Relatório de prestação de contas número 9.046, 03/10/2004.
Caro Deus,
Este fim de semana aproveitei para descansar. No sábado praticamente só dormi. Não estava com ânimo para nada muito além disto. Mas sabe disto melhor que eu.
O domingo foi produtivo. Digo foi, no passado, por que acho difícil que algo relevante venha a acontecer ainda pelas próximas horas. Ando sem muitas esperanças. Sei que me guarda surpresas para estas horas, mas últimamente tem me posto a prova legal, não? Vou fingir que compreendo as suas razões, assim como desculpa as minhas, toscas e egoístas. Na verdade, eu nem poderia me comparar, visto que piso na bola toda hora. Mas vou fazer meu melhor, certo?
Dirigi bastante. Fui a dois parques. Num deles não desci por que não achei onde estacionar o carro. Haviam muitas pessoas. No outro eu desci e andei de uma ponta a outra, aquela subida da volta foi um exercício e tanto, acho que realmente preciso voltar a forma física dos meus 18 anos, que esta concepção "azeitona no palito" não está muito prática. Sem falar que ando com dor nas costas, e como bem sabes, eu não comi o tatu. Desculpe a blasfemia, é que lembrei da música dos mamonas.
Lembro daquela vez, já há alguns anos, em que conversamos. Tenho andado distante de ti, não? É que não o compreendo, bem o sabes. Mas sei que me compreendes, e no fundo, já é alguma coisa. Não tenho ousado dirigir meus pensamentos diretamente a você tanto quanto gostaria. Me sinto indigno. Por que eu desperdiço as oportunidades que me dá, e por que quero que tudo sempre seja do meu jeito, na hora que eu quero, como se eu fosse a criança que sei que sou.
Mas já conversamos sobre isto, não? Algo como se eu fosse primeiro esperar ser digno para depois agir, esperaria sentado, quando, na verdade, devo prosseguir sempre, e este processo é que vai, aos poucos, me tornando digno. Quando cair, bater a poeira, olhar para a frente, e seguir. Não ficar lamuriando. Lembrar daquilo que estes tempos disse a alguém muito especial que necessitava ouvir, mas que pelo visto não tenho usado comigo mesmo: após toda tempestade, sempre vem a calmaria, e dia de sol. A tempestade é necessária para quebrar a acomodação. Mas não adianta se desesperar.
Preciso te agradecer por tudo o que houve desde que aqui estou. Tem sido uma aventura e tanto, apesar das dificuldades e dos problemas que causei, e ainda causo. Certa vez pedi que me tirasse das trevas, e hoje a luz quase me cega, embora as vezes eu veja as coisas quase claramente. As vezes sou apressado e não dou tempo do meus olhos acostumarem com as coisas.
A pressa que toma conta dos nossos dias aqui. Espero que me ajude a encontrar um remédio p/ isto. Voltar, pelo menos por alguns dias, a viver sem olhar para o relógio, sem preocupar-me com o que tenho que fazer amanhã pela manhã, ou ainda mesmo que tenha todas estas preocupações, mas que eu possa esquecer disto por um pouco e viver, sem ter que recorrer a artificios.
Quanto as novas responsabilidades que terei daqui para a frente, tenho oscilado, bem o sabe, entre dois extremos. Entre uma alegria absoluta e um temor quase paralisante. A alegria tem se sobressaido, mas como não recordo de ter sido uma pessoa com disposição anteriormente, eu meio que desconfio dela. Será que ela é o resultado de tudo o que passei? Será que é momentanea? Não parece ser momentanea, por que o masoquista aqui vive tentando matá-la, na tentativa de provar que é momentanea, e não consegue. No máximo consegue aborrecer-se, para no outro dia, acordar bem disposto, ainda que com a cabeça confusa.
Preciso ampliar mais o foco, muitas coisas requerem minha atenção. É fascinante ver que consigo ir muito além do que imaginava, mas estou precisando de mais forças. Conto que me ajude a encontrá-las, como tem sempre feito.
Mantém acesa no meu coração a chama do amor verdadeiro e simples, de modo que eu não volte, nem por segundos, ao isolamento pernicioso da noite escura do egoísmo. Aos poucos, saio da caverna de platão e vou rumo ao mundo exterior, mas ainda há muito por fazer.
Seja presente, hoje e sempre.
Obrigado,
Do filho rebelde e inútil,
Alexandre
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