Muitos de nós, por vezes, nos iludimos pensando que somos auto-suficientes, e auto-muitas-coisas.
Talvez seja por isto que subestimamos o valor da comunicação, da sinceridade, do diálogo. Ou talvez seja por que as vezes que tentamos abrir nossos corações somos mal interpretados e julgados a conta de preconceitos que raramente tem algo a ver com quem realmente somos por dentro.
Assim moldamos nosso ego, nossa personalidade exterior, conforme o mundo mais ou menos nos aceita. Aprendemos a sorrir quando gostariamos de chorar, de tristeza ou mesmo de momentâneo ódio. Digo momentâneo por que o ódio costuma ser assim, você pôe o desgosto pra fora, e ele acaba, antes de virar um monstro destruidor. Por para fora não significa transformá-lo antes em um monstro e depois soltá-lo, mas isto ainda assim seria preferível do que deixá-lo virar um monstro dentro de nós.
Aceitamos as sugestões, os conceitos, os valores do mundo em nós, como se as coisas fossem assim mesmo, e nada pudessemos fazer para mudá-lo. Nossa responsabilidade, na minha visão, não é mudar o mundo fora de nós, mas o mundo dentro de nós, quando percebemos pela consciência, que todos a temos, que o que realmente acreditamos está em contraste com o que fazemos.
E assim vivemos nós. Sem sabermos quem somos, se o reflexo de nossa imagem no espelho representa a nós mesmos ou o que os outros vêem e esperam de nós. Nossos sonhos por vezes não são nossos sonhos, mas as expectativas que transferiram para nós e que aceitamos sem questionar se são compatíveis com nossa própria natureza intima.
Gostariamos que os outros aceitassem o fato de que somos humanos, que somos mutáveis, sujeitos a erros, sujeitos a cometermos enganos, sujeitos a confundirmos e sermos confundidos, mas o fato é que como podemos fazer o mundo aceitar o que nós mesmos não aceitamos?
Triste coisa é ter coisas no coração querendo transformar-se em palavras, e estas em mais do que palavras, em realidades de modo que possamos ser compreendidos e vistos tais quais somos, sem sermos julgados, acusados, cobrados, menosprezados, vilipendiados, agredidos. Bem o sei.
Faço parte do mundo. Parte pequena, insignificante. Mas para constar, estou no mundo, não pertenço a ele. Não sou o mundo e seu jugo, e nem tampouco o mundo sou eu.
Um dia, espero, quando minha vida for representada por mais do que palavras, e os dias de dúvida e de insegurança estiverem perdido no meio as memórias de um tempo bom, aqueles que estiverem ao meu redor saibam que não sou do mundo, e então talvez não terão receio em compartilhar comigo suas verdades íntimas, por que, em verdade, nem eu tampouco terei.
(Publicado originalmente em 22/10/2004, re-editado em 26-10-2004, sem alterações, exceto a retirada de uma imagem com problemas)
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