quarta-feira, janeiro 27, 2010

segunda-feira, janeiro 25, 2010

A new day

(...) Daylight
I must wait for the sunrise
I must think of a new life
And I musn't give in

When the dawn comes
Tonight will be a memory too
And a new day will begin (...)

-- Excerpt from "Memory", from the "Cats" Musical.

domingo, janeiro 24, 2010

A dança da psiquê

A dança dos encéfalos acesos
Começa. A carne é fogo. A alma arde. A espaços
As cabeças, as mãos, os pés e os braços
Tombara, cedendo à ação de ignotos pesos!

É então que a vaga dos instintos presos
— Mãe de esterilidades e cansaços —
Atira os pensamentos mais devassos
Contra os ossos cranianos indefesos.

Subitamente a cerebral coréa
Pára. O cosmos sintético da Idéa
Surge. Emoções extraordinárias sinto...

Arranco do meu crânio as nebulosas.
E acho um feixe de forças prodigiosas
Sustentando dois monstros: a alma e o instinto!

-- Augusto dos Anjos

sábado, janeiro 23, 2010

Dias (in)comuns

O velho senhor disse Adeus
A garota de pijamas subiu as escadas
O menino de meias enormes pegou sua bola
A bicicleta de três lugares passou repentina

O carnaval acabou
O período de chuvas cessou
O padeiro baixa a porta e coloca a tranca
O garçom acena para um conhecido.

As lágrimas secaram
A tristeza se foi
As vidas destruídas se ajeitam
As saudades cedem espaço a novos ares

A garota com a chave abre a porta
O gato passa correndo, sorrateiro
Nuvens brancas substituem a tormenta
Céus estrelados convidam a refletir

E nestes dias, terrícola
Em que tuas dores dão lugar a calmaria,
Em que teus receios dão lugar a interna paz,
Saiba que não estás a sós na construção de ti.

Os que te precederam em grande viagem saudam-te
Os que te enxugaram invisivelmente as lágrimas, contigo rejubilam-se.

O tempo do Reformador está em efeito
Os que estão prontos, vivem.
Os que ainda não estão, preparem-se.

Não há mais espaço para tanto mal e iniquidade.
Cada pingo no i, cada jota, e cada vírgula
Cada sorriso e cada lágrima
Cada oportunidade, vivida ou perdida;

O tempo é chegado. Eu sou o consolador, e sou o peneeiro.
Quem estiver pronto, que esteja.
Quem não estiver, apronte sua bagagem. O trem partirá em breve.

sexta-feira, janeiro 22, 2010

Devaneio da partida

Quando é chegada a hora da partida, conscientemente, não adianta dizer muita coisa que já não tinha sido dita. Mal dá tempo de olhar pra trás. É erguer o pé para alcançar o primeiro degrau da escada do trem, e embarcar.

Nada resta senão se acomodar na poltrona, e, quando é o caso, olhar pela janela e ver os rostos queridos dos que ficam, a acenar um até logo, que, mal sabem eles, pode ser um instante um pouco mais demorado, pois não acredito em dizer Adeus. Quem sobrevive a um até logo de 3 séculos sabe o que quero dizer. Pouquíssima gente sabe o quero dizer. 300 anos é muito mais que nosso corpo e seus neurônios conseguem mensurar.

A vontade de ficar é irrelevante. Não dá pra devolver a passagem. Não dá pra voltar no tempo, tampouco. As águas não retornam, o rio não remonta a sua nascente, o tempo nada desfaz, senão memórias incompletas, pois memórias cheias são resignificadas, mas nunca apagadas. Perde-se a nuance dos detalhes pois os detalhes lá de trás, quando se anda pra frente, deixam gradativamente de ter sua importância temporal, mas o vivido, o sentido, o superado, é de certo modo atemporal, teve origem, mas não terá fim. A essencia se preserva, a palavra se perde.

O trem não chega a desligar o motor, enquanto está parado na estação. Espera o condutor, pacientemente, o horário da partida, e este, quando soar, será respeitado. Nem antes, nem depois, nem más, porém, talvez; O trem seguirá, e todos nele serão guiados a seu destino inexorável.

Não guardo arrependimentos, sequer teria como. Sigo, não totalmente confortável, mas de alma mais que conformada. Meu único pesar é olhar pela janela e ver teu rosto ali na estação, meio em dúvida sobre o que sentir. Quando vejo teus olhos me dizendo até logo, e os meus tentando não te dizer adeus, meu coração sente uma pontada. A certeza do futuro me faz até mentiroso, pois tenho certeza que nada percebes.

