quinta-feira, fevereiro 24, 2005

Urbanidade

As vezes queria ter uma câmera digital, dessas boas, com qualidade de imagem para tirar fotos panorâmicas.
Assim poderia registrar, para meu próprio acervo de recordações e para quem mais quisesse ver, estas experiências incríveis que são as viagens.

Porque, mesmo em uma viagem a negócios, sobra um quê de atenção para as pequenas coisas, destas que apenas são o que são.

Por exemplo, a vista aqui de São Paulo é algo interessante.
Sempre me admirei com esta cidade, em vários aspectos, tanto negativos quanto positivos.

De onde estou, em toda volta há a urbanidade em sua expressão maior. Mesmo com árvores perdidas aqui e ali, a selva aqui é mesmo de pedra. Edificações industriais e comerciais antigas, que lembram filmes rodados em Nova York, estão a toda volta. Já as favelinhas escondidas dento das quadras, em regiões cujas ruas ostentam fachadas elegantes e em alguns casos luxosas, mostram que estou mesmo é no Brasil. E estas coisas escondidas só podem ser vistas de cima dos prédios: quem passa na rua não nota. Outra coisa incrível é o oposto: Há casas que só tem um pequeno portão de carro na rua, e uma fachada pequena, e são verdadeiros casões para o lado de dentro, com dois ou três andares (as vezes abaixo do nível da rua, com o terreno em declive), em algumas tem até piscina, mas olhando de fora, não dá para adivinhar.

O sol brilha forte mesmo através das nuvens, estas não de vapor d'agua, mas de fumaça. E em toda parte as vias movimentadas com um trânsito feroz, caótico e completamente mal planejado (para não dizer que não houve planejamento).

É incrível perceber quanta gente vive suas vidas neste cenário, e a maioria das que aqui conheci vieram de outro lugar, lutam e vivem aqui, frequëntemente por que escolheram.

Digam o que disserem, as pessoas aqui (exceto enquanto estão no trânsito) são muito gentis. É claro que aprendi há bastante tempo que a arte da boa educação não necessariamente reflete o interior de ninguém. Há muitos móveis corroídos pelos cupins, cuja saúde aparente que chega a enganar sustenta-se apenas pelo verniz que lhe dá o brilho de vida, disfarçando a morte interior que já se consumou.

Prova disso pode ser encontrada mais facilmente não aqui, na capital financeira, mas mais acima, em Brasília, capital política, onde estão os maiores ladrões que este país suporta e sustenta, sem que saibamos até quando.

Sinto falta, é verdade, do meu pequeno canto lá em casa, canto que não escolhi, mas que aprendi a gostar. De qualquer forma, as vezes percebo que parte de mim é caseira, parte adora a experiência de estar a centenas de quilômetros de casa. Eu diria que fico no meio-a-meio, 50% mesmo. E atualmente, ambos os lados são felizes, por que ambos podem realizar-se.

Eu, que cada dia conheço menos da vida, não por que vá emburrecendo (espero), mas por que cada dia descubro que há mais e mais coisas que ignoro, sinto-me relativamente em paz pelo rumo que o mundo caminha, como se, por trás de toda tragédia e problemática humana, existisse mesmo uma razão e uma solução a um problema maior.

Como se o que hoje chamamos caos fosse a pedra de toque que, lapidando, faz das pedras brutas que ainda as somos, talvez um dia, diamantes.

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