quinta-feira, dezembro 29, 2005

Those Memories I Left Behind #2 - Reeditada

Me despeço d'aquelas lembranças que hoje deixo para trás

As coisas que vieram ou cedo ou tarde demais
O que não deveria ter feito, e o que deixei de fazer
As pessoas que me enganaram, e as pessoas que por ventura enganei
Os que me queriam mal, e os que eventualmente odiei

Deixo o medo de dizer: Amo você
Com o medo de ouvir: mas eu não e jamais irei
E junto a eles deixo o desejo de ser correspondido.

Deixo e sigo.

Abandono o choro triste de sentir-se rejeitado
O riso ácido de ter cometido uma vingança

Abandono o terror banal de não saber viver

Enterro aqui todo o mal que fiz
Não lamento mais o bem que deixei de fazer
Não me culpo pelas tuas lágrimas que não pude enxugar
Nem pelos dias que não fiz brilhar

E com o tempo, as lembranças do que não foi, as enterro e deixo para trás. Não por que eu me esquecerei delas, mas por que o sentimento a elas associados já não me pertence, como muita coisa já não me pertence.

Para começar vida nova (ou ano novo), é preciso deixar a vida velha. É necessário atravessar a fronteira nu e sangrando, largando para trás a velha armadura enferrujada que não nos defende de nada. As vezes é melhor deixar os móveis velhos e cheios de pó para trás e comprar móveis novos no destino.

Somos quem podemos ser, nos instantes em que podemos ser, na medida em que podemos sonhar e realizar. Por vezes, ainda diante das coisas mais belas, os joelhos fraquejam, e caimos. Mas há outras vezes, diante das coisas mais simples e singelas, que ninguém mais provavelmente vê valor, que simplesmente podemos nos sentir envoltos pela gratidão por aqui estar e viver. E algo em nossos corações pode agora gritar com toda força:

- Você pode não saber ainda, mas é um vencedor.

Não somos apenas quem podemos ser, mais que isto, somos quem escolhemos ser.


Feliz ano novo!

quarta-feira, dezembro 28, 2005

Sociedades

As sociedades se formam geralmente consentidas e com propósitos bem determinados, ou ao sabor do tempo e da experimentação de diversos conflitos entre estes mesmos propósitos.

É assim que erguem-se as civilizações, ou formam-se as empresas, com ou sem fim lucrativo, visando satisfazer a certos objetivos através da elaboração de responsabilidades e planos de meta para cada uma das entidades responsáveis por um aspecto da mesma, sejam estas entidades individuações ou sub-grupos.

Ocorre que a objetividade não é uma realidade auto-sustentável, não é um fim em si mesma senão por instantes mais ou menos breves. Faz parte da natureza humana procurar o que está além, não se conformar com o chão, mesmo quando momentâneamente parece satisfazer-se.

Mesmo o mais pessimista de suas possibilidades, que contempla as estrelas, não pode se esvair daquele sentimento de que 'o mundo é tão grande, há tanto por fazer', e embora não reconheça a potência de seu próprio ser, de sua vontade, e mesmo ainda que nada faça, até ignore a idéia, ela está lá: a necessidade de progredir.

As sociedades, em sentindo amplo, como os povos, as etnias, as agremiações de toda espécie, as sociedades comerciais e culturais, as sociedades matrimoniais, as sociedades informais da amizade, da soliedariedade, da simpatia, enfim, das maiores as menores, todas elas se originam visando a um fim, e o propósito e a duração da sociedade estão condicionadas a natureza deste mesmo fim; Os objetivos duradouros mantém sociedades duradouras, os objetivos pontuais formam sociedades pontuais que se desagregam uma vez que seus propósitos tenham sido cumpridos.

