sexta-feira, agosto 06, 2004

O mar

Não recordo quando foi a primeira vez que o vi, era muito criança, provavelmente mal sabia andar ainda.
Também não sei se a principio gostei daquela sensação de pisar na areia e sentir a água correr entre os dedos, com força, cavando a areia e formando um buraco em volta dos pés, de modo que você acha que vai cair e ser levado para o fundo do mar.

O que sei é o que sinto quando vejo o mar hoje. Ainda é emocionante, embora eu sinta que aquela empolgação adolescente já não me acompanhe. Mas talvez esta empolgação não fosse pelo mar em si, mas pelas circunstâncias. Naqueles anos, estar próximo do mar significava várias coisas, era também estar longe de casa, fonte simultaneamente de alegria e saudades. Era ter um quê de liberdade, de paixão pela vida, algo que não sei definir muito bem, que ficou em minhas memórias como vaga sensação, da qual provavelmente não hei de esquecer, enquanto viver.

De certa forma, o mar convida a reflexão, e quando, sozinho, olho o mar, as ondas estourando contra as pedras, aquele ritmo calmo e intenso, é como se olhasse para dentro de minha própria consciência.


Não sei quando voltarei a ouvir as ondas quebrarem. Menos de cem quilômetros nos separam. Talvez amanhã cedo eu acorde inspirado e vá em sua direção, talvez não. É mais provável que não.

Até este dia sigo, alimentado pelas lembranças, que são muitas.
Em parte sei que ver o mar não resolve nenhum problema, o ato de vê-lo, dada a dificuldade inerente, é até mais um problema em si mesmo.

Mas o fato é que aqui, na rotina, tudo parece tão mais difícil. Me sinto um prisioneiro com a chave da cadeia, com receio de sair.


P.S..: Estou testando o novo visual, aceito sugestões/críticas, especialmente se algo nao estiver funcionando como deveria :-)

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