sábado, agosto 06, 2005

União

As criaturas irracionais, movidas quase que apenas pelo instinto, exibem características curiosas.

Enfrentam a necessidade de atacar e se defender (as vezes atacar para se defender, as vezes para se alimentar, as vezes ainda por que "dá na telha").

Acho curioso como o ser humano especula sobre os animais, de certa forma, comparando-os, a eles consigo mesmo e a nós com eles (e talvez, dado que não os compreendemos senão superficialmente, não tenhamos outra forma de levantar hipóteses).

Alguns afirmam que os instintos animais são meramente individualistas e visam apenas sua sobrevivência, e que neste sentido, não haveria o que chamamos "instinto materno".

Oras, é bem verdade que o comportamento geral com relação a prole varia entre as espécieis e mesmo entre os indivíduos das espécies. Há espécies em que os pais são ameaças aos próprios filhotes, há outras em que apenas o pai (ou, menos frequentemente, a mãe) o é. Nos gatos por exemplo, a mãe tende a proteger o filhote da presença do pai, que frequentemente o mataria ou até mesmo o comeria. Isto no entanto não tende a acontecer entre os siameses, que formam casais, onde o pai de certa forma compartilha responsabilidades com a fêmea, perante a cria.

Mas muitos que especulam sobre o comportamento animal provavelmente apenas defendem uma epistemologia teórica qualquer e nunca tiveram animais de estimação.

Atualmente tenho dois gatos, já tivemos vários, alguns cachorros, uns poucos peixes, e, até o momento, nenhuma ave, mas pretendo um dia.

Os dois gatos são machos. Um deles já era grande quando chegou o outro, com cerca de dois meses de idade. O mais velho levou cerca de um mês para perceber que o mais novo não oferecia grande perigo ao que ele considera ser "seu" domínio sobre o território. O mais novo por sua vez levou menos tempo para perceber que aquele mais velho já "mandava no pedaço" e que deveria seguir certos critérios antes de se aproximar do outro.

Mas, passado este tempo, o mais velho "adotou" o mais novo. O protege contra eventuais perigos, se colocando na frente entre ele e qualquer coisa que o possa assustar, inclusive eu, quando faço ruídos ameaçadores para assustar o gato mais novo. Numa briga entre o mais novo e a namorada do mais velho, este último não teve dúvida, ajudou o irmão a bater na sua própria namorada. Coisa de gatos.

Quando tínhamos um cachorro e mesmo resolvia atazanar o gato mais velho, ele nada fazia além de ameaçar o cachorro, mas na verdade, tratava mais de ignorá-lo. Agora, quando o cachorro latia para o gato mais novo, o gato mais velho aparecia não-sei-de-onde para espancar o cachorro. Coisa de gato louco.

Há casos e casos de cães, gatos, até ouvi uma vez sobre gado, onde a morte de um membro do mesmo bando deixa os outros tristonhos, alguns até morrem "de desgosto".

É verdade que os individuos competem entre si, algumas espécieis competem pelo mesmo tipo de alimento, e talvez todos nós, criaturas que respiramos, estejamos em um certo nível de competição por espaço, por alimento, por alguma coisa, enfim.

Mas tenho visto que os que competem de forma selvagem apenas conseguem, por algum tempo, manter o domínio sobre o que já julgam possuír, até que os mesmos esforços empregados neste sentido se tornem tão intensos que os debilitem a ponto de não os deixar com forças para mais nada, os levando a perder, em parte ou até totalmente, estas mesmas posses. Enquanto os que aprendem a cooperar e a "competir de forma cooperativa", acabam, na maioria dos casos, unindo esforços que os habilitam a ter poder sobre forças que de outra forma não teriam, pois não as possuem por si mesmos.

Algumas empresas que não teriam capital para investir em pesquisa, em tecnologia para a melhoria do processo produtivo, se unem, e conseguem juntas ter acesso a um nível de inteligência que não conseguiriam financiar por si mesmas.

Claro que, toda regra comporta excessões, e há mesmo padrões que apenas parecem regras sem o serem de fato, mas, sigo ainda considerando como positivo o lema de St. Agostinho:

"Se os egoístas pudessem compreender as vantagens existentes em serem homens de bem, seriam homens de bem por egoísmo".

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