Dizem que as sociedades comerciais são formadas visando o lucro, é uma teoria fácilmente comprovável e, controversamente, falsa, ao menos no Brasil: não tem objetivo final ter lucro quem abre uma empresa no Brasil para por exemplo, vender pregos. O objetivo dele não pode ser simplesmente descrito como 'obter lucro', mas ao menos como 'obter lucro através da venda de pregos', e isto não é simplesmente a mesma coisa, por que se o objetivo fosse ter lucro ninguém vendia pregos, aplicava em títulos do governo que rendem mais que a exploração da maioria dos setores produtivos da economia, com louváveis excessões, mas certamente vender pregos, ou pastéis, ou montar uma oficina, uma franquia de alguma rede de alimentos, recolher impostos e pagar encargos trabalhistas não é mais vantajoso do que aplicar o dinheiro, e no entanto, o país inteiro faz. Não é por desinformação, embora ela exista. A questão é que o dinheiro não é tudo na vida, mesmo que nossos bolsos pensem o contrário a medida que vão ficando mais leves.

A verdade é que formamos sociedades por razões outras que obter vantagens em pontos ótimos de equações, por sistemicamente perfeitas que estas fossem (e não as são). Queremos sim ganhar dinheiro, obter sucesso de outras formas, mas queremos fazer isto do nosso jeito, com aqueles assim chamados "dons" que possuímos, através da nossa interação com aquelas coisas que nos chamam a atenção no mundo e gostaríamos de poder nos orgulhar de levarem elas um pouco do nosso trabalho. O engenheiro que constrói uma ponte, aeronave ou até uma casa de sapê, por quê não, pode ter como prioridade contar quanto isto lhe acrescentou ao banco no fim do mês, ou pode, além da natural preocupação em sustentar-se, observar a sua obra e sentir aquela paz do dever cumprido, aquela sensação talvez até arrogante de saber que foi ele quem deu origem aquilo tudo. Naturalmente os menos cheios de si mesmos saberão que todos que colaboraram na obra também deixaram ali a sua marca, ainda que ela seja invisível.

O instante do término das sociedades, embora não seja fatal, é determinado em geral pela natureza da causa que a formou. Se há o desejo de construir mais pontes ou mais pastéis, a sociedade ainda tem um propósito e se mantém. Se obter dinheiro era o propósito e se este foi o bastante, não há por que ficar, é Adeus, são outras paragens.

O casal que se formou por interesse monetário de uma ou ambas as partes, ou por momentânea atração sexual ou alguma dependência psicológica mal resolvida, ou por qualquer outro interesse intrinsicamente passageiro, terá sua sociedade dissolvida quando a causa que a deu origem se encontrar realizada, satisfeita, ou desiludida. As causas mudam, é verdade, e aquele que era um sonhador pode desiludir-se, aquele que era idealista pode cansar-se e corromper-se, e aquele que era um interesseiro pode vir a encontrar uma motivação mais nobre na situação que ele mesmo criou por propósitos menos respeitáveis, mas a verdade é uma só: as causas determinam os efeitos, e quando as causas cessam, os efeitos as seguem: todo final teve um começo.

Ninguém espere atingir resultado diferente, se continua fazendo as coisas como sempre fez, esperando que "o seu jeito" dê certo um dia. Se não deu certo na primeira, nem na centésima vez, e recorde que um ano tem pelo menos trezentas e sessenta e cinco oportunidades de por o "seu jeito" a prova, talvez esteja mais que na hora de procurar mudar o "seu jeito".

Cada dia que passa, através de nossos atos, renovamos as sociedades a que pertencemos, sejam estas formalizadas ou não, conscientes ou não, através das escolhas que confirmamos, renovamos, ou que desfazemos.

No que concerne as escolhas, recordo (mais uma vez) Jean Paul Sartre, quando dizia que estamos condenados a sermos livres. Não podemos nos omitir de escolher; Se nos omitimos dentre as opções disponíveis, escolhemos nos omitir, e esta é uma escolha como qualquer outra, com suas consequências. A omissão é portanto uma ação. Não escolher é escolher não escolher. Postergar decisões é escolher postergar.

As sociedades nascem entre os pais e os filhos, entre os irmãos, entre os que vivem em um mesmo lar, entre os que finalmente se unem para constituir um novo lar; As sociedades nascem quando criamos uma nova amizade ou até mesmo quando dizemos bom dia no elevador, mas talvez as sociedades não sejam assim criadas, sejam descobertas, talvez a sociedade entre a semente do girasol e o sol seja confirmada através da planta que nasce quando "morre" a semente, mas provavelmente já existia antes de se confirmar.

