quinta-feira, julho 15, 2004

O Preconceito

Preconceito e achismo são a mesma coisa, quando não, sinônimos.

Em ambos os casos, temos um ou mais indivíduos que pensam que as coisas são tal como eles as percebem, mas não se deram ao trabalho de pensar se elas realmente são, e, porque não, se faria sentido se fossem.

Somos, eu e a maioria de meus contemporâneos, criaturas nominativas. Gostamos da rotulagem, da aparência, da embalagem.
Do produto, do conteúdo, da essência, pouco entendemos, e menos ainda quereriamos entender.

De um expectro que se estende desde a fofoca de bairro a teledramaturgia nossa de todos os dias, insistimos neste que parece ser o único modo de levarmos nossas vidas. Mudam-se os atores, o cenário, e os pormenores, mas a essência continua a mesma: falar bem ou mal da vida alheia, das coisas, do governo e da sociedade.

Ouço quase que diariamente alguém fazendo referência à máxima socrática, "Conhece-te a ti mesmo", mas não recordo de ter conhecido uma só pessoa que a colocasse em prática, e talvez assim, merecesse decliná-la. Isto inclui a este que vos escreve.

Não sabemos e não queremos saber. Se dentre os prazeres nossos, os mais criativos são nada senão vapor, criação débil de nossa mente, o saber tiraria o sal das ilusões, e por fim, as tornaria ridículas. Ah, isto sabemos muito bem! E conscientemente.

Então fechamos os olhos e seguimos, como as crianças que tapam os olhos, crentes de que, por não nos verem, tampouco as estamos vendo.

Se o pior cego é o que não quer ver, que dizer do mundo onde todos o somos? Quando uma pessoa faz algo, seja certo ou errado, útil ou inútil, é uma coisa, quando todos a fazem, se torna parte do paradigma vulgar, se torna base do senso comum, da montanha de coisas que aceitamos sem questionar, daquilo que temos como sólido e indiscutível.


Fatalismo e determinismo, históricos ou não, são o alimento da mente preguiçosa. O achismo os come frios, o preconceito os esquenta em banho-maria.

Por enquanto, seguimos nesta. Mas o barco será balançado, e muitos cairão ao mar. Aí dos que não aprenderem a nadar.

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