terça-feira, agosto 23, 2005

Anjo, Sonho e Saudade

Se todos temos um anjo da guarda,
Que nos acompanha, nos inspira e nos protege,
Se todos temos um anjo da guarda,
Quero fazer um pedido.

Não peço ao meu anjo, pois que a este já sou muito grato.
Quero pedir ao teu anjo que te proteja;
Que te inspire, em doce sonho, a paz que tanto busca.

Quero pedir que, como não posso segurar sempre a sua mão,
Que este o faça por mim.
Quero saber que, quando estás a sós e vertes lágrimas,
Que teu anjo lá está para as enxugar.

Os anjos não podem impedir que passemos pelas dificuldades,
A que todos temos que passar, conforme nossas próprias condições.
Mas se as vezes te sentes a só, e de mim sente saudade,
Saiba, meu bem, que a sós nunca estás.

Se eu, que sou limitado, não te posso sempre tocar,
Nem te ver sorrir, nem em meu colo te acalentar,
Saiba, meu bem, meu amor, minha querida,
Que teu anjo está a teu lado,
Mesmo quando eu ainda não possa estar.

Anjo, sonho, e saudade.

"Sorria sempre, mesmo que tenhas que esconder, no fundo d'alma, a dor que o mundo desconhece. Pois sorrindo você não dará a quem te odeia a felicidade de te ver triste, mas dará sempre, a quem te ama, a felicidade de te ver sorrindo."

quarta-feira, agosto 17, 2005

Universos

Certa vez ouvi uma história sobre um empresário que, interrogado sobre o sucesso da empresa que dirigia, apontou para a entrada da empresa, onde havia uma escadaria, e disse algo como:
- O sucesso da empresa se deve aos nossos ativos. E o nosso maior ativo sobe estas escadarias as oito horas da manhã e faz o percurso inverso as dezoito horas, todos os dias.

O ser humano, portador da consciência da vida. O único ser que conhecemos que pode, mais ou menos consciente das opções, efetuar decisões baseado em quaisquer critérios que adote. Embora também possua instintos, e aliás frequentemente os desvirtue, tem esta possibilidade de efetuar escolhas, de enxergar opções onde só havia o vazio, tem a possibilidade de criar ou co-criar, e, o que talvez seja um dos maiores e menosprezados recursos, tem sempre a possibilidade de mudar de idéia, de opinião.

Já foi dito certa feita que "não há vergonha em mudar de idéia; vergonha é não ter idéia pra mudar".

Elegemos ou herdamos conceitos sobre a vida, adquirimos uma maneira mais ou menos sistemática de analisar os eventos que presenciamos e tomamos nossas decisões baseado no que vemos com as lentes de nossas ideologias.

O demasiado matemático tende a ver tudo como equações que devem resolver-se. O filósofo tenta obter uma noção ampla que seja consistente, mas raramente consegue fugir dos grilhões de sua própria crença interna. O ciêntista procura reduzir a realidade a modelos, na impossibilidade prática de ampliar os modelos para abarcar toda a realidade, o que não é muito diferente do religioso, que tenta encaixar a realidade nos modelos teosóficos a que se prenda.

Uns de nós nos pretendemos mais racionais, outros mais intuitivos. Alguns de nós confiamos demais em nossos próprios brios, outros não conseguimos tomar uma decisão antes de coletar uma, dez ou cem opiniões.

Alguns de nós em princípio desconfiamos de tudo e de todos e só com muito esforço nos ganham a confiança, outros de nós confiamos antecipadamente nas pessoas e só com muita sacanagem elas podem perder a confiança que lhes atribuimos.

Altos, baixos, bem ou mal humorados, aparentemente felizes ou miseráveis, assim somos nós, tão diferentes e tão parecidos, pretendendo defender a imagem que fazemos de nós mesmos, seja ela qual for.

Independente de quem nós sejamos e de quem nós pensemos ser, e independente da concepção de mundo que adotemos, do apego mais ou menos fechado que a ela dediquemos, o importante é termos ao menos a noção do que sejam os nossos maiores ativos.

A vida que usufruimos é o mais importante dos meios pelos quais realizamos nossas habilidades. Cuidar bem desta vida é sinal de algum avanço em nossa consciência.

