sexta-feira, abril 01, 2005

De que tu és feito, ó homem?

Já parou para se perguntar: "Quem sou eu"?

Estou falando sério: Fazer-se uma pergunta honesta, o que requer uma resposta do mesmo nível. Já fez isto? Eu faço todo o tempo.

Tento entender, como nós, seres humanos, podemos ser tanto e tão pouco, ao mesmo tempo. Como podemos abrigar em nosso coração tanta mesquinharia, e ao mesmo tempo, tanta generosidade.

Não sei se posso falar por todos, e ainda que pudesse, não sei se ousaria. Mas, falando exclusivamente por mim aqui (mesmo quando uso o plural), confesso que não entendo.

Acho que em tendo oportunidade de sermos corretos, justos, de rompermos as barreiras, de transpormos os limites dos preconceitos e dos medos, se realmente temos esta oportunidade, o fato de fazê-lo não constitui nenhum milagre, nem nenhum esforço louvável e digno de aplauso, mas apenas uma mera obrigação. Se podemos ser grandes, por que insistimos em sermos pequenos?

Reconheço que não conseguimos fazer isto, ao menos não com a frequência que gostaríamos.

Ser pequeno. Auto-destrutivo. Lamentável. Conseguimos mesmo corromper o que de melhor há em nós. Quase sempre por um valor tão baixo, quando não, por troco de nada.

Posso até estar enganado, mas creio que muito disto passa por não sabermos quem somos, e por conseguinte, o que queremos. Nos acostumamos a ver o mundo desta ou daquela maneira, e como fundamentamos nosso chão sobre um material que, inconscientemente sabemos frágil, buscamos nos preservar de qualquer coisa que possa nos puxar o tapete, rasgar o fino trapo que chamamos de chão, que nossa realidade fechada não passa de nossa imaginação fechada.

Quando a gente não sabe o que é, qualquer coisa serve. Trocamos nossos valores por qualquer coisa. Qualquer fé cega de esquina ou ceticismo de boteco serve. Qualquer sofisma nos convence. Qualquer pessoa nos leva a fazer o que quiserem, e ainda acreditamos que fazemos por que nós queremos. Sabemos o que queremos? Sabemos o que é querer?

É dureza. Não pensem que eu faço uma idéia razoável de quem eu sou. Uma hora estou pensando uma coisa, de repente, vem outra coisa oposta na mente, e é preciso arbitrar entre idéias contrárias sem mesmo saber se uma delas tem algum fundamento. Com o tempo se acostuma, mas quando você não está bem, equilibrado, isto te influencia sobremaneira e você perde o rumo das coisas.

O caminho aparentemente fácil da inconsequencia e da irresponsabilidade, não é, em verdade, fácil. É o caminho mais díficil. É aquele pelo qual para cada quilômetro rodado na ida, precisaremos rodar outro na volta, e quem já fez grandes caminhadas a pé sabe que a volta, com o cansaço, sempre parece mais longa.

Um dia, eu cansei da irresponsabilidade. Cansei do caminho fácil. Mas sobretudo, cansei de não saber quem eu sou.

Eu ainda não sei, mas cada dia que passa, me apercebo que a resposta vai se clareando aos poucos. E no processo, descobri algo que considero ainda mais importante: quem eu quero ser. O que também não é um conceito fechado e definitivo, mas cada vez mais claro.

Se me arrependo de algo na vida é das queixas que empreendo, e elas são frequentes. Nunca parece estar bom.

O que de fato esqueço é que, se é verdade que quero muito e muito do que quero não posso ter, existem uma infinidade de elementos, de objetivos, que já conquistei.

Para não mencionar aquelas coisas maravilhosas que acontecem e que parece que foram presentes da vida, presentes que, a meu ver, eu não fiz por merecer.

Espero ter a dignidade de vir a merecer, desde hoje e cada vez mais, as oportunidades que me são dadas.

Quando olho os céus e contemplo a miríade de estrelas, que me lembra da infinitude de astros e localizações no universo, que há estrelas morrendo enquanto outras nascem; Quando vejo tudo isso e me vejo contextualizado aqui, neste planeta azul que agora já me permito chamar de lar, sei que se eu me desenvolver e me tornar o homem que pretendo ser, ainda assim, não passarei de um mero grão de areia, insignificante, diante do universo, ou mesmo do contexto em que estou inserido.

E se ser um grão de areia for um limite intransponível, que eu seja então o melhor grão de areia que minha condição me permitir ser.

Não podendo ser montanha, é imperioso saber que as montanhas são feitas por grãos de areia, e que a honra da vida consiste em fazermos o que está ao nosso alcance, não mais.

Sejamos quem podemos ser!

"Concede-me a coragem para mudar o que pode ser mudado, a resignação para aceitar o que não pode ser mudado, e a inteligência para poder perceber a diferença" -- St. Agostinho

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