Nossos primeiros passos vivem nas memórias de nossos pais. Assim como nossas palavras, nossos gestos, nossos primeiros sorrisos.
Olham a nós, frágeis e indefesos, e imaginam-se diante de pequenos anjos, de criaturas perfeitas. Ignoram o que viremos a nos tornar, mais tarde, quando novamente daremos nossos primeiros passos, desta vez por nós mesmos, na descoberta de nossa condição livre, e das consequências de nossos atos.
As vezes, sob circunstâncias muito especiais, nossa vida passa diante de nossos olhos. Vemos o que fizemos, e, curiosamente, vemos o que deixamos de fazer.
Ontém trilhei os primeiros passos de minha nova vida. Trespassei a ponte que separa o eu homem novo e vigoroso, do eu homem velho, cansado e egoísta, fechado em si mesmo, esperando a morte, sem nunca ter estado pronto para a vida.
As coisas não se transformam por brusca transição. Não foi em um dia que deixei para trás o que não gosto em mim, para no dia seguinte acordar com as características que, com sorte, levarei toda a vida por adquirir.
Mas o primeiro passo foi dado. A partir de hoje, que a minha força seja a do ser que sou, e não da armadura, da carapaça que me protegia. Pois a força do ser humano não consiste em ser rígido, imutável, inatingível. A nossa força verdadeira nasce quando deixamos de nos ver como o centro do universo, ou ainda, quando nos vemos nos outros, e os outros em nós.
As batalhas vencidas foram as mais duras até então, mas nem de longe foram as mais duras de toda a guerra. O mais difícil ainda está por vir, na luta de cada dia.
Mas, por alguma capacidade obscura, já consigo olhar para trás, e ver, trinta anos antes, o dia de ontém, e os dias que lhe seguiram, e o que significaram em minha vida, desde então.
Ninguém é invencível, ninguém é inquebrável, e ainda assim, nesta nossa frágil mortalidade, eu hei de vencer.
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