domingo, outubro 10, 2010

Bonding

De todos os tesouros que possuo e que me dou conta, certamente o vínculo com meus semelhantes ocupa o topo da lista. E daquelas coisas que transcendem as escolhas pessoais, é certamente o campeão.

Transcendem pois, conquanto o ato de amar, em sua expressão maior, seja desconectado de qualquer recíproca ou recompensa, o vínculo a que me refiro só se completa de fato quando há a necessária consideração de ambas as partes.

Não me refiro em particular a esta ou aquela expressão de vínculo afetivo: Romântica, familiar, amizade, representam uma gama muito ampla de possibilidades, mas, ainda há relações psíquicas de difícil qualificação, que não seriam retratadas com fidelidade, quando a elas fosse afixado mero rótulo cujo uso criou necessária ambiguidade, e que, conquanto perfeitamente adequado para o cotidiano, neste caso, não possui a especificidade suficiente.

E como se dá essa recíproca, este retorno?
Das mais variadas formas.

Há pessoas que possuem imensa facilidade em demonstrarem o que lhes sustenta esta ligação. Na forma de palavras, gestos e atos, transparece-lhes a chama viva, o impulso voluntário, que nasce na profunda intimidade do ser. Quando me encontro com elas, fazem questão de dizer e demonstrar: - és bem vindo.

Há pessoas que, conquanto não se possa dizer que estejam noutra classificação, quanto a essência mesma dos sentimentos, possuem bem diversa expressão verbal e comportamental; Mas, pelos atos, e, mais especificamente, na qualidade da situação em que estes atos ocorrem, se pode deduzir o que se passa e a qualidade da relação que tem conosco. Elas podem não dizer "te aprecio", "te amo", mas elas amam e apreciam por atos, especialmente mais perceptíveis quando nos encontramos em maior necessidade deles.

Dentre estas últimas, existem dois extremos. Num deles, a expressão verbal e/ou comportamental é limitada: ela ocorre com certa dificuldade, com timidez, se posso usar esta palavra, mas ocorre. Noutro extremo estão aqueles cuja expressão é, de algum modo, bloqueada ou não desenvolvida. Poder-se-ia inferir que beira mesmo a inexistência.

Me encontro neste segundo grupo, e navego entre estes dois extremos. Se é bem verdade que em instantes particulares, uma espécie de clareza se apodera e torna-me mais fácil dizer ou mostrar algo que percebo como verdadeiro, na maior parte do tempo, contudo, navego em mares agitados.

Tenho grande dificuldade em sustentar o que poderia chamar de calmaria n'alma, ou melhor, em senti-la, percebê-la, e sobretudo, expressá-la.

Em geral, piso em ovos. Expresso insegurança. É preciso um chamamento, um desafio, enfim, um acontecimento que me obrigue a acessar a essência de minhas certezas para que possa expressá-las.

E é por isso que, apesar de eu colecionar e estimar estes vínculos, a ponto de inúmeras pessoas me confiarem suas verdades e suas dúvidas (e ouso dizer que raramente fiz ou deixei de fazer algo que tenha me tornado desmerecedor desta confiança), eu ainda não consigo fazer o mesmo, a não ser em circunstâncias muito especiais.

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