sexta-feira, julho 23, 2010

Estranho Mundo

A chuva descia lentamente, quase em forma de névoa, por sobre o telhado previamente aquecido pelo sol. Ao tocar as telhas, leve condensação vaporosa parecia escapar das próprias telhas, e como fluiam em sentido contrário a chuva, aumentavam ainda mais a percepção de "slow motion" que parecia dominá-la de modo mais particular naquele instante.

Caía lentamente a chuva, e totalmente alheia aos dramas e vitórias que por ventura se processavam por debaixo daquelas telhas, telhas estas tão comuns que não permitem inferir nada sobre aqueles que debaixo dela se protegem, sem as perceber.

Haveriam ali homens, mulheres, ou crianças? Seriam mais ou menos felizes, mais ou menos educados, um tanto afoitos ou comedidos? A chuva não saberia informar. Tampouco as telhas.

Na natureza, as coisas tendem a serem o que são. A chuva é a chuva, o barro, que mais tarde forma a telha, é ainda barro, transformado pela ação do calor que o torna resistente e das resinas que o tornam impermeável.

Só nós, as indefinidas máquinas de pensar, escapamos, momentaneamente, da mecânica que rege as telhas ou a chuva; Mecânica nem por isto simples ou facilmente apreensível.

E apenas momentaneamente, pois toda vez que duas ou mais moléculas unem-se, comprometem-se simultaneamente a estarem juntas por um tempo, e a deixarem de estar, quando a energia que as agrega já não puder mantê-las juntas.

Passam as chuvas, as telhas, o barro, a resina. Passam-se as moléculas, os homens, e tudo aquilo que, particularmente, deram a conhecer, em dada época.

A essência, as idéias, os pensamentos, sentimentos, percepções e realizações podem, no entanto, continuar muito após as moléculas que as serviram de meio desmontarem-se.

Há algo de eterno no universo, algo que não podemos apreender senão em metáforas superficiais, pois ainda não somos: apenas estamos; Mesmo ainda quando superamos vida e morte, pois o tempo de uma vida, de uma geração, não é nada senão grão de areia no deserto do infinito.

3 comentários:

Camila Custodio disse...

E qual seria o sentido do infinito se fôssemos, eternamente? Melhor estar, do que ser. Assim há espaço para sempre sorrir e chorar, para sempre re-co-me-çar!

(Incrível essa sincronicidade com o texto do meu Blog "Coração Universo". Incrível a nossa sincronicidade, mesmo que fale na terceira pessoa e eu na primeira.

Alexandre disse...

O que fiquei de cara foi que *não* conversamos a respeito apenas saiu ehhehehehe

Banana disse...

Lindo, lindo, lindo...mil vezes lindo!
Parabéns, amei :)

Pesquisa google