Pela janela do ônibus, observo as edificações. Percebo a geografia do lugar. Imagino que antes daqueles prédios e casas, havia uma bela colina. E apesar de a urbanização ainda conseguir enfeiar um pouco, a geografia daquele trecho ainda continua muito bela.
Mas quando vejo aquelas janelas e luzes, umas acesas, outras apagadas, não é nas edificações e nem na geografia que penso. Penso nas pessoas que moram por trás daquelas janelas, e meu coração se enche ao mesmo tempo de alegria e de tristeza.
De alegria pois vejo a vida fluir. Onde as pessoas acreditam e a mídia faz acreditar que só há o caos e a violência, eu vejo as pessoas de bem lutando pela própria sobrevivência, pela educação de seus filhos e por um dos bens mais sagrados e desconhecidos de nossos tempos: um pouco de paz.
Mas um pouco de tristeza me invade o coração, devo admitir. Por que fico imaginando que por trás daquelas janelas há tantos dramas humanos. Tantos lares fragilizandos. É o filho doente, a mãezinha amada que perdeu o filho e a razão de viver, se esquecendo por vezes que os outros filhos continuam aqui necessitando dela, é o pai sem emprego que cedeu aos apelos do alcoolismo e da drogadição, os filhos adolescentes que se auto-destroem nestas problemáticas e noutras fugas. Os irmãos de sangue que parecem inimigos de coração; O esposo e a esposa que já não se entendem mais...
E tantos outros dramas que nos atingem a todos, quer a nós mesmos diretamente, quer as pessoas que amamos.
A vida de todos nós não é fácil. Sofremos, e não obstante, buscamos a felicidade, mas não sabemos exatamente onde ela está. Vamos atrás do colorido e do barulho, das pessoas que passam sorrindo e distribuindo gargalhadas, aparentemente felizes, tentando comungar com elas nestes momentos de alegria gratuita, e raramente vemos que muitos deles riem por fora, enquanto choram por dentro.
Invejamos e temos por modelos e heróis, por vezes, aqueles que são bem sucedidos na vida. Que viajam muito, trocam de carro todo ano, e parecem sempre progredir, ignorando que por vezes em seus lares por vezes há infernos e tormentos bem piores do que aqueles que permitimos ainda existam nos nossos próprios lares. E que as vezes a fortuna e a alegria deles podem ter sido amealhadas a custa do sofrimento de tantos, embora isto não necessariamente constitua regra.
Cedo ou tarde, a vida nos chama a maiores responsabilidades. Não devemos tentar apressar as coisas ou sofrer tentando fazer mais do que podemos, por que nosso dever consiste tão somente em sermos úteis conforme nossas possibilidades, já que este processo mesmo é que vai nos tornando aptos a vôos mais altos.
E chegando em casa, me pergunto: que posso fazer, hoje, para melhorar, senão o mundo, o cantinho onde moro? É preciso começar pelas pequenas coisas. Minha mesa bagunçada talvez seja um bom ponto de partida. Tenho certeza que consigo jogar fora 90% do papel que acumulo, senão mais.
Começar pelas pequenas coisas. Eis a lição que tenho esquecido .
Toda caminhada de mil quilômetros começa no primeiro passo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário