segunda-feira, janeiro 24, 2005

O Valor

Algumas pessoas não entendem por que escolhi cursar economia. Confesso que até uns dois anos atrás, *por mais que me interessasse pelo assunto*, eu também me espantaria se me encontrasse hoje nesta condição.

Há várias coisas que gosto, há algumas que quero aprender, e outras que possivelmente vou detestar. Faz parte, na vida, a gente embarca com o pacote completo: com as alegrias e tristezas, com as decepções e as surpresas.

Mas uma coisa sempre me interessou de modo muito particular: o conceito de valor, que para mim, é um dos mais subjetivos que existem. No comércio de forma geral, já é complicado encontrar fórmulas e processos para descrever este conceito de forma relativamente uniforme. Se não me engano foi Adam Smith quem introduziu ou aperfeicoou o conceito de que o preço de um produto é determinado pela relação entre o custo de produção e a quantidade de pessoas que se dispõe a pagar um preço por ele. É só o que explica, por exemplo, como podem haver algumas pessoas que chegam a pagar mais de 20 reais numa garrafinha de água "perrier", só por que é francesa e de marca conhecida. É agua, pelo amor de Deus!

Mas vejo o conceito de valor também de uma forma mais pessoal, mais particular. Quem, senão nós mesmos, pode nos dizer quanto valem as pequenas coisas que guardamos em nossas casas, que para nós tem um valor sentimental? Quem pode ousar quantificar quanto vale o amor que sentimos por aqueles que nos são caros?

E é esta uma das razões de desentendimento entre as pessoas. Por que, em quase tudo, não podemos, simplesmente nos é impossível, perceber o quanto algo, ou alguém, ou ainda, alguma coisa, é importante para uma pessoa.

Por exemplo, a música que você ouve pode não valer nada diretamente para mim. Posso não apenas desprezá-la, mas sentir calafrios e ânsia de vomito (exagerado como sempre, acho que isto não consigo mudar) quando a ouço. Mas se você é uma dessas pessoas importantes na minha vida, é bem possível que, mesmo sem eu saber, esta música também seja igualmente importante. Por que pode ser uma das causas do seu bom humor, do seu sorriso, ou simplesmente pelo fato de que enquanto você a esta ouvindo, pensa em alguém que lhe é especial.

Talvez eu nunca saiba o que eu significo para vocês que aqui lêem, por que mesmo que vocês me digam, eu posso nao entender. Da mesma forma, se eu tentar colocar em palavras, e mesmo ainda que pense ter conseguido, talvez as palavras entrem pelo ouvido, sejam corretamente decodificadas pelo cérebro e simplesmente não façam o mesmo sentido ao coração de quem ouve, do que o sentido que tem para o coração de quem diz.

Ainda assim, gostamos muito de ouvir explicações e parece mesmo que precisamos as dizer. Talvez, como tudo na vida, com um pouco de exercício, seja possível nos fazermos entendidos. Talvez o que vale para uma pessoa, passe a valer, mesmo de que forma indireta, para outra, quando nos fazemos compreender.

Quando um povo e seu modo de vida nada vale para outros povos, e este se julga no direito de se impor, nascem as guerras. Quando uma pessoa nada vale para outra, é possível que ela seja morta por causa do seu tênis, ou 10 reais, ou simplesmente por que estava no lugar errado, na hora errada.

Quando ainda e no entanto, adquirimos a faculdade de perceber o mundo através dos olhos de outras pessoas, ainda quando estranhamos as cores que vemos, estamos a meio passo de entendermos a nós mesmos, e finalmente entendermos por que nossos valores significam tanto para nós, ainda que, para o resto do mundo, o que vale seja o oposto.

Boa semana :-)

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