Os pensamentos que nos impelem a fazer ou deixar de fazer qualquer coisa, o trato que temos para conosco mesmo e para com nossos organismos, talvez estas coisas sejam os germens da sociedade que firmamos conosco mesmo ao nascer.

Sera que os objetivos desta sociedade cujo processo para o nascimento leva em torno de 9 meses, são exclusivamente ter lucro? Por ventura não seria ter sucesso, um conceito mais amplo (é tão amplo que cada um terá uma definição própria para ele)? Será que é menos sucedido o caiçara que contempla o por do sol em seu barco, do que o banqueiro que educou seus três filhos? Qual sociedade determina se valemos alguma coisa, se somos sucedidos: a sociedade dos homens vivos que estão mortos, sepultados na pobreza moral em que se encontram muitos daqueles que deveriam ser nossos exemplos para a vida, ou a sociedade que temos com nossas próprias consciências enquanto indivíduos, ou ... ? Quem dirá?

Possuímos a nosso serviço um aparato de 60 a 100 trilhões de células, uma sociedade harmônica que nos serve sem grandes problemas.

Que fazemos para honrar esta sociedade que nos serve?

sexta-feira, dezembro 23, 2005

Só você

Os dias passam
As vezes tranquilos e as vezes tornados
Furacões que arrasam
Mas os dias sempre passam

E talvez você olhe para trás e se pergunte
Se ainda penso em você tanto quanto antes
Se afinal, afinal não estou por perto
Estou assim longe, sem no entanto, nunca deixar de estar
A teu lado

Os dias passam meu bem,
E sinto como se já fizesse tanto tempo
E já não escrevo tanto
Destas canções que não rimam
Aqueles poemas tolos que fiz pra você

Mas a verdade, meu bem
É que gosto de você ainda mais,
Do mesmo jeito
E não sei o que fazer
Senão te dizer,
E esperar que me entenda

É você, só você, é você
Que me faz assim, tão eu mesmo

Será que entenderia mesmo
Se eu disser
Que é você,
Só você
Que fazer?

Os dias passam
E é você
Só você

Que fazer?

Será que me faço entender
Quando digo:
- É você!

quinta-feira, dezembro 08, 2005

Carta à Nação [em protesto]

O que era difícil torna-se fácil, o que era fácil e gratuito, torna-se caro.

A corrupção nos alcancou a todos. É difícil achar quem não condene, acertadamente, o estado de coisas em que se encontra a política em nosso país, e de certa forma, em todo o mundo.

Mas um exame mais autêntico e menos hipócrita de consciência poderá nos demonstrar que a corrupção não começa nos altos escalões, na representatividade pública, e, ainda mais, que os maus exemplos que dão, repassados pelos meios de informação, não são seguidos por alguns de nós diante da perspectiva da impunidade. A corrupção caminha na contramão desta análise, infelizmente tão do senso comum, e segue avançando pelo caminho contrário. Enquanto alguns se armam e se arvoram para punir os corruptos e dar cabo da corrupção onde ela se completa e se consuma, o que é um esforço punitivo que só pode minimizar os estragos depois de feitos, a corrupção continua nascendo em seu leito, onde desenvolve-se em paz, em locações onde cada vez menos parecem existir pessoas dispostas a combater o bom combate, pois são instruídas por irrefletidos a procurarem o mal não onde ele nasce, mas apenas onde ele já se manifesta.

Todos julgamos a podridão do quadro político e institucional, a corrupção que mancha do guarda de trânsito ao gabinete da presidência da república não mais de bananas que constituimos, mas parece que se fossemos neste caso seguir o hábito contestável de colocar os ladrões de galinha na cadeia enquanto os de colarinho branco, com bons advogados, continuam a solta, teríamos que começar a limpa encarceirando os juízes da situação: não tanto os de toga, mas nós mesmos, que julgamos o quadro como sendo a corrupção alheia, por que a verdade é que todos somos corruptos, em maior ou (queira Deus) em menor grau.