Somos todos importantes, todos temos possibilidades que podemos por em prática. Nos cumpre respeitar as limitações e não invejar as extensões que possuem os demais.

Na infinidade do espaço, onde corpos gravitam em torno de corpos, cada qual possúi a sua órbita. Fosse dada a lua a condição de pensar e esta optasse em ocupar a órbita da terra, teriamos uma pequena catástrofe e desarmonia locais.

Dentro da nossa órbita, somos livres para pensar e fazer o que nos aprouver. Mas somos responsáveis por estas escolhas, e pela desarmonia que trouxermos as órbitas dos demais universos individuais, que o somos, afinal, cada um de nós.

quarta-feira, agosto 10, 2005

O Inferno é dentro de ti

Há um estado pelo qual muitos de nós passamos, frequentemente após grande e longo sofrimento ou trauma. Este estado consiste na combinação do cansaço, da falta de vontade, ou melhor, da vontade vencida no campo de batalhas, com um estado de pós-guerra ao nosso redor.

Ao nosso redor, as ruínas da vida que um dia sonhamos levar. Tudo por fazer, por reconstruir, mas a vontade tão avariada que chegamos a nos perguntar se vale a pena. E com o tempo, o que acaba acontecendo é que a maioria de nós se acostuma com estas ruínas. Por que ainda que saibamos lamentável este cenário,já estamos nele, ganhamos jogo de cintura. Como se após a queda quisessemos garantir o chão, já que, quando se cai, do chão não se passa.

Este estado recebe muitos nomes. Alguns o descrevem erroneamente como estado masoquista. Masoquista é quem se compraz no sofrimento, e o masoquismo é um estado patológico um tanto quanto mais grave. Este estado que ora descrevemos não é o estado de quem escolheu nele estar, mas de quem, momentâneamente, não sente-se capaz de buscar saída, encontrar opções.

Alguns outros o chamam de inferno. Apesar de ter me encontrado neste estado, e por tempo considerável, eu não sei do que chamá-lo. Só o que eu sei é que entrar neste estado não é fácil e nem voluntário, e sair dele não é menos difícil.

Insisto ainda que no meu caso, tive sorte. O preço não foi tão baixo, foram necessários muitos anos cicatrizando as feridas, mas após isto, tudo o que precisei foi de um sorriso, embora não um sorriso qualquer, mas nada além de um sorriso.
Que me ajudou a encontrar em mim as próprias forças para sair deste cenário e buscar um cenário melhor. E se é bem verdade que a vida é uma busca incessante, se há sempre metas a frente, não é menos verdade que a felicidade se encontra nesta busca. Não é um lugar ou um estado melhor, não é o dia de amanhã em si, mas o caminho que nos conduz a este dia.

Meu coração se compadece dos que habitam este cenário de pós-guerra, de destruição, com tudo e todos a nosso redor em pedaços, por que eu sei, e ninguém se atreva a dizer que não sei, o quanto dói cada minuto nesta situação, e o quanto dói e o quanto custa sair dela.

Mas a verdade verdadeira é que os escombros que encontramos ao nosso redor não são a real destruição a que temos que suportar. A destruição verdadeira está no coração, esmigalhado, lutando por se recompor, cansado, com medo de tudo e de todos. Das ruínas aprendemos a conhecer cada centímetro, nelas não há nada mais a perder, nada que nos assuste além do que já estamos assustados, nada que não possamos gerenciar. Fora dela, há o medo de qualquer coisa nova, de qualquer coisa diferente. É por isso que enxergamos ruínas, por que fora deste pequeno mundo, desta cratera aberta pelo meteoro que acabou com nossa vontade de lutar, fora deste mundo está a realidade a que, nestes instantes, não queremos enfrentar. Gostaríamos, impensadamente, que nada mais existisse, que esta cratera e estas ruínas fossem tudo o que sobrou.

Leva tempo para aceitar o fato de que a vida continua. Que da mesma forma estes escombros a que chamamos de derrota não são menos ilusão do que os sonhos quebrados que a esta guerra nos conduziram.

Se alguém se permitir um conselho de quem notadamente tem muito a aprender e nada a ensinar, é apenas este: Se o inferno é dentro de ti, se foi o coração ferido que te conduziu a este estado de coisas, não é senão dentro de ti, e em nenhum outro lugar, que também se encontra a porta de saída a este estado de coisas. Sim, a vontade falha, o cansaço impera, e não se sai disto com um passe de mágica. Ninguém que tendo sido tombado quase mortalmente pelo tiro, tapa o furo da bala com band-aid, levanta-se e segue andando como se nada tivesse acontecido, não.

