terça-feira, novembro 23, 2004

Socorro

Me pergunto se irei conseguir.

Eu, sempre cheio de mim, me achando o máximo.
Sou forçado a admitir a fragilidade das coisas.
E minhas próprias limitações.

Vou tentar expressar como me sinto. Não conseguirei, não há palavras que descrevam as sensações.

Parece que estou sendo esmagado. Uma dor suave percorre cada músculo do corpo. A impressão é que vou ser virado do avesso a qualquer instante. As mãos tremem.

Na cabeça, uma confusão só. Numa hora, tudo parece engraçado, noutra hora parece tudo triste. Uma sensação de vazio, como se eu estivesse sozinho no deserto, como se houvesse perdido, em definitivo, todos aqueles que amo. Como se soubesse que jamais os verei novamente. Como se ninguém se importasse, ainda que eu saiba, se importam.

Não importa muito onde estou, se numa sala de aula ou trancado no meu quarto, a sensação é a mesma: vazio. Imensa solidão.

E sinto raiva. De mim mesmo, por não conseguir controlar isto. Por me permitir carregar tanto lixo mental e agora não conseguir se desfazer dele.

Nos momentos onde isto se acalma, tenho esperança. Algo me diz que talvez este processo seja necessário para drenar o pântano que há em mim.

Não sou um homem bom. Procuro ser justo, e talvez neste processo, acabe abrindo mão de coisas demais. Talvez se eu impusesse minha vontade com mais força conseguisse algo bom, talvez conseguisse destruição. Mas já não sinto minha vontade. Só o vazio, e medo do vazio.

Mas não, não sou um homem bom.

Este mundo é engraçado. Quando você está se afundando no pântano, ninguém parece se importar. Especialmente os que voluntariamente se afundam, também. Agora, tente mudar de idéia e dizer:
- chega. De agora em diante, farei tudo diferente. Darei o meu melhor.

O que acontece? De repente você é notado. Deixa de ser apenas mais um suicida inconsciente e começam as cobranças. Do dia pra noite querem que seja santo, querem que seja perfeito. Que preste testemunhos de coragem.

É difícil dar o primeiro passo rumo a qualquer coisa boa nesta vida. É bem mais fácil se afundar no lodo, dia após dia. Permitir que os outros decidam o que você pode e o que você não pode fazer. Permitir que te imponham a força o que pensar, o que fazer, o que sonhar. E é bem capaz que com o tempo te dobrem, te convençam a prostituir suas idéias, seus sonhos, tudo para apaziguar os opressores, tudo por que tua vontade é fraca. Tudo por que não tem coragem de levantar e dizer: - Basta!

Estou cansado. Me sinto cansado.
Quando isto tudo passar, eu irei levantar, bater a poeira, e seguir para a frente. É o que deve ser feito.

O segredo desta vida é saber o que se quer. Descobrir até que ponto se quer, o que se está disposto a fazer por isto. Fechar os olhos, e se atirar.

Por que se a lembrança dos pequenos tombos que nos esfolam os joelhos nos parecem tão sofridas a ponto de nos impedir de ir para a frente, de viver, de crescer, de buscarmos o que realmente quisermos, então continuamos escravos. Escravos de nossa fraqueza e dos anseios dos outros, das expectativas que constroem em torno de nós. Escravos de nossos medos.

É natural que queiramos ser admirados, que queiramos agradar. Que sonhamos que um dia nos digam "Sinto orgulho de você".

Mas nada disso vale, se o preço a pagar for abrirmos mão de nós mesmos.

Coragem. Tenhamos coragem.

Que queres da vida, afinal?

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