquela pessoa passou a ser tão importante para nós.

As vezes fazê-lo é algo simples, mas por vezes ainda é complicado, ou mesmo engraçado, como aqueles casos de pessoas que no começo não nos damos bem mas que aprendemos a respeitar e podem, com o tempo, até estar no círculo de nossos melhores amigos.

Acho que parte desta dificuldade talvez esteja no fato que somos educados para valorizar as igualdades em detrimento das diferenças que nos compõe, noutras palavras, talvez sejamos instruidos a discriminar e estabelecer conceitos de piores e melhores seres humanos, como se (e supondo ainda que fazê-lo seja possível, tenho minhas dúvidas) fosse algo simples.

Não sei vocês, mas creio que até então eu nunca tinha feito o processo reverso: me perguntado como foi que entrei na vida das pessoas. Talvez por que tenha sido sempre algo dentro de um padrão de normalidade, e salvo poucas excessões, acho que nunca foi por nada muito especial, mesmo nos casos em que creio vim a me tornar algo representativo na vida das pessoas.

A pergunta que me fiz e que me levou a esta pastelada toda foi a seguinte: será que, por acaso, eu as vezes não entro na vida das pessoas do jeito errado? Será que eu não influo as pessoas de modo a tirá-las do seu caminho natural, a torná-las mais confusas? Me pergunto por que, para bem ou para mal, eu sou muito reflexivo e por vezes acabo contaminando as pessoas ao meu redor. Fico sempre querendo ver as questões pelos mais diversos ângulos, o que pode ser bom pra mim (de imediato lembro que há casos em que só me meto em confusão), mas pode ser que nem todo mundo esteja preparado pra isso e neste caso eu as estaria prejudicando.

Também me questiono se as vezes não fico tentando ocupar um lugar que não é meu. Tentar ser amigo, me achegar, rápido demais, no sentido de constranger as pessoas que não estão acostumadas a se exporem a fazê-lo, sem mesmo saber se podem confiar em mim e até que ponto, sem terem desenvolvido aquele nível de intimidade que só o tempo e a vivência constróem.

Eu faço tudo que posso para não influenciar as pessoas, por que em geral eu gosto delas como elas são (há excessões, naturalmente) e tenho receio de mudá-las. Acho que não aconteceu, mas em tese eu penso que as poderia influenciar negativamente.

Porém, ao mesmo tempo, me parece ser impossível conviver sem influir. Quando buscamos o nosso melhor, isto naturalmente influencia as pessoas (não necessariamente de uma forma correta), da mesma forma como quando damos vazão aquelas fraquezas de caráter que todos as trazemos conosco (por exemplo, me irrito facilmente quando estou envolto em meus pensamentos e sou interrompido para me perguntarem coisas que eu já havia respondido antes, sendo que eu também faço a mesma coisa com os outros e portanto não deveria me achar no direito de queixar -me, e ainda assim, me queixo). Também da mesma forma, dar mau exemplo, embora seja algo sempre condenável, não necessariamente influi em alguém de forma negativa (alguém pode me ver irritando e pensar lá com seus botões: credo, não quero ser como este daí, que perde a paciência por qualquer coisa. Neste caso, o meu mau exemplo vira um bom exemplo: não do que a pessoa deve fazer, mas do que não deve fazer. Na vida tive muitos referenciais do que não deve ser feito e não tantos quanto eu precisava do que deveria ser feito. Naturalmente que isto não escusa as faltas que servirem de exemplo, por que elas podem ter tido efeitos negativos a quem as gerou e a terceiros que lhes sofreram os danos).

Espero que, apesar dos pesares, algum bem que eu possa ter feito supere os eventuais dissabores que eu criei (que não foram poucos). Espero que as vezes que eu me meti na vida das pessoas, que fui me chegando onde talvez não fosse o meu lugar, que eu não as tenha prejudicado.

Antes de tudo creio que no meio desta confusão toda, eu vou aprendendo o significado de uma palavra que é muito mais usada do que compreendida, muito mais dita do que vivida, algo que em geral esperamos sempre dos outros mas nem sempre tentamos fazer nós mesmos: vou aprendendo o que é amar.

Espero eu que na melhor definição que esta palavra possa ter. Neste mundo há muita confusão em torno disso. E tenho muito a aprender.

Mas isto é assunto pra outro dia.

Eu os deixaria com toda a paz do mundo, se a ela eu tivesse acesso.
Na falta de possuir a luz do sol, deixo-vos com o reflexo de uma pequena e inconstante chama.

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