É necessário tempo, é necessário muitas coisas. Raramente bastaria um sorriso, raramente bastaria alguém que segurasse a sua mão, embora seja necessário saber aproveitar estas e todas as outras coisas que nos ligam a uma realidade melhor. Mas, aconteça como acontecer, reste esta certeza que vos deixo, de quem caminha sobre a terra e não no inferno: se o inferno é dentro de ti, não há para onde fugir. Mas é dentro de ti, em vida e não quando se morre, que está o céu a que ainda se prende, por poucos mas firmes laços, o coração quebrado que outrora ousou sonhar, e que um dia, quando se encontrar pronto, deverá buscar ousar novamente, por que isto é o que forma a vida, e é precisamente isto que ninguém mais poderá fazer em teu lugar, senão ti mesmo.

sábado, agosto 06, 2005

União

As criaturas irracionais, movidas quase que apenas pelo instinto, exibem características curiosas.

Enfrentam a necessidade de atacar e se defender (as vezes atacar para se defender, as vezes para se alimentar, as vezes ainda por que "dá na telha").

Acho curioso como o ser humano especula sobre os animais, de certa forma, comparando-os, a eles consigo mesmo e a nós com eles (e talvez, dado que não os compreendemos senão superficialmente, não tenhamos outra forma de levantar hipóteses).

Alguns afirmam que os instintos animais são meramente individualistas e visam apenas sua sobrevivência, e que neste sentido, não haveria o que chamamos "instinto materno".

Oras, é bem verdade que o comportamento geral com relação a prole varia entre as espécieis e mesmo entre os indivíduos das espécies. Há espécies em que os pais são ameaças aos próprios filhotes, há outras em que apenas o pai (ou, menos frequentemente, a mãe) o é. Nos gatos por exemplo, a mãe tende a proteger o filhote da presença do pai, que frequentemente o mataria ou até mesmo o comeria. Isto no entanto não tende a acontecer entre os siameses, que formam casais, onde o pai de certa forma compartilha responsabilidades com a fêmea, perante a cria.

Mas muitos que especulam sobre o comportamento animal provavelmente apenas defendem uma epistemologia teórica qualquer e nunca tiveram animais de estimação.

Atualmente tenho dois gatos, já tivemos vários, alguns cachorros, uns poucos peixes, e, até o momento, nenhuma ave, mas pretendo um dia.

Os dois gatos são machos. Um deles já era grande quando chegou o outro, com cerca de dois meses de idade. O mais velho levou cerca de um mês para perceber que o mais novo não oferecia grande perigo ao que ele considera ser "seu" domínio sobre o território. O mais novo por sua vez levou menos tempo para perceber que aquele mais velho já "mandava no pedaço" e que deveria seguir certos critérios antes de se aproximar do outro.

Mas, passado este tempo, o mais velho "adotou" o mais novo. O protege contra eventuais perigos, se colocando na frente entre ele e qualquer coisa que o possa assustar, inclusive eu, quando faço ruídos ameaçadores para assustar o gato mais novo. Numa briga entre o mais novo e a namorada do mais velho, este último não teve dúvida, ajudou o irmão a bater na sua própria namorada. Coisa de gatos.

Quando tínhamos um cachorro e mesmo resolvia atazanar o gato mais velho, ele nada fazia além de ameaçar o cachorro, mas na verdade, tratava mais de ignorá-lo. Agora, quando o cachorro latia para o gato mais novo, o gato mais velho aparecia não-sei-de-onde para espancar o cachorro. Coisa de gato louco.

Há casos e casos de cães, gatos, até ouvi uma vez sobre gado, onde a morte de um membro do mesmo bando deixa os outros tristonhos, alguns até morrem "de desgosto".

É verdade que os individuos competem entre si, algumas espécieis competem pelo mesmo tipo de alimento, e talvez todos nós, criaturas que respiramos, estejamos em um certo nível de competição por espaço, por alimento, por alguma coisa, enfim.

