domingo, janeiro 22, 2012

Um homem cai - Parte um

Ele era um jovem ingênuo quando tudo aconteceu. E aconteceu tão rápido que nem teve tempo de esboçar uma reação.

Seu nome é Lucas. Ele tinha vinte e três anos à época. Ele ainda se parece como então, mesmo que isto tudo tenha se passado há cinquenta anos atrás.

Lucas sentiu uma dor indescritível em seu pescoço, enquanto o vampiro o matava pelo seu sangue. A toxina paralisava cada um dos seus músculos, o deixando em sensações misturadas de dor, tontura e morte.

Em um acontecimento inesperado, uma bala perdida, disparada em uma guerra de gangues ocorrendo do outro lado do rio, deu a penetrar a cabeça do vampiro quando mais da metade do sangue de Lucas havia sido drenado.

O vampiro repentinamente passou a experienciar a mesma sensação de Lucas: uma mistura de tontura e dor.  Mesmo que houvesse passado algo como cem anos desde que ele se tornou o que é, o fato é que ele não se sentia morto. Desconsiderando-se a fome e outros sintomas, ele sentia-se muito vivo.

Jamais acreditei na ideia dos vampiros serem capazes de preservar sua memória, mesmo quando seus cérebros fossem gravemente danificados. De alguma forma, eles a preservam, boa parte dela, ao menos.

O vampiro caiu no chão, inconsciente, e assim permaneceu por algumas horas. Quando despertou, seu ferimento, incluindo aí o tecido cerebral e sua memória, haviam sido quase que completamente restaurados. A única memória que ele não possuía, ao menos não ao ponto de lhe dar entendimento, era a do impacto da bala. Ele estava muito concentrado saciando sua sede de sangue para memorizar exatamente o que se passava em sua volta.

Ele não se importava com Lucas como uma vítima, ou, em verdade, com mais ninguém, então não se importou em procurar o que quer que teria sobrado dele. Para ele, Lucas não passou de um lanche rápido e mal cheiroso que ele havia conseguido, por falta de algo melhor para comer. O vampiro preferia mil vezes caçar mulheres jovens. Ele adora o medo e os gritos que elas produzem, sem mencionar o doce perfume de suas nucas. Para elas, ele guardava sua atenção, e suas ações mais sádicas e insanas. Já quanto as demais vítimas, como pessoas mais velhas, que morrem em suas mãos (ou dentes, para ser mais preciso), em geral não sofrem nada além de uma rápida (ainda que dolorosa) morte. Ele não as considera divertidas a ponto de perder tempo com elas.

Enquanto o vampiro estava ainda caído no chão, Lucas recobrou um pouco de consciência, o suficiente para cambalear alguns passos. Ele estava muito enfraquecido e intoxicado, de modo que mal parava em pé. Ele tropeçou em alguns pedregulhos pequenos e acinzentados no chão, e acabou caindo no rio, sendo rapidamente levado pela correnteza, carregado pelo rio para destinos desconhecidos ...

... Continua ...

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