sábado, maio 21, 2005

Bobão :-)

Ouvi certa vez que há uma variedade de bambu chinês cuja semente passa cerca de 5 anos submersa nas águas de algum rio, sem manifestar-se.

Durante este tempo, se ela ficar um dia sequer fora d'agua, não irá se desenvolver. Por cinco anos permanece lá, inútil, depositada n'agua corrente, como se não tivesse pressa.

Passado este tempo, contudo, o broto surge, e dá origem ao maior dos bambus conhecidos, que se desenvolve em tempo recorde quando comparado as outras variedades.

Certa feita um pai se dirigiu a instituição de ensino onde estava matriculando seu filho, para queixar-se que julgava o curriculo demasiado extenso. Foi inquirir ao reitor se não havia uma forma de abreviar a permanência do filho no curso, ou seja, ir por um caminho mais curto. O reitor então respondeu ao pai que sim, era possível, mas isto dependeria se o pai desejava que seu filho fosse um carvalho ou uma abóbora. O pai não entendeu a metáfora e o reitor explicou:

- Deus quando decide fazer um carvalho, precisa de 100 anos. Quando intenta fazer uma abóbora, precisa de apenas 3 meses.

Não devemos apressar ninguém. Todos temos nosso ritmo próprio. Por algum mecanismo que nos é desconhecido, a semente de bambu, que parece inerte por 5 anos, está na verdade se preparando para o ulterior salto de crescimento que lhe assegura ocupar o primeiro porte na categoria dos bambus, e o faz em tempo recorde.

A verdade é que nunca sabemos quando aqueles que parecem inertes darão o seu salto rumo ao seu próprio crescimento. É bem provável que muitos, talvez mesmo a maioria, sequer chegue a dá-lo. Mas as maiorias são formadas por posturas que se alteram com o tempo. A unanimidade é burra, já dizia um brasileiro cuja obra eu não aprecio (talvez por que não a conheça tão bem, talvez por que, excluída do contexto em que foi criada, se torne vulgar), mas cujo intelecto parece se distinguia do vulgo. E qualquer coisa, boa ou ruim, que se saia do senso comum, é sempre polêmica.


Se queremos ser abóboras, provavelmente já podemos nos considerar prontos. Se queremos ser carvalhos, ou se queremos ser seres humanos com propósito de existir, há sempre trabalho a ser feito e lições a serem aprendidas.

Talvez, e somente talvez, a vida e suas dificuldades, os tormentos, as dúvidas, a esperança e a desesperança que nos visitam, talvez tudo isto seja apenas um grande rio a nos sacudir, na tentativa de despertar-nos da sonolência em que nos encontramos. Na tentativa de fazer, da semente que estamos, o bambu que somos.

Ou o bambu que sois vós que aqui lêem. Talvez eu não seja bambu, seja bobão. Mas talvez não.

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