Mas tenho visto que os que competem de forma selvagem apenas conseguem, por algum tempo, manter o domínio sobre o que já julgam possuír, até que os mesmos esforços empregados neste sentido se tornem tão intensos que os debilitem a ponto de não os deixar com forças para mais nada, os levando a perder, em parte ou até totalmente, estas mesmas posses. Enquanto os que aprendem a cooperar e a "competir de forma cooperativa", acabam, na maioria dos casos, unindo esforços que os habilitam a ter poder sobre forças que de outra forma não teriam, pois não as possuem por si mesmos.

Algumas empresas que não teriam capital para investir em pesquisa, em tecnologia para a melhoria do processo produtivo, se unem, e conseguem juntas ter acesso a um nível de inteligência que não conseguiriam financiar por si mesmas.

Claro que, toda regra comporta excessões, e há mesmo padrões que apenas parecem regras sem o serem de fato, mas, sigo ainda considerando como positivo o lema de St. Agostinho:

"Se os egoístas pudessem compreender as vantagens existentes em serem homens de bem, seriam homens de bem por egoísmo".

quinta-feira, agosto 04, 2005

Primeira Impressão?

Dizem que a primeira impressão é a que fica.

Quando o caminho de duas pessoas se cruzam, momentâneamente, se estabelece uma conexão direta na teia da vida. Isto acontece a todo instante, quando somos clientes que entramos em um estabelecimento comercial e somos atendidos por alguém; Quando somos o médico que aperta a mão do paciente de longa data ou recém chegado, quando encontramos na rua ou em qualquer lugar aquela pessoa que pode vir a ser uma amizade por toda a vida ou pode seguir sua vida indiferente ao contato conosco.

Quando estes encontros se dão de forma casual, é quase certo que a primeira impressão é a que fica. Se somos bem atendidos em uma empresa ou perguntamos informações a um estranho, e o mesmo responde de forma cordial, guardamos desta pessoa boa lembrança, e a julgamos por esta impressão, já que, desta pessoa, a primeira impressão é provavelmente tudo o que temos.

No entanto, não somos rochas sólidas, somos criaturas bastante maleáveis e que agimos de acordo com muitas premissas: nosso estado emocional, nossos interesses pessoais, etc.

Por vezes, a pessoa que não nos trata como certamente mercemos, na primeira vez que com elas nos deparamos, talvez pudesse ser um dos nossos melhores amigos, não fossem as circunstâncias e a primeira impressão que delas conservamos: antipáticas, mal-educadas, pessoas terríveis.

E talvez ainda, a pessoa que se encontra neste estado de espírito se recupere, e mais tarde, enfrentando a mesma situação, saiba se sair bem, sem precisar recorrer ao mal humor, a grosseria, ao passo que aquela que nos passa a impressão de ser cordial e simpática não se saia nada bem, se tiver de enfrentar a mesma dificuldade.

Isto pra não mencionar o fato de que algumas das pessoas que nos tratam bem só o fazem por interesses excusos. Mas deixemos este ponto para lá.

O que pretendo imputar aqui é que a primeira impressão, seja boa ou ruim, não precisa ficar, podemos ir além. Aquela pessoa que nos parece boa, pode não ser, ou ser ainda muito mais do que a impressão que dela temos, o que frequentemente também é verdadeiro.

Os julgamentos de valor apressados tendem a ser superficiais, e por vezes mesmo aí são falsos.

Neste sentido é que mostram seu valor as boas amizades, daquelas que tendem a permanecer por toda a vida, mesmo quando estes amigos estão tão longe que deles não temos mais notícias, ou tão perto a ponto de conhecer todas as nossas imperfeições.

Por que a amizade é esta coisa maravilhosa que faz com que as pessoas, por idênticas ou diferentes que sejam entre si, possam compreenderem-se e apoiarem-se mutuamente.

Aquelas pessoas que já são capazes de abrirem mão de si, ainda que por breves instantes, para socorrerem a um amigo, ou apenas estarem presentes, nos momentos bons ou ruins, estas pessoas já começam a perceber que, muito além das impressões, a amizade verdadeira é fundada no mais puro e desinteressado amor.

Amigos de verdade são como irmãos que podemos escolher para formar a nossa família. A família do coração.

E a primeira impressão, na amizade, nunca fica. Boa, ótima ou ruim, ela sempre é superada.

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