Já falei sobre valor aqui, e como é difícil conceituá-lo, definí-lo, e quantificá-lo.
Sobre o valor da vida humana então, seria pretensão minha chegar a alguma conclusão. Vou narrar apenas alguns fatores que considero. Não vou contrapô-los, como geralmente tento fazer. Isto fica a critério de cada um.
Fico imaginando o que sentiram os então "herdeiros" da terra, os primitivos homens de cro-magnon, ao observar as estrelas. Provavelmente a maioria deles ficaram indiferentes, pois na vida do homem primitivo, a prioridade, a ocupação da relativa capacidade de pensar, é certamente empregada na sobrevivência e na satisfação dos sentidos, portanto a busca do alimento e a necessidade de reprodução lhes ocupava a mente tanto quanto ainda parece ocupar a de muitos representantes da nossa própria espécie, o homo-sapiens, cujas capacidades comprovadamente desenvolvem-se de maneira diferente em cada indivíduo.
Mas creio, sem nenhuma base no entanto, que talvez alguns destes primitivos cro-magnons tenham um dia sentado sob uma pedra ou o que quer que seja, numa destas noites estreladas que a nossa iluminação artificial obscurece em nossas cidades, e indagado sobre o que seria aquilo. E em algum ponto, provavelmente em época posterior, algum homem, talvez já homo sapiens, deve ter se incomodado: "Que tipo de mundo é este, onde há estrelas? O que haverá além de onde posso ver? Que sou eu, afinal?".
E sem querer, provavelmente ali nasceram, ao menos em nossa esfera azul, a filosofia e a ciência. Sem com que o filósofo-cientista sequer soubesse o que um dia viriam ser estas coisas.
Nós, homens contemporâneos, vivemos em tempos curiosos. Não só já sabemos que os átomos, que receberam este nome por que acreditava-se serem particulas elementares, indivisiveis, na verdade são compostos por partículas ainda menores, e como "dividir o indivisível" artificialmente, o que deu origem a era nuclear, de cujas pesquisas sairam, dentre outras coisas, o conhecimento sob a bomba atômica e a geração ade energia, através do mesmo processo que originou a bomba, executado, no entanto, de forma lenta e controlada.
Em toda a parte, arranha-céus que certamente os próprios engenheiros que os construiram teriam sérias dúvidas sobre suas possibilidades, enquanto ainda eram estudantes. O conhecimento evolve em toda parte, transformando a face do mundo em uma velocidade que as vezes pensamos não conseguir acompanhar.
E, talvez por que pareça acontecer assim, tão rápido, as vezes nem tentamos entender o mundo. Passamos pela vida, e quando vemos, estamos onde sempre estivemos, no frio e na chuva, mas já não temos o mesmo vigor de antes. Descobrimos que a vida também passou por nós. E talvez alguns de nós descubram então que ela sussurava em nossos ouvidos "vive-me", mas não tinhamos algo. Não tinhamos tempo, coragem, vontade ou disposição de ouvi-la.
A vida não nos pede que sejamos cientistas ou filósofos. Não nos pede que sejamos santos, que não erremos. O convite da vida é para que saibamos ouvir. Talvez tenhamos dificuldades em operar dois ouvidos, embora eles funcionem tão integrados que ouvimos como fosse um só. Mas a boca é mais fácil de operar, pois a faculdade da fala nos salta relativamente bem desenvolvida mesmo até aos dois anos de idade.
Confesso que tenho enormes dificuldades em entender a vida. Intelectualmente, são muitas as teorias, e embora eu aprenda coisas novas todos os dias, e muita coisa me faça sentido, eu sei que o que parece ser uma poça d'agua as vezes não passa de uma gota, diante do infinito de coisas que ignoro.
Mas, quando me sento sob uma pedra, a observar as estrelas, um não-sei-que se apodera de meus pensamentos, que então se calam, e ali, no silêncio, tentando pensar apenas no que sentiria o cro-magnon, eu me sinto em paz, e todas as coisas deixam de fazer sentido. Por que então, por breves instantes, cessa-me a necessidade de que as coisas façam sentido. Elas são o que são, da pedra as estrelas.
E se elas tem a paz de não precisarem-se descobrirem-se e definirem-se, e se não precisam incomodarem-se com o desconforto intelectual de não saberem o que são, tampouco podem maravilhar-se com o fato de saberem-se aquilo que fizeram de si mesmas: são, o que conseguiram, até então, e serão o que conseguirem fazer de si mesmas, sob a égide do tempo que constrói, destrói e reconstrói pelos seus próprios critérios, critérios estes que por mais observemos, quando queremos, não chegamos a apreender senão de forma parcial.
Há grandiosidade na vida, e ela não vem em carros alegóricos, e não faz barulho. Não requer discursos, não requer atenção, não exige revoluções, nem a força que não temos.
Tudo que a vida parece pedir é atenção.
Eis a minha. Fala-me...
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