quinta-feira, outubro 28, 2004

Última a partir

Olá,

Dizem que sou a última a morrer. A que enterra a todos. A que não terá coveiro.

É, pode até ser... Espero que não.
É quem eu sou, é meu dever. Não posso ser pessimista, já que este dever vocês parecem assumir sozinhos. Se é que é um dever. O meu eu sei. O de vocês, bem, ... não é da minha conta.

Dizem que sou solitária. O que não é verdade, já que se eu for a última a ir, terei estado antes com todos vocês. Ouvido suas histórias, aprendido o que dizer ao próximo que se encontrar na mesma situação. Ainda que alguns de vocês só lembrem de mim depois que já é tarde. Ah, pensaram que iriam me pegar nesta não? Estou brincando. Nunca é tarde. As vezes as oportunidades passam, as vezes vocês se enganam, as vezes se confundem. Vocês são assim, e até certo ponto os invejo, aquilo que conquistam pertence a vocês, enquanto que eu apenas empresto a luz para acender a vela dos seus corações. As vezes nem me notam, frequentemente me desprezam, isto quando não me temem.

Mas nunca é tarde. Se é tarde para começar, não é para recomeçar. Se é tarde para evitar um engano, é sempre tempo de repará-lo. Quando tudo parece perdido e cai a noite, o sol nasce n'outro dia, não importa o quanto queiram que isto não ocorra.

Sou a amiga fiel de todas as horas. A que entende quando vocês se enganam a si mesmos, e com isto confudem aos outros, mesmo sem querer. Por que não deve ser fácil mesmo ser humano, viver nestas dúvidas, apagar a vela e ter que me chamar para reacendê-la, não raro, mais de uma vez por dia.

Vocês as vezes esquecem que são assim, sujeitos a erros. Que se zangam, que se perdem, que não tem controle sobre tudo, aliás, sobre quase nada.

O mérito está mais na tentativa, do que no resultado. Na tentativa me faço presente, no resultado, eu me afasto, por que então já não precisam tanto de mim.

Sou a que fornece luz sem esperar gratidão, a que ilumina o caminho sem ser percebida, a que compartilha das alegrias sem ser chamada, a que enxuga as lágrimas sem questionar por que choras.

Me chamo esperança, e sou uma, mas me apresento de forma diferente para cada coração.

Meu disfarce hoje é o amor, amanhã, a ingratidão. Não sabes donde venho e nem quando me vou, mas sabes, no teu íntimo, que pode contar comigo.

Quando o vento ameaçar virar teu barco, quando tuas forças parecerem acabar, olha o céu onde estrelas inumeráveis cuja luz viaja por tanto tempo, estrelas que te convidam a entender que é preciso tempo, vontade e perserverança para brilhar além da noite escura, e pensa em mim, que se tudo espero, nada espero em troca, e verás que, lá no fundo, não precisas chamar por mim, pois sou parte de ti, e sempre serei.

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