Dentro em breve, o trem partirá, e terei deixado minha vida toda pra trás como quem troca de roupa, tamanha minha aceitação. Resolvi tudo que podia resolver, e encontrei forças para encarar a realidade de que ao resto, não me compete fazer nada. A responsabilidade necessita da liberdade, portanto, se ao limiar de minhas forças, nada posso fazer, nada devo fazer; Nenhuma culpa, remorso, ou parêntese posso sustentar. Nada deixo em suspensão, nada deixo em aberto.

Encerro minha vida com a satisfação de ter cumprido meus deveres, e com a consciência plena das imperfeições que tive neste mister. De todas as vezes em que, me confiando o destino dos outros, interferi visando meus próprios interesses, ao ponto de ter que refazer inúmeras vezes tarefa simples que tornei complexa.

As portas se fecham. Não levo comigo um até logo de 3 séculos, sei que será bem menos que isto. Mas há sim um adeus, que meu coração insiste em refletir. Quando eu voltar a fitar teus olhos, já não seremos quem somos hoje. O brilho no teu olhar terá outras cores, o teu sorriso terá a mesma espontaneidade, mas outra configuração.

Sei que neste intervalo que nos define, tanto farás, e tanto farei, que jamais poderemos nos olhar do mesmo jeito. Terás outras experiências, outros valores, como os teve até aqui. Também eu seguirei meu caminho, com as escaladas e os tombos que me são de inteira responsabilidade.

E apesar disto tudo, e apesar de saber que, com estes olhos que dizem até logo, não seres capazes de entender meu olhar que diz adeus, sei que, no fundo d'alma, entende, sem palavras, a parte do meu olhar que diz simplesmente "amor".

As portas agora se fecham. O maquinista comanda o arranque. Já não estou mais contigo. Sempre estarás comigo.

Pra ser criança não precisa rimar.

Um suspiro
Um sorvete;
Uma bomba de chocolate.

Uma estrela solitária
Um céu totalmente forrado
Sol ardente ou chuva no para brisas

Gangorras, parques, pastéis
Um abraço de Pai, de Mãe, de Irmã;
Dia de brincar lá fora.

"São as pequenas coisas, que valem mais"
"É tão bom estarmos juntos / E tão simples"
"Um dia perfeito"

Um toque, um olhar, um sorriso
Gargalhada profunda e espontânea, de tirar o fôlego.

Vida é hoje, vida é agora, vida é pra sempre.

terça-feira, janeiro 19, 2010

Gaiolas ou asas?

Há escolas que são gaiolas e há escolas que são asas.
Escolas que são gaiolas existem para que os pássaros desaprendam a arte do vôo. Pássaros engaiolados são pássaros sob controle. Engaiolados, o seu dono pode levá-los para onde quiser. Pássaros engaiolados sempre têm um dono. Deixaram de ser pássaros. Porque a essência dos pássaros é o vôo.
Escolas que são asas não amam pássaros engaiolados. O que elas amam são pássaros em vôo. Existem para dar aos pássaros coragem para voar. Ensinar o vôo, isso elas não podem fazer, porque o vôo já nasce dentro dos pássaros. O vôo não pode ser ensinado. Só pode ser encorajado.”  -- Rubem Alves

domingo, janeiro 10, 2010

Velho Fernando, tu é meu chapa.

Sempre é preciso saber quando uma etapa chega ao final...

Se insistirmos em permanecer nela mais do que o tempo necessário, perdemos a alegria e o sentido das outras etapas que precisamos viver.

Encerrando ciclos, fechando portas, terminando capítulos. Não importa o nome que damos, o que importa é deixar no passado os momentos da vida que já se acabaram.
Foi despedida do trabalho? Terminou uma relação? Deixou a casa dos pais? Partiu para viver em outro país? A amizade tão longamente cultivada desapareceu sem explicações?
Você pode passar muito tempo se perguntando por que isso aconteceu....

Pode dizer para si mesmo que não dará mais um passo enquanto não entender as razões que levaram certas coisas, que eram tão importantes e sólidas em sua vida, serem subitamente transformadas em pó. Mas tal atitude será um desgaste imenso para todos: seus pais, seus amigos, seus filhos, seus irmãos, todos estarão encerrando capítulos, virando a folha, seguindo adiante, e todos sofrerão ao ver que você está parado.