Quando abrimos nossas empresas, quer no fundo de quintal ou em sintuosas instalações, e não escolhemos não recolher nossas taxas, impostos, e contribuições (que se alguém afirmar serem excessivas, quase um assalto, terão meu apoio), estamos sendo corruptos acomodados e cavando nossas próprias covas. Quando um novato guarda de trânsito vê-se diante de uma falta grave ou gravíssima, e, tendo o dever de multar (visto que a advertência já não cabe), aceita suborno, quem é o corrupto? Ele apenas, ou será que aquele que o suborna não acaba de criar um corrupto? As vezes são necessários os anos e as duras provas para forjar o caráter de alguém, tarefa impossível se a corrupção chega antes da instrução adequada.

Digo que somos corruptos acomodados por que escolhemos, sozinhos, tomar tais atitudes, usando como desculpa os outros: "todo mundo faz, se eu não fizer eu quebro", mas a verdade é que se existisse maior organização por parte de empresários e consumidores, os impostos não seriam tão altos. Vai dizer que muitos daqueles que estão lá decidindo qual a carga tributária não foram eleitos por voces que hoje reclamam deles?

Nós elegemos um modelo de democracia representativa mas levamos o conceito muito a fundo: votamos em qualquer babaca e depois nos tornamos passivos ao que acontece, como se o problema fosse dele e não nosso. Mas não é ele quem paga a conta.

Quando a coisa dá errada, criticamos o "babaca", o depomos, e colocamos outro "otário" no lugar, mas ótarios somos nós, pois a situação prossegue, e tem que ser assim, por uma simples razão: os problemas do país são estruturais. Não é a dívida em si, nem os juros, nem o câmbio, nem os partidos de esquerda, nem os de direita ou de centro. Não é explodindo Brasília ou exportando os preceitos de São Paulo ou Rio de Janeiro (capitais) para o resto do País, nem vendendo a Amazônia legal brasileira aos estrangeiros ou expulsando eles dela, nem nenhum destes simplismos que resolverá qualquer problema. Não é escrevendo textos inúteis como este, ou pior, fazendo a grande e pesada tarefa de repassar e-mails com as mesmas tolices para sua lista de amigos, que você irá contribuir com alguma coisa, e me acredite, se o resto do país contribuir com alguma coisa e você não fizer além destas coisas que já vem fazendo, ainda teremos um problema. Temos muita atividade mental "copiar, colar e passar adiante" neste país, mas muita ociosidade no que concerne a reflexão real e ações práticas.

O problema também não é uma questão de forjarmos um nacionalismo incompatível com os tempos e a origem cultural brasileira, embora ele passe sim por uma falta de identidade nacional. É necessário que os filhos de uma nação se reconheçam como tal e assumam as consequências daí decorrentes, mas discordo veementemente do nacionalismo orgulhoso e tolo ensinado em algumas nações desenvolvidas, pois ele não resolve os problemas da nação e menos ainda as do mundo de forma definitiva, apenas os transfere a nações terceiras, através das guerras e demais formas de exploração econômica, política e sócio-moral.

O problema só começa a ser resolvido quando cada um de nós fizermos um passo para melhoramos nossos próprios conceitos, elevarmos o debate além do "eu acho" e dos preconceitos de roda de bar, e finalmente, quando a ensinarmos nossos filhos a pensar, especialmente em coisas como respeito ao semelhante e aos direitos dos demais, pois estas coisas não se aprendem na escola, e nem deveriam: não é papel das instituições de ensino forjar o caráter de nossos filhos. Para termos o que legar aos nossos descendentes, é necessário efetuarmos o trabalho de revisão de nossos valores em nós mesmos, por que muito tolo é aquele que, tendo corrompidos os valores, acha que uma educação hipócrita poderá deixar algo aos seus descendentes. As palavras tem um valor menor do que o que frequentemente se lhes atribui.

O exemplo não é apenas a melhor forma de educar, há quem pense que seja a única. E o exemplo vem, antes de Brasília ou dos institutos educacionais, de nossos lares. O nosso legado às próximas gerações são as nossas ações e omissões bem como suas respectivas consequências.

Alexandre Pereira Nunes - Cidadão Brasileiro

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