quarta-feira, fevereiro 15, 2006

Do mal

O vento desgasta as pedras, cujas partículas se incorporam à areia, e esta mesma areia, movida pelo vento, volta a desgastar as pedras.

O guerreiro perde ou ganha, mas tem de retornar sua espada a bainha.
A tempestade passa, e suas imensas nuvens cinzentas trocam relâmpagos com a terra, num espetáculo de estrondos e ventos rápidos, mas a terra, que sofre com sua passagem, cedo ou tarde vê o sol e a calmaria voltarem por ali, outra vez.

O fogo vêm, destrói, e vai embora. Seus efeitos se dão rapida e fatalmente, é impossível abstrair-se à sua presença. Mas a paixão entre o combustível e o comburente consome a ambos, e em pouco tempo, o que resta são as brasas e cinzas, e, finalmente, nem isto.

No auge da batalha, a lâmina do guerreiro dilacera os corpos dos oponentes, mas o tempo trata de cegar a lâmina e cobrir de terra o próprio guerreiro.

As tormentas que te afligem o coração não são menos passageiras que o fogo sobre a terra ou a lâmina impiedosa do guerreiro, que, como todas as coisas, encontram seu término.

As maiores linhas de pensamento orientais e ocidentais convergem no que diz respeito a importância do momento presente, o vendo como a única chance de superar o passado e projetar o futuro.

Que é o futuro, senão a realização dos sonhos de hoje? Quando chega o futuro, é o hoje que faz, o ontém que sonhou, e o anteontem que embora criando uma linha tangente, mais ou menos apontando a direção, a tendência para onde vamos, ainda assim não fecha portas ou tranca janelas: somos livres.

Entretanto, é inegável que o chamado senso comum ocidental vê o momento presente não como o instante passageiro e mutável que vai dando lugar ao ontém, para que o amanhã se torne hoje, que é uma imagem viva, e sim como uma imagem de morte, uma imagem de que o amanhã pode não vir e é bem possível que não venha. Uma imagem imatura de que hoje é o último dia de nossas vidas, é o dia de saciar as delícias de satisfazer os sentidos até a exaustão, como se não fossemos viver para sofrer a dor de barriga do glutão, ou o revide daquele a quem voluntariamente vilipendiamos, ou as consequências à saúde física e moral advindas de nossos próprios abusos.

Dizem: - Viva o hoje, não pense nas consequências, seja feliz como os animais, que, se caçam para viver, de certa forma também vivem para caçar.

Todos conhecerão as consequências dos atos, da ação e da omissão, e felizes são os que os conhecem através do pensamento, da previdência racional antecipada, e tolos somos nós outros, que precisamos fazer o mal para sabê-lo mau, provando as suas consequências.

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