Ele abriu os olhos e ela estava ali, muito perto.
Podia sentir sua respiração, mas ele não tocou suas faces, como desejou irresistivelmente.
Resistiu.
Era muito bom ter ao alcance das mãos o que procurou a vida inteira.
Alguém para estar justamente ali, ao lado. Nem à frente nem atrás, tampouco acima, muito menos abaixo: exatamente ao lado.
Fitou que fitou o semblante sereno de quem nada tinha a temer.
Ela estava segura, protegida, e ninguém melhor do que ele sabia disso. Porque essa era sua missão na terra, na vida, daqui pra frente: cuidar direitinho para que ela pudesse estar ali, ao seu lado, tornando todas as manhãs melhores, todos os dias desejáveis e tudo o que viesse pela frente absolutamente viável.
Era isso: ela, ali, apenas ali, tornava o mundo muito fácil de compreender e enfrentar.
A vida, por um momento, tornou-se resolvível como nunca fora.
E ele então fez o que desejou profundamente, agora não resistiu mais: apenas velou o sono, quieto e convencido de que tudo valia a pena.
Óbvio, porém lindo, o amor...
Pensou nessa bobagem e depois também dormiu, feliz.
(Luis Caversan, Folha de São Paulo, 11/09/2004)
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