quinta-feira, julho 15, 2004

Libertas que serás

Escrevo da cadeia da vida. Fui sentenciado a prisão perpétua.
Perpétua, neste nosso mundo, é relativo, como todo o resto.

A pena que me compete cumprir não é das mais difíceis, se um de vocês for analisar. Para este que vos escreve, no entando, é do tamanho certo. Meu número.
Nem tão pesada que eu não possa carregar, nem tão leve que eu vá seguindo com um sorriso estampado no rosto, pensando comigo mesmo "Acho que me dei bem nessa".

Deve ser assim com os demais condenados. Embora muitos deles se comportem como se estivessem de férias. Acho que o carcereiro responsável por eles deixa que pensem assim, imagino que a desilusão seja tão mais eficaz e dolorida, quanto maior o tempo em que sustentamos a ilusão que lhe dá causa.

Não há nada de tedioso em ser um condenado. Tampouco de assustador. Todos aqui são condenados. Não há ninguém para falar do ar doce do campo, do perfume suave das macieiras, do leite fresco tirado na hora. Eu, que vim do interior (assim penso eu), já não lembro o que são tais coisas. Aqui, todos são condenados.

A liberdade deve ser uma coisa assustadora. Do outro lado desta alta muralha, o mundo em vastidão, se estende para além do horizonte, ah, o horizonte, eu não recordo quando foi a última vez que o vi.
Mundo, vasto mundo, segue sem mim.

Dia desses, sairei por aquelas portas. O que me espera, eu não sei. Algo me diz que o que eu fizer aqui dentro, será a diferença entre morrer de fome, frio e medo, ou de me adaptar à aquela vida, tão distante, tão distinta.

Aguardarei com paciência os dias que antecedem minha condicional, certo de que, ainda vivem lá fora aqueles que me são caros, aqueles que de mim carregam no coração algo mais que a simples lembrança.


"Não tema procurar, ou não encontrar. Tema desistir, ou nem tentar."

Nenhum comentário:

Pesquisa google