Ninguém pode estar ao mesmo tempo no presente e no passado, nem mesmo quando tentamos entender as coisas que acontecem conosco.

O que passou não voltará: não podemos ser eternamente meninos, adolescentes tardios, filhos que se sentem culpados ou rancorosos com os pais, amantes que revivem noite e dia uma ligação com quem já foi embora e não tem a menor intenção de voltar.

As coisas passam, e o melhor que fazemos é deixar que elas realmente possam ir embora...
Por isso é tão importante (por mais doloroso que seja!) destruir recordações, mudar de casa, dar muitas coisas para orfanatos, vender ou doar os livros que tem.

Tudo neste mundo visível é uma manifestação do mundo invisível, do que está acontecendo em nosso coração... e o desfazer-se de certas lembranças significa também abrir espaço para que outras tomem o seu lugar.
Deixar ir embora. Soltar. Desprender-se.

Ninguém está jogando nesta vida com cartas marcadas, portanto às vezes ganhamos, e às vezes perdemos.

Não espere que devolvam algo, não espere que reconheçam seu esforço, que descubram seu gênio, que entendam seu amor. Pare de ligar sua televisão emocional e assistir sempre ao mesmo programa, que mostra como você sofreu com determinada perda: isso o estará apenas envenenando, e nada mais.

Não há nada mais perigoso que rompimentos amorosos que não são aceitos, promessas de emprego que não têm data marcada para começar, decisões que sempre são adiadas em nome do "momento ideal".

Antes de começar um capítulo novo, é preciso terminar o antigo: diga a si mesmo que o que passou, jamais voltará!

Lembre-se de que houve uma época em que podia viver sem aquilo, sem aquela pessoa - nada é insubstituível, um hábito não é uma necessidade.

Pode parecer óbvio, pode mesmo ser difícil, mas é muito importante.

Encerrando ciclos. Não por causa do orgulho, por incapacidade, ou por soberba, mas porque simplesmente aquilo já não se encaixa mais na sua vida.

Feche a porta, mude o disco, limpe a casa, sacuda a poeira. Deixe de ser quem era, e se transforme em quem és. Torna-te uma pessoa melhor e assegura-te de que sabes bem quem és tu próprio, antes de conheceres alguém e de esperares que ele veja quem tu és..

E lembra-te: Tudo o que chega, chega sempre por alguma razão."

-- Fernando Pessoa

quarta-feira, janeiro 06, 2010

Do alto das estrelas

De uma estrela singela, a piscar toscamente, te observo.

De lá não possuo telescópio, e, ainda assim, consigo ver-te perfeitamente bem. Sei que não me notas, já que de onde estás, seria eu menor que o brilho tosco da estrela singela, oculta entre estrelas mais significativas e mais belas.

Não por acaso escolho esta estrela dentre as menores e menos chamativas; Quero mesmo passar desapercebido. Quanto menor a interferência do observador, mais nítida e real é a imagem observada. O que seria da national geographic se os leões sempre soubessem que estão sendo filmados?

Te observo não por outra razão, senão a fim de te guardar. Não é com curiosidade, nem mesmo com a saudade.

Te observo como fosse eu anjo, a guardar sua protegida, a velar por sua segurança e seu bem estar. Os anjos não tem permissão para interferir com o livre arbítrio de seus protegidos, salvo em condições muito especiais. Daí o meu disfarce, em tosca estrela, me possibilitar um anonimato, uma quase inexistência.

Onde estiveres, na face do planeta, ali estarás sendo observada, quando quiseres. Por que, quando não quiseres, todo anjo que se preze sabe olhar para o lado, ou temporariamente ir a uma biblioteca fazer outra coisa. Os anjos adoram bibliotecas. Não é exatamente meu caso, mas preciso lembrar-me que de anjo eu quase nada tenho, senão a vontade. Sendo humano, limitado, sujeito as intempéries da vida, eu só posso aspirar, com todas minha forças, que algum poder superior complemente a minha vontade com maiores possibilidades.

De qualquer forma, te observo daqui e te guardo. Teu verdadeiro anjo da guarda com certeza tem mais competências que eu para desempenhar este papel, mas por razão que desconheço, não consigo deixar de tentar exercê-lo, até por que sei que é uma condição temporária: dentro em breve a ordem do universo estara restaurada, e poderei continuar no meu anonimato, mas desta vez, com os pés no chão, e apenas lembranças de pequenas estrelas e do momento em que, apesar de recordação levemente amarga, pude me sentir útil como nunca antes.

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