Ontém fui a um rafting. É algo incrível. Ainda lembro da primeira vez que fui, eu achava que não iria gostar tanto. Mas é algo que vicia. Em parte pela adrenalina, em parte pela sensação de controle, em parte pelo trabalho em equipe.
Sem mencionar o fato de que costuma ser bom mudar de ares, mesmo que seja por um dia. Gosto muito de pegar uma estrada, observar a paisagem, a geografia. Pensar que por sobre estas terras abençoadas, criamos nossos lares, buscamos nosso sustento, criamos nossos filhos, descobrimos quem somos.
A sensação de se atirar na água gelada durante um dia extremamente quente e sentir aquele imenso alívio. Flutuar sobre a água, sem medo de afundar. Quem dera pudessemos usar um colete salva-vidas durante todos os dias da vida, e poder flutuar sobre os problemas, as dúvidas, o medo. Sentir-se suficientemente lastreado a ponto de fazer o que deve ser feito, sem medo de errar.
Há tanta beleza na vida. Pena que as vezes acreditemos que a beleza é algo excepcional, que só acontece em raros momentos, que, efêmeros, se perdem por vezes na noite do esquecimento. Acredito que ao contrário, a beleza e a bondade é o estado natural. Somos nós quem, conscientemente ou não, elegemos a tristeza, o tédio, o dia nublado, como nosso estado de espírito. Talvez por que vamos nos acostumando a isto, não sei.
Não sei muita coisa. Mas sei que não é fácil. Que tentamos ser felizes, e conforme os espinhos vão machucando, acostumamos a nos dizer que é impossível, que se não dá certo agora, provavelmente também não dará amanhã. Que no final, tudo da errado, como tem dado errado.
Nos acostumamos, nos acomodamos, nos acovardamos, esta é a verdade. As vezes acho que o problema é simples. É uma questão de cronologia. Não sabemos lidar com o amanhã.
Aquele rio, que corta montanhas, cuja paisagem é tão perfeita, não ficou pronto da noite para o dia. Aquelas pedras rolam por milhares de anos antes de adquirirem sua forma. E queremos tudo hoje, e tem que ser do nosso jeito, senão nem interessa.
E assim, vamos nos afastando da felicidade possível, não por conta da infelicidade, mas por conta de ideais de felicidade impossível, imaginária. Lembramos de como um dia fomos felizes no passado, com coisas tão simples e fáceis, e queremos trazer esta felicidade para nossos dias de hoje, mas com isto por vezes sofremos, por que, por mais que não queiramos admitir, já não somos, necessariamente, a pessoa de ontém.
As crianças são mais felizes do que os adultos, por que para elas, uma tampinha de refrigerante pode se transformar em nave espacial, sorrir é natural, e esquecer as ofensas é algo inato.
No entanto, é inevitável crescermos, e nos depararmos com novos desafios, onde as coisas já não são simples, nossas necessidades, algumas reais, muitas outras imaginárias, são cabeludas e somos tão magoáveis.
Alguns dizem que a dor vem do desejo de não sentir dor. Outros, que a dor é resultado da frustração da tentativa de transformar em permanentes as coisas transitórias, de tentar eternizar o que só pode ser eterno nas nossas memórias. De nos apegar ao que já foi.
Não vou discutir se uma destas concepções é mais apropriada do que as outras, ou se elas abarcam todo o expectro do sofrimento. Acho que somos ainda mais complexos do que isto.
Mas o fato é que por vezes, somos nossos maiores inimigos, e nosso orgulho nos impede de ver isso. Nos esquecemos neste ponto das crianças, que não pensam duas vezes antes de gritar: preciso de ajuda.
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