segunda-feira, setembro 13, 2004

Centésimo

Este é o centésimo post.

As vezes não acredito que continuo escrevendo. As vezes, ainda, sequer acredito que comecei.

As vezes escrevo para vocês, as vezes, escrevo para mim, mas sempre escrevo por mim. Por sentir uma motivação alienígena. Como dizia camões, me surge "um não sei quê, que nasce não sei onde,
vem não sei como e dói não sei porquê".

E o pior é que em geral não gosto do que escrevo. Vejo que meu português deixa a desejar, minhas colocações nem sempre ficam claras, e pior, nem sempre expressam o que julgo ser minha opinião sobre alguns temas. Falho na pontuação, misturo as pessoas, troco os pronomes. As vezes é o que basta para deixar de fazer sentido.

E, no entanto, continuo escrevendo.

Hoje farei uma confissão. Alguns de vocês já sabem. Outros de vocês talvez não saibam, mas não se sintam menosprezados, pois ou não temos assim tanta intimidade, ou foi falta mesmo de oportunidade de conversarmos. As pessoas com quem melhor converso parecem ser as mais inacessíveis, nestes dias conturbados de hoje.

A confissão é que estou em crise de identidade. Confusos? Por que isto não deveria ser novidade, mas é. Desta vez, não é crise de identidade pessoal. Eu mais ou menos sei quem eu sou, pela primeira vez na vida. E nas oportunidades de testar minha personalidade, tenho saído, em geral, como vencedor.

Estou em crise de identidade profissional, talvez social. Eu não me considero privilegiado em nenhum aspecto. Na verdade, não acredito em privilégios. Mas vejo que possuo atributos que poderiam ser melhor utilizados. De conhecimento a força de vontade, atributos estes que se guardados para mim mesmo, nada valem. Anseio por encontrar espaço para pô-los em prática. As vezes penso em me afiliar a alguma ONG. Fazer algum trabalho voluntário que aproveite em alguma coisa. Eu já faço trabalho voluntário, mas apenas uma hora por semana, o que é nada diante do meu tempo.

Eu quero que a minha profissão seja socialmente útil. Durante muito tempo, só quis ganhar dinheiro. E por mais óbvia que seja a constatação, eu só fui me aperceber inteiramente que o caminho não era este, quando li aquela mensagem do Nizan Guanaes que reproduzi aqui, que alguém me passou por e-mail, ou seja, não faz tanto tempo assim.

Não quero que o dinheiro seja o fim do meu trabalho. Que seja uma das consequências, que seja o meio, o que quer que seja, mas não o fim. Pois se assim continuar sendo, eu andarei por trilhas perigosas, onde meu caráter pode vir a ser precificado. Já acho que neste nosso país, fazemos coisas demais cuja legalidade pode ser garantida, mas cuja moralidade é discutível. Nos habituamos ao jeitinho fácil. Não temos consciência social, é tudo na base da propina.

Lamento, não serei assim. Não vim do inferno pessoal, em escalada dura, para a ele retornar.

Não me satisfaço profissionalmente, ainda. Mas encontro motivação nas oportunidades que vejo diante de meus olhos. Confio que em ao menos uma delas encontarei a satisfação do dever cumprido. Satisfação esta que é inigualável, e que aparentemente, muitos ignoram, ou dela se esqueceram.

Quero ir além. Quero que o ciclo profissional marcado pelos últimos quatro ou cinco anos resulte em algo novo. É bem verdade que diariamente encontro desafios, mas eles já são insuficientes diante das minhas possibilidades.

Ferramenta inútil sim, ociosa, espero, jamais.

Como dizia o falecido poeta, "Sou meu próprio líder, ando em círculos, me equilibro entre dias e noites. Minha vida toda espera algo de mim ..."

Não espere. Venha buscar :-)

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