Passar pelo caminho que me aponta requer uma grandeza que eu não tenho.
O que me impede de cair na lama não é nenhuma virtude, que eu não as tenho, mas paradoxal e simplesmente o cansaço. Eu estou neste cai e levanta por tanto tempo que para sair deste ciclo sou até capaz de emular a força que eu não possuo. Sou até capaz de crer no que não creio, de derrotar pela força o inimigo que por vezes me é mais forte, sou igualmente capaz de resignar-me ou de fazer uma revolta e tentar acertar tudo na ponta da espada, mas o que não quero mais é ainda ser capaz de perder meu rumo neste mundo de tantos descaminhos, de tantas opções vazias e poucas reais possibilidades de escolha.
Me mostrou um caminho que eu ousei pensar estar apto a trilhar. E enquanto eu acreditei, eu realmente pude, sem nenhuma grande dificuldade. Mas no momento em que duvidei de mim, realmente vi que o caminho era mais árduo do que minha disposição a seguir nele.
O que me remete ao pensamento reverso: será que é verdade que a auto-estima representa tudo isso? Que a mesma pessoa, provida dela, pode dez vezes mais do que quando nada vê além de sua própria fraqueza? É fácil nos perguntar se nossa força não é apenas fruto da nossa imaginação, e talvez até seja em alguns casos, mas será ainda que, o oposto, a nossa fraqueza, não é sobretudo nossa falta de confiança em nós mesmos?
Diante das situações em que não conseguimos vencer, me pergunto: aqueles que conseguem, será que são assim tão superiores a nós que não conseguimos? Não me parece seja assim. Vejo pessoas bastante limitadas, tanto quanto eu, andando mais rápido que eu, simplesmente por que a sua noção de direção, de objetivo, é melhor definida do que a minha. Ao buscar o horizonte numa determinada direção, parecem prestar menos atenção as distrações que acodem a sua volta, e parecem se prender menos as situações corriqueiras que ocorrem durante o seu caminho: sabem que não podem parar por muito tempo em nenhum ponto da estrada, tem de partir: definiram um destino a alcançar. E frequentemente, tenho observado, o alcançam.
Sempre acreditei que o conhecimento importasse mais que a fé, mesmo quando esta mesma fé é tão somente consequência do conhecimento (algo que infelizmente muitas pessoas ainda não podem conceituar; Imaginam estarem em diâmetros opostos de uma escala imaginária).
Talvez isto seja como tudo na vida: um aspecto não é senão momentaneamente mais importante que o outro: podemos sempre mais quando conseguimos somar os fatores, o que geralmente não fazemos: com nossa miopia intelectual, tendemos a focar mais num aspecto em detrimento dos demais, e acabamos por perder o foco do contexto mais amplo, mais abrangente.
E pode até ser que, em determinada manobra do vôo, uma asa esteja exposta a maior esforço e neste momento o sucesso do vôo esteja dependendo mais da sua resistência particular, mas o fato é que os pássaros e os anjos não conheceriam senão a queda, se tentassem permanecer em vôo com uma asa só.
Até Ícaro, que se lançou aos céus com frágeis asas que não resistiram ao calor do sol, não confiou em uma asa só.
Aos que objetarem dizendo que o raciocínio é demasiado simplório ao considerar apenas dois fatores, ontém eu aprendi que muitas coisas podem ser passíveis de mensuração, por aproximação, usando apenas dois fatores.
Naturalmente que existem muitos outros fatores igualmente relevantes, e é exatamente este o meu ponto de reflexão aqui. Tomemos cuidado com a "miopia". Ela também nos leva ao chão, e se há quem goste do charco e busque se afundar um pouquinho mais nele, nada tenho com isto:
Prefiro tentar as estrelas, mesmo que a envergadura de uma asa só ainda não me levante do chão.
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