terça-feira, agosto 31, 2004

Tenho medo...

Percebi que as vezes tenho medo.

Não é uma paranóia constante. Mas algo que vem, e vai, e as vezes, não me deixa dormir.

Tenho medo de perder meus amigos. Já perdi tantos... Dizem que os verdadeiros amigos não perdemos, e é verdade. Porém, há tantas pessoas que eu gostaria de poder telefonar e perguntar como estão, mas já não posso.

Tenho medo de ser injusto e magoar aqueles que mais amo. Quando estou diante de estranhos, ou de pessoas que estou conhecendo, sou mais reservado, tendo a cuidar mais das palavras. Mas com aqueles que estão mais próximos, por alguma razão, as vezes não tenho o mesmo cuidado. Acho que eles relevam, por vezes, pois sabem, em meus olhos, que algumas palavras que digo não são sinceras, e algumas coisas que digo, podem não ter o significado que aparentam.

Geralmente tenho medo de sofrer. Medo de por a cara a tapas, como dizem. Se já não sou tão tímido, e já o disse, sou reservado. Não gosto de me expor. Escrever estas coisas é um avanço enorme.

A sociedade não nos ajuda neste ponto. Especialmente para nós, do gênero masculino. Homem não tem medo, não chora, não se expõe. Se o faz, é viado, ou, de outra forma, menos homem.
"Point taken". Mas é tão conveniente pensar assim. É preciso coragem para admitir a realidade, quando ela não é socialmente bem vista. E coragem não é falta de medo, é, como dizem popularmente, a capacidade de fazer o que deve ser feito, apesar de todo o medo que se sinta. É o que separa o herói do vulgo. Ambos sentem as pernas fraquejarem, mas o herói dá um passo a frente, enquanto o outro fica paralisado. E, insisto, não sou herói, ao menos não como deveria.

Tenho medo de me expressar, de ser mal interpretado. De dizer o que penso e sinto e soar ofensivo, arrogante, ou absurdo demais.

Tenho medo ainda de nao me expressar, de guardar as coisas que me passam pela mente, pois as vezes elas parecem ajudar alguém, e acho um disperdicio guardar coisas para nós mesmos.

Ainda que, por outro lado, eu também tenha medo de chocar as pessoas com o que digo e penso...

Há dias em que tenho medo de viver. Sair da cama parece ser um esforço. Tenho medo destes dias, ainda que eles sejam cada vez mais raros.

Tenho medo de ter medo. Pois o medo é sempre algo confuso, se não fosse, não seria medo. E lidar com coisas que não são inteiramente claras é sempre problemático.

Tenho medo da solidão. De de alguma forma me afastar da humanidade. Sempre me senti deslocado, só agora consigo alcancar as pessoas, com menos medo de que elas pulem no meu pescoço e me estrangulem.

Tenho medo de não ter medo. Medo de não ter receio, de dizer as coisas sem pensar, e depois descobrir que comecei uma briga ou a terceira guerra mundial, por conta de bobagens.

Tenho medo de que estes medos e outros me impeçam de realizar as coisas importantes que a vida me pede. Medo de não ser um bom filho, um bom amigo, e, um dia, um pai, um bom esposo e bom namorado, pois quero ser ambos, ao mesmo tempo. Algumas pessoas viram pais e esposos e deixam de ser namorados, e as suas esposas ficam solitárias, ainda que estejam a seu lado ou nao. Tenho medo de cometer os mesmos erros de sempre. Cresci sem meu pai por conta de coisas ditas e não ditas, e não quero que meus filhos tenham o mesmo futuro.

Tenho medo de não ser bom o bastante ante as oportunidades que a vida me apresenta. De fraquejar no caminho, de me esconder na toca enquanto a vida passa.

Tenho medo de amar e ser rejeitado, e tenho medo de não amar, por medo de ser rejeitado.

Tenho medo de tentar, e medo de me arrepender por não tentar.


Vejo o que já passei, e não foi muito, pois creio que se cresci muito num sentido, noutros ainda me sinto com 8 anos de idade. Sou imaturo diante de muitas coisas, e não é preciso me conhecer bem para ver isto.

Isto me dá medo, a falta de experiência na vida. Tenho medo que as pessoas que estejam a meu lado não tenham paciência comigo, não me esperem, e me deixem para trás. Tenho medo de me tornar um retardatário.

Mas nem tudo é medo.

Ao medo, contrapõe-se a esperança.

Estes dias eu estava, por breves instantes, olhando as estrelas no céu. Era tarde da noite, e as pessoas pareciam estar todas dormindo, e num raio de quilometros, só os cães ladravam.

Lembrei de tudo o que já passou. Das situações em que me vi de joelhos, rendido, caido ao chão e perguntando "Deus, por que?".

Das situações em que eu exclamei "Não aguento mais".

De quando cheguei a dizer "desisto"...

Pensei comigo mesmo: Pois bem, cá estou eu.

Em minha fragilidade humana, física e mental, cá estou eu. Sobrevivi aos testes da vida. Encontrei quem eu sou, e mais importante, quem eu serei. Compreendi e perdoei quem eu fui. Vivi, vivo, e viverei.

As estrelas parecem se apagar, por vezes, para então brilharem mais forte.
E foi olhando o céu que eu entendi, que temer é natural. Tememos, por que nao sabemos, especialmente por que nao sabemos o que vem depois de nossos atos.

O que aconteceria se eu fosse por este caminho, ou por aquele? Ignoro-o.

Pessoas, tenho medo de as magoar. Mas mais medo tenho de não as cativar. Não temo em demasia que me odeiem ou que me desprezem, por que é um direito que vos foi dado. Tenho medo que me amem. E que, eu, ainda que vos amando, não seja digno do vosso amar.

Me sustenta a fé nas minhas possibilidades, em Deus, e na vida como algo bom. É claro que existem problemas, mas em grande parte, somos nós que os criamos, ou os alimentamos.

Assim sendo, tenho medo, de tudo.
Mas não tenho medo de tentar ser feliz, e de fazê-los felizes. Errarei ao tentar, anotem isto. Talvez eu não consiga.

Mas, e se, com sorte, eu conseguir? E se contra todas as chances, for possível?

Sentirei muito medo ainda.

Mas, não sei por quê, sinto igualmente, um gosto de vitória, ainda distante, ainda longe.
Espero que nenhum ex-padre irlândes bebado se atire no meu caminho :-)

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