Em algum lugar deve ter um manual de instruções do ser humano, em português, com não mais que 100 páginas, que contenha o segredo da psiquê humana de uma forma que até um iletrado como eu possa entender.
Na verdade, ele não precisava me explicar toda a humanidade, as diferentes personalidades, e o por quê de certas pessoas cometerem as mais assustadoras aberrações.
Bastaria me explicar por que cometo as minhas. Bastaria me mostrar por que as vezes penso uma coisa e faço outra, por que as vezes sou tão ousado, e as vezes, tão tímido, com relação ao que penso e ao que quero da minha vida.
Já encontrei alguns manuais do ser humano e da vida em geral, dos mais variados pontos de vista. Alguns são obscuros, alguns são estúpidos, outros talvez sejam perfeitos, para alguém um pouco melhor do que eu. Acho que a dificuldade não está na falta de informação, e nem ainda no excesso dela, contraditória, penso que lido bem com isto, no campo teórico ao menos, para mim, tudo são hipóteses, ou teses, no melhor caso.
O problema é que eles descrevem um caso ideal. Mostram o por quê deste caso ideal. Dialeticamente comparam o que sou ao que devo ser. Após todo esforço negacional, típico de seres como eu, me vejo vencido diante de algumas hipóteses, e concordo que deva ser assim.
O que nenhum manual no mundo parece dizer é como passar do estado em que estou ao estado em que sou. Há dicas básicas, métodos seguros, mas não há um roteiro. Me parece que sobra a mim mesmo a responsabilidade de elaborá-lo.
Estou convencido de que não poderia ser diferente. Mas, em meus devaneios, anseio pelos atalhos que me levarão, talvez não ao que quero, mas o que desejo. E como já falei dos atalhos, eles tendem a produzir o efeito contrário de que esperamos deles: nos prolongam a jornada, ao invés de abreviá-la. Nos levam a algum lugar qualquer, exceto o lugar que esperamos.
A anti-partícula que sou viaja do futuro ao passado, enquanto a partícula eu, que estou, vou na direção contrária, e já começo a perceber o que ocorrerá quando, em algum dia em breve, ambas coincidirem e deixarem de estar, para ser outra coisa, que nenhuma é (Isto é uma espécie de parábola, não deve ser entendido literalmente. Não me peçam para explicar, eu não teria como fazê-lo).
É sobremaneira difícil antecipar os eventos antes de sua derradeira libertação, mas estimo que, dentro em breve, a armadura do cavaleiro será partida ao meio, seu escudo estilhaçado, e sua lança parecerá demasiado pesada para seu corpo cansado. E ele, em sua fragilidade humana, despido das vestes metálicas que lhe oferecem proteção, deverá mostrar se sua força subsiste, ou se tomba ao chão com os estilhaços de seu escudo.
Seus adversários lhe dirão: "Mostra a que veio!", e nada jamais será como antes.
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