Gandhi afirmou, com muita propriedade, que "o amor é a força mais sutil do mundo".
E muitas pessoas (muitas mesmo) tem dificuldades em visualizar os termos "sutil" e "força" na mesma sentença, sem uma negativa entrelaçando-as, ainda que de forma indireta.
Acostumados que estamos com o ruído em alto volume, ignoramos a força do silêncio. As demonstrações do que entendemos por força, tem sido, ao longo dos séculos, ruidosas, patentes, severas.
Referimo-nos sempre às guerras, a grandes momentos de transição. Alguns de nós (excluo-me) sentem frenesi ao referir-se a certas passagens da história como revoluções, e aguardam esperançosa e pacientemente por aquela nova revolução, que, num passe de mágica (ou, as vezes, de tragédia), virá mudar o rumo das coisas estabelecidas.
Fala-se em revolução política, industrial, cultural, econômica. Em quedas de meteoros, incêndios, alagamentos, descobertas científicas de vulto; Aguardam-se heróis e mártires.
Até nas sutilezas de nossas vidas, esperamos barulho: há entre os homens em geral, especialmente os mais jovens (e não falo da idade corporal tão somente), verdadeira adoração, por exemplo, pelos motores a explosão de veículos; Quanto maiores os cilindros, a explosão, o ruído do escapamento, maior o frenesi.
Mas os motores a explosão, para me aproveitar do exemplo, são dos mais ineficientes. Via de regra (embora progressos importantes tenham sempre sido observados nesta área), quando deseja-se um motor potente, o faz-se grande, o que o torna necessariamente mais pesado, ainda que procure-se compensar, substituindo-se materiais; E busca-se com isso tudo não aumentar sua eficiência, mas torná-lo capaz de explosões maiores, e com isto, mais força bruta. Mais é mais, afirmamos.
Mas quais são os motores mais eficientes e simples do mundo? Não são os elétricos? O esportivo Roadster, da Tesla, um dos primeiros esportivos elétricos a serem apresentados, possivelmente o primeiro em escala comercial, possui um motor do tamanho de um liquidificador doméstico. Faz de 0 a 97 km/h (escala americana, 0 a 60 mph) em 3,6s, desbancando vários porsches por aí.
E o que se pode dizer da energia elétrica? Em seu estado contido, podemos vê-la? Produz fumaça, odor? Diretamente, possui massa que possamos mensurar usando apenas nossos sentidos?
Apesar de muitos de seus efeitos não serem nada sutis, a energia elétrica (e outras formas de energia) são sutis per se. É a força disponível, que pode ser empregada quando necessária, sem necessariamente provocar alarde.
E o Amor?
O Amor é uma força ativa. Semelhante a água, ele preenche. Novamente, nós, que julgamos precisar de ruído, sempre toma-mo-lo pela paixão, e se seu frenesi e ruído estiverem ausentes, aí não enxergamos o amor.
Mas o amor se faz presente ainda assim, e quando ele age, preenche. Dissipa questionamentos, faz-nos esquecer daquelas dúvidas com relação a nossas próprias capacidades. Resolve problemas em andamento, previne criemos novos problemas, mas, sobretudo (e o que vai muito além disso), nos possibilita descobrirmos novos caminhos, e simultaneamente, termos a disposição de trilhá-los.
Entendamos - a paixão não é uma coisa negativa ou indesejável. A paixão é uma das expressões do amor, e como tal, é uma energia, ou uma ferramenta, e como todo meio, perigoso desde que nos controle, multiplicador de possibilidades, desde que o controlemos.
Mas ao limitar as expressões do amor (que ainda estamos em processo inicial de conhecimento) tão somente aquelas primárias, que envolvem as sensações mais básicas, agimos semelhante a grandes motores: consumimos muitos recursos, e damos poucos resultados.
Fechamos nossos círculos de possibilidades àquelas do que nos é conhecido, do jogo de cintura, do medo do novo e de descobrirmos que nosso potencial de hoje é indigente, perto do nosso potencial provável de daqui a pouco, quando amamos, e amar começa - nunca termina - em nos amarmos a nós mesmos.
Um comentário:
All you need is